Meu nome é Yolanda Casagrande Gomes, nasci em 11 de novembro de 1918, filha de espanhola e neta de italianos. Meu pai era Ernesto Casagrande e minha mãe, Josefa Manzano Castilho. O lugar onde nasci pertencia a Campos Novos Paulista, atualmente é o município de Ocauçu, na Alta Paulista.
Meus avós italianos vieram de Tarzo, região de Treviso, norte da Itália. Inicialmente foram para Minas Gerais, cidade de Montes Claros, onde ficaram durante alguns anos para formar um cafezal para um fazendeiro. Meu pai nasceu em Montes Claros.
Após a formação do cafezal ganharam o dinheiro suficiente para comprar as terras no estado de São Paulo, onde era mata virgem e teriam a chance de desbravar e transformar em terras cultivadas. Havia um rio que recebeu o nome de Rio dos Casagrande, esse rio foi muito importante para a cidade e por ele tenho um carinho muito especial.
Meu avô italiano, Celeste Casagrande foi o fundador da cidade. Ele cedeu as terras onde se iniciou a cidade, que naquela época sempre começava pela construção da igreja, inicialmente recebeu o nome de Santo Antonio da Boa Vista, posteriormente, em homenagem a ele, recebeu o nome de Casagrande, e na época da guerra passou a se chamar Ocauçu ( oca= casa, uçu= grande, na linguagem indígena).
Não havia escola. O meu pai e os irmãos mais velhos tiveram como mestre o filho de um administrador de fazenda. Depois meu pai se tornou professor dos irmãos mais novos e primos. Meus pais tiveram 9 filhos: Alcides, eu, Benedito, Aparecido, Nair, Rubens, Maria, Celeste, Olinto.
Quando viram que havia muita criança no patrimônio meu pai e meus tios resolveram construir uma escola e todas as carteiras, mesas, cadeiras necessárias. Foram buscar em Campos Novos, que era a comarca, uma cidade bem desenvolvida para a época, a professora Guilhermina que ficou morando na casa da minha nona.
Foi uma infância de muito trabalho, mas de grande alegria. As famílias que eram parentes moravam perto uma das...
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Meu nome é Yolanda Casagrande Gomes, nasci em 11 de novembro de 1918, filha de espanhola e neta de italianos. Meu pai era Ernesto Casagrande e minha mãe, Josefa Manzano Castilho. O lugar onde nasci pertencia a Campos Novos Paulista, atualmente é o município de Ocauçu, na Alta Paulista.
Meus avós italianos vieram de Tarzo, região de Treviso, norte da Itália. Inicialmente foram para Minas Gerais, cidade de Montes Claros, onde ficaram durante alguns anos para formar um cafezal para um fazendeiro. Meu pai nasceu em Montes Claros.
Após a formação do cafezal ganharam o dinheiro suficiente para comprar as terras no estado de São Paulo, onde era mata virgem e teriam a chance de desbravar e transformar em terras cultivadas. Havia um rio que recebeu o nome de Rio dos Casagrande, esse rio foi muito importante para a cidade e por ele tenho um carinho muito especial.
Meu avô italiano, Celeste Casagrande foi o fundador da cidade. Ele cedeu as terras onde se iniciou a cidade, que naquela época sempre começava pela construção da igreja, inicialmente recebeu o nome de Santo Antonio da Boa Vista, posteriormente, em homenagem a ele, recebeu o nome de Casagrande, e na época da guerra passou a se chamar Ocauçu ( oca= casa, uçu= grande, na linguagem indígena).
Não havia escola. O meu pai e os irmãos mais velhos tiveram como mestre o filho de um administrador de fazenda. Depois meu pai se tornou professor dos irmãos mais novos e primos. Meus pais tiveram 9 filhos: Alcides, eu, Benedito, Aparecido, Nair, Rubens, Maria, Celeste, Olinto.
Quando viram que havia muita criança no patrimônio meu pai e meus tios resolveram construir uma escola e todas as carteiras, mesas, cadeiras necessárias. Foram buscar em Campos Novos, que era a comarca, uma cidade bem desenvolvida para a época, a professora Guilhermina que ficou morando na casa da minha nona.
Foi uma infância de muito trabalho, mas de grande alegria. As famílias que eram parentes moravam perto uma das outras e até na mesma casa, assim as crianças eram criadas todas juntas, brincavam muito, eram muito amigas e unidas. As mais velhas cuidavam das mais novas, já que as mães tinham muito trabalho a fazer.
Quando era época de milho (só tinha milho verde no máximo 2 meses no ano), juntávamos as famílias, os homens saiam de madrugada para a roça buscar o milho, traziam uma carroça cheia. Cada pessoa ficava encarregada de fazer uma coisa: tirar a palha, cortar, tirar o cabelo, ralar, coar, temperar, fazer a pamonha, verificar o cozimento. Quando saíam as primeiras pamonhas era uma festa A criançada se esbaldava Que alegria Como eram gostosas aquelas pamonhas
Eu freqüentei a escola até a terceira série, mas fiz mais um ano, que seria a quarta série primária, pois a professora, sem receber por isso, quis passar mais informação para os alunos que estavam interessados. Dona Guilhermina deu aula para mim desde a primeira série. Havia uma disciplina muito rígida naquela época, os alunos que não obedeciam eram castigados com a palmatória, ficavam de joelhos no milho, etc., mas ela era muito boa, só quando Dona Guilhermina ficou uns seis meses fora e assumiu Dona Araci Bertoncini, que as coisas começaram a esquentar. Lembro que uma vez ela deixou a Idalina Galante de castigo na porta, segurando o livro de chamada, de joelhos no milho, estava chovendo, a Idalina jogou os livros na chuva e correu para casa.Não foi fácil fazê-la voltar para a escola, precisou da interferência do meu pai.
Os homens iam para a lavoura, trabalhavam de madrugada até o pôr do sol. As mulheres ficavam em casa, mas não era uma vida fácil: levantavam de madrugada para acender o fogão a lenha e fazer o café da manhã, iam buscar água na mina para beber, cozinhar, lavar roupa, limpeza da casa, etc..Além disso tinham que socar o café, torrar, socar novamente para virar pó, socar e escolher o arroz, bater o feijão, mexer o café no terreiro, fazer o pão, plantar verduras e legumes e cuidar, aguando todos os dias, capinando, ir buscar lenha no mato para o fogão, etc.. Naturalmente as crianças maiores eram solicitadas para levar comida na roça, tomar conta das menores, lavar louça, etc...
Houve uma época em que faltou farinha, que era uma das bases principais da alimentação, afinal o pão não podia faltar. Meu pai e meus tios plantaram trigo e quando foi colhido, como não havia moinho para transformar em farinha, foi levado ao moinho de milho, a farinha saía escura, mas achávamos uma delícia o pão feito com ela, afinal ficáramos muito tempo sem comer pão.
Cada família tinha uma média de 8 filhos, havia muitas crianças, brincávamos muito.Nós brincávamos em todo lugar, inclusive no engenho, onde havia moendas, gamelas cheias de garapa e melado quente, corríamos no meio para brincar de pique, levávamos muita bronca de nossos tios.
Aos poucos cada família foi construindo sua cas e se mudando.
Eu tinha aproximadamente 12 anos (+ ou - 1930) quando a polícia, sob as ordens de Getúlio Vargas, invadiu o sítio de meu pai e meus tios no interior do estado de São Paulo, que produzia produtos agrícolas e gado e tinha uma máquina a vapor que movia as máquinas de beneficiar café, arroz, farinha, açúcar, coisas básicas para a sobrevivência deles, dos empregados e de suas famílias.
Como Getúlio queria desenvolver o Nordeste, confiscou todos os engenhos de açúcar da região, destruiu os recipientes, a máquina a vapor, queimou os canaviais. Conseqüentemente a pouca tecnologia que a duras penas os imigrantes italianos e seus descendentes tinham conseguido, acabou. E o que é pior batiam, prendiam e até matavam se alguém tentasse plantar ou produzir açúcar para o seu consumo.
Sonhei noites seguidas com o incêndio dos canaviais, eu via o fogo muito alto que vinha em nossa direção, mas pensava: quando chegar no rio o fogo pára, porém isso não acontecia, era apavorante, via o fogo vindo, então acordava assustada.
A economia da região acabou, os fazendeiros passaram a produzir só para o próprio consumo (açúcar por muito tempo não puderam produzir) de maneira artesanal, pois não tinham condições econômicas de comprar os utensílios que substituiriam os que haviam sido destruídos, e os empregados que deles dependiam foram mandados embora.
Nunca mais os fazendeiros voltaram a ter a mesma prosperidade, todos viviam com dificuldade.
Para essa região vieram muitas famílias italianas e seus descendentes: inicialmente junto com os Casagrande os Nadai, os Menegucci, os Galante e mais tarde foram chegando: Colombo, Sala, Ciocca, Giacomini, Marzola, Franchini, Galante, etc..
O tempo passou. Quando jovem trabalhava muito, mas também me divertia. Freqüentava bailes e nosso acompanhante e protetor era o nosso primo Ernestinho Casagrande, que era um grande amigo. A maioria dos bailes era em fazendas.
Conheci o Mário Pereira Gomes e o namorei contra a vontade da maioria dos meus parentes, a mãe dele tinha morrido quando ele tinha 8 anos, ele era o mais velho de 4 irmãos e foram criados separados e sofreram muito. Ele e o irmão mais novo Olavo, ficaram juntos com a avó (mãe da mãe deles), tinha uma tia, a Malvina, que gostava muito deles e os tratava bem e sofreram menos, apenas eram muito pobres. A Maria (Cotinha) ficou com a avó (mãe do pai dela), apanhava muito. O Antonio (Brele) sofreu muito, apanhava por qualquer coisa e era obrigado a trabalhar. Meu marido não era descendente de italiano, tinha ascendência portuguesa. Eles moravam em Campos Novos, o Mário mudou para Ocauçu quando tinha uns quatorze anos junto com o tio Chiquinho Arantes que havia se casado com a Malvina, sua tia. Haviam comprado uma serraria dos Casagrande. O Mário trabalhou muito. A Malvina trouxe a Cotinha para morar com eles.
Casamos em 1938.Tivemos a primeira filha, Dirce, que faleceu com alguns meses de vida. Em 1940 nasceu o Ademar, em 1943 a Inês, em 1948, o Gilberto e em 1950, a Ester.
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