Minha formação foi na ESDI, Escola Superior de Desenho Industrial, e minha experiência profissional foi com Aloísio Magalhães desde o segundo ano da faculdade. Ele foi uma pessoa muito didática e um pensador que inaugurou o design no Brasil como profissão e disciplina intelectual.
Após sair do escritório do Aloísio, abri meu escritório particular, atuando em projetos de produtos, marcas e sinalização. Atualmente, dou aula, escrevo e estou fazendo um mestrado em Design na ESDI, onde me concentrei em estudar e analisar a história da comunicação visual da Petrobras a partir do projeto do Aloísio.
Comecei a trabalhar no escritório dele em 1966 e participei do primeiro projeto da marca BR. Estava em Londres quando o pedido da Petrobras chegou, e achei o trabalho irresistível. Aloísio, que também desenhava o dinheiro brasileiro e estava em Londres para acompanhar a produção do Projeto Cruzeiro, dialogava muito comigo sobre o projeto da Petrobras.
Assim que voltei de Londres, Aloísio me pediu para coordenar a implantação da marca BR por dois anos. Foi um trabalho extenso, visitando postos por todo o Brasil e resolvendo dificuldades técnicas com o Fernando Perissé, nosso interlocutor fundamental da Petrobras. Coordenei tudo, das embalagens – como o Projeto Lubrax, criado com Décio Pignatari – ao design das bombas.
A visão de Aloísio era de longo prazo, inserindo o trabalho no contexto histórico, social e político da Petrobras e do Brasil. A Petrobras precisava de elementos de comunicação fortes para competir com multinacionais como Shell e Esso. O losango que a Petrobras usava era universal demais e as cores eram frágeis. Fizemos um levantamento e vimos centenas de losangos. A solução foi valorizar as cores, escolhendo um novo verde, azul e amarelo, e o BR veio como uma síntese da palavra de nove letras, dando à Petrobras a potência necessária para competir e ganhar mercado.
O projeto de Aloísio em 1970 decantou e acentuou...
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Minha formação foi na ESDI, Escola Superior de Desenho Industrial, e minha experiência profissional foi com Aloísio Magalhães desde o segundo ano da faculdade. Ele foi uma pessoa muito didática e um pensador que inaugurou o design no Brasil como profissão e disciplina intelectual.
Após sair do escritório do Aloísio, abri meu escritório particular, atuando em projetos de produtos, marcas e sinalização. Atualmente, dou aula, escrevo e estou fazendo um mestrado em Design na ESDI, onde me concentrei em estudar e analisar a história da comunicação visual da Petrobras a partir do projeto do Aloísio.
Comecei a trabalhar no escritório dele em 1966 e participei do primeiro projeto da marca BR. Estava em Londres quando o pedido da Petrobras chegou, e achei o trabalho irresistível. Aloísio, que também desenhava o dinheiro brasileiro e estava em Londres para acompanhar a produção do Projeto Cruzeiro, dialogava muito comigo sobre o projeto da Petrobras.
Assim que voltei de Londres, Aloísio me pediu para coordenar a implantação da marca BR por dois anos. Foi um trabalho extenso, visitando postos por todo o Brasil e resolvendo dificuldades técnicas com o Fernando Perissé, nosso interlocutor fundamental da Petrobras. Coordenei tudo, das embalagens – como o Projeto Lubrax, criado com Décio Pignatari – ao design das bombas.
A visão de Aloísio era de longo prazo, inserindo o trabalho no contexto histórico, social e político da Petrobras e do Brasil. A Petrobras precisava de elementos de comunicação fortes para competir com multinacionais como Shell e Esso. O losango que a Petrobras usava era universal demais e as cores eram frágeis. Fizemos um levantamento e vimos centenas de losangos. A solução foi valorizar as cores, escolhendo um novo verde, azul e amarelo, e o BR veio como uma síntese da palavra de nove letras, dando à Petrobras a potência necessária para competir e ganhar mercado.
O projeto de Aloísio em 1970 decantou e acentuou os valores da empresa. Ele fazia um design inovador aqui, antecipando tendências internacionais e modernizando os postos e unidades de serviço, criando um sistema modulado de bombas e armários que é a base do que se vê hoje.
Contudo, a linha evolutiva da marca Petrobras é cheia de degraus e buracos, ziguezagueante e descontínua. Passou do losango ao BR, depois um hexágono com losango, um novo BR (com branco) e até o prateado nos postos. O episódio da Petrobrax foi completamente fora dessa linha histórica e chocou o país. Isso revela uma dificuldade de lidar com a imagem da empresa.
Durante muito tempo, a Petrobras teve duas marcas: o BR e o losango, o que não deve acontecer. A diretoria da Petrobras relutou em abandonar o losango. Somente 20 anos depois, uma pesquisa mostrou que a marca BR era muito mais conhecida, pois o losango era uma forma universal sem identidade particular. Finalmente, o BR foi aceito e unificado. O problema do designer é a antecipação; Aloísio estava 20 anos à frente, mas a Petrobras demorou a entender. Ele não teve a oportunidade de testemunhar essa mudança.
Minha tese é que as marcas precisam ser renovadas, mas não descontinuadas. Aloísio usava a ideia da “tesoura que ia cortando as linhas de continuidade da cultura brasileira”, e o caso Petrobrax é um exemplo disso. A Petrobras não é só uma empresa; sua história se confunde com a do Brasil, com a afirmação e independência do país. É impressionante seu papel cultural e social.
O trabalho original do Aloísio foi uma revolução completa no design, surpreendendo a todos. Deu aos designers uma profissão e a consciência da responsabilidade de formular a imagem das empresas, sendo fundamental para o desenvolvimento do design no Brasil. A Petrobras sempre investiu em design a partir do Aloísio, mesmo com sua linha ziguezagueante. A importância do cliente Petrobras como contratante do designer é inegável, e a empresa é um exemplo da ligação com a dimensão social e a história do Brasil.
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