Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Arnaldo Bezerra Barros
Entrevistado por Cláudia Fonseca
Manaus, 02 de julho de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB191
Transcrito por Transkipto
00:00:06 P/1 - Pois bem, seu Arnoldo, eu queria que o senhor repetisse para mim o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
00:00:32 R - Meu nome é Arnaldo Bezerra Barros, nasci em Manaus a 10 de dezembro de 1940.
00:00:38 P/1 - Manauense é isso? Manauense.
00:00:42 R - Índio do Amazonas.
00:00:43 P/1 - Índio do Amazonas? Seu Arnoldo, e como é que o senhor entrou na Petrobras?
00:00:49 R - Bem, eu entrei ainda na Copan, na refinaria de uma empresa particular, companhia de petróleo da Amazônia. entrei no dia 6 de julho de 1960 e depois chegou a Petrobras com um certo tempo nós fomos ficando, se especializando, a Petrobras nos deu mais oportunidade Ficamos ficando até 1987. Foram 27 anos de refinaria.
00:01:26 P/1 - Na Petrobras?
00:01:27 R - Não, não. Incluindo Petrobras e Copan.
00:01:34 P/1 - Aí em 87 o senhor saiu?
00:01:35 R - Em 87 eu me aposentei, com 32 anos de serviço. 27 dos quais dentro da refinaria de Manaus. Refinaria Isaac Benayon Sabá, né?
00:01:48 P/1 - Certo. Mas o senhor sempre trabalhou só na refinaria ou trabalhou em outros lugares?
00:01:52 R - Não, eu tive ainda quando jovem uma experiência no comércio como balconista de uma empresa de secos e molhados. Depois fui para o exército e do exército vim para a refinaria.
00:02:06 P/1 - Quer dizer, o senhor cresceu aqui em Manaus, né? Como é que era Manaus na sua época de infância?
00:02:11 R - Manaus era pequeno, né? Diziam que era um porto de lenha, né? Porto de? De lenha. Todo mundo se conhecia, uma média de 300 mil habitantes ou menos. Hoje em dia nós temos quase 2 milhões de pessoas. Mudou muita coisa, mudou muito mesmo.
00:02:32 P/1 - Seus pais eram daqui também?
00:02:33 R - Também.
00:02:34 P/1 - Sempre passou...
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Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Arnaldo Bezerra Barros
Entrevistado por Cláudia Fonseca
Manaus, 02 de julho de 2003
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB191
Transcrito por Transkipto
00:00:06 P/1 - Pois bem, seu Arnoldo, eu queria que o senhor repetisse para mim o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
00:00:32 R - Meu nome é Arnaldo Bezerra Barros, nasci em Manaus a 10 de dezembro de 1940.
00:00:38 P/1 - Manauense é isso? Manauense.
00:00:42 R - Índio do Amazonas.
00:00:43 P/1 - Índio do Amazonas? Seu Arnoldo, e como é que o senhor entrou na Petrobras?
00:00:49 R - Bem, eu entrei ainda na Copan, na refinaria de uma empresa particular, companhia de petróleo da Amazônia. entrei no dia 6 de julho de 1960 e depois chegou a Petrobras com um certo tempo nós fomos ficando, se especializando, a Petrobras nos deu mais oportunidade Ficamos ficando até 1987. Foram 27 anos de refinaria.
00:01:26 P/1 - Na Petrobras?
00:01:27 R - Não, não. Incluindo Petrobras e Copan.
00:01:34 P/1 - Aí em 87 o senhor saiu?
00:01:35 R - Em 87 eu me aposentei, com 32 anos de serviço. 27 dos quais dentro da refinaria de Manaus. Refinaria Isaac Benayon Sabá, né?
00:01:48 P/1 - Certo. Mas o senhor sempre trabalhou só na refinaria ou trabalhou em outros lugares?
00:01:52 R - Não, eu tive ainda quando jovem uma experiência no comércio como balconista de uma empresa de secos e molhados. Depois fui para o exército e do exército vim para a refinaria.
00:02:06 P/1 - Quer dizer, o senhor cresceu aqui em Manaus, né? Como é que era Manaus na sua época de infância?
00:02:11 R - Manaus era pequeno, né? Diziam que era um porto de lenha, né? Porto de? De lenha. Todo mundo se conhecia, uma média de 300 mil habitantes ou menos. Hoje em dia nós temos quase 2 milhões de pessoas. Mudou muita coisa, mudou muito mesmo.
00:02:32 P/1 - Seus pais eram daqui também?
00:02:33 R - Também.
00:02:34 P/1 - Sempre passou aqui? É. Temos de Petrobras, você teve uma experiência grande em refinaria, mas de Petrobras uma lembrança muito marcante, ou profissional ou pessoal?
00:02:51 R - A lembrança é que com a chegada da Petrobras, que tu comprou parte das ações da antiga companhia, ela nos deu mais oportunidade de progredir. Quando eu entrei na refinaria, eu entrei como contínuo, inclusive. Passei um mês como contínuo, depois passei um ano e um mês como telefonista, porque a equipe não era usada, era usada só para o dia. A mulher, né? De noite era difícil de mulher trabalhar, então tinha os telefonistas homens, né?
00:03:35 P/1 - Isso na década de 60, senhor?
00:03:37 R - É, 61. É, 60. 60, 61. E depois, o restante, eu passei na área de transferência e estocagem. entrei lá como ajudante e fui galgando, galgando, cheguei até a ser substituto oficial mesmo na Petrobras depois de inúmeros cursos que eu fui fazer fora, né? e cheguei a substituir o chefe o engenheiro-chefe, vários engenheiros-chefes porque era substituto quando eu tirava férias ou viajava para qualquer serviço Eu, através de portaria do superintendente, eu ficava respondendo pelo setor.
00:04:27 P/1 - Mas eu fiquei curiosa com uma coisa, Sr. Arnoldo, como é que era a questão da comunicação? Porque diz que era muito difícil conseguir telefonar aqui para a Amazônia, ainda mais na década de 65.
00:04:37 R - No início, sabe que antigamente, de um modo geral, até em outros estados mesmo, é meio difícil. Depois que chegou essa nova fase aí de comunicações, tudo é mais fácil, né?
00:04:50 P/1 - Mas assim, as pessoas pediam a ligação do senhor?
00:04:53 R - É, não, só tinha uma linha externa, porque era muito longe, daqui por cento, dez quilômetros, né? Só tinha uma linha telefônica, e tinha o PABX, né? E de lá a gente transferia, recebia e transferia para os setores, para as pessoas, de noite mesmo.
00:05:14 P/1 - E nesse tempo que o senhor teve aí, nessa sua trajetória profissional, teve alguma história engraçada, interessante?
00:05:22 R - Não, história assim... Não me lembro de história engraçada. Teve várias histórias, né? Até de perigo, né? Que tipo? Tipo um navio bombeando pra tanque, o tanque não aguentar estourar, né? Todas essas coisas. Mesmo como um outro colega que tinha acabado de medir um tanque de óleo combustível, temperatura altíssima. E, por felicidade, quando ele desceu, o tanque também explodiu, né? E de alegria, de satisfação, eram as comemorações. Aqui, mesmo no tempo da COPAN, quando passava um ano sem mexer na FCC, O superintendente fazia uma festa para os empregados, a gente ia...
00:06:15 P/1 - O que é esse FCC?
00:06:17 R - FCC é uma torre aí que produz um tipo de produto, né?
00:06:21 P/1 - Tá, e era bom não mexer nessa torre?
00:06:23 R - É, porque ela produzia... passou de um ano, sempre tinha que prestar uma assistência a ela, né? Então, se ela aguentava, eles iam trabalhando até ter problema, mas não. Quando ela passava de um ano, já era... Motivo de satisfação, né? Alegria.
00:06:40 P/1 - Não tinha nenhuma história de índio, de bicho, da selva, nada? Tudo normal?
00:06:45 R - Ninguém tinha medo? A selva aqui é muito longe. E índio só nós mesmos.
00:06:54 P/1 - Você é afiliado ao sindicato?
00:06:57 R - Sou.
00:06:57 P/1 - Desde quando o senhor é afiliado?
00:06:59 R - Desde quando surgiu o sindicato, eu não me lembro o ano agora, sem nem cabeça.
00:07:04 P/1 - O senhor chegou a ocupar algum cargo?
00:07:06 R - Não, não. Eu sempre me mantive afastado.
00:07:10 P/1 - Mas participou das greves?
00:07:13 R - Olha, não teve nem greve durante o tempo que eu trabalhei assim.
00:07:17 P/1 - É, porque o senhor saiu em 87.
00:07:19 R - É, não houve greves. Ou se houve, eu estava de férias. Nunca, assim...
00:07:26 P/1 - Mas em termos de sindicato, o senhor sempre esteve acompanhando as atividades? O que o sindicato pedia mais no começo aqui, seu irmão?
00:07:33 R - Não, o sindicato de um modo geral, desde muito tempo, até agora eu acho, ele trata do aumento de salário, que até não tem conseguido ultimamente, né? Melhorar, porque o negócio está bem ruim para todo mundo mesmo. Mas sempre prestigiei o meu sindicato. ainda vou lá na sede até agora, é onde a gente encontra os amigos, os colegas aposentados.
00:08:05 P/1 - E o senhor se aposentou cedo, né?
00:08:07 R - Eu me aposentei cedo porque com 47 anos e até em relação a outros, depois a Petrobras, aposentou gente com menos idade de tanto de serviço, quanto de... tinha umas vantagens aí que aposentou muita gente até com 43 anos. Então eu me aposentei com 47, que pra aquela altura era... era bem novo, né? Mas é porque eu já estava pagando pra trabalhar. Porque eu, como logo no início, como aposentado, eu passei a ganhar até mais do que na ativa. Depois é que foi... foi dando pra trás e hoje em dia talvez o da ativa ganhe muito mais, né? Porque recebe todas as vantagens que o aposentado não recebe. Mas então eu não parei, porque eu era um homem novo, né? Eu não parei, porque a ociosidade mata mais depressa, né? E eu passei, depois que me aposentei, era muita batalha porque Sabe como é? Aqui eu trabalhava em regime de turno e não tinha domingo, nem feriado, nem ano novo, nem natal. Passei muito carnaval, não tinha nada. A gente tinha que ter escalado pra trabalhar, tinha que ter. A gente já sabia quando ia trabalhar de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Era uma escala por turno, né? E eu... Depois que me aposentei, fui dar uma volta pelo Brasil com a esposa, dois filhos pequenos que eu tinha naquela altura e fui dar uma volta no Rio, na Bahia, onde eu tinha amigos.
00:10:00 P/1 - O senhor foi em outras refinarias nessa sua viagem?
00:10:03 R - Fui, fui. Eu fiz muitos cursos pela Petrobras e tudo no Rio de Janeiro, na Duque de Caxias, lá em Salvador. Fui numa em Curitiba, né? E depois eu fiz, inclusive, um curso de... instrutor. E eu até cheguei a ministrar aulas dentro da minha especialidade, que era setor de transferência de estocagem, medição de tanques. Eu cheguei a dar aula no Rio de Janeiro, em Salvador, Super complicado esse setor, não é?
00:10:47 P/1 - O que tem que levar em consideração? Temperatura?
00:10:51 R - Medição, temperatura, quantidade de água que tem no tanque. Não, já é parado. O tanque está em repouso para fazer essas coisas. Na medição do tanque, só quando está recebendo que se medir. Agora não, tudo é mais fácil porque é tudo automático. Aperta o botãozinho lá e já sai a medida do tanque. Então eu, depois que voltei, dessas férias de um ano, eu fui trabalhar no SESI. E tive o prazer, é uma outra grande organização, como a Petrobras, né? Petrobras, SESI, então eu pertenci às duas. Eu passei quatro anos no SESI, aqui em Manaus, administrando o Clube do Trabalhador. É um complexo esportivo muito grande, né? Eu passei quatro anos lá. Mas depois cansei. Cansei porque também eu tinha que estar lá sempre, sábado e domingo, nas exposições. Manaus, todas as exposições eram direcionadas lá para esse clube, porque é uma área muito grande e bonita. E eu tinha que estar lá também. Aí eu cansei, né? Cansei e tentei ser empresário. Ser empresário eu abri um mini supermercado, mas não deu certo não e acabei. Agora eu estou com 62 anos e infelizmente já ninguém quer mais, nem os novos, não tem. Então eu me divirto pintando minha casa, ajeitando ali uma coisa ou outra. Eu mesmo faço sem precisar pagar. Uma parte elétrica, de tudo eu procuro entender um pouquinho.
00:12:43 P/1 - Tá ótimo. Senhor Nando, o que o senhor acha desse projeto? De Memória dos Trabalhadores do Porto Branco.
00:12:48 R - Eu acho maravilhoso o projeto. Pelo menos a gente deixa a história E é registrado. É muito bom, muito bom mesmo.
00:13:00 P/1 - Então tá bom. Gostou de dar entrevista pra gente?
00:13:02 R - Gostei. Foi um prazer.
00:13:05 P/1 - Então tá bom. Então a gente agradece. Muito obrigada, seu amigo.
00:13:09 R - Obrigado por você.
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