Projeto Conte sua História
Depoimento de Adam Souza da Silva
PCSH_HV881
Realização Museu da Pessoa
Então, a gente sempre começa pedindo pra você falar seu nome completo, data e local de nascimento.
Meu nome completo é Adam Souza da Silva. Sou nascido em 27 de setembro de 1988, na cidade de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.
E quais são os nomes dos seus pais?
Minha mãe se chama Ana Lúcia de Souza e meu pai Severino do Ramo da Silva.
E o que eles fazem?
A minha mãe é doméstica. Ela é natural de Minas Gerais, de uma cidade muito pequena chamada Miraí. E o meu pai, ele...
Era funcionário público, ele era lixeiro da cidade de Nova Iguaçu, mas ele sofreu um acidente de trabalho e quando era muito pequeno, não lembro disso, mas a minha mãe conta, ele ficou paralítico por muito tempo e ele acabou se aposentando muito jovem.
Então, ele é aposentado desde quando ele tinha 36 anos, mas hoje ele está bem, ele se recuperou, mas ele já tinha sido aposentado.
E como que foi esse acidente na vida de vocês?
Eu não lembro muito, era muito pequeno, mas, na verdade, quando eu tinha uns 5, 6 anos, pelo que eu me lembro, eu lembro que o meu pai ia ainda fazer as perícias no INSS, né? Então, ele já tava meio que se recuperando mas ele acabou se aposentando.
Então, eu tenho algumas memórias muito vagas de estar dentro do carro, meu pai no INSS, passando por uma perícia. Eu tenho memórias muito vagas.
Então, eu acho que eu era muito pequeno mesmo, mas assim, a minha vida inteira eu ouvi essa história desse meu pai paralítico por muito tempo, e eu tenho essa vaga memória das perícias.
E você, Bruno?
Eu tenho uma irmã dois anos mais velha do que eu. Ela se chama Angel Cristina Souza da Silva.
E como que é a relação entre vocês?
É uma relação normal, nós somos normal no sentido de relação de irmãos, nós não somos muito parecidos em termos de personalidade e de gostos.
Então isso acaba trazendo um pouco de distanciamento, ou trouxe por um período de distanciamento, porque eu gosto de coisas que ela não gosta, ela começou a frequentar a igreja por um tempo, então as conversas por muito tempo não eram a mesma.
Mas é um relacionamento bom, não temos brigas, é um relacionamento bom E você.
Lembra da casa onde você matou sua infância?
Lembro, lembro perfeitamente Os meus pais, eles se separaram quando eu tinha mais ou menos 8 anos de idade Mas, até esse momento, a gente morou numa casa em Nova Iguaçu, no bairro de Comendador Soares, e tinha...
Era um quintal com algumas outras casas, a gente morava de aluguel, e eu lembro perfeitamente, era um quintal grande, tinha pé de goiaba, tinha pé de jambo, então eu tenho ótimas memórias com meus amigos de lá.
Eu acho que eu tenho uma foto, inclusive, com dois amigos que eu não tenho mais contato, que é com o Bruno e com o Thiago. Eles eram primos e a gente passava muito tempo junto, a gente morava próximo.
Então, eu tenho uma foto polaroide, que quando eu olho pra aquela foto me traz ótimas memórias, porque eu lembro daquelas pessoas claramente, sabe? Eu passei muito tempo com eles. E fora isso, tem...
Tem uma outra casa que a gente morou, mas eu acho que foi quando eu nasci, que eu não tenho memória, que o meu pai foi caseiro de uma das escolas que eu estudei, uma escola municipal.
Então, eu não tenho muitas memórias, mas eu lembro, assim, porque minha mãe fala, meu pai fala, que meu pai foi caseiro e eu morei dentro da escola que eu estudava, sabe? Desde o CA. Eu estudei desde o CA até a 5ª série.
Mas eu não morei lá até a 5ª série, mas eu acho que quando eu era muito pequeno, assim, no jardim de infância, eu morei no quintal da escola que eu viria estudar. E aí é muito legal também porque eu tenho uma relação muito bacana com essa escola, né?
Eu ainda passo lá de vez em quando e eu sempre falo, ah, eu morei aqui, mas eu não lembro. Mas a minha mãe sempre fala que.
A gente morou lá. Quais eram as brincadeiras que você amava fazer?
As brincadeiras... Queimada. Pique-esconde. Ah, e tinha uma brincadeira que era a do taco. Eu não lembro o nome. Mas tinha duas equipes e uma tinha que atravessar por outro lado. Eu acho que era troca de taco. Tinha um taco que a gente pegava uma lata de óleo que ficava num círculo.
Aí eram duas equipes e a gente ficava com o taco de madeira na mão. com uma bola de tênis, e aí o objetivo era meio que acertar a lata de óleo do outro lado. E se você derrubasse, uma equipe tinha que correr pro outro lado. A gente chamava de taco, é taco.
As pessoas não brincam mais disso, mas a gente chamava de taco. Então taco, pique-esconde, pique-pega... Ih, caiu. Alô? Ah, voltamos.
Tá tudo bem aí?
Tudo bem.
Tá, desculpa.
Não, relaxa. Eu tava falando do taco, né? Então era taco, pique-esconde, pique-pega. Tinha uma coisa também de carniça. Eu não sei se as pessoas brincam disso, se isso é nacional, assim. Mas era basicamente uma pessoa ficava meio que... como se fosse de quatro, uma coisa assim.
E aí tinha um líder, esse líder falava, eu bato, todo mundo bate. Eu bato, ninguém bate. Aí eu não lembro o que acontecia pra trocar essa carniça, mas a gente chamava de carniça. Era o nome da brincadeira.
E o bairro como que era?
O bairro, eu tenho uma relação ainda grande com esse bairro, eu não moro mais lá, mas a minha mãe, as tias, a minha avó tá lá hoje. É um bairro de periferia, onde as pessoas se conhecem, então assim, tem um centro desse bairro, onde você tem loja de roupa, a feira de domingo, a estação de trem.
Então, acaba que todo mundo se encontra nesses lugares. Então, é meio que... É um bairro pequeno. É um dos maiores bairros de Nova Iguaçu, na verdade. Mas a área que eu morava, de Comendador Soares, era uma parte onde todo mundo se conhecia, de alguma forma. Então, a gente sempre se encontrava.
Quando eu vou lá, as pessoas me conhecem. Assim, quem não reconhece, lembro que é minha mãe, que é meu pai, mas é um bairro que tinha padaria e tem padaria, hortifruti, escola Muita criança, tinha festa junina numa rua principal, que a gente chamava de Rua de Baixo, tinha festa junina.
Tinha carnaval, não tem mais, mas tinha um carnaval bem legal. Eu tenho memórias de carnaval com a minha mãe quando criança, no bairro, e aí acabava que todo mundo que gostava de carnaval se encontrava no bloco.
Tem uma quadra que se chama Vasco de Morragudo, que era um clube de futebol que eu não frequentei muito, mas que também era referência. É bem provido de transporte público, tem uma estação de trem. Eu comecei a andar de bicicleta em bairro.
Eu lembro até hoje a ladeira que tinha na rua, que eu caí da bicicleta várias vezes aprendendo a andar. Então, quando eu visito a minha mãe, a minha infância toda tá naquela área ali.
E o que você queria ser quando crescesse? Tá me ouvindo? Alô?
Nossa! Eu não tenho... Adam?
Oi!
Oi. Ai, dá pra ir porque essa internet eu acho que é mais a minha. Hoje decidiu ficar ruim.
Mas será que é assim?
Não sei, pode ser a minha também. Mas vamos... Por enquanto tá boa.
Agora tá melhor. Tá. É, vamos vendo. A gente vai tentando lugares.
É, tá, mas eu acho que é a minha.
Você tá próximo do roteador?
Tô, na verdade eu até trouxe ele.
Agora pra... Pra perto de mim. Ah, então agora vai. Eu tô bem próxima também do meu. É muito doido esse entrevista online, gente. É, né? E por que muda esse?
Pois é, assim, porque pra mim os meus pontinhos tão... Perfeitos.
É, o meu também não tô entendendo.
É. Mas se você tiver controle, se quando cair você conseguir voltar, pra mim tá tudo bem.
Tá. Não, é, vamos indo, vamos junto.
Tá.
Mas eu não sei se você chegou a ouvir a pergunta.
Ouvi, né, se quando eu era pequeno o que eu queria ser quando crescesse, né?
Isso.
Então, eu nunca tive... Eu sou de uma família muito simples, né? Então, assim, em casa a gente nunca teve... Eu não tenho memória de dentro de casa ouvindo conversa do que meu pai ou minha mãe fazia, né?
Eu sei porque eu aprendi ao longo do tempo, mas eu não tenho essa memória de ir em festa na casa da minha tia ou de nenhum familiar e saber o que eles faziam.
Então, eu nunca tive assim, ah, eu quero ser algo porque é minha mãe, porque é meu tio, Então meio que surgiu, quando eu era criança, talvez com uns 10 anos, uma vontade de ser ator Não sei porquê, não sei de onde veio, talvez de assistir muita televisão E aí eu coloquei, eu queria ser ator ou modelo Era uma coisa que eu vi e eu queria ser E em Comunidador Soares começou a ter um curso de modelo E eu me inscrevi, era numa academia de ginástica, eu pedi minha mãe e eu me inscrevi E, por algum tempo, eu participei de...
E a minha irmã também. A minha irmã foi junto, né? Ela não queria, mas ela me viu e ela acabou indo junto. Então, fui ser modelo. Fui ser modelo, Mirim. Eu adorava. O meu pai gostava de filmar. Então, talvez, veio daí esse desejo. Então, eu participei desse cursinho de modelo.
Aí, eu aprendi a andar na passarela. Aí, eu fiz amizade. Aí, eu desfilei em alguns lugares do Rio de Janeiro, dentro de restaurante, umas coisas muito loucas. E aí por um tempo eu fui modelo. Foi engraçado, gastei muito mais dinheiro, mas era uma atividade e era um sonho.
Ai, talvez eu vou ficar famoso, talvez eu faça muito dinheiro, não sei. Mas aí depois eu migrei de modelo, eu entendi que eu gostava muito mais de teatro, que eu gostava de artes. E aí eu fui buscar cursos relacionados a artes cênicas.
E aí sempre conversei com a minha mãe, comprava Jornal Domingo, ia buscar algumas coisas. Comecei a fazer um curso de teatro não em Comendador Soares, porque eu não tinha conhecimento de nenhum desses cursos de teatro ali naquele bairro, mas na Zona Norte do Rio. Aí eu comecei a fazer um curso lá.
Minha mãe me levava ou amigas da minha mãe. ou mães de outras crianças do bairro. E aí foi uma fase que durou bastante, porque aí o teatro, de fato, se tornou minha paixão. Eu fiz ótimos amigos, aí tinha...
Pequenos Brilhantes, se não me engano, era uma agência de atores e modelos que tinha em São Paulo e tinha no Rio, que era de um ator, que eu esqueci o nome dele, mas ele era do SBT, era da Praça É Nossa. Pequenos Brilhantes, nunca vou esquecer, era esse o nome.
E aí eu queria me agenciar, então a minha mãe juntou um dinheiro, as minhas tias, e eu fiz um book, Pequenos Brilhantes, E fiz um book live e fiquei agenciado lá Tenho um certificado até hoje, inclusive Pequenos Brilhantes Eu não sei o que diz no certificado, mas eu tenho guardado E aí eu fui conhecendo muita gente E aí se tornou de fato uma paixão E depois, de um certo tempo, uma tia, que também é doméstica Ela começou a trabalhar não começou a trabalhar, ela trabalhava com um senhor, que ela trabalha até hoje, na verdade, e ele começou a namorar uma diretora de teatro no Rio.
Uma diretora de teatro, diretora, na verdade, de uma das escolas de teatro mais tradicionais do Rio, do Brasil, eu diria, que é o Teatro Tablado, e ela comentou no trabalho dela que tinha um sobrinho que queria ser ator e gostava de teatro, A Cacá Mortê, que é a diretora da escola, falou pra minha tia me levar na escola.
Eu fui, participei de uma aula. Ela perguntou no final da aula se eu gostava ou se eu tinha gostado. Eu gostei, ela falou, então você fica. E aí eu fiquei fazendo aulas de teatro, no Teatro Tablado, que é uma escola de teatro super renomada, na verdade, super conhecida. eu fiquei lá por muito tempo.
E dentro do teatro tablado eu também entendi que, na verdade, eu gostava de artes, eu gostava de estar naquele meio, eu entendi a cultura e eu queria aprender com aquilo, com aquela troca. E eu me desenvolvi muito como pessoa lá também, mas eu acabei... migrando pro, sabe, backstage.
Eu entendi que, ah, não, eu não sou tão bom ator assim, mas eu gosto de estar aqui, eu gosto de produzir.
Então, eu fiquei no tablado, participei das peças de teatro de fim de ano, trabalhei como contra-regra, assistente de produção, a Cacá me indicou para outros trabalhos, fiz ótimos amigos, que são amigos que eu tenho até hoje, na verdade, meus amigos, na verdade.
de Novo Iguaçu, de Comendador Soares, eu tenho muito pouco, porque acabou que essa parte de... a transição infância-adolescência, eu passei muito mais no tablado. E eu sou muito mais próximo desses amigos hoje. E aí eu queria ser, então, acho que ator, na verdade.
No final, ator, mas que eu acabei não... É, eu posso dizer que eu sou ator, porque eu posso atuar, eu fiz aulas de teatro, mas era isso que eu queria ser. E depois mudou bastante, na verdade.
Você começou as aulas de teatro com quantos anos?
Nossa! Então, eu não sou péssimo nisso, mas eu tenho essa memória, talvez, de 10 anos como modelo. Eu penso que é isso, 8 anos, 7 anos. Acho que eram 9, 10 anos quando eu comecei essa historinha de modelo e fazer os cursinhos pequenos, brilhantes. Eu acho... Eu posso conferir depois.
Mas eu deveria ter. 13, 14 anos, eu acredito. Talvez 14. Isso é 13, 14. Isso porque a minha memória é essa. Era um período onde muitas das festas... Aí eu comecei a fazer teatro e fui convidado para várias festas. E aí eu fui em festas de 15 anos de muitas meninas. Muitas.
Então acredito que seja isso mesmo. 13, 14 anos. Ou 14, 15. É, é isso. 13, 14 ou 14, 15. Que eu fui fazer tablado. Então, teatro, na verdade, deve ter entrado na minha vida com 12 anos.
E voltando um pouquinho, como que foi a separação dos seus pais pra vocês?
Mais uma vez, eu não tenho muitas memórias. Eu tenho uma memória de uma briga, que eu acho que foi a briga final, talvez. que era nessa casa que a gente morava com o comandador Soares, que tinha esse quintal.
E aí eu não sei o porquê da briga, mas eu tenho essa memória de minha mãe do lado de fora, na rua, gritando com meu pai do lado de dentro do portão. E eu acho... que eu tava do lado de fora junto com a minha mãe. Então, assim, eu não sei o porquê, como aconteceu, mas eu tenho essa memória assim.
Teve essa briga e tinha esse portão, que era um portão grande, meu pai do lado de dentro e minha mãe do lado de fora, e um gritando com o outro. E aí eu acredito que esse tenha sido o ponto final de tudo. Porque depois dali eu não tenho nenhuma memória mais, assim. Brigas, pai e mãe.
É a única coisa que eu tenho bem claro, assim.
E aí vocês foram morar com a sua mãe, com o seu pai, guarda compartilhada?
Então, no início, não teve nenhum processo de justiça no início, né? Eu acho que minha mãe entendeu que ela...
o meu pai tinha uma estrutura muito maior ou melhor do que a minha mãe, pelo fato dele ter sido funcionário público, já era aposentado, Então, eu acho que naturalmente, muito organicamente, eu fui morar com a... Eu e minha irmã, nós fomos morar com o meu pai.
E a minha mãe foi tentar reconstruir a vida dela. Então, ela começou a morar de favor na casa de uma amiga, que se chamava Cacilda, e tinha várias filhas, meninas. Era só meninas. E eu fui morar com o meu pai e a minha irmã. E aí, eu não sei também, no início, onde... Eu não tenho essa memória de...
exatamente onde a gente foi morar. Mas aí eu tenho, e se era eu, meu pai e minha irmã só, eu sei que uma memória que me surge logo depois é eu morando, eu, minha irmã e meu pai morando num bairro próximo que se chamava Cacuia, se chama Cacuia, né? E meu pai com uma outra esposa já.
Então, assim, O momento da separação, eu tenho um lápis de memória, não sei para onde nós fomos, o que aconteceu, mas aí eu me recordo. Eu, minha irmã, meu pai, essa nova esposa do meu pai. E aí aos finais de semana era uma coisa muito orgânica.
A gente ia pra casa da minha mãe, que já morava com essa amiga dela e as filhas, ou pra casa da minha tia. Porque as minhas tias, não todas, mas minhas tias, algumas por parte de mãe, moravam também super próximas.
Então aos finais de semana eu tinha essa minha tia, Tia Cida, que acabava que os almoços de domingo, festas, era tudo na casa dela, porque ela tinha uma churrasqueira, tinha uma área. Então eu tenho essa memória. Morava com meu pai e finais de semana com a minha mãe.
E você comentou que você ia pra escola. Qual é a sua primeira lembrança que você tem da escola?
Nossa, eu acho que eu lembro muito dessa escola. Escola Municipal Nica Novo Gonçalves Pereira. É o nome da escola que eu estudei por muito tempo. É o nome da diretora Regina, que eu acho que é diretora até hoje.
Eu tenho foto, eu com a minha primeira professora, com roupinha de formatura, acredito que do CA para a primeira série. Professora Rosângela, olha, eu lembro até o nome dela. Nossa, fui muito feliz na Escola Municipal Nicanor Gonçalves Pereira, que a gente chama só de Nicanor.
Lembro perfeitamente das cadeiras, da sala de aula, da cena, da formatura desse CEA. Eu lembro perfeitamente que era um salão, que eu acho que é um salão que eles devem ter até hoje, ou talvez mudaram, mas era um salão, e todas as crianças juntas, e a gente com uma roupinha feita de...
Ah, esqueci o nome do papel, mas era feita de papel. a roupinha de formatura, aquela beca de formatura, o chapéuzinho. Então, tem essa memória, essa formatura do CA. Eu acho que é uma coisa muito clara, até porque eu fico vendo essa foto, eu com a professora e duas coleguinhas, muito...
Tenho aqui no meu computador, assim, facilmente. Essa é uma das memórias que eu tenho. Outras memórias são dolicanoura, assim, é de uma professora de geografia Eu não vou lembrar o nome dela, mas eu acho que seja a professora Marta. Acredito que seja a professora Marta.
Talvez eu estava na terceira série e era uma professora linda, negra. Eu acho que a minha primeira referência de professora negra que me vem à cabeça seja a Marta, que é professora de geografia. Linda, linda, linda. E eu me recordo que ela foi assassinada pelo marido.
Era uma história que eu lembro até hoje. Dentro da escola, foi isso. Ela deixou de existir, ela deixou de dar aula. E eu não sei como eu fiquei sabendo dessa informação, mas eu acho que passou na televisão.
Na época, minha mãe comentou, porque não foi algo que falaram na escola, mas eu acho que na época foi algo muito forte, chegou a passar na televisão, porque eu acho que ela era casada com um estrangeiro, ela não morava em Nova Iguaçu, E eu acho que ela era casada com um estrangeiro e ela foi assassinada por esse cara.
Eu acho que era em Copacabana isso. É uma memória triste, mas também boa, porque eu lembro perfeitamente de quão boa essa professora era. Essa é uma memória que eu tenho. E das festas de Dia das Mães, na quadra da escola, as musiquinhas... Lembro que eu cheguei a fazer xixi na...
Em algum momento, acho que primeira série, eu fiz xixi na sala de aula, porque eu acho que a tia não deixou eu ir ao banheiro por algum motivo. E aí tem memórias também não tão boas, que foi a fase rebelde, talvez quarta série.
A escola era municipal, ela só ia até a quarta série, e que era a fase que eu fingia que eu tava indo pra escola e aí eu... A minha mãe me deixava na porta da escola, ia trabalhar, e aí eu não entrava no portão da escola. Por um período eu fiz isso, e isso me levou a um ano de reprovação.
Mas acontece. Eu não sei porque, eu acho que era preguiça mesmo, não sei. Foi uma fase rebelde, que eu acordava cedo, colocava roupa, ia pro Nicanor, e aí eu já morava com a minha mãe, então. E aí não entrava no portão. E aí eu fiquei reprovado por faltas. Basicamente isso.
E como você ia pra escola?
A pé. Ia caminhando. Sempre fui caminhando. Tanto que quando... É, sempre fui caminhando. Caminhando sempre. Minto, às vezes de ônibus. Quando eu fui morar com a minha mãe, e a minha mãe morava um pouquinho mais distante da escola, Não tão longe, dá pra ir andando também?
Às vezes eu pegava ônibus, mas no geral caminhando.
E aí você mudou de escola, como que foi essa mudança?
Essa mudança de escola foi um medo, mas ela aconteceu justamente nessa fase que... Era isso, era a mudança da quinta série, se não me engano, pra sexta série. Porque o Único é uma escola municipal e só ia até a quinta série do fundamental. Era isso.
Se não foi a quinta série, foi a sexta, mas teve essa mudança que eu fiquei reprovado. E aí a gente decidiu mudar junto com a minha mãe, justamente pra ter uma escola mais próxima. Apesar de eu gostar muito do Nicanor.
Pra ficar numa escola mais próxima, pra não ter esse problema de tenho preguiça, não quero entrar, alguma coisa assim. Foi um medo muito grande, porque até aquele momento a minha relação com pessoas era com o Nicanor.
Era um lugar que eu me sentia seguro, eu conhecia tudo, conhecia a merendeira, a diretora, eu passava pelos mesmos lugares. E a luta foi que a ideia de mudar seria para um CIEP. E aí tinha a brincadeira do CIEP, entra burro, né, brisolão, entra burro, sai ladrão. Tinha todos esses...
Eu acho que até hoje existe essa brincadeira de mau gosto sobre quem estuda no brisolão, que é uma escola péssima. Tem essa fama, por algum motivo. Então, eu não queria muito, foi muito relutante. Porém, acabei indo pro CIEP 113, professor Waldir Pereira.
E o primeiro dia de aula, eu lembro, eu fui morrendo de medo. com muito medo do novo, com um pouco de preconceito também. Mas logo no primeiro dia eu lembro que eu me adaptei, eu encontrei alguns conhecidos, fiz amigos, tenho dois amigos até hoje que são pessoas que eu encontrei no Nicanor.
Mas foi também nesse brisolão que eu tive momentos bem difíceis, sabe? Eu acho que...
Talvez no meio desse primeiro ano, nessa escola, tinha pessoas que não gostavam de mim E demonstrava, eu tinha medo, se não me engano, de dois alunos lá E que, de fato, chegavam pra mim e me chamavam de viadinho De fato, dentro daquela escola também, foi uma fase bem difícil que eu tive alguns medos Mas superei, mas foi ali também que eu tive medo.
E nessa época que tu tava um pouco maior, como você se divertia?
Ainda. Ainda brincava, não de pique-esconde mais, mas essa brincadeira da carniça. E essa brincadeira, a brincadeira da carniça queimada. Queimada. Carniça queimada. Itaco era... Acontecia também. Talvez essa da carniça, inclusive, eu acho que se tornou um pouco mais perigosa.
Porque era uma coisa que você tinha que dar um tapa, né? Eu bato, todo mundo bate. Eu bato, ninguém bate. E aí as pessoas davam cada tapão nas costas pra machucar, sabe? Era um pouco isso, né? Eu bato, todo mundo bate. Aí todo mundo tinha que bater na carniça. Aí eu bato, ninguém bate.
Aí se você não tivesse muito ligado, não tivesse atenção e acabasse batendo, você era carniça e todo mundo ainda... Batia muito, batia assim, dava uns tapas em você, mas aí era essa época que os tapas eram pra machucar às vezes, sabe? Mas eram essas brincadeiras que eu tinha.
Muitos amigos, na verdade, dois amigos muito próximos que surgiram nesse SIEP, que é o Daniel e o Luan, eles iam nessa fase aí, transição, criança, adolescência, eles iam muito pra um baile que tinha, que tinha um lugar lá que se chama Parque dos Artistas, PDA, e eu não ia.
Então, aos finais de semana, o pessoal dessa escola nova, que era isso, já era quinta, sexta série, talvez 14 anos, 13, mas aí algumas pessoas já saíam e eu não ia, eu nunca fui nesse PDA, mas meus amigos iam PDA.
Então, final de semana, as pessoas dessa escola se encontrava na segunda falando sobre quem eu vi, quem eu não vi no PDA, quem beijou, quem não beijou ninguém. E eu não tinha isso, porque eu não ia, eu tinha medo, na verdade, sabe?
Eu sabia que rolava briga, era balifante, então eu ficava em casa mesmo, não ia não. E também era a fase que eu já tinha interesse pela arte, pela escola de modelo, pelo teatro. Então, minhas atividades eram outras. Mas eu também nunca tive interesse pelas músicas que tocavam, nada disso.
Então, não ia. Essa era a diversão. E na minha família, a gente é uma família bem unida, bem grande.
Tem aniversário até hoje, assim Então era aniversário pra dar e vender Então as minhas atividades aos fins de semana era aniversário de alguém Sempre ia comer bolo, docinho, aniversário, churrasco de alguém E você.
Ficou até o final da escola ou você mudou de novo?
Eu mudei, que também foi uma fase interessante Em 2017 eu mudei Eu acho que eu tenho uma carteirinha, inclusive, do Nicanor. Uma carteirinha do Nicanor eu acho que eu tenho. E, se eu não tiver do Nicanor, eu tenho do 113, sabe? E a outra escola que eu mudei, eu mudei no terceiro ano.
Eu fiquei no CEP 113, dessa quinta, sexta série, até o final do segundo ano do ensino médio. E aí eu já trabalhava, na verdade, com teatro. Eu saía de Nova Iguaçu para as aulas de teatro, que ficam na Zona Sul do Rio, no Jardim Botânico.
Então, às vezes, eu saía de lá, umas duas horas de viagem de trem, e aí eu já ia sozinho mesmo. Então, no ensino médio, eu meio que já trabalhava com teatro, eu fazia assistência de produção, contra-regragem, trabalhava na cantina do teatro.
Então, era muito corrida a minha vida às vezes, porque eu saía da escola, eu pedia a diretora para sair mais cedo, porque eu tinha um compromisso do outro lado da cidade, eu precisava de duas horas para chegar lá.
Então, um amigo, de um patrão, de uma amiga da minha mãe, uma coisa assim, que a gente conheceu. Ele deixou eu dormir, deixava eu dormir na casa dele algumas vezes no centro da cidade, o que me ajudava às vezes. E, com o tempo, ele ofereceu pra que eu morasse com ele.
Então, ele tinha dois quartos, eu tinha uma casa com duas camas. Então, no terceiro ano do ensino médio, eu decidi que eu ia sair da casa da minha mãe. para morar com ele, para ficar mais perto do teatro, porque era muito cansativo. Às vezes, eu chegava em Nova Iguaçu uma hora da manhã, sabe?
Então, fui morar no centro da cidade, com o Everaldo, e troquei para uma escola estadual, terceiro ano, no ensino médio, que foi a Escola Estadual Souza Guiá, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Então, terminei meu terceiro ano de ensino médio que eu fiz nessa escola, que se não me engano, posso pesquisar depois, mas eu ouvi isso, é uma escola centenária, que o Silvio Santos estudou lá. E aí foi bem legal, porque era uma escola totalmente diferente, num ambiente totalmente diferente.
Então era um uniforme. Quando eu estudei lá, que foi em 2007, Era uma escola, não sei se você conhece a escola Pedro II, mas é uma escola que as regras de vestimento eram super tradicionais.
Era calça azul escuro, calça azul marinho, azul escuro, sapato preto, uma blusinha branca, aquela meia social. e tinha que estar meio que impecável. Para a educação física, precisava de uma roupa certinha na educação física. E como eu estudei sempre numa escola pública, eu não tinha...
Eu achava lindo quando eu via os meninos da escola do Colégio Pedro II. Eu sempre quis, eu sempre gostei de uma escola assim. E eu me senti super feliz que eu tinha que comprar aquela calça, eu tinha que comprar a roupa da Educação Física.
E nessa escola tinha um laboratório de fotografia e o professor de Física levava a gente pra lá. Era uma escola no centro da cidade. Então, tinha mais acesso, tinha muita coisa. Eu lembro que eles fizeram uma parceria nesse ano com a Fundição Progresso.
que é um espaço cultural no Rio, que tem show, tem aula de teatro, tem aula de circo. E neste ano, que foi o meu último ano escolar e que eu mudei para essa escola, a Fundição Progresso criou um projeto e eles fizeram parceria com essa escola estadual. E eu me inscrevi. Então, eu tive várias...
Além do teatro, que eu já fazia e eu continuei fazendo, Eu ainda fiz aula de cinema, de audiovisual num projeto numa ONG que tinha ali perto e ainda fiz a Fundição Progresso, eu fiz oficinas de circo, de tecido.
Então, eu tenho memórias incríveis também do Colégio Tadal Sazaguiá, porque eram pessoas de todos os lugares, do Rio também, de tanto comunidades, favelas, quanto de Paquetá, que é uma ilha que tem aqui no Rio, que não tem escola estadual, e a galera vinha de Paquetá, a escola mais próxima que eles falavam era essa, então a galera vinha de Paquetá para o Sousa Guiá.
Então, eu acho que a gente pegava na escola às 6h50 da manhã, e essas meninas, Lorena, Lidiane e tinha muito mais gente que chegava, acordava, sei lá, 4 horas da manhã, sabe? Então, foi uma troca bem legal. Eram pessoas mais maduras também. E esse terceiro ano foi bem legal.
E aí, você tinha amigos nessa época?
Tinha, tinha. Justamente, muito diferente do que eu passei no 113, a experiência do brincador era 100% criança, né? não tinha maldade, não tinha nada, e eu tenho memórias ótimas.
No CF113, já era uma escola que tá ali, tá no meio, ali na periferia, ali, que eram os garotos que se achavam um pouco machos demais, uma coisa muito... Sabe, macho tóxico. Então... E que não tinham... Eu acho que eles não tinham nenhuma outra referência de nada.
Então, ali no CD3, eu sofri, assim, caladamente, mas, assim, tinha dois irmãos que, por algum motivo, eu nem conhecia, eles não gostavam de mim. Então, na hora do intervalo, falavam coisas. perto de mim, que eu sabia que era para mim, então me sentia acuado.
Mas eu tinha amigos também, então isso me deixava mais feliz ou mais confortável. Mas essa mudança para o centro da cidade, para essa escola, foi um mundo totalmente diferente, porque ali eu não tive nada disso.
Por exemplo, eu nunca fui uma pessoa que gostei de jogar futebol ou que fui bom no futebol, ou que gostei de soltar pipa ou sou bom soltando pipa. E ali eu acho que pelo fato de eu estar no centro da cidade, pelo fato dessas pessoas terem outras vivências, eu não tive problema nenhum, nenhum.
Eu lembro que Na aula de Educação Física, eu sou péssimo no futebol, mas os meninos queriam que eu ficasse no gol. Eu falei, eu sou péssimo, eu nem gosto. Eles falam, mas a gente fez alguém no gol e eu ficava no gol. E tava tudo certo pra eles. Então, o único momento...
Na verdade, a lembrança que eu tenho de educação física, de tomar banho no banheiro da escola sem problema nenhum, de não ter medo, foi nessa escola. Então, foi um momento muito bacana, na verdade, o Colégio Souza Guiá pra mim.
E como vocês se divertiam nessa época?
Desculpa?
Como vocês se divertiam nessa época?
Então... Mais uma vez, eu ainda tava no teatro, então a minha relação com as pessoas da escola, eu não saía com essas pessoas da escola. Era uma relação muito escola ou depois escola, almoço, mas eu não saía com ninguém. Só para os passeios da escola.
Mas eu me divertia muito com os meus amigos do teatro. Então a minha diversão sempre foi aniversários, era uma fase que a gente fazia social na casa dos amigos do teatro.
Eu não podia fazer porque eu morava com o meu padrinho, era um apartamento pequeno, ele já era idoso, tinha um pouco de restrição e eu morava de favor.
Mas tudo bem, porque a minha vida social foi sempre muito ativa, porque Eram passeios na lagoa, idas ao cinema, restaurante, aniversário de 15 anos de alguém e eram aniversários super bacanas.
as atividades do circo, da função progresso, para mim era uma diversão também, era uma atividade física de alguma forma, mas era uma diversão.
Então era muito isso, eu ia muito ao teatro, eu ia muito ao cinema, eu ia muito a restaurantes, passava tarde e tarde com os amigos passeando na lagoa, andando de bicicleta. indo pra algum museu. Então, nessa fase, era tudo isso que eu fazia. E, às vezes, ia pra Nova Iguaçu.
Aí lá em Nova Iguaçu era festa, festas e festas.
E você teve uma sensação amorosa na época?
Não. Não. Na verdade, eu acho que eu era tão focado, e eu me divertia tanto, com que eu fazia, que eu nunca pensei em namorar nessa época. Não passava pela minha cabeça, de verdade. Começou a surgir ali, dentro das aulas de teatro, alguns casais. Mas não era algo... Na verdade, nunca foi.
Eu acho que agora, de um tempo pra cá, eu começo a pensar mais em relacionamentos. Mas na época da adolescência e tudo mais, ter um relacionamento nunca passou. Eu sempre foquei muito nos estudos, queria aprender inglês, queria ser ator. Então, meio que não tinha muito tempo pra isso.
Naturalmente, eu não pensava.
Você lembra do seu primeiro trabalho?
Então, meu primeiro trabalho, eu conto essa história eu acho que várias vezes, assim, sobre o que seria o primeiro trabalho. Porque eu tenho essa memória de quando criança, ir na padaria pra vizinho, e aí ela dava o troco pra você, né? Então, assim, ajudar o vizinho a fazer alguma coisa.
Dona Fátima, inclusive, que não era vizinha da minha casa, mas era vizinha da casa da minha tia, onde a gente ficava muito tempo. A dona, é... Dona Cissa, que é a mãe da Dona Fátima, que já era senhorinha da Dona Cissa, e ela sempre pedia alguém pra fazer alguma coisa pra ela.
E aí, então, eu tenho essa memória de fazer muitos favores e de ganhar um troco, né? O trocado. Então, acho que pra isso, talvez, pode ser considerado o melhor trabalho. Não sei. Porém, depois disso, eu fui muito fã de Sandy e ainda sou, na verdade, né? Fã de Sandy e Júnior.
E aí eu comecei, eu descobri ali também, na adolescência, a ir a programas de TV. E pelo fato de ser muito fã de Santos Júnior, de participar de fã clube de Santos Júnior, e a minha mãe permitia isso porque ela sabia com quem eu estava, onde eu estava indo.
Por ser muito fã de Santos Júnior e seguidor, eu fui muito para o aeroporto na minha adolescência, esperar Santos Júnior. Então eu tirava fotos de todos os artistas que chegavam no aeroporto. E era uma época que a gente revelava as fotos. E eu sou apaixonado por foto até hoje.
E eu revelava essas fotos e eu comecei a vender lá em Nova Iguaçu para fãs de outros artistas. Eu tenho foto do Daniel, fotos de não sei mais quem. E eu vendia essas fotos, sei lá, R$2,00, acho, cada foto. Não lembro por quanto eu vendia.
Mas então, eu conseguia dinheiro vendendo essas fotos lá em Nova Iguaçu e às vezes para outros fãs de Sandy e Júnior, porque assim, eu era um fã que tinha acesso, tinha muita foto com Sandy e Júnior, foto autografada, e aí quando eu ia em show, A gente passava nas filas, as pessoas, os fãs que nunca tiveram acesso a Santos Juniors, que não iam ao aeroporto.
Você começa a conversar e a gente levava. Aí eu falo a gente porque tinha outras pessoas que iam para o aeroporto comigo, meus amigos de fã clube, que também fazem a mesma coisa. A gente vendia essas fotos para outros fãs. Então assim, foto autografada, vendia um pouco mais caro.
Então, pra mim, essa é a minha primeira relação com o trabalho. Esses dois momentos, então toda vez que eu falar trabalho, eu já trabalho desde muito tempo Eu sou empreendedor há muito tempo, eu fazia isso São as duas memórias de primeiro trabalho que eu tenho.
E o que você fazia com esse dinheiro?
Basicamente, eu nutria os meus shows, eu nutria todos esses meus gastos pessoais, porque minha mãe era doméstica. É doméstica, na verdade. Ela não tinha muito dinheiro, não morava com o meu pai e a gente não tinha muita...
A pensão, como eu disse no início, A minha mãe não entrou na justiça quando ela separou pra eu ter pensão ou quando eu fui morar, então meu pai não dava nada.
O meu pai só começou a dar a pensão alimentícia quando eu e a minha irmã, morando com a minha mãe, entendemos que a gente queria aquele dinheiro. Que meu pai era aposentado e que a gente tinha direito, que era nosso, era pra gente. Porque pela minha mãe, ela não fez muita questão disso.
Mas chegou um momento ali na... Não lembro, mas na pré-adolescência eu falei, não, mas... A gente tem que entrar com isso, porque eu quero esse dinheiro, é alguma coisa.
E foi muito isso, esse dinheiro das fotos, ele era somado a essa pensão e aí a minha mãe basicamente não precisou se preocupar com muito as minhas atividades extras por um tempo, na verdade, porque aí eu mesmo pagava tudo com o dinheiro da pensão e dinheiro dessas fotos.
Você lembra do seu primeiro trabalho relacionado ao teatro?
No teatro? Então, no Tablado, eu trabalhei na cantina. Então, assim, por algum motivo, não lembro. Eu lembro que a Dida, que é a administradora, dona do bar, ela sempre pegava alunos ou amigos e convidava para cada pessoa ficar na cantina um dia na semana.
E aí ela perguntou se eu queria ficar toda segunda-feira. Eu fiquei na cantina do Dida, onde eu aprendi muito também, fiz ótimos amigos na cantina, eu adorava aquilo por algum tempo.
A segunda-feira era minha, mas às vezes quando eu tinha um espetáculo, final de semana, e eu podia, ela falava, você faz sábado, domingo? Então, assim, dentro do tablado, essa foi uma das primeiras atividades.
E aí eu acho que é uma coisa muito de conexão também, porque pelo fato de eu passar muito tempo no teatro e as pessoas saberem que eu era aluno e que eu estava disponível a trabalhar também, eu mostrava esse interesse, eu já estava na cantina, então nas peças de final de ano sempre estava de um contra-regra.
E aí acabava que o assistente de direção, que era amigo, o diretor que me conhecia, porque é uma escola pequena onde todo mundo se conhece, perguntava se eu não queria fazer a contra-regragem do espetáculo. E aí eu aceitava.
Então, aí eu comecei a fazer a cantina, fazer a contra-regragem de espetáculo de final de ano. Aí eu tenho um amigão meu, que é o Rodrigo, que ele acabou se interessando a fazer iluminação. Aí eu lembro, o Rodrigo ia aprender a iluminação e ele faz iluminação de teatro hoje sozinho.
Até a profissão dele hoje é essa mesmo, iluminador. E... E eu ficava na contra-regragem. Então, eu fiquei cantindo a contra-regragem. Da contra-regragem, a Cacá, uma vez, ela tava dirigindo um espetáculo de uma contadora de história. Ela me convidou pra fazer contra-regragem. Tá ouvindo? Tá ouvindo?
Ah, tá bom.
Então aí a Cacá me convidou, ela tava trabalhando com uma contadora de história e ela me liga. Adam, você tá fazendo o que? Você quer trabalhar com essa pessoa? Eu não sabia o que era. Eu falei, ah, eu posso tentar. E ela falou, não, tentar não, você vai fazer.
E aí eu trabalhei então com essa contadora de história, Priscila Camargo, por uns dois anos da minha vida. E aí foi muito legal, porque aí eu saí um pouquinho do tablado.
Eu fui trabalhar com a Priscila e foi bem interessante também, porque foi um período em que eu fiz algum dinheiro para um jovem, porque a Priscila pagava por apresentação. Então, eu era a contra-regra da Priscila e ela trabalha com contação de história, com os bonecos, umas coisas assim.
E esse espetáculo que eu fui trabalhar com ela é A Polegarina e outras histórias de Hans Christian Andersen. que, nossa, foi uma missão, assim, mas que deu certo. E aí eu fiz teatro com a Priscila, eu fiz projeto escola, fui pra Angra dos Reis, festival, aí a Priscila...
Então é isso, as minhas primeiras memórias no teatro é isso. É a cantina contra a regra de um tablado e a Priscila Camargo surgiu por causa da KK, que ela me convidou.
pra essa contrarrega da Priscila, que aí rendeu, assim, os dois anos da minha vida trabalhando com a Priscila e sendo assistente de direção em dois espetáculos, que tanto no teatro como no projeto escola.
Então, eu viajei para muitos lugares do Rio, indo pra escola numa função monta-desmonta cenário, mexe com boneco. Foi muito legal também. Foi um período bem legal.
E quando você atuava, O que você sentia? Como que era isso pra você?
Ah, era muito bom. Na verdade, o teatro e o tablado em si, porque é onde eu passei a maior parte do tempo, e onde eu aprendi tudo. Ah, muito bem, muito bem.
Eu sempre falo que o tablado, e eu coloco o tablado porque é onde de fato eu fiquei muito tempo, eu passei por outros lugares, mas não foi como no tablado, eu tinha uma vivência muito grande no tablado, eu passava dias inteiros, finais de semana inteiro, noites quase que inteiras.
Muito bem, era uma troca muito gostosa com os meus amigos, minhas amizades, saíram dali, a gente trocava risadas, lágrimas, a gente se abraçava, falava eu te amo. No teatro, a gente aprendeu a perder todas as vergonhas possíveis, sabe?
Tinha que trocar de roupa, então a gente não tinha maldade também, sabe? Era menino, menina, e tinha que trocar de roupa porque tinha que entrar na próxima cena, então ninguém... Ficava reparando em corpo. Então, é uma coisa que eu tenho muito comigo hoje, sabe?
E saiu dali de dentro, e foi natural isso. Porque quando criança... E eu era adolescente pra adolescente, né? E ninguém ensinou isso em casa, não foi uma conversa em casa. E naturalmente eu aprendi isso dentro do tablado, dentro do teatro, né? De respeitar, ninguém passava a mão em ninguém.
E se passava no sentido assim, às vezes a gente dava um tapinha na bunda um do outro, uma coisa assim, e era brincadeira sem maldade nenhuma, sabe? Não tinha... Essa hipersexualização do corpo de ninguém. Era tudo sem maldade, então ali eu me sentia livre, basicamente. Dentro do tablado, livre.
100% livre. É um espaço de amor. De amor e de amizade, é como eu me sinto ali dentro. Quando eu atuava também, era essa liberdade. Era... É isso, essa liberdade, esse prazer maravilhoso.
E você fez faculdade?
Então, aí eu fiz faculdade, sim. Eu entrei na faculdade em 2019. E aí, por algum motivo, eu tava... Mais uma coisinha. Eu nunca tive uma referência de universidade ou de ser aluno universitário dentro do tablado. Eu estava muito feliz, eu achava que eu ia ser ator. que essa ia ser minha vida.
Porém, também comecei a entender que a vida de artista não é muito fácil, que o dinheiro não entra sempre. E, por algum motivo, sabe-se lá o porquê, eu, nesta época, Eu ganhava da escola do projeto de cinema, que eu fazia também em 2007, eu ganhava ali, eu fazia uma explicadora.
Professora particular. Eu falo explicadora porque era explicadora. Porque eram vários alunos junto. Então eu pegava, se não me engano, eram 60 reais que eu ganhava para participar da ONG, das aulas de audiovisual, e pagava a... A aula particular, a Explicadora.
E ali eu tive, então, contato também com outras pessoas que não faziam parte do meu círculo de amizade. A gente só se encontrava ali para estudar.
E aí eram pessoas que queriam entrar no colégio específico, que já estavam estudando, que queriam tentar passar no vestibular para fazer medicina ou para fazer direito. Então, as conversas ali na Fátima era o nome da Explicadora. Não, Carmen. Carme era o nome do explicador.
As conversas ali eram ótimas, porque eram essas conversas de crescimento, de ambição, de melhoria, todo mundo queria alguma coisa ali, todo mundo tinha um objetivo. E meio que eu fui trazendo isso, eu não tinha expectativa nenhuma de fazer faculdade.
E com isso, ano final de escola, fiz o Enem, tirei uma nota boa no Enem, e eu falo, o que eu faço com isso? Não sei, eu não tinha expectativa nenhuma, não sei. nem dinheiro para pagar para a faculdade. E eu acho que ainda me faltava, eu fiquei muito tempo sem aula de matemática, escola pública.
Falei, para eu passar numa pública vai demorar um tempinho e eu não tenho dinheiro para pagar um pré-vestibular.
E, passando no metrô do Rio, metrô da Carioca, com o meu padrinho, inclusive, eu vi lá um flyer de uma universidade, se chama Universidade, Universidade da Cidade, que não existe mais, ela foi a falência, mas eu vi lá um Um flyer de um curso de relações internacionais.
Peguei, levei pra casa, li, gostei do que era aquilo, pesquisei na internet. Falei, ah, eu acho que eu posso fazer isso. Eu acho que é algo que eu gosto. Li a descrição do profissional. Falei, eu acho que isso é algo que eu gosto, que eu tenho interesse.
Voltei nessa estação de metrô lá, onde tinha um quiosque dessa universidade. Levei minha nota do Enem, que dava desconto, e aí dava 50% de desconto, eu acho. E eu já recebi a pensão do meu pai nessa época. Não lembro o quanto, mas era quase esses 50%. E eu decidi me matricular.
E aí eu me matriculei. pensando que vou pagar essa faculdade com esse dinheiro da pensão. Porque aí se você é universitário, o seu pai tem que pagar a pensão até você terminar. Eu falei, pronto, pelo menos a universidade eu pago. E eu morava com o meu padrinho no centro da cidade.
Eu chamo de padrinho, só pra você saber. Aquele cara que foi morar amigo da patroa, da minha mãe, eu chamei de padrinho. Então quando fala padrinho do centro da cidade é ele.
E aí eu fui, e era perfeito, porque como eu estava morando no centro da cidade, a universidade era ali também, então eu ia andando para a universidade também, pagava com o dinheiro da pensão. Porém, eu me cadastrei também para outras universidades, para o mesmo curso, com a nota do Enem.
Depois que eu descobri do Prouni, eu me cadastrei também. que não tinha passado pro primeiro semestre de 2008, isso era em 2008. Então, eu comecei a fazer no Universidade da Cidade, pagando com o dinheiro da pensão do meu pai.
E no meio desse primeiro semestre, eu recebo um e-mail da PUC dizendo pra eu aparecer na PUC que eu tinha sido selecionado pela Bolsa ProUni. E aí, mais uma vez, eu fiquei assim, o que que eu faço? Eu não quero mais sair daqui, porque eu sou muito ligado às pessoas, ao ambiente, eu sou canceriano.
E eu fiquei com medo de fazer essa troca. E eu conversei com meu padrinho e ele falou, não, você tem que ir. A PUC é a PUC. E você não vai pagar, é uma bolsa. Então, fui na PUC, acabei me inscrevendo na PUC.
E aí, no segundo semestre, eu reiniciei o mesmo curso, Relação Internacional, na PUC do Rio, como bolsista integral.
E como foi o primeiro dia? Paola?
Foi super interessante porque a Universidade da Cidade era um ambiente super novo pra mim, as pessoas ali, né? Era num prédio, não tinha um campus, era um prédio, era basicamente uma sala de aula.
Mas quando eu cheguei na PUC, eu já tinha passado grande parte da minha adolescência na zona sul da cidade, pelo fato do tablado, pelo teatro.
E muitos desses meus amigos do Tablado, que são pessoas de outra classe social, que sim, são pessoas de classe média ou ricas, eles já tinham esse histórico familiar de universidade, de estudar em certas escolas. E quando eu cheguei na PUC, metade desses meus amigos do Tablado estavam na PUC.
Foi um reencontro muito legal, porque eu passei a estudar na PUC. Uma extensão do Tablado, de alguma forma. Muitos dos meus amigos do Tablado fizeram faculdade na PUC. Eu reencontrava muitos deles ali no intervalo, pelo campus.
Mas também foi muito legal, porque antes de cursar a PUC, tinha um grupo do Orkut da época sobre o curso de relações internacionais 2008.2, alguma coisa assim. E eu comecei a conversar com algumas pessoas pelo MSN, antes de começar a PUC em 2008.2, no segundo semestre.
Então, quando eu cheguei na PUC, eu já conheci algumas pessoas que a gente trocava via Orkut algumas coisas. Então, foi uma troca legal também. Não me senti fora do ninho, mas foi bem...
Interessante porque eu encontrei outros jovens negros de periferia que também eram bolsistas, a gente se encontrava porque a gente tinha que passar pelo escritório, da assistência social, e eles se sentiam fora do ninho de alguma forma.
E a gente conversava muito sobre isso, porque eu, de algum modo, eu tava inserido naquele meio ali, ou me sentia confortável, não me sentia inferior a ninguém. e alguns outros jovens, não. E nessa época, assim que eu entrei, tinha um projeto dentro da PUC que era algo...
Era da CEPRI, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, uma coisa assim, e era um curso para trazer os jovens bolsistas para conversar sobre diversas dinâmicas do ambiente universitário. E eu participei, e isso me ajudava também muito a me entender ali dentro daquele espaço.
Eu sempre, dentro da PUC, desde o primeiro momento, eu sempre busquei tudo que eu pudesse captar, aprender, não só na PUC, mas em outros lugares também.
Então, assim, eu participei desse projeto que tinha, eu era bolsista, eu trabalhava aí, neste momento, foi onde eu acabei saindo do teatro, do tablado, porque eu tive que me dedicar, eu optei, na verdade, por me dedicar mais à PUC, que era o período integral, no primeiro momento, Foi um período também bem interessante porque eu comecei a trabalhar na empresa de um amigo meu porque eu precisava de algum dinheiro também, apesar da pensão do meu pai, eu gastava muito mais, limpando vitrine de shoppings.
Então fui limpar vitrine de shoppings, eu ia limpar vitrine de shoppings de 5h30 da manhã a 10h, 11h da manhã, ia direto pra PUC. Então... Esse momento no Sauna Pool pra mim foi muito legal. Foi desafiador também, porque eu aprendi inglês sozinho e os textos eram todos em inglês.
E eu demorava horas, quatro horas, cinco horas pra ler um texto de 20 páginas, porque eram palavras super diferentes, era muito acadêmico. Mas eu também vi que outras pessoas que tinham estudado em escolas maravilhosas, super renomadas no Rio de Janeiro, tinham a mesma dificuldade que eu.
E essas pessoas já tinham viajado, então eu me senti muito mais confortável também. Falei, se eu gasto quatro horas, três horas pra ler e aquela pessoa que já fala inglês, estudou numa escola bilingue, gasta esse tempo também, é sinal que eu estou no mesmo nível, no mesmo patamar. Então, vamos.
E foi assim, mais ou menos, o meu primeiro momento.
E quais foram os momentos que mais marcaram esse período?
Desculpa, qual era o quê?
Os momentos que mais marcaram esse período?
Ah, os momentos que mais marcaram... foi justamente...
eu acho que na PUC, muito diferente do que da Universidade da Cidade, foi essa experiência universitária que eu não tinha, porque dentro da Universidade da Cidade, que eu fiz no primeiro semestre, Foi basicamente chegar no primeiro dia de aula, era um prédio, você conheceu as pessoas, você saía, aí você descia do prédio, você tava de novo no centro da cidade, no meio da rua, você lanchava, não tinha um campus, né?
E na PUC não, teve... Na PUC foi onde eu entendi, cara, eu sou universitário, teve trote, tinha chopada, tinha... Encontros, toda quinta-feira tem uma vila das casinhas dos diretórios acadêmicos, tinha festival.
Então, na PUC eu tive toda uma experiência assim, essa experiência universitária foi ali na PUC. Então, esses são os momentos que eu tenho muito... Com muito carinho, sabe? Foi um momento de trabalho que eu trabalhava e tinha que ir pra PUC direto. Mas eu curti também o que deu pra curtir, sabe?
Eu podia chegar em casa meia-noite se precisasse. Mas eu tentava curtir a universidade também. Eu parei de trabalhar depois, então eu curti muito mais o ambiente PUC depois, que eu parei de trabalhar. Que aí eu tive uma outra bolsa.
E aí no segundo momento da PUC eu tive bolsa alimentação, que aí me ajudou. Então eu não tive que trabalhar todos os dias. E aí isso me deu uma liberdade de passar o meu dia inteiro na universidade. No intervalo de aula, dormir num cantinho que tinha na igreja, sabe? Então...
É isso, eu tenho essas lembranças.
E esse curso te influenciou profissionalmente?
Sim, 100%. Por algum motivo, que eu também não vou saber explicar, quando criança eu queria ir pra Disney. E aí eu queria, por algum motivo, televisão, influências. E aí eu comecei a aprender inglês sozinho lá em Nova Iguaçu ainda. com livros que minha mãe trazia do trabalho.
Comecei a assistir filmes em inglês e reassisti esses filmes. Então, comecei a aprender inglês sozinho. Então, acho que essa influência de escolher o curso de Relações Internacionais veio daí, esse interesse que eu tinha pelo desconhecido, de alguma forma.
Quando eu entro no curso de Relações Internacionais, Eu meio que me encontro porque é uma relação com o mundo, na verdade, de tentar entender o mundo. E essa troca com outros países, outras pessoas, algo que eu sempre gostei.
Que de uma forma lúdica está associada ao teatro também, outros mundos, outras pessoas. Então, na PUC tinha também intercambistas. Então, me juntei fortemente com os intercambistas dentro da PUC. E eu viajei o mundo ali dentro da PUC com meus amigos intercambistas.
Eu passei muito tempo com intercambistas de todos os países, então fui para muitas festas, celebrei o Dia Nacional do México, dos Estados Unidos, 4 de julho, com todos os intercambistas. Então, me influenciou nas relações de amizade e de trabalho, porque eu falei, cara, é isso, eu gosto.
E depois de um tempo eu... Aí em 2007 ainda tem uma história aí no meio que é uma família norueguesa que uma tia trabalhava, uma tia minha trabalhava com eles.
E aí eu entrei então na PUC em 2008 e eu tinha essa relação com essa família norueguesa que a minha tia trabalhava, essa relação com esses intercambistas, e eu passei muito tempo com essa família norueguesa. Então eu decidi que eu ia tentar focar os meus estudos dentro da faculdade ou o meu TCC.
Caímos. Caímos. Ela caiu. Eu sou host.
Éééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééééé.
Eu tô...
Eu não sei se eu vou ser... Você tá seca? Não.
A câmera tá desligada ainda. Agora tá vindo a câmera. Agora veio a câmera. Foi.
Meu, eu tô muito peteada, porque eu não sei nada do que você tá falando. Eu só tive que fazer assim, ó. Tum. Desconecta.
Não, caiu. Eu não sei... É, essa internet aqui, eu não sei se... A minha também deve tá muito boa. Mas eu posso voltar a falar, sem problema.
Sim, por favor. Desculpa.
Não, fica tranquilo. De verdade. Não, então eu celebrei muitas, como você está dizendo, dentro da PUC com os intercambistas, eu celebrei todos os dias nacionais possíveis. Fiz muitas loucuras.
Na verdade, eu curti os meus amigos brasileiros do meu curso, mas as loucuras universitárias eu fiz com os intercambistas. E eu acho que pelo fato de intercambista, pelo menos naquela época, ou os amigos que eu fiz serem pessoas super livres.
Então, assim, festa na praia, nadar pelado na praia do Rio de Janeiro. Eu tive essa experiência com os intercambistas. E me influenciou em relação de amizades. Eu tenho amigos internacionais que surgiram na PUC, que amigos de verdade, assim. Tem o Steinan, que é... Que eu conheci na PUC.
E o Steiner é um dos meus melhores amigos. Assim, o Steiner, eu fui no casamento dele na Noruega, ele passou uma semana da lua de mel dele na casa da minha mãe, no Abiguassu, com a esposa dele.
Eu consegui ir na casa dele, conhecer o filhinho dele, até a esposa dele estar grávida ou estava grávida, eu vi até a grávida. A gente tem uma relação muito forte ainda. E como eu decidi focar na Noruega?
devido a essa família norueguesa que eu encontrei, porque minha tia trabalhava com eles e eles queriam saber a minha história e queriam me ajudar a terminar o curso, o meu TCC foi entre Brasil e Noruega, cooperação entre Brasil e Noruega. E, com isso, a Noruega no Rio de Janeiro é super pequena.
Então, assim, a comunidade norueguesa, né? E eu acabei, então, sendo convidado para trabalhar numa ONG norueguesa, ainda dentro da universidade. Então assim, eu entrei na faculdade em 2008 e aí a minha relação com Noruega acontece até hoje, mas aí em 2011 eu fui convidado a trabalhar no ONG Noruega.
Eu trabalhei de 2011 até 2013. E aí super influenciou o curso, a minha vida, influencia até hoje.
Não só pelo fato do inglês, mas todos os meus trabalhos até hoje são relacionados não necessariamente ao que eu aprendi na universidade, mas a conexão com o mundo, a análise política, análise internacional, consultoria de intercâmbio. super influenciou e, na verdade, eu amo isso.
Nesse momento, eu tô mega triste, inclusive, né? Não mega triste, né? Mas, assim, esse ano, inclusive, era pra eu estar realizando um sonho que surgiu lá na universidade. e que foi cancelado de alguma forma por causa da pandemia, né?
Porque eu fui selecionado para participar de um intercâmbio profissional na Noruega, algo que eu me candidatei para isso em 2018, não tinha passado, me candidatei no final de 2019, início desse ano, passei, cheguei a...
A ir no primeiro treinamento na Colômbia e era para passar um ano morando na Noruega, trabalhando, ganhando salário Tudo que eu queria ter feito durante a faculdade, que eu não tinha grana, não tinha os meios para fazer um intercâmbio E eu trabalhei com o intercâmbio do Brasil, assim, coordenando alunos E o projeto teve que ser adiado, cancelado devido à Covid.
Acontece E aí, como você lidou com isso?
Eu vou ser sincero, assim, eu super de boa, de alguma forma eu falei assim mega chateado, mas na verdade não, na verdade fiquei muito grato, porque por mais que tenha sido, ou seja, um sonho, algo que eu estava mega feliz, que eu fiz uma entrevista, processo seletivo, Ia trabalhar fora, recebendo, com casa pronta.
Ia ter a experiência que eu não tive, eu já viajei muitas vezes. E eu trabalhei coordenando intercambistas, mas eu nunca fui um intercambista de verdade. Muito grato, porque num momento como esse, a decisão que eles tiveram foi a gente vai manter o contrato com vocês até julho.
Então, assim, eu recebi salário até julho. A viagem não aconteceu, mas vai acontecer em algum outro momento, eu posso viajar em outro momento.
Claro que é algo que eu quero muito, eu queria muito, trabalhei pra isso, mas eu me senti, assim, super grato por estar no meu país, podendo ajudar as pessoas ao meu redor e outras, assim, eu também trabalhava com projeto social, então foi um momento que assim, cara, eu sempre tive isso dentro de mim, assim, eu quero sair, mas eu quero voltar, eu quero ajudar, eu quero fazer o Brasil crescer, então me senti super grato de estar sendo amparado pelo projeto, de alguma forma, e de estar no Brasil num momento que histórico, super importante, crucial, e poder estar fazendo alguma coisa útil, trazendo meus talentos, minhas conexões.
Então, de verdade, eu não consigo olhar com um olhar depressivo para o que aconteceu comigo, porque é algo inesperado e mudou a vida de todo mundo. É uma variável que a gente não tem controle. Simplesmente, eu vou ser muito grato, na verdade, por ter sido selecionado.
Eu espero que em algum momento o projeto aconteça, eu não sei. Mas se não, vai ficar guardado na memória, na história. Eu vou lembrar disso. Eu tive uma festa, minha mãe, minha família, nós fizemos uma festa de despedida com bolo, com tudo. Então, vai ficar guardado.
Então, não anulou pra mim a experiência 100%.
E quais foram os trabalhos que você fez dentro da faculdade?
Os trabalhos que eu fiz? Nossa, então, algumas coisas. Porque mesmo na faculdade... Vamos lá.
Eu, dentro da faculdade, eu trabalhei nessa ONG norueguesa de educação, qualificação educacional, de 2011 a 2013, e mesmo ali eu ainda fiz alguns trabalhos de contra-regragem, de contra-regragem com amigos do teatro, Estava muito conectado ainda.
Depois, eu saí dessa ONG e fui trabalhar numa associação de intercâmbio, coordenando o programa de intercâmbio para jovens norte-americanos no Rio. E aí foi muito legal, e lá eu fiquei de 2011 a 2013. É isso?
Não.
A ONG norueguesa de 2011 a 2013. No início de 2013, quando eu estava terminando a faculdade, em 2012, eu comecei a trabalhar nessa associação norte-americana de intercâmbio, que eu fui indicado, inclusive, por um amigo ex-intercambista.
Então, no primeiro momento de 2013, eu compartilhei, eu tava saindo da ONG norueguesa, mas eu compartilhei alguns dias nessa ONG norueguesa e alguns dias nessa associação de intercâmbio. E aí era 50%, 50%. Então, eu tinha dois trabalhos, que era contrato, dois salários.
E aí, eu fiquei de 2013 até final de 2014 nessa associação de intercâmbio norte-americana.
Fui morar no Espírito Santo por três meses pra trabalhar numa empresa que eu queria muito, uma empresa norueguesa de petróleo e gás E aí eu fui lá, foi uma experiência curta, mas super legal Tive uma casa dos sonhos, com piscina, uma casa grande E as minhas amigas que eu fiz lá nessa casa.
Que.
Eu fiz nesse projeto, nesse trabalho, são minhas amigas até hoje e eu fui padrinho de casamento de uma delas, inclusive. E eu fiquei lá, então, se não me engano, de novembro de 2014 a janeiro, fevereiro de 2015. Então, passei ano novo e natal no Espírito Santo, em 2014.
E aí eu volto pro Rio e eu fico sem trabalho, porque eu decidi sair porque a minha mãe tava passando por um momento meio que difícil. e eu preferi voltar pro Rio. E aí eu fui direto pra casa da minha mãe. Voltei pra Nova Iguaçu, fiquei três meses em Nova Iguaçu, fiquei sem trabalho, meio que...
o que eu faço agora da vida? E aí fui convidado pra voltar pro trabalho da Associação Norte-Americana. Se não me engano. É isso, o diretor tava saindo, eles iam contratar um novo diretor e queriam contratar alguém para ser coordenador do escritório.
E aí eles me convidaram, sabiam que eu estava de volta no Rio, eles me convidaram, e eu fiquei lá então de 2015 até 2018 como coordenador administrativo nessa associação norte-americana. E aí de 2018 para cá, Eu tirei três meses, viajei, fui pra Noruega, inclusive, que é a minha segunda morada.
Aí eu viajei, voltei, assim, o que que eu faço? Eu quero mudar, eu quero fazer algo com mais propósito, não só pelo dinheiro. E aí foi bem difícil, porque eu voltei totalmente perdido e é difícil, as coisas não acontecem. Fiquei desesperado por um tempo.
Mas optei por ser freelancer, assim, por um tempo. Não acho que é a carreira que eu quero pra minha vida, que é bem difícil. Mas então, 2018... Eu acho que março... Não, não é. Eu acho que o 2018 inteiro eu trabalhei como freelancer, na verdade, assim.
Acabei prestando muito serviço para essa associação que eu trabalhava norte-americana ainda, mesmo não sendo funcionário deles. E aí, em 2019, março de 2019, fevereiro, março, eu comecei a ser consultor num projeto social aqui no Rio, que eu fiquei até março desse ano.
Então assim, 2018 foi basicamente um ano freelancer total. dezenove, eu tinha essa relação de trabalho que era cinquenta por cento da internet que está... Estão ouvindo?
Estão ouvindo? Foi? Agora voltou.
Você tá aí?
Eu tô. Tá.
Você ouviu o que eu falei?
Não.
Não, então... 2018, livre. Freelancer 2019. 2019 eu fui trabalhar nesse projeto, nessa ONG, aqui no Rio. E eu trabalhei lá de março de 2019 até março desse ano, quando eu ia pra esse intercâmbio. que eu cheguei aí, na verdade, né?
Eu fui para o treinamento na Colômbia, passei basicamente uma semana na Colômbia e foi anunciada a pandemia e tive que voltar.
E como é essa ONG que você trabalhava no passado?
A ONG norueguesa se chama Dream Learn Work. É uma ONG de qualificação educacional para jovens. Jovens... 15, 21 anos. E aí foi bem legal porque foi um período que tinha tudo a ver, eu tava dentro da faculdade ainda, e tinha tudo a ver com o que eu tava estudando, Brasil-Noruega, a gente tinha uma...
uma estação de trabalho numa incubadora norueguesa de negócios. Então, eu tive uma relação muito próxima com o consulado. Tive uma relação muito diplomática também, eram muitas relações públicas. Então, tinha tudo a ver com o que eu estava estudando em relações internacionais.
A outra ONG, que é uma associação norte-americana de intercâmbio, A minha internet está caindo.
A parte do côncio era uma parte que eu podia ir de bermuda, era uma parte que eu era coordenador basicamente de programa cultural, eu tinha que tentar trazer essa cultura brasileira, organizar eventos para esses jovens, aconselhá-los.
Então, era uma parte mais livre, que eu podia trabalhar de bermuda, por exemplo. nesse primeiro momento.
No Espírito Santo já foi algo mais formal também, porque era algo relacionado a petróleo e gás, mas era um projeto, a gente trabalhava dentro de uma casa, era uma coisa mais livre, de alguma forma.
Depois, quando eu volto para a Consul International Education Exchange, Eu já era coordenador administrativo, então também tinha que ir um pouco mais formal, e aí o meu trabalho era muito mais burocrático. Pagamentos, banco, gerenciamento do escritório, conserta isso, conserta aquilo.
E dentro do projeto da Rocinha, que era um projeto social, aí era algo que eu precisava, que eu estava buscando. Era uma relação muito mais prazerosa. Eu participava também de eventos, promovendo a ONG, mas é uma ONG que basicamente trabalha com crianças.
E aí era algo de ser chamado de tio, não sendo tio. Mas quando eu ia lá pra dar qualquer conselho ou participar de reunião, era um carinho muito puro. E, basicamente, era um trabalho de buscar parcerias e de promover a organização. Então, eu sempre fui muito feliz nos trabalhos, de verdade.
E quais são os seus sonhos hoje?
Ah, então, o meu sonho agora eu não sei muito, não. Assim, eu adoraria... Então, de fato, agora o meu sonho, vamos lá. Um dos meus sonhos é... Tenho muitos ainda, eu acho.
Eu acho que eu gosto de tanta coisa que eu tenho vários sonhos diferentes, o que é bom Mas assim, eu tenho namorado que é da Noruega, inclusive Mas assim, neste momento eu fico sempre pensando que eu quero ter um trabalho estável, pelo menos por uns dois anos, porque Esse momento tem mostrado a importância de você guardar dinheiro, na verdade, ou você ter...
E eu sou feliz, porque como eu trabalho há muito tempo, eu não sou rico, mas eu sempre guardei um pouquinho de dinheiro. E como eu fui pago até julho também, eu tô conseguindo conviver com meus poucos, sabe? Mas eu tenho um sonho...
Ai, é tão difícil, porque eu não sei, eu acho que eu consegui tudo que eu queria, assim, de alguma forma. Sabe? Eu nunca... Eu acho que consegui tudo o que eu queria, talvez mais um pouco. Então eu sempre fico sonhando... Ah, talvez assim, eu quero ser pai. Eu acho que talvez é.
Eu acho que isso eu quero adotar, mas ser pai eu quero adotar uma criança.
Eu acho que eu vou trazer isso como meu sonho no momento, porque toda vez que eu penso em sonho, eu penso nas coisas que eu já fiz, Eu tenho 32 anos, mas eu falo, cara, eu meio que realizei de alguma forma os sonhos que eu tinha.
Eu tinha sonho de ir na Disney, nunca fui em Orlando, mas eu já viajei pra França e eu fui na Disney da França. Eu tenho foto com o Mickey. Não é o original, talvez, que não é o de Orlando, mas eu fui lá numa Disney diferente e tenho foto com o Mickey, com a Minnie, eu tive meu dia criança lá.
Eu queria viajar o mundo, eu já fui pra muitos lugares. Talvez não da forma que eu sonhei quando criança, numa coisa super chique, hotel maravilhoso, mas eu viajei, eu vi coisas do mundo. Eu nunca tive o sonho de me formar na universidade, mas eu me formei.
Então, um sonho que eu não tinha que se tornou um sonho, eu me formei. Eu fiz uma pós-graduação que também não era um sonho, mas que surgiu, eu me formei. Então, acho que eu sonho hoje muito mais pros outros. Eu fico sonhando muito mais.
Eu quero que a minha sobrinha tenha as experiências que eu tive. Eu quero que as crianças do projeto que eu trabalhei ou outros jovens tenham, de alguma forma, as experiências que eu tive. Porque eu acho que os outros são objetivos, não vou colocar como um sonho.
Ah, tem um trabalho legal pra juntar um dinheiro, talvez tem uma casa. Eu não vou colocar isso como um sonho. Eu acho que eu vou colocar isso como objetivo.
Agora sonho, eu quero isso, eu quero que outras pessoas de fato tenham acesso ao que eu tive e que se eu algum dia sonhei em ter uma experiência de viagem primeira classe e eu não tive ela ainda, eu não faço questão de ter essa experiência, esse sonho de viajar primeira classe, porque eu acho muito mais importante a experiência.
Tem uma frase que eu gosto muito de um livro que eu perdi, que era um livro que eu amava, de uma professora que eu tive, mas eu tenho esse livro muito claro na memória, que é da Patrícia Carvalho Oliveira, se chama Passaporte 8574.
É um livro de poesia que ela fez baseado nas experiências dela de vida, viajando o mundo e tudo mais, mora em Nova York, em Londres, e ela começa o livro com dizer alguma coisa assim, O destino não importa, o que importa é a viagem.
E eu acho que tem muito isso pra mim, assim, eu sempre lembro essa frase. O destino não importa, o que importa é a viagem. A viagem é como você vai ter essa experiência, que eu tive de alguma forma, e que o Brasil seja um pouco melhor do que é hoje.
Tá me ouvindo? Adam? Tá me ouvindo?
Tô te ouvindo.
Ah, agora foi.
Eu vou dar um jeito dessa minha internet.
Eu acho que eu consegui ouvir. Chegou bem depois, teve um delay, mas eu acho que rolou. E como foi essa viagem pra Noruega?
Foi uma experiência muito louca, porque era isso, eu tinha esse sonho de ir pra Disney, esse sonho de viajar desde criança, e isso era um sonho, eu não sabia como ia alcançar. Talvez eu quis ser modelo porque eu pensei que fosse ficar rico, ia viajar, era um sonho.
E quando essa minha tia começou a trabalhar com essa família, isso foi meados de 2007, e eu só conheci eles porque a minha tia convidou essa família norueguesa que tava chegando no Rio de Janeiro pra um casamento de uma outra tia minha lá em Nova Iguaçu.
E como eu já falava um pouco de inglês, eu fui o guia deles da zona sul da cidade até Nova Iguaçu. Então a gente criou uma relação. Eles criaram essa relação com a minha família muito legal, de uma amizade muito honesta.
A minha tia era doméstica deles, eu era sobrinho da doméstica, mas eu aprendi isso muito com a Noruega, inclusive, com eles. Como lá é um país um pouco mais à frente do nosso, Eles não olham essa relação de classe social, de quanto dinheiro você tem. Não julgam muito você por aí.
Eles julgam você como pessoa. Eu aprendi isso com eles. Então, eles ficaram no Brasil de 2007 a 2009. E eles tiveram que mudar porque o pai da família ia trabalhar em outro país. Ele trabalha em vários países. Ele sempre muda.
E aí foi muito choro, foi muito tudo, porque era uma relação muito próxima. Vamos levar um dia. Mas na minha cabeça, eu tinha talvez 19 anos, 20. Ai, vamos me levar um dia. Imagina, todo mundo fala isso, né? Vou te ajudar, vou te dar isso, vou te dar aquilo. Imagina, não vão.
Só que neste ano, 2009, eles levaram a minha tia pra trabalhar com eles por um tempo. Eles mudaram e a minha tia foi junto. Minha tia voltou. Depois de três meses. E aí o Iva, o pai dessa família, ele volta... Eu tava em Petrópolis, não esqueço se eu tava em Petrópolis.
Ele me liga e fala, Adam, você tá no Rio? Eu tô no Rio e... Você tem passaporte? Eu falei, não, não tenho. Ele, então, tira o passaporte que eu tô pensando em te levar pra Noruega em julho, no verão. Julho de 2010 seria isso.
Aí eu falei assim, E aí no meio dessa conversa, por telefone, ele pergunta qual seria melhor, se eu achava melhor em dezembro ou em julho, alguma coisa assim. E eu falo, ah, eu prefiro em julho.
Em julho não, Minto, eu prefiro em dezembro, porque as férias da faculdade, eu tenho três meses de férias.
E aí ele fala algo do tipo, mas julho é melhor porque tem sol, é verão na Europa, e eu falo assim, né, pra mim, mas eu nunca vi neve, eu quero ir em dezembro, né, assim, imagina, sol eu vejo no Brasil. E aí eu tiro meu passaporte sozinho e o Ivo organiza toda a minha viagem pra dezembro de 2009.
Então, ele que me convidou nunca tinha pisado no aeroporto. Não, tinha pisado no aeroporto sim, por causa do Santos Júnior. Mas nunca tinha entrado dentro de um avião, então ele organiza tudo com a secretária dele, manda passagem, dinheiro.
Tem uma carta que eu tenho até hoje, em algum lugar, um e-mail que ele mandou, que eu imprimi, dizendo o que eu ia ver, o que eu ia fazer, onde ele ia me esperar.
E aí eu segui todos aqueles passos, então foi uma experiência muito legal Porque eu fui sozinho, e eu não fui com medo, eu fui querendo ir Fui parado na imigração, e foi uma experiência completa, porque eu fui parado na imigração Na minha primeira viagem a minha mala não chegou junto comigo Foi uma experiência completa de viagem.
Então eu aprendi muito na minha primeira viagem. E foi lindo. Quando eu cheguei lá, foi lindo porque eu nunca tinha visto neve. Passei Natal, Ano Novo, Natal diferente. Foi super legal. Foi super legal.
E hoje, no seu relacionamento, como que aconteceu?
Cara, foi muito louco, na verdade, porque a minha relação com a Noruega surgiu por causa dessa família. Então, depois disso, eu continuo com essa relação com a Noruega por causa do trabalho. E aí eu tinha outros amigos, que eu conheci... O Stein, eu conheci como intercambista na faculdade.
E aí a minha relação sempre foi essa família. Então, eu voltei pra Noruega depois pelo trabalho que eu tinha, por causa do projeto. Ou eu voltei pra Noruega depois por causa do casamento do Stein. Então assim, a minha relação com a Noruega sempre foi assim. Nunca quando eu... Nunca.
Toda vez que eu ia na Noruega, eu ia pra ver meus amigos e tudo mais. E aí o Tommy surgiu no Rio de Janeiro e eu nem sabia que ele era norueguês, assim. E aí quando, sabe, foi muito... Sei lá, destino, talvez.
E como vocês se conheceram?
Foi numa boate que não existe mais, na Leboy. Não existe mais essa boate. Final de noite quase, lembra? Foi tipo isso, final de noite.
E ele não mora aqui?
Não, a gente tá há três anos juntos. Ele não mora aqui. Então, o que acontece? Ele é freelancer, ele é jornalista. Então, ele vem pra cá, fica três meses. Normalmente, quando eu trabalhava formalmente, eu tirava um mês de férias e viajava.
Então, em 2018, quando eu pedi demissão, inclusive, eu fui pra Noruega, fiquei na casa dele e... Fui visitar essa minha família norueguesa, meus amigos, mas a gente se fala todo dia, a gente faz conferência e tudo mais. Mas ele não mora aqui, então na verdade é bem relacionamento à distância mesmo.
Ele vai, eu venho, falo no WhatsApp.
E como que é isso pra vocês?
Eu acho que eu sempre fui tão independente de alguma forma que eu... Pelo menos assim, até esse momento de pandemia, eu estava muito confortável com isso. Pra mim não é problema, mas sou brasileiro e norueguês, sociedade totalmente diferente em tudo, eu diria, ou em muitas coisas.
Inclusive nesse sistema de segurança, de aposentadoria e tudo mais. Eu acho que ele não... não pensa muito nesses problemas, porque ele tá lá na Noruega e a Noruega nem tá usando máscara, basicamente.
E aí nesse momento de pandemia eu meio que comecei, pelo fato da viagem não ter acontecido também, do rádio intercâmbio, Eu comecei a pensar e eu comecei a conversar assim, cara, a gente precisa ver ou você fica aqui um tempo, eu fico aqui um tempo, mas essa de três meses, três lá não é muito legal E é justamente porque assim, ele consegue fazer um pouco mais de dinheiro do que eu de alguma forma, ele tá no país dele E lá o governo tá dando ajuda pra quem tem trabalho de verdade e eu fico pensando nessa questão de segurança de quanto tempo as minhas reservas vão durar, ou o quão difícil vai ser para eu conseguir um novo trabalho.
Então, eu acho que parar num lugar por um tempo, os dois, para construir também algo junto, é bacana. Até porque quando a gente tá... É isso, a gente tá longe um do outro, mas quando a gente tá junto é muito intenso, porque é 24 horas juntos. Café, almoço, janta, 24 horas juntos.
E aí é uma falta que a gente se sente por um tempo e depois nem se sente falta, porque depois é muito tempo junto. Ninguém tem muito espaço, porque é tudo junto. Festa de aniversário de alguém, visita na casa de alguém.
Então acho que agora a gente tá começando a pensar em ser um relacionamento fixo, no mesmo lugar, presencial.
E como você tem passado a quarentena?
Eu comecei a minha quarentena em Brasília, porque quando eu voltei da Colômbia do treinamento, a gente foi pra Brasília primeiro, então comecei lá. Eu tive um problema com a outra participante do projeto, E foi muito quarentena mesmo lá em Brasília.
Era um apartamento que eu tinha e eu optei mesmo por ficar dentro do apartamento. Então, eu só saía na rua pra comprar as coisas que eu precisava e passei, assim, todos os dias dentro do apartamento, fazendo nada. Assim, comia, fazia Zoom com alguns amigos.
Voltei pro Rio e fui pra casa da minha mãe, e aí foi uma decisão pensada, porque eu sabendo que a minha mãe tava sem trabalho, e a minha irmã sem trabalho, porque a minha irmã era babá, e a minha mãe doméstica, e eu tendo um salário, e eu tô sozinho em casa, eu moro sozinho, eu falei, eu vou pra casa da minha mãe, que aí eu consigo ajudar lá.
O dinheiro que eu vou gastar na minha conta de luz, na minha alimentação, eu ajudo a minha mãe. E pra não ficar também 100% sozinho, né? Então, no início, eu passei os três primeiros meses de estar quarentena lá. Eu tive essa fase muito...
só as duas semanas de fazer nada, nada, nada de ter insônia ou dormir três horas da manhã e quatro, acordar meio-dia e comer e deitar. E depois eu falei, não, isso não é legal, isso não é você. Você tem que aproveitar esse momento. Então... Começamos a cozinhar na casa da minha mãe.
Eu comecei a inventar algumas coisas. Aí no Zoom comecei a ter várias festas. Tive a fase festas online. Então tinha festa a todo momento. E queria estar em festa a todo momento online. Organizava festas, inclusive. E tive esse momento também.
Aí eu meio que passei para o momento de agora eu vou aprender a estudar. Eu tenho que estudar. Eu tinha um problema em estudar online. E aí eu falei, não, eu preciso tirar algo desse momento. E eu comecei a fazer vários cursos, então fiz quatro cursos online.
E agora tô querendo fazer mais, inclusive. Mas eu fiz quatro cursos online, gratuitos. E aí chegou na fase assim, eu me senti também mal. Meu corpo mal, minha alimentação mal. E aí eu comecei a malhar. Então eu tô malhando online agora.
E agora eu acho que eu tô com uma rotina melhor, inclusive, eu tô mais adaptado. Não tô numa crise, eu acho que não cheguei no momento crise, de ter medo do que vai acontecer. Porque desde o primeiro momento, eu me associei à ONG que eu trabalhava e a outras ONGs perto da casa da minha mãe.
e comecei a ser voluntário com distribuição de cesta básica, ser voluntário mesmo. Então, eu precisava e preciso, como pessoa, estar ativo em alguma coisa, me sentir útil. Então, eu fiz esse momento e agora tô num momento muito mais centrado.
Eu já entendi, basicamente, que talvez eu não consiga um novo trabalho esse ano ainda, mas estou buscando. Mas também entendi que eu posso Tirar proveito da reserva, que eu felizmente posso, eu tenho, não é todo mundo.
Que eu não preciso gastar muito, eu tenho uma economia, porque você não tá indo a bar, você não tá indo a cinema. Então eu tô num momento onde eu consigo dormir no horário certo, eu acordo de manhã, eu fico algumas horas na internet, faço um...
Duas vezes na semana eu tenho aula com um professor de verdade, os outros dias eu tento me exercitar 20 minutos, eu cozinho, tô tentando mudar a minha alimentação. Eu acho que eu passei por várias fases da pandemia e eu tento conversar com outras pessoas sobre É ok você quer fazer nada, não faça.
Se eu acordar um dia e não quero fazer nada, não faço. Mas eu acho que eu consegui entender que esse é o momento que dá para aproveitar, que não é só uma crise. Eu tenho evitado assistir jornal.
Eu lembro também que no primeiro momento eu estava assistindo jornal a todo momento, e era coronavírus para tudo que é lado, e eu estou evitando.
Então, acho que eu assisti jornal uma vez no dia, E aí, não compartilho todas as notícias que eu vejo também, porque senão no Brasil, infelizmente, é só coisa ruim. Tanto política, coronavírus, tudo. Então, não compartilho tudo. Tento... Tem alguns Instagrams que eu sigo, só notícia boa.
Tento ver coisas boas para ter esperança, sabe? Então, acho que eu passei por várias fases da pandemia. E que eu tô numa fase agora, na melhor das fases, eu diria.
E quais são as coisas mais importantes pra você hoje?
Hoje, mas hoje assim, hoje Adams, pessoa, Adams no momento pandemia.
Pode ser os dois.
Tá. Porque pra mim, no momento Adams 2020, pandemia, coronavírus, eu penso que a coisa mais importante pra mim é me manter com a minha, sabe? Sam, sabe? Tipo assim, a minha mente, Sam, meu corpo, Sam, eu acho que... Eu não quero pirar, eu não quero entrar numa...
Porque eu tenho um amigo alemão que tava no Rio, inclusive, que ele tava numa... Numa vibe que eu não queria, ele tava numa condição que eu não queria entrar. Infelizmente eu não entrei, mas eu espero não entrar nela, que é...
Mesmo com máscara, a gente se encontrando na rua, ele não queria tocar em nada. Ele chegou a me visitar, agora nesse momento já pode sair na rua, e assim, ele trouxe os próprios salgadinhos dele, ele trouxe o próprio gelo dele, ele trouxe o próprio copo dele.
Ele voltou para a Europa recentemente e ele cogitou a possibilidade de pagar uma classe econômica, não, executiva, com medo de ter pessoas sentadas ao lado dele.
Então, acho que neste momento 2020, no que a gente tá vivendo, o mais importante pra mim é me manter sadio mentalmente, fisicamente, e me cuidar também, não contrair o vírus e não passar pra ninguém.
Eu consegui até esse momento, mesmo distribuindo cesta básica, indo em galpão, não contaminar ninguém e não contrair o vírus, eu acho que então eu quero continuar fazendo isso, não me contaminar. Esse é o mais importante há, nesse momento, pandemia 2020.
Agora, como pessoa, eu acho que uma das coisas mais importantes, ou mais importante, são algumas, né? Eu acho que eu penso na importância das relações, de todo tipo de relação, né?
Mas, assim, eu acho que Pra mim, uma das coisas que foi difícil de se adaptar, mas que eu me adaptei, foi isso, de não poder ver ninguém. Eu acho que eu não abracei minha mãe desde quando eu voltei pro Rio.
Eu acabei abraçando a minha madrinha, mas assim, a minha mãe, eu já não encontro as pessoas querendo abraçar. E eu sou uma pessoa que toca, que fala. Então, o mais importante pra mim é a importância das relações. e manter essas relações. Eu tenho conseguido manter virtualmente, mas...
Vamos lá, manter as relações é importante e... Ah, eu sou meio ideológico total, sabe? Eu acho que o respeito é importante pra mim. Eu acho que eu nunca briguei de verdade com alguém de gritaria, de xingando ninguém. Então, acho que o respeito é muito importante.
Até no trabalho, eu tive alguns momentos muito difíceis de um trabalho que eu tive com o meu diretor, mas eu sempre fui muito tranquilo, eu nunca xinguei ninguém, sempre fui muito profissional, mesmo querendo chorar por dentro e gritar.
Eu falei, eu tenho que respeitar esse ambiente que eu tô, senão eu perco a razão. Então, respeito pra mim é muito importante. Às vezes, eu tento me vigiar, inclusive, quando eu percebo que eu falei alguma coisa que foi desrespeitosa a outra pessoa.
No meu aniversário de 30 anos, eu lembro perfeitamente que eu ganhei um carro de som de presente, né? Eu não sei se você sabe o que é o carro de som, mas é o... É, então eu ganhei, dois amigos meu trouxeram aquele carro, aí tinha um microfone.
E aí eu sou péssimo dando discurso, mas eu não gosto da minha voz. E eu lembro que gravada, eu odeio a minha voz gravada. Odeio. Odeio ouvir minha voz. E eu lembro que eu falei no microfone, a gente desculpa alguma coisa, eu com a minha voz de travesti.
E logo depois eu parei pra pensar que aquilo era muito babaca o que eu tava falando, que eu tava reproduzindo algo que é o que a gente ouve desde sempre numa sociedade nossa, machista, preconceituosa, homofóbica.
Então eu parei, se não me engano, eu basicamente ou eu parei ou eu evitei muito, ou evito, porque acaba saindo involuntariamente. Mas ser desrespeitoso. Então, assim, o respeito é muito importante, as relações são muito importantes. E a amizade é muito importante pra mim. Pronto, é isso. Consegui.
Três. Consegui.
Ah, a gente tá encerrando e caminhando pro fim, mas eu tenho duas perguntas ainda. Uma é... Teve alguma coisa que você queria comentar, alguma passagem que eu não tenha instigado? Alguma coisa que você queria falar que tá a gente atento?
Tem uma coisa que faz sentido, porque eu nunca achava em nada a pergunta, mas assim, como é da pessoa e como faz parte da minha vida também. Teve um momento da minha vida que eu assumi uma religião. E eu fui mórmon. Não sei se você sabe o que é isso. Eu fui mórmon por um tempo. Ai.
Na verdade, eu fui mórmon por um grande tempo. Na verdade, é isso. Quando eu estava no teatro, eu era mórmon. Então, eu fui mórmon até a minha primeira viagem à Noruega, que foi em 2009. Então, não me recordo, mas talvez 2006. Penso eu... Não, 2006 não. Penso eu que de 2007 a 2009 eu fui mórmon.
Ou 2006, melhor que 2007, que eu morava com meu padrinho quando eu me batizei. Então foi 2007 a 2009. E aí eu fui muito religioso mesmo. É uma religião que eu encontrei, ninguém da minha família pertence, E eu sempre fui muito curioso. Eu recebi um flyer, tinha um número, eu liguei.
E aí, depois de um tempo, eu decidi me batizar, porque tem uma cerimônia de batismo. Eu acreditava e, na verdade, eu ainda carrego algumas das premissas dos mórmons. Então, eu me batizei, eu cheguei a ser secretário da igreja. Então, durante esse período de teatro, eu era mórmon. Lembro até...
E no início da faculdade da PUC, em 2009, eu era mórmon. Então, eu lembro que tinha uma festa que todo mundo sabia, e é que eu não bebia na época. Então, tem uma festa, uma boate que eu fui, e todo mundo queria me dar tequila, e eu não bebi de jeito nenhum.
Eu parei a festa e meus amigos da faculdade, porque as pessoas queriam que eu bebia. Eu não vou beber. Então, talvez essa passagem seja importante mencionar.
E hoje você não é mais?
Não.
O que você fez? O que você parou?
Eu acho que foi muito... A viagem para Noruega mudou muita coisa pra mim. Ou a viagem para Noruega mais o encontro com essa família no Rio, né? Eu acho que a gente... Vamos lá, colocar eu. Aprenda a fazer. Eu acho...
que eu entendia muito devido a nossa sociedade, que assim, pra ser alguém bom, pra ser alguém melhor, pra conquistar alguma coisa, você tinha que estar dentro da igreja, acreditar em Jesus, do cristianismo, né?
Por mais que eu tenha nascido numa família onde meus tios são do candomblé, não são mais, mas eu nasci nessa família. por parte de pai. Então, eu nunca me identifiquei com nenhuma outra igreja, sabe?
Com a católica, apesar de ter sido batizada na católica, ou com a Assembleia de Deus, mas quando eu encontrei essa igreja mórmon, eu gostei do que eu encontrei lá, sabe? A forma de culto era diferente, o discurso é diferente, então eu me identifiquei com alguns valores.
Por exemplo, Tinha algo de encontro familiar toda segunda-feira, noite familiar, algo que eu prezo muito. As reuniões, os cultos, não é segunda, quarta, sexta, domingo à noite, é só domingo de manhã. E aí tem um piano, tem bateria, aquele barulho todo, era algo bem tranquilo.
As pessoas, não só o pastor ou bispo, no caso, é o cara que fala no alto, no púlpito. Os membros, de fato, da igreja, os jovens, são convidados a ir lá discursar também. Então, alguns desses valores, de fato, acho que eu acredito e eu me associei muito fortemente. E isso me fez...
Ficar lá, eu acho, sabe? Eu tinha ótimos amigos, sabe? Não era tudo proibido também, não era... Você não pode ouvir essa música tal, aquela... Não, você podia ouvir músicas e era assim, a ideia é que você ouça músicas que te fazem bem, né? Músicas que um palavrão não vão fazer bem.
Mas música faz bem pra alma, então tinha muito isso. Você não precisa ouvir só as nossas músicas, mas músicas que te façam bem. Então, alguma dessas coisas me fez ir pra Igreja Mormon.
Mas aí também, quando eu encontrei essa família, quando eu viajei pra Noruega, e que eu vi um outro mundo diferente do Brasil, onde... Pra eu ser bom, eu não preciso estar dentro de uma religião ou dentro de uma igreja. Pra ser uma pessoa boa, eu preciso fazer o bem. Eu preciso...
Eu posso ser livre, né? Eu posso beber cerveja, se eu quiser. Isso não me faz uma pessoa amar, se eu souber como bebê. Eu posso fazer alguma loucura uma vez na vida e não necessariamente isso quer dizer que eu vá para o inferno, porque faz parte da experiência humana.
Então, a experiência da Noruega me trouxe muito isso, porque eu encontrei Uma outra sociedade, com outra cabeça, onde no Brasil, por exemplo, um homem que se cuida muito da pele, do cabelo, se veste muito bem, acho que agora mudou bastante, um pouquinho, mas aí você tá achando ele, ah, você é gay, você é viado, olha lá, bichinha.
E na Noruega, eu lembro quando eu cheguei lá, eu falei, gente, todo mundo se veste bem aqui, é todo mundo veado, é todo mundo gay, sabe? Então, mudou muito essa minha viagem, essa minha primeira viagem mudou muito.
Então, quando eu volto da Noruega, eu já volto assim, eu não quero ou não preciso estar dentro da igreja.
E como foi pra você contar essa história aqui?
Foi ótimo, eu não sei como é que fica, eu tô curioso agora, porque a gente gravou, se você edita, se você escreve, mas eu tô curioso de como isso vai ser compilado pra entrar lá na plataforma.
Mas foi uma experiência muito legal, porque, como eu disse, meu TCC de pós-graduação foi um pouco rejeitado no momento inicial dentro da faculdade, mas a minha ideia era fazer uma transformação social na comunidade, no bairro onde eu vivi por muito tempo com a minha mãe.
Não a rua que eu cresci, onde eu te falei que eu tive um amigo com quintal, mas depois, quando a minha mãe conseguiu construir a casa dela, é o bairro onde eu também tenho uma relação bacana.
E como eu saí de Nova Iguaçu, de Comendador Soares, há algum tempo, um pouco antes do terceiro ano, na verdade, do ensino médio, eu já passava muito tempo na zona sul da cidade. Mas as minhas raízes, ou acho que parte da minha trajetória está enraizada lá, minha família está lá.
E eu sei que não tenho como falar de mim e não falar de Nova Iguaçu, de Comendador Soares. Eu queria fazer algo pra lá. Eu fiz a graduação e eu fiz algo super longe de mim, de alguma forma. Brasil, Noruega. Bah, né? Tava próximo de mim, mas também era algo assim, que era uma nova realidade pra mim.
E na pós-graduação eu já tinha alguma experiência de vida, alguma experiência profissional, e eu já trabalhava com projeto social também, visitava muito. Eu já tinha esse desejo de fazer algo com propósito. Eu não queria mais escrever um TCC só pra ficar parado, só pra ter um diploma.
Eu queria fazer algo com propósito. Então, eu sou amante do grafite, da arte urbana, E eu queria transformar a entrada dessa comunidade lá por meio do grafite. Mas eu não queria que fosse só um grafite, eu queria que fosse um grafite com história, com memória.
Então, a minha orientadora, que é uma historiadora, que conhece muito a visão da pessoa, ela foi trazendo para mim ferramentas. Então, visitei outros museus aqui no Rio que têm um pouco a ver com o meu TCC, relacionado a grafite, a história dos moradores, e eu trouxe isso para o meu TCC.
Eu fiz algumas oficinas e muitas baseadas num guia que tem do Museu da Pessoa que eu peguei em algum lugar, acho que no site do Firjan, do Sesi.
E aí eu convidei alguns moradores para fazer, de alguma forma, essa conversa que a gente está fazendo, para que os grafites representassem as memórias desses moradores com aquele lugar.
Então, essa experiência de ter essa conversa foi muito bacana, porque é algo que eu acredito de deixar registrado, mas também Porque eu acho que é deixar registrado, mas também da gente parar e pensar sobre quem nós somos, de onde a gente está vindo. É quase uma terapia de alguma forma.
E lá no meu TCC eram pessoas super simples. Então, basicamente, uma das pessoas que participou, ela tem graduação. Todas as outras, não. Nem... Eu acho que a minha mãe, por exemplo, estudou até a terceira série do ensino fundamental.
e outras pessoas também não estudaram muito, e eram todas mulheres.
E foi muito legal porque a gente conseguiu construir uma memória coletiva baseada nas memórias daquelas pessoas, nas histórias delas, de quando você chegou aqui, como era esse lugar, o que faltava aqui, o que você queria, o que você quer.
Então, até hoje os grafites estão lá, são 11, a ideia inicial era 10.
E a questão de, eu acho que tem essa conversa de museu da pessoa e memória, é isso, eu acho que pessoas mais simples, mais humildes como eu, às vezes, a gente não cresce num ambiente onde tem essa troca, essa memória do seu avô compartilhando as histórias dos seus antepassados, de vida.
Então, é algo que eu comecei a sentir muita falta. E eu fui buscando isso depois. E talvez foi algo que me levou a ser mormon também, de alguma forma, porque na religião mormon, uma das coisas que eles valorizam é a árvore genealógica, é a história da sua família.
E é algo que eu meio que, por algum tempo, agora não muito, eu comecei a ter muita falta, porque os meus amigos do teatro, por exemplo, Eu acho que quase todos eles têm uma relação com a memória deles, a memória da família deles.
Eles sabem o que o bisavô foi, o que o avô foi, eles têm uma herança de alguma forma, ou muitos dos meus amigos têm uma herança e sabem de onde vem, e eu não tenho. Não é que eu não tenho, eu não cresci nesse ambiente que essas conversas acontecem.
Então, é algo que eu tento trazer, por exemplo, baseado na minha sobrinha. Eu tenho uma sobrinha, eu tenho primos pequenos. Então, quando eu tô na minha mãe, a gente acaba sempre conversando. Em algum momento, eu acho que porque eu acabo trazendo isso, sabe, da história do meu avô.
Eu sei que meu avô trabalhava na roça e tudo mais. Meu avô faleceu, eu tenho memórias do meu avô, conheci meu avô. Mas se a minha avó, por exemplo, Tanto por parte de pai, que eu não tenho muito contato, mas por parte de mãe, eu não faço ideia de como foi a vida delas.
Então, pra mim, essa experiência foi muito legal por isso. Vai estar registrado um pedaço da minha trajetória pra que, sei lá, se eu adotar uma criança um dia, minha sobrinha quiser ver, compartilhar com amigos.
Eu acho que tem um pouco de mim também, eu sou canceriano, nascido em julho, Então, eu tento jogar algumas coisas fora, mas eu sempre penso... Eu tenho um caderno, tem até aqui do meu lado, por exemplo, de 2009. Eu guardo coisas, eu anoto coisas.
É super desorganizado, eu nunca consigo levar adiante nada disso. Mas, assim, eu fico guardando e escrevendo memórias. Por exemplo, aqui é tipo... Tá aqui, é sério, tá aqui do meu lado. Esse é de 2010, inclusive. É uma agenda que eu ganhei no Natal da Noruega. Então, assim, tem aqui, ó.
1º de janeiro de 2010. Nitosdag. Aí tem uma bandeirinha da Noruega, não sei se vocês conseguem ver. Que aí é o dia, como se chama na Noruega. Aí, essa agenda, eu ganhei em 2009. Ó, passagem. Tá aqui, ó. Nem sabia que tava aqui, mas tá aqui. Passagem aérea. Qual é a data disso? É, provavelmente...
Pra tá aqui, provavelmente... É! A minha passagem de volta da minha primeira viagem. Dia 26 de fevereiro de 2010, ó. Ó, tá aí, ó. Coisas... Recadinhos de viagem.
Então, assim, eu guardo, eu tenho várias coisas que eu guardo das viagens que eu faço, da universidade, porque eu acho que em algum momento, sei lá, eu vou querer lembrar minha sobrinha, não sei, ó, passagens do 2010. Isso aqui é do... Ai, do trem que leva até o aeroporto lá na Noruega.
Então, eu fico guardando algumas coisas, ó, foto da PUC 2010 com amigos. Eu fico, de verdade, eu tento registrar ou deixar registrado e aí eu acho importante isso. Eu tento me desfazer de algumas coisas, mas outras eu tento guardar e tento organizar por ano, pelo menos.
Que incrível, que história linda. Muito obrigada por dividir com a gente. Te agradeço muito, muito, muito por contar essa história.
Ah, eu que agradeço. É uma experiência incrível. São dez fotos. Vai ser difícil. Mas eu vou pensar nessas fotos com carinho. E tô super curioso pra saber como vai ficar lá depois.
Vou te contar. A gente... Agora eu vou... Vamos pegar todo esse material. Aí a gente vai criar um personagem lá no museu. Você, com foto, com vídeo. Vai estar tudo lá. Uma edição, e aí quando estiver tudo prontinho eu te mando. E aí você vai ficar vendo.
Obrigado.
Pode compartilhar com todo mundo, como você quiser.
Tá.
Vai fazer parte do museu.
Obrigado. Eu acho que uma das fotos que eu vou colocar, que eu não sei se eu falei, mas eu vou falar, pode ainda?
Claro.
Que é isso, é que eu sou a primeira pessoa da minha família a me formar na universidade. Então, acho que isso faz grande parte da minha história, na verdade, né? Porque, é...
Eu me formei em 2012 e, como eu disse, eu não sei porque chegou até mim essa coisa de ser universitário, porque não é algo que eu nasci querendo, com o sonho de ser. Mas foi bem legal porque, ou é bem legal isso, porque em algum momento as pessoas lá de Nova Iguaçu acabavam Pensando, né?
Ah, é meio que um orgulho de alguma forma, não só pra família, mas assim, pro bairro. Que eu ignorava isso por um tempo. Eu não gostava, eu rejeitava. Porque eu pensava que... Ah, eu não quero ser superior a ninguém. Então, eu me senti mal por um tempo.
Mas depois que um tempo, eu comecei a entender como um exemplo. Então, assim, eu fui a primeira pessoa a me formar. E foi algo bem... Bem legal, né? Porque foi um tempo aí de faculdade que teve muita coisa. Muita coisa aconteceu, altos e baixos. E aí depois um primo meu...
A minha irmã começou a cursar a universidade, mas parou no meio do caminho. E aí, recentemente, um primo meu se formou em fisioterapia. Então, na verdade, assim, somos dois. É, eu sou o primeiro, meu primo vem depois, mas é isso.
Pra família também, é importante que assim, a minha sobrinha já tem uma outra perspectiva, a irmã do Daniel, meu primo, tem uma outra perspectiva. E não é entender, e assim, até eu hoje mesmo tenho uma outra perspectiva.
Você não precisa mais, não é que você não precisa mais, mas a universidade pra mim, Não é o topo de tudo, porque como eu trabalho em projetos de qualificação educacional, às vezes se você quer fazer um curso técnico também é bacana.
Então, também comecei a entender isso depois, que não necessariamente a faculdade tem que ser o objetivo, mas estudar tem que ser o objetivo. Eu acho que é isso, só queria concluir com isso aí.
E outro fato, talvez, eu não sei se você reparou, mas eu normalmente falei muito mais da parte da minha mãe do que do meu pai. É justamente porque eu tenho uma relação muito mais próxima com a minha família por parte de mãe.
Isso porque quando eu fui morar com a minha mãe, meu pai meio que com inveja, com ciúmes, não sei, ele meio que preferiu mesmo, ele optou por se afastar, porque ele achava que eu tinha que morar, ou minha irmã, nós tínhamos que morar com ele. Então meio que ele se sentiu abandonado.
Então foi muito natural também. Então na verdade não foi briga, não é ódio, não arrancou nada disso. Mas como o meu pai se afastou, naturalmente, Eu passei muito mais tempo com a família da minha mãe.
Então assim, é interessante porque eu não tenho uma relação próxima com meu pai, mas não é uma relação de ódio. Porém, assim, metade ou mais da metade do que você sabe da minha vida hoje, meu pai não faz ideia. Mas justamente porque... Porque não teve, né?
Nesse período de infância, adolescência, vida adulta, ele apareceu algumas... Ele sabia onde a gente morava, a escola... Ele aparecia esporadicamente algumas vezes pra saber, oi, tudo bem?
Mas como eu já não me sentia confortável em compartilhar nada muito pessoal com ele, porque ele já não fazia parte daquelas experiências, é algo que eu não me sinto... Simplesmente não confortável, é basicamente isso. Mas só pra registrar aqui o porquê que ele não aparece muito na história.
Porém, até antes da separação, as memórias são ótimas, inclusive. Até antes da separação, meu pai sempre foi uma pessoa que gostou de surpreender ou de fazer surpresas.
Então, assim, eu lembro que Em algum momento, televisão, não sei a idade, mas meus pais ainda eram casados, casados e moravam juntos. Eu queria ir num show da Angélica, que era num lugar aqui no Rio de Janeiro, uma casa de show no Meia. E, quero ir, eu e minha irmã, quero ir, quero ir, quero ir.
A gente não sabia se a gente ia, e aí meu pai chegou de surpresa com os ingressos, levou a gente pro show da Angélica, por exemplo. Ano Novo, Réveillon. Várias vezes a gente acampou na praia, porque a gente morava longe. Eu, meu pai, minha mãe, meu irmão, a gente vinha.
Meu pai fazia questão de vir passar o Réveillon na praia de Copacabana. Eu também tenho essas lembranças. Lembranças de passeios. Depois que eles se separam, eu não tenho memória, basicamente, nenhuma com meu pai.
Além da fase de ter que ir lá no tribunal fazer coisas relacionadas à pensão alimentícia. Mas antes disso, ter memórias excelentes. É muito incrível porque são memórias tão marcantes. Esse show da Angélica, por exemplo, eu consigo ver a Angélica no show caindo balão aqui na minha frente.
Então, só pra ter registrado isso.
Ótimo! Eu posso só pegar os seus... A gente tem uma ficha pra preencher, aí eu vou parar de gravar pra não ficar alto.
Tá ótimo, não tem problema.
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