O ano era 1957, a garotinha - cujos cabelos lembravam o trigo de sua terra - contava dez anos . Passara três meses em navio, sentira que o fim estava próximo, vira a face da Morte, sentira-se entre esta e a Vida (Ah! a náusea, o balançar da nau, o balançar da vida, a náusea que sentiria de quando em vez, desde então...) - falava francês e árabe, mas não aquela língua de bonito som.
O pai, Jorge, veio para aquela terra distante, de clima quente, sem o cheiro das montanhas de gelo , sem odor de sua terra molhada, quando ela estava sete anos velha, ou seja, quando tinha sete aninhos. E ficaram na terra dos Cedros de Deus, em uma região sobre a qual diziam que \\\" se fossem montanhas, seriam cordilheiras; se fossem margens, seriam mar; se fossem caminhos, seriam pegadas, e se fosse um encontro, encontrariam \\\"Akkar\\\".
Ficaram a mãe Myriam; ela, Nahieh; Fauzi - o mais velho- Moussa; Jéber (ou Jáber) e Bahia (pronuncia-se \\\"barría\\\").
Meio nômade o pai, \\\"baiek \\\" ( um típico descendente dos homens do deserto, dos fenícios, dos ciganos; enfim, um típico libanês que, ao se ver descontente com o varão - orgulho de todo homem árabe - saiu esbravejando, derrubando jarros, odres, tendas, espadas, o que sua imaginação conceber - tudo que houvesse à sua frente e... não pensando duas vezes - homem decidido - comprou passagem, despediu-se dos seus e partiu rumo a uma terra de comida quente, sol ardente, de homens com sombreiros e que falavam uma língua cantada, bonita de se ouvir, do outro lado da terra .
Veio tentar a vida, fazer o que sabia de melhor e... tentar enricar. ( Mas aí já é outra história! Voltemos à habibity, a amada, chegando ao Porto de Santos três meses depois que dissera adeus aos Cedros de Deus, às montanhas de gelo eterno, ao cheiro de terra molhada. )
Naquela terra de sol intenso enxergou pai, o irmão Zaghough - que chegara aos 16- e Jáber ( aquele a quem o primogênito, Ibrahim , no...
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O ano era 1957, a garotinha - cujos cabelos lembravam o trigo de sua terra - contava dez anos . Passara três meses em navio, sentira que o fim estava próximo, vira a face da Morte, sentira-se entre esta e a Vida (Ah! a náusea, o balançar da nau, o balançar da vida, a náusea que sentiria de quando em vez, desde então...) - falava francês e árabe, mas não aquela língua de bonito som.
O pai, Jorge, veio para aquela terra distante, de clima quente, sem o cheiro das montanhas de gelo , sem odor de sua terra molhada, quando ela estava sete anos velha, ou seja, quando tinha sete aninhos. E ficaram na terra dos Cedros de Deus, em uma região sobre a qual diziam que \\\" se fossem montanhas, seriam cordilheiras; se fossem margens, seriam mar; se fossem caminhos, seriam pegadas, e se fosse um encontro, encontrariam \\\"Akkar\\\".
Ficaram a mãe Myriam; ela, Nahieh; Fauzi - o mais velho- Moussa; Jéber (ou Jáber) e Bahia (pronuncia-se \\\"barría\\\").
Meio nômade o pai, \\\"baiek \\\" ( um típico descendente dos homens do deserto, dos fenícios, dos ciganos; enfim, um típico libanês que, ao se ver descontente com o varão - orgulho de todo homem árabe - saiu esbravejando, derrubando jarros, odres, tendas, espadas, o que sua imaginação conceber - tudo que houvesse à sua frente e... não pensando duas vezes - homem decidido - comprou passagem, despediu-se dos seus e partiu rumo a uma terra de comida quente, sol ardente, de homens com sombreiros e que falavam uma língua cantada, bonita de se ouvir, do outro lado da terra .
Veio tentar a vida, fazer o que sabia de melhor e... tentar enricar. ( Mas aí já é outra história! Voltemos à habibity, a amada, chegando ao Porto de Santos três meses depois que dissera adeus aos Cedros de Deus, às montanhas de gelo eterno, ao cheiro de terra molhada. )
Naquela terra de sol intenso enxergou pai, o irmão Zaghough - que chegara aos 16- e Jáber ( aquele a quem o primogênito, Ibrahim , no futuro que nem imaginava, se pareceria em tudo, tudinho).
Sim, sim, eu sei caro leitor, dou voltas, abuso das intercaladas, de apostos, de subordinadas, mas sempre retorno ao ponto de partida, como esclareci em texto anterior, sou machadiana.
Pernoitaram na cidade praieira - cuja brisa nem de longe se parecia com a de sua terra, mas que trazia o aroma e a cor da Esperança. Dia seguinte tomavam um carro, um coche, porém a menina - cuja tez brilhava, cujas bochechas lembravam o fruto proibido de sua região - disse ao pai, em tom de súplica (não esqueçam que viviam em terra santa):
- Nunca peguei um trem, paizinho, quero ver como é andar debaixo da terra.
E o pai, que sempre realizava seus desejos, o pai, com cheiro de mar, aquiesceu e ela se sentiu \\\"tatu\\\", palavra que aprenderia mais tarde.
Eis que toda a família chega à Estação Ferroviária de uma tal Alta Mogiana, em uma terra com nome esquisito., na região de uma tal Ribeirão Preto, com nome também esquisito.
\\\"Como vou pronunciar isso? - pensava a pequena inteligente que já se imaginara dizendo \\\"Caa Iuru\\\", Ca ju ru, Cajuru...
Como pronunciar o nome de outro vilarejo que seria para ela, a partir de então, sua segunda terra, sua segunda morada . Também a segunda casa do amor de sua vida, do \\\"guapo\\\" da mesma Joia do Oriente: Abdallah Ibrahim Hanna .
Também berço do primogênito - orgulho do pai libanês - Ibrahim Abdala Hanna. Berço do aquele seria o renomado médico do sírio-libanês - que cuidou do presidente Lula - Samir . E berço da bonita bela belíssima brasileira baiana (amo aliteração, além de pulseiras douradas rs) também doutora, Samira Abdala Hanna.
E...continuo em breve ... as soon as. Inshallah!!)
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