Ela iniciava a sua jornada naquela família de axé enquanto ele ainda menino rodopiava entre os quartos de santo, barracão e o ajardinado terreno da roça de candomblé. Tudo aquilo era o quintal da meninice dele onde se valia da vantagem de ter nascido neto do pai de santo e esquivava das tarefas de manutenção da casa como lavar a louça, varrer o chão, depenar galinhas...
Durante a iniciação dela, assim como de outros barcos, ele aparecia para visitar os recolhidos, fazia graça, dançava a coreografia da moda e relatava as aventuras daquele dia. Ela tinha o hábito de tomar a benção dele, ele apesar da pouca idade era mais velho de santo. De início ele não respondia ao pedido de benção dela, estava ocupado demais em ser menino. Com o tempo ela passou a cobra, dá para me abençoar?
O tempo passou, a vida ganhou novos contornos e o menino já não era tão menino, começava amadurecer. Fortaleceu amizades com outros jovens de axé e com isso ganhou uma nova consciência. Um dia ela foi tomar-lhe a benção, como de costume, ele prontamente abençoou e ajudou-a levantar-se. Naquele gesto ela soube, deixou de ser menino.
Sempre batucando passava horas passava horas envolvido pelas vozes dos atabaques quando menino. Através do feitiço do tempo passou a comandar as rodas de candomblé. O que não passava de um moleque de camiseta atrás dos atabaques deu lugar a um jovem atento e bem trajado.
Então aconteceu uma festividade em homenagem à mãe de santo, sua avó, e ele se empenhou de forma tão intensa para o sucesso daquela noite que ela sentiu orgulho do homem que estava se tornando. Em certa ocasião ela chegou na roça e ele estava sozinho na cozinha preparando as comidas sagradas. Ao ver a cena sentiu que um caminho sem volta se expandia nele, a responsabilidade.
Rapidamente para ele não bastava mais tocar o candomblé em dia de festa. Era preciso abraçar o antes e o depois. E assim o fez. Passou a aprender o que não...
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Ela iniciava a sua jornada naquela família de axé enquanto ele ainda menino rodopiava entre os quartos de santo, barracão e o ajardinado terreno da roça de candomblé. Tudo aquilo era o quintal da meninice dele onde se valia da vantagem de ter nascido neto do pai de santo e esquivava das tarefas de manutenção da casa como lavar a louça, varrer o chão, depenar galinhas...
Durante a iniciação dela, assim como de outros barcos, ele aparecia para visitar os recolhidos, fazia graça, dançava a coreografia da moda e relatava as aventuras daquele dia. Ela tinha o hábito de tomar a benção dele, ele apesar da pouca idade era mais velho de santo. De início ele não respondia ao pedido de benção dela, estava ocupado demais em ser menino. Com o tempo ela passou a cobra, dá para me abençoar?
O tempo passou, a vida ganhou novos contornos e o menino já não era tão menino, começava amadurecer. Fortaleceu amizades com outros jovens de axé e com isso ganhou uma nova consciência. Um dia ela foi tomar-lhe a benção, como de costume, ele prontamente abençoou e ajudou-a levantar-se. Naquele gesto ela soube, deixou de ser menino.
Sempre batucando passava horas passava horas envolvido pelas vozes dos atabaques quando menino. Através do feitiço do tempo passou a comandar as rodas de candomblé. O que não passava de um moleque de camiseta atrás dos atabaques deu lugar a um jovem atento e bem trajado.
Então aconteceu uma festividade em homenagem à mãe de santo, sua avó, e ele se empenhou de forma tão intensa para o sucesso daquela noite que ela sentiu orgulho do homem que estava se tornando. Em certa ocasião ela chegou na roça e ele estava sozinho na cozinha preparando as comidas sagradas. Ao ver a cena sentiu que um caminho sem volta se expandia nele, a responsabilidade.
Rapidamente para ele não bastava mais tocar o candomblé em dia de festa. Era preciso abraçar o antes e o depois. E assim o fez. Passou a aprender o que não sabia e ensinar o que era necessário com a mesma velocidade e o bom humor do menino que um dia foi e que fugia das funções da roça para banhos de cachoeira e corridas pelos telhados do barracão.
Cada um nasce para aquilo que é, o tempo molda a caminhada da transformação, pouco a pouco ele foi assumindo o cargo para o qual nasceu. Chegou o tempo de ela recolher na roça de candomblé para renovar os votos feitos na iniciação. As mazelas da idade avançada haviam afastado a mãe pequena e o pai pequeno dela. Algumas irmãs mais velhas se ofereceram para substituir, mas não era tão simples assim. Segundo algum regimento os candidatos naturais seriam a mãe pequena da casa e o pai pequeno da casa. Com muita satisfação e a certeza de que não poderia fazer escolha melhor aquele que um dia não passava de um menino tornava-se o pai pequeno dela naquela cerimônia.
“O tempo dá, o tempo tira, o tempo passa, a folha vira”
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