IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Carlos de Sá Pereira. Nasci em 3 de agosto de 1929, no quarto numero 1, da Santa Casa de Misericórdia de Belém, do Estado do Pará. MIGRAÇÃO Com 2 meses, fui para Portugal. Meu pai era comandante de uma das dragas do canal da baía de Guajará, em Belém. Minha mãe estava doente e ele nos mandou para Portugal, para ela ser tratada pelos melhores especialistas franceses. A França estava num expoente tremendo, tinha as maiores tecnologias da época. Então ele mandou, para ver se ela se recuperava. Voltei com 9 anos, aproximadamente. A minha instrução primária foi toda lá. FAMÍLIA Minha mãe faleceu em 1934, aliás, adoeceu em 1934 e veio a falecer, depois de nós já estarmos aqui. Naquele tempo não havia instituto e meu pai então trabalhava na ‘Ortiofará’. Tudo aqui era inglês, monopolizado pelo inglês. Naquela altura, o inglês já mantinha uma caixa de aposentadorias e pensões. TRABALHO Nós tínhamos uma pensão, não dava muito bem para sobreviver. Minha avó criava galinhas, vendia ovos, frango, eu ajudava. Com 7 anos, já começei ajudar a dar farelo para as galinhas, essa coisa toda. Com 11, me empreguei na mercearia do meu padrinho. Onde ele me dava um rancho por semana, cesta básica como chamam hoje, mas não me dava salário. Quando a situação apertou, ele chegou para minha avó, prima legítima dele, e disse: “o rapazinho tem que trabalhar, para ajudar em casa”. Então, fui lá para mercearia para aprender, sem ganhar nada, mas ganhava a cesta básica por semana, um rancho toda semana. Passei 1 ano lá. Depois, os vizinhos me arranjaram, para eu ir trabalhar numa casa de ferragens, chamada Casa Farol, onde passei 2 anos, dos 12 aos 14. Dos 14 anos aos 21, trabalhei num armazém de ferragens de uma firma que tinha aqui. Ele ainda existe, aliás tinha aqui não, tinha em Belém do Pará. Chamava Importadora de Ferragens SA. Tinha sete filiais...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Carlos de Sá Pereira. Nasci em 3 de agosto de 1929, no quarto numero 1, da Santa Casa de Misericórdia de Belém, do Estado do Pará. MIGRAÇÃO Com 2 meses, fui para Portugal. Meu pai era comandante de uma das dragas do canal da baía de Guajará, em Belém. Minha mãe estava doente e ele nos mandou para Portugal, para ela ser tratada pelos melhores especialistas franceses. A França estava num expoente tremendo, tinha as maiores tecnologias da época. Então ele mandou, para ver se ela se recuperava. Voltei com 9 anos, aproximadamente. A minha instrução primária foi toda lá. FAMÍLIA Minha mãe faleceu em 1934, aliás, adoeceu em 1934 e veio a falecer, depois de nós já estarmos aqui. Naquele tempo não havia instituto e meu pai então trabalhava na ‘Ortiofará’. Tudo aqui era inglês, monopolizado pelo inglês. Naquela altura, o inglês já mantinha uma caixa de aposentadorias e pensões. TRABALHO Nós tínhamos uma pensão, não dava muito bem para sobreviver. Minha avó criava galinhas, vendia ovos, frango, eu ajudava. Com 7 anos, já começei ajudar a dar farelo para as galinhas, essa coisa toda. Com 11, me empreguei na mercearia do meu padrinho. Onde ele me dava um rancho por semana, cesta básica como chamam hoje, mas não me dava salário. Quando a situação apertou, ele chegou para minha avó, prima legítima dele, e disse: “o rapazinho tem que trabalhar, para ajudar em casa”. Então, fui lá para mercearia para aprender, sem ganhar nada, mas ganhava a cesta básica por semana, um rancho toda semana. Passei 1 ano lá. Depois, os vizinhos me arranjaram, para eu ir trabalhar numa casa de ferragens, chamada Casa Farol, onde passei 2 anos, dos 12 aos 14. Dos 14 anos aos 21, trabalhei num armazém de ferragens de uma firma que tinha aqui. Ele ainda existe, aliás tinha aqui não, tinha em Belém do Pará. Chamava Importadora de Ferragens SA. Tinha sete filiais e meu padrinho me arranjou, para eu ir trabalhar no armazém âncora, de uma das filias, onde eu passei sete anos. De lá, fui para uma outra loja de ferragens, onde me ofereceram mais vantagens. Trabalhei 3 anos e depois fui para a Marinha, para a Marinha de Guerra. Quando dei baixa, cheguei a ter um bar no Leblon, no Rio de Janeiro, na rua Rainha Guilhermina. Passei 1 ano e pouco lá e depois, por motivo de família, minha avó teve problema de saúde, fui obrigado a voltar para cá. INGRESSO NA PETROBRAS Quando voltei para cá, um dos colegas da importadora, que era gerente de uma das lojas Ferraz aqui em Belém, me convidou: “já deste baixa da marinha, quer vim trabalhar conosco?”. Eu fui trabalhar com eles e, nessa altura, já era um empregado categorizado. Já tinha uns 30 e poucos anos, 34, 32, por aí, e muita experiência em ferragens, no conhecimento de ferragens e essa coisa toda. O nome da casa era Constrular. Num determinado dia, fui conferir um material que a casa tinha vendido, para a Petrobras. Era uma questão de pregos que nós tínhamos fornecido, pregos de tamanho 2 e meia. O pedido tinha sido 2 e meia e nós tínhamos fornecido 2 e ¼. Ficou ¼ a menos do tamanho e a Petrobras reclamou. Fui lá resolver o problema. Se desse para ficar o tamanho menor de ¼, tudo bem. Se não desse, nós assinaríamos uma cautela em nome da firma e nos comprometeríamos a fornecer, posteriormente. Na ocasião, vinha descendo da escada da Petrobras, que funcionava na Generalíssimo Deodoro, em Belém, um ex-colega meu, chamado Amizade, era alcunha que tinha. Ele disse: “ô rapaz, você por aqui Estava doido para falar contigo. Soube que tu saístes da marinha e tal. A Petrobras está precisando de gente, que conheça material, que saiba trabalhar, essa coisa toda. Eu te conheço desde de menino, sei que tu conhece material e tal. Vamos lá para o chefe do pessoal”. Aí me levou para o chefe do pessoal e disse: “esse companheiro, aqui, tem grande conhecimento em loja de ferragem e tal. Trabalha há muitos anos, em loja de ferragem. Ainda está aberta a inscrição?” Ele disse: “olha, fecha hoje ao meio-dia e o teste já é agora, às 13h”. “Será que ele ainda pode se inscrever?”. “Ainda pode, se ele trouxer a documentação toda”. Fui correndo em casa buscar a documentação e tal, nem almocei nesse dia. Às 13h, fiz o teste. Era para almoxarife. Almoxarife é quem tem conhecimento de material, conhecimento de polegada, matemática, fração, essas coisas todas, que abrangem material de construção, material técnico. Passei no concurso, eu e mais outros. A Petrobras nos admitiu, mas não como almoxarife. Admitiu, sim, como almoxarife alguns apaniguados. Eu e mais outros, classificaram como auxiliar de escritório. Apesar disso, nós fomos para base do Guamar, que foi a primeira base da Petrobras em Belém. Fomos tomar conta de almoxarifados, organizar almoxarifados. Então, a minha revolta começou aí. Fiz um teste para almoxarife, não fui classificado como almoxarife, fui classificado como auxiliar de escritório. Os que foram classificados, como almoxarife, ficaram num escritóriozinho, lá na seção de compras. TRAJETÓRIA SINDICAL Minha revolta começou aí. Já trabalhando na Petrobras, sempre reclamava, que fiz o concurso para almoxarife e tinha sido classificado como auxiliar de escritório. Foi aquele impacto emocional de reclamar, de protestar e, nessas alturas, nos reclassificaram como datilógrafos, que era mais um pouquinho, o salário era mais um pouquinho, mas ainda não, como almoxarife. Então, eu continuava lutando, para conseguir a classificação, que eu achava que merecia, por causa do concurso que eu tinha feito. O tempo foi passando. Em 58, nós soubemos que o imposto sindical dos petroleiros - já era uma média de quase 5 mil petroleiros na Amazônia - ia todo para Macapá, que era o sindicato mais congênere. De acordo com a lei, era o que poderia ficar com o imposto sindical, porque não tinha sindicato de trabalhadores de petróleo, que eram eletricistas. Aí, um superintendente adjunto, que esteve aqui, chamado Coronel Pinto - esqueci o outro nome dele - bolou a maneira de constituir um sindicato, para que o imposto sindical ficasse aqui. Era o imposto sindical de quase 5 mil trabalhadores da Empresa. Estava em transição, do Conselho Nacional do Petróleo para Petrobras, embora ela tivesse começado muito antes do CNP, através do Fomento Agrícola Nacional. Quem começou as primeiras perfurações na Petrobras foi o Fomento Agrícola Nacional. Era Ministério da Agricultura, a Petrobras começou no Ministério da Agricultura. Então, com a constituição da Associação - a lei não permitia fazer sindicato, imediatamente, como hoje permite. Isso, também, foi uma conquista nossa de 64 para cá. Tinha que passar 6 meses como Associação, depois é que podia ser transformada em sindicato. Enquanto não tivesse essa vivência como Associação, não era editada a carta sindical, que dava o direito a se constituir em sindicato. Então, nós descobrimos que esse pedido, de formação de Associação, tinha sido engavetado. Porque a Superintendência e a Associação da Petrobras, na época, achavam que era um perigo, não só pelo contingente, como pelas reclamações que poderia haver, porque era tudo desorganizado, na Empresa. Já veio desorganizado do Fomento Agrícola Nacional, do CNP. Com a passagem para Petrobras, pelo decreto 2004 de Getulio Vargas, em 3 de outubro. Qual foi a data da Petrobras? 3 de outubro de 54 ou 53, 3 de outubro de 53. Ela foi decretada e só foi promulgada, 1 ano depois, em 54. Aí, a Empresa começou a tomar conta. Inclusive, em 56 quando eu entrei, o chefe do pessoal foi requisitado na Assembléia Legislativa do Estado. Ele era secretário. Não me lembro o nome dele, sei que era o Tembla. Então, descobrimos que a Associação tinha sido engavetada, porque a direção da Petrobras local achou que era um perigo, 5 mil trabalhadores constituírem um sindicato. Aí, nós começamos a luta, mais ou menos em 58, luta essa que nos levou à fundação do sindicato. Fui o primeiro presidente eleito e fundador do sindicato. Eu e outros companheiros, porque ninguém faz nada sozinho. SINDIPETRO PA/AM/MA Sindicato dos Trabalhadores da Amazônia. Jurisdição do Pará, Amazônia e Maranhão. Aí, nós continuamos na luta, porque tinham várias irregularidades. Por exemplo, só tinha direito de folga de campo, dos matos, quem era engenheiro. De 45 a 45 dias tinha direito a passar, eu não sei se eram 40 dias, no local de origem. E o peão mesmo, o trabalhador e a staf média, do nível médio, tinha de 3 em 3 meses, 20 dias. Almoxarife, enfermeiro, administrador, contador da equipe, que nós chamávamos de apropriador. É o que apropriava todos os custos da equipe, fazia toda a contabilidade, pagava o pessoal e tal. Mas, o peão mesmo não tinha. Nós, como vínhamos de uma ideologia socializante, porque pertencemos 64 anos ao Partido Comunista Brasileiro. Desde os 12 anos de idade, lutávamos pelo direito, pela lealdade, pela justiça, como até hoje lutamos. Hoje eu estou no PSTU, não mais no PCB, mas ainda tenho a mesma ideologia marxista/leninista, um pouco mais deitada para o trotskismo, inspiração do PSTU. Então, conseguimos a folga de campo para todo mundo, indistintamente, só que para o peão, foi de 6 em 6 meses. Ele tinha duas folgas no ano, porque tinha um problema social tremendo. O cara arrumava a cabocla no local, onde estava perfurando ou pesquisando. A mulher arranjava na cidade onde tinha ficado, aquele problema social... Conseguimos também outras vantagens que, apesar de tudo, ainda perdura na Empresa. A paridade com os militares. Tivemos um Presidente da República, que tinha uma visão socialista. Era o João Goulart. Aí, a nossa briga. Eu, por exemplo, já pegava cadeia, desde os 12 anos de idade. Nas manifestações de rua, como estudante secundarista, estudava a noite e já viu, peguei varias prisões. Inclusive, pichando as paredes “O Petróleo é Nosso”, com piche mesmo. Naquele tempo era piche, não era o spray que usam hoje. Em 64, passei quase 2 anos preso. Além de ser presidente, o sindicato tinha uma pungência muito grande, participava de tudo. Havia um entrosamento naquela altura entre os estudantes e os trabalhadores, para lutar por um Brasil melhor, uma vida melhor. Eu tive muitos embates, participei de muitos comícios, esculhambei muito e até hoje esculhambo. É isso aí. EDUCAÇÃO Não cheguei a fazer faculdade. Depois, na própria Petrobras, fiz Marinha Mercante. Me diplomei como suboficial. Não fiz a escola da Marinha Mercante, fiz um curso que era patrocinado pela escola e pela Capitania dos Portos. Então, me diplomei e sou suboficial, de máquinas e motores da Marinha Mercante. Tenho a minha carta dada pelo Ministério da Marinha. CASSAÇÃO Passei quase 2 anos na cadeia. Fui preso querendo me evadir para Cuba. Sim, fui demitido, sumariamente, assinado pelo Coronel Nélio da Silva Lobato. Respondi justiça militar, oito processos. Eu tentei ir para Cuba e o esquema era o seguinte. Tinham vários navios, desses motores, na orla de uma estrada nova, no rio Guamá, lá em Belém do Pará. Destinados a nos levarem para Paramarim. De lá, nós procuraríamos a Embaixada de Cuba e íamos para Cuba. Eu estava num dos navios, desses motores pequenos de madeira, que era inclusive, onde estava também o Sebastião Órios, que teve um problema na Suíça, que é petroleiro e é anistiado. Ele esteve até em casa, porque eu tive uma grande influência, no último julgamento dele. Nós temos, aqui, a nossa comissão de anistiados da Petrobras. Temos aqui o nosso núcleo do Estado do Pará e do Amazonas. Belém também, e no Maranhão tem muitos, alguns anistiados. Inclusive, até estou com uma lista dos anistiados, na pasta. Uns já morreram. De 50 e tanto dos anistiados aqui da área, Pará, Amazonas e Maranhão, já morreram 27. Tem, também aqui em Manaus, um senhor com 82 anos, chamado Armando Lucena, que foi torrista, plataformista e sondador. Vocês não sabem o que é isso. PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Torrista é aquele, são três homens, que pegam os tubos com uma chave, porque os tubos vão arriando, vão sendo enroscados. Quando é para trocar broca, porque broca desamola, tem que puxar todas as colunas de tubo para botar uma broca nova para tornar a furar. Esse senhor foi torrista, é o que trabalha lá, no pé da sonda, que muda os tubos. Plataformista, é o que fica lá em cima na plataforma, segurando os tubos quando são tirados, ou dando os tubos quando são colocados. Ele foi torrista, foi plataformista e foi sondador, sem nunca ter sido classificado. Foi uma briga de sindicato para poder ser classificado, porque o cara era de uma capacidade fabulosa. Basta dizer o seguinte, ele hoje com 82 anos, é detentor de nove livros, o último que ele escreveu é “No Trilho do Tempo”. Mora em Manaus, anistiado. Inclusive, ele fala em mim nesse livro, fala em Carlos de Sá Pereira e tal. SINDICATO - TRAJETÓRIA SINDICAL Então, depois de 64, eu respondi aos processos e fui absolvido em todos. Tenho a certidão da justiça militar da minha absolvição, inclusive, isso me fez garantir a condição de anistiado político, que hoje eu sou. Tive a honra de ser cassado com Juscelino Kubistchek, no segundo ato institucional da ditadura. A honra de ombrear o Juscelino Kubischek de Oliveira, no mesmo ato institucional, número dois. Depois disso continuei trabalhando. Em 79, me apresentei pelo Instituto. Quando foi em 80, a primeira lei da anistia 66/83 é de 79. Mas, só foi promulgada em 80. Eu fiz valer o meu direito, não só pelo despacho do interventor militar na Amazônia, que foi o Nélio da Silva Lobato. Eu continuei trabalhando. Tinha um senhor aqui chamado Manuel Pinto da Silva Júnior, que fez um dos edifícios mais altos de Belém, inaugurado em 1951. Ele era do partidão, só que não era ativista, só fazia contribuir. Naquela altura, em 1964, ele dava 500 cruzeiros por mês, para o partidão. Ele não sabia que eu sabia, que ele era. Mas ele sabia que eu era, porque todo mundo sabia. Os jornais me atacavam, eu e toda a diretoria do sindicato. Nós passamos 7 meses fora do sindicato, por uma liminar feita por um juiz bandido, safado, canalha, ladrão, contrabandista, que assinou e levou 300 mil reais, cruzeiros naquele tempo. Então, nós passamos 7 meses fora. Lutamos bastante, para conseguir o retorno da cassação da liminar. Fomos ao Rio de Janeiro, falamos até com o ministro do Exército, que era ministro da Guerra naquela altura. Falamos com o ministro da Justiça, que era o pai do Mangabeira, presidente da Petrobras. Falamos com todo mundo, mas não conseguimos. Um dia depois da nossa volta, ainda fora do sindicato, estava lá uma junta caricata feita pela burguesia, pelo Coronel Jarbas Passarinho junto com o Coronel Nélio Lobato. Essa raça toda que dominava e, ainda, domina a situação - apesar do Lula ter ganho, não conseguiu se libertar do domínio da burguesia do capitalismo internacional e nacional, essa que é a verdade. Um dia, o pessoal da Petrobras fez uma assembléia. Decidiram fazer uma greve na Empresa, aqui na região do Pará, Amazonas e Maranhão, para ir lá para o Palácio da Justiça, em Belém, exigir que o juiz Olavo Nunes - que era contrabandista - cassasse a liminar ou que a justiça cassasse as liminares. Fizeram aquela greve e foram lá, na frente do Palácio da Justiça. O presidente do Tribunal de Justiça mandou chamar esse juiz Olavo Nunes e disse a ele: “olha, resolva o problema, que a justiça está sendo manchada, com essa multidão aqui”. Aí, ele mesmo cassou a liminar dele. Então, o pessoal me carregou e só foi me deixar, lá, na cadeira de presidente do sindicato. Foi aquele rebu danado. Veio a polícia, o chefe de polícia, o representante do governador, o representante do prefeito, os nossos advogados sindicais, que eram o Rui Barata, também marxista-leninista, e o pai dele Alarico Barata. Foi uma confusão dos diabos. Houve a assembléia geral direta, entrando e saindo gente. Tudo em greve. Petrobras em greve. Quando foi à tarde, me botaram como presidente da assembléia. Eu tinha que presidir a massa da Petrobras. Vieram me dizer: “olha, Sá, estão aí dois sargentos do exército, que todo mundo sabe que são do serviço secreto”. Aí, por uma questão de ordem na assembléia, coloquei o problema. Disse que tinha dois sargentos, que eram do serviço secreto e que estavam ali. Que nosso estatuto não permitia, que pessoas estranhas participassem da assembléia do sindicato. Mas, eu pedi à assembléia, que fosse concedido o direito deles permanecerem, para chamá-los a fazer parte da mesa. Foi para desmascarar os caras. E provar, que ali não se fazia nada, nem se dizia nada que fosse contra o povo, contra a Nação e contra o Brasil. Fui aplaudido de pé, aquele negócio todo. Os caras foram obrigados a fazer parte da mesa. UNIDADE - UN-BSOL Não cheguei a trabalhar aqui em Urucu, cheguei a visitar. O Superintendente que veio para cá, me ofereceu uma vinda. Ele disse: “olha, vou te dar uma ordem. Você tem que ir a Urucu conhecer aquilo lá”. Parece que foi o Doutor Nepomuceno, não me lembro bem. Isso foi antes do golpe, acho que em 62, 63 mais ou menos, 2 de setembro de 63. Aí veio o golpe, em 31 de março de 64, mas ele só se consolidou no 1º de abril. Foi a ocasião em que fui preso. Eu estava numa garupa de uma lambreta. Bom, o negócio foi o seguinte. No dia 1º de abril de 1964, eu estava no sindicato de vigília, porque a greve tinha que ser feita, no sindicato. O pessoal ia lá e assinava a presença. Estava em greve, mas tinha que permanecer no sindicato, era vigília. Aí o Jango, tentando chegar no Rio Grande do Sul, que é o refúgio dele, onde ele tinha maior apoio, porque os generais todos se venderam. Aquele Lincon Gordon, que era embaixador do Estados Unidos, no Brasil, corrompeu todos os generais, todos os... SINDICATO- TRAJETÓRIA SINDICAL – ANISTIA Eu, efetivamente, voltei para Petrobras já na anistia, em 1986. Eu tinha uma grande experiência nisso, tinha e tenho, voltei para Petrobras e continuei na função de almoxarife. PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Almoxarife tomava conta do almoxarifado, da organização do almoxarifado, do armazenamento e do planejamento, da previsão. SINDICATO - TRAJETÓRIA SINDICAL - ANISTIA Voltei, fui promovido. Também fui eleito várias vezes membro do conselho fiscal do sindicato, até hoje sou. Venho sendo reeleito em vários mandatos. O momento mais marcante, da minha trajetória na Petrobras, foi a minha volta como anistiado político. Foi o reconhecimento, que eu tinha direito ao que me esbulharam, ao esbulho sofrido. Eu fui esbulhado, inclusive, absolvido em todos os julgamentos que eu tive. Foram três julgamentos, que englobaram os oitos inquéritos que eu respondi. E a certidão da justiça militar é a prova, que eu não tinha nada de subversivo, apesar de ter ideologia própria, de pertencer ao Partido Comunista.Quem subverteu a ordem das coisas foram os militares, os militares fascistas, porque nós estávamos, como constituição, legalmente. Só podia ter sido feito, o que eles fizeram, se houvesse uma nova constituição. Mas eles esbulharam, tiraram os nossos direitos, inclusive, os direitos do João Goulart de ser Presidente da Republica, que fugiu, fantasiado de enfermeiro e chegou ao Rio Grande do Sul. APOSENTADORIA Eu me aposentei em 1900 e... quer dizer, aposentado, já fiquei logo pela anistia, mas eu já era aposentado pelo Instituto, em 1979, porque continuei trabalhando na Manuel Pinto da Silva e outras casas, que depois me ofereceram. Mas, eu saí. Só fui aposentando em 1979, pelo Instituto. Quando a anistia veio, quando ela me alcançou, eu estava aposentado pelo Instituto. Então, foi corrida a minha aposentadoria de normal para excepcional, porque a lei da anistia é aposentadoria excepcional, é como se na ativa estivesse. Depois, que voltei para ativa, eu galguei todas as minhas promoções até o teto máximo, dentro da minha classificação. Hoje, eu sou técnico de suprimentos. A do Instituto foi cancelada, a da Petrobras não. Quem nos paga é o Tesouro Nacional. CULTURA PETROBRAS O que eu sinto mais falta, é daquela fibra dos trabalhadores da Petrobras. O maior patrimônio da Petrobras, são os próprios trabalhadores.
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