PIÁ DE VILA
Em Curitiba existe aquilo que se chama de \"piá de vila\".
Diz-se que a mãe índia da terra onde fica Curitiba, quando dizia \"meu piá\" queria dizer \"meu coração\".
Sou bisneto de vó índia (xokleng ou guarani, não sei bem), então ser chamado de piá faz muito sentido pra mim.
Sou um piá que sempre gostou de desenhar, de criar, de ler bastante, de arte, beleza e funcionalidade.
Filho e neto de feirantes, nasci e me criei vendendo frutas e verduras, pescando nos rios com meu avô na época de férias, e jogando bola de chinelo nas ruas curitibanas sem asfalto dos anos 70.
Sou um bicho do mato, mas também um bicho da cidade. Ambos habitam em mim.
Aos 10 anos descobri a Arquitetura graças a uma visita do grande Jaime Lerner na minha escola, e aos 12 descobri o Design graças às revistas 4Rodas usadas que minha mãe ganhava na feira. E então um mundo novo se abriu pra mim.
Aos 14 comecei meu curso técnico em Desenho Industrial, e aos 15 já estava trabalhando na área. E desde então, nunca mais o Design e a Arquitetura saíram de mim.
Casei novo e fui pai aos 21, e foi a experiência mais linda da minha vida, que se repetiu aos 39 com minha segunda filha. Duas meninas lindas, inteligentes, sensíveis e criativas. Uma hoje mora bem longe, na Holanda, e eu sinto a falta dela todos os dias.
Separei, casei de novo, separei de novo, e então fui fazer faculdade mais velho, aos 28, depois de já ter trabalhado bastante na área.
Me formei em Design na UFPR aos 34, casei de novo (pela terceira vez...) engatei um mestrado logo em seguida, e passei cinco anos dando aula em universidade particular, até que, em 2009, fiz concurso pra dar aula de Design na UEL em Londrina, e parti de mala e cuia pro interior, onde moro até hoje. Já são 14 anos aqui desde então, e acho que hoje sou meio curitibano/meio \"pe-vermelho\".
Londrina é linda, acolhedora, até me acostumei com o calor, mas a falta do mar, ai ai,... como essa ainda me...
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PIÁ DE VILA
Em Curitiba existe aquilo que se chama de \"piá de vila\".
Diz-se que a mãe índia da terra onde fica Curitiba, quando dizia \"meu piá\" queria dizer \"meu coração\".
Sou bisneto de vó índia (xokleng ou guarani, não sei bem), então ser chamado de piá faz muito sentido pra mim.
Sou um piá que sempre gostou de desenhar, de criar, de ler bastante, de arte, beleza e funcionalidade.
Filho e neto de feirantes, nasci e me criei vendendo frutas e verduras, pescando nos rios com meu avô na época de férias, e jogando bola de chinelo nas ruas curitibanas sem asfalto dos anos 70.
Sou um bicho do mato, mas também um bicho da cidade. Ambos habitam em mim.
Aos 10 anos descobri a Arquitetura graças a uma visita do grande Jaime Lerner na minha escola, e aos 12 descobri o Design graças às revistas 4Rodas usadas que minha mãe ganhava na feira. E então um mundo novo se abriu pra mim.
Aos 14 comecei meu curso técnico em Desenho Industrial, e aos 15 já estava trabalhando na área. E desde então, nunca mais o Design e a Arquitetura saíram de mim.
Casei novo e fui pai aos 21, e foi a experiência mais linda da minha vida, que se repetiu aos 39 com minha segunda filha. Duas meninas lindas, inteligentes, sensíveis e criativas. Uma hoje mora bem longe, na Holanda, e eu sinto a falta dela todos os dias.
Separei, casei de novo, separei de novo, e então fui fazer faculdade mais velho, aos 28, depois de já ter trabalhado bastante na área.
Me formei em Design na UFPR aos 34, casei de novo (pela terceira vez...) engatei um mestrado logo em seguida, e passei cinco anos dando aula em universidade particular, até que, em 2009, fiz concurso pra dar aula de Design na UEL em Londrina, e parti de mala e cuia pro interior, onde moro até hoje. Já são 14 anos aqui desde então, e acho que hoje sou meio curitibano/meio \"pe-vermelho\".
Londrina é linda, acolhedora, até me acostumei com o calor, mas a falta do mar, ai ai,... como essa ainda me pesa.
Como eu gosto do mar.
A UEL me proporcionou muitas coisas boas. Graças a ela pude fazer uma especialização em Gestão de Design em 2012, e então meu doutorado em Lisboa em 2017, e assim finalmente conhecer Portugal, terrinha pela qual sou apaixonado desde então.
Na UEL cresci pessoal e profissionalmente, e pude criar um laboratório de design e impressão 3D dentro do hospital universitário, que hoje é meu projeto principal.
Aqui já ajudei a formar algumas centenas de designers, o que muito me alegra. estar com meus alunos me faz feliz, me rejuvenesce.
E em 2020, quando a pandemia estourou com tudo, decidi que era hora de realizar um sonho que estava guardado há tempos. Trancado em casa, comecei de forma remota o curso de Arquitetura, que concluí em 2023, e hoje posso dizer com muita alegria que sou designer e arquiteto.
Em 2023 me separei pela terceira vez (e espero que última...), e minha filha vai fazer quinze anos em 2024 (sim, vai ter baile, e eu vou dançar valsa com ela!).
Eu tinha duas tatuagens com os nomes das minhas filhas, e há poucos dias fiz mais uma: um grafismo xokleng-guarani, em homenagem à história da minha avó, que viveu até os 102 anos.
Então, resumo da ópera até agora: uma vida intensa, cheia de alegrias e algumas tristezas, mas bem vivida. Tudo valeu (e está valendo) a pena.
O que vem pela frente? Bem, tenho agora 53 anos, e como bom arquiteto/designer amo um planejamento, um projeto de vida. Mas a idade me trouxe um pouco mais de serenidade e calma, pois hoje sei que a gente não tem lá muito controle sobre nada...
Então estou mais aberto às surpresas que a vida traz, mais em paz.
Com a separação, troquei uma casa enorme por uma bem pequena, só com o necessário, incluindo um pequeno quintal pras minhas três viralatas adotadas (aliás, é incrível eu não ter falado das minhas companheiras Pandora, Guana e Nenê até agora...).
E isso de repente faz com que eu me dê conta de que ainda continuo gostando das mesmas coisas que eu gostava quando era criança: mato, bicho, rio, praia, desenhar, pintar, criar coisas.
Sim, em essência, eu continuo sendo aquele mesmo piá, apenas com alguns cabelos brancos a mais.
Sim, o legítimo \"piá de vila\"...
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