P/1 - Começa falando o seu nome completo, o local e data de nascimento.
R - Ih! Comprometeu!
P/1 - (riso).
P/2 - Pode falar.
R - É Horst Richter. (pausa) Era o que? Como é que é?
P/1 - Seu nome, local e data de nascimento.
R - Ah! Local de nascimento: Rio de Janeiro, em Santa Tereza, data, 28 de dezembro de 1932.
P/1 - E como é que foi a sua infância no Rio de Janeiro?
R - Eu, no Rio de Janeiro, fiquei praticamente nenhum tempo, lá, pouquíssimo tempo, só nasci lá, praticamente.
P/1 - E depois?
R - Depois eu fui para a Bahia.
P/2 - Ah, Bahia...
R - Bahia. Com um ano e pouco, tal.
P/1 - Então, como é que foi a sua infância na Bahia?
R - Na Bahia, também eu me lembro de pouca coisa. Mas, de qualquer maneira, o que eu lembro, assim, mais, era Itapagica, que é um bairro que fica de frente para o mar. O meu pai era comandante da Condor, então, duas vezes por semana, desciam os aviões anfíbios que vinham da Europa, e ele tinha de acender uma carreira de bóias iluminadas para que o avião tivesse exatamente a orientação para descer. Como se fosse uma pista, mais sinalizada.
P/1 - E você poderia falar um pouquinho dos seus pais?
R - Os meus pais. Bom (pausa) De que período seria?
P/1 - Ah, de onde eles vieram, aonde eles nasceram...
R - Ah! Bom, meus pais... Meu pai nasceu em Berlim. E minha mãe em Neuruppin, que é uma cidade perto de Berlim, como se fosse, digamos, a Penha para o Centro, algo assim, né? E meu pai foi um dos primeiros homens a voar, quando começou a surgir o avião, um pouquinho depois de Santos Dumont. E depois foi instrutor de aviação na Turquia, depois esteve na África, que tem uma parte que era colonizada, colônia alemã na época. Depois, com a Primeira Guerra, ele perdeu na guerra, perdeu o que tinha lá, voltou para a Alemanha e depois foi para o México. No México, foi fazendeiro alguns anos, e depois veio ao Brasil nos anos 22, 23, algo assim, né? E ficou....
Continuar leituraP/1 - Começa falando o seu nome completo, o local e data de nascimento.
R - Ih! Comprometeu!
P/1 - (riso).
P/2 - Pode falar.
R - É Horst Richter. (pausa) Era o que? Como é que é?
P/1 - Seu nome, local e data de nascimento.
R - Ah! Local de nascimento: Rio de Janeiro, em Santa Tereza, data, 28 de dezembro de 1932.
P/1 - E como é que foi a sua infância no Rio de Janeiro?
R - Eu, no Rio de Janeiro, fiquei praticamente nenhum tempo, lá, pouquíssimo tempo, só nasci lá, praticamente.
P/1 - E depois?
R - Depois eu fui para a Bahia.
P/2 - Ah, Bahia...
R - Bahia. Com um ano e pouco, tal.
P/1 - Então, como é que foi a sua infância na Bahia?
R - Na Bahia, também eu me lembro de pouca coisa. Mas, de qualquer maneira, o que eu lembro, assim, mais, era Itapagica, que é um bairro que fica de frente para o mar. O meu pai era comandante da Condor, então, duas vezes por semana, desciam os aviões anfíbios que vinham da Europa, e ele tinha de acender uma carreira de bóias iluminadas para que o avião tivesse exatamente a orientação para descer. Como se fosse uma pista, mais sinalizada.
P/1 - E você poderia falar um pouquinho dos seus pais?
R - Os meus pais. Bom (pausa) De que período seria?
P/1 - Ah, de onde eles vieram, aonde eles nasceram...
R - Ah! Bom, meus pais... Meu pai nasceu em Berlim. E minha mãe em Neuruppin, que é uma cidade perto de Berlim, como se fosse, digamos, a Penha para o Centro, algo assim, né? E meu pai foi um dos primeiros homens a voar, quando começou a surgir o avião, um pouquinho depois de Santos Dumont. E depois foi instrutor de aviação na Turquia, depois esteve na África, que tem uma parte que era colonizada, colônia alemã na época. Depois, com a Primeira Guerra, ele perdeu na guerra, perdeu o que tinha lá, voltou para a Alemanha e depois foi para o México. No México, foi fazendeiro alguns anos, e depois veio ao Brasil nos anos 22, 23, algo assim, né? E ficou. Também se dedicou a parte de aviação, que ele era agrônomo, enfim. E conheceu a minha mãe no Rio de Janeiro, casaram lá, e em seguida foram para a Bahia. Depois na Bahia, ficamos lá, eu acredito que de três a quatro anos, e viemos para São Paulo. Aqui que eu frequentei a escola Vila Mariana, que hoje é a Benjamin Constant, e depois, em 38, 39, ele comprou um sítio no interior, em Guararema, e mudamos para lá.
P/1 - Aí você ficou quantos anos em Guararema?
R - Aí eu fiquei lá, trabalhando lá no sítio, quer dizer, na verdade, trabalhando muito, de sol a sol, mas era muito gostoso, até 1949. E 49, 50, eu vim para São Paulo, morei em pensão para estudar, depois comecei a trabalhar. E continuei assim por várias etapas e em vários empregos, já descritos aí na entrevista de hoje, para depois realmente ficar o maior período da minha vida na própria Volkswagen, a partir dos anos 80.
P/1 - E você estudou em que Universidade?
R - Eu fiz o ginásio em Mogi das Cruzes, no Washington Luiz. Depois terminei o colegial no Colégio São Bento, de Araraquara. Depois fiz vestibulares para PUC, USP e D. Pedro II para Economia. Passei nos três, mas como eu era fraco em matemática, eu fui pela PUC, onde eu fiquei dois anos e meio, e depois eu passei a estudar, fazer um outro curso... E, logo depois, fiz a Faculdade Cásper Líbero, e paralelamente, também, eu fiz aquele curso por correspondência, aquele que é da Cultura Inglesa, da Universidade de Cambridge, até o nível de proficiência. Sempre gostei de línguas, sempre... Eu gostava muito de aprender línguas, também falava, desde o início, em 51, eu já era correspondente de português/inglês/alemão, no escritório de importação e exportação. E o meu hobby era realmente estudar línguas. Estudei japonês, estudei guarani. (ri)
P/1 - Nossa! (ri)
R - É que eu viajei. Eu morei em Buenos Aires três anos, pela Revista Cruzeiro. Era representante pela América Latina, na época, lá. O Assis Chateaubriand já estava vislumbrando o que seria hoje o Mercosul e ele queria uma revista que cobrisse todo esse território, então lançou O Cruzeiro, mas em espanhol, quinzenalmente, e eu fiquei em Buenos Aires 3 anos, trabalhando o mercado com outros países. Eu era uma espécie de caixeiro-viajante das duas áreas. Tanto da área comercial como a... digamos, a jornalística. Mas mais a comercial.
P/1 - Então já tinha viajado bastante.
R - É. Depois eu fiz uma viagem para o..., ainda pela Revista O Cruzeiro, para o Japão. Eu fiquei no Japão quase um mês, trabalhando para outros mercados, e tal, e depois eu fiz a rota, lá, para o Oriente: China, fazendo reportagem sobre Hong Kong, sete páginas, depois de Bangkok, na Tailândia, Índia, Istambul, e depois voltamos para cá.
P/1 - Quando você entrou na Volkswagen? Como foi essa entrada? Como você chegou lá?
R - Bom, a Volkswagen, na verdade, eu trabalhei na Volkswagen já em 61, pela Alcântara Machado, não é? Havia um convite para trabalhar lá, mas havia um aspecto político que não dava para assumir imediatamente, então eu fiquei paralelamente na Alcântara Machado, e com a incumbência de traduzir várias coisas ligadas à Volkswagen. Uma delas eu me lembro, foi um suplemento que saiu na Revista Look, na época era da família Kennedy, e a revista saiu com uma tiragem, nos Estados Unidos, na de 7 milhões e 200 mil exemplares. Eu me lembro esse número exatamente. Aí tinha uma matéria muito longa, uma entrevista com o primeiro coordenador do reerguimento da Volkswagen após a guerra. Ele viajava o mundo todo, tipo caixeiro-viajante, fanático pelo Fusca, e tinha umas passagens engraçadas. Ele pegava um xeique, botava no Fusca: “Vamos dar um passeio pelo deserto.” Ele: “E a água?” “Não, não precisa de água, não se impressione, não.” Chegava em Cuba e falava: “Oh, você está representando um carro muito bom, mas se o senhor for o representante do Fusca o senhor vai ser muito mais feliz, muito mais exitoso.” Teve algumas passagens que eu me lembro, assim, realmente e que me impressionaram pela sua fé inabalável no carro que realmente acabou conquistando o mundo. E essa foi a primeira passagem. Depois eu saí, aí fiz essa viagem pela Revista O Cruzeiro, e retornei, mas anos depois, após ter passado por várias outras empresas.
P/1 - E quando você retornou, você foi trabalhar...
R - Fui trabalhar na área de Relações Públicas. Entrevistado pelo próprio Dr. Sauer, na época. Foi, inclusive, no mês de maio, onde acontecia a primeira grande greve no ABC, de 40 dias. Foi em torno de uma coisa, na época muito marcante, que alvoroçou bastante. E aí desenvolvia as atividades correlatas na área de Relações Públicas.
P/1 - Quando você entrou na Volkswagen não era uma novidade, a Volkswagen, você já conhecia, você já tinha informações, não era nada novo...
R - Exato!
P/1 - Você contou duas passagens. Além disso, o que mais te chamava a atenção, o que mais você lembrava antes de começar a trabalhar mesmo na Volkswagen?
R - Na verdade era uma oportunidade, e eu era um convidado, tinha sido convidado por um conhecido, que era o Juan V. Corduan, que era um homem de comunicação muito marcante na época, e que tinha também me contratado em Buenos Aires, quando da minha passagem lá. Ele também trabalhava lá, com uma agência J. Walter Thompson. Eu falei: “Bom, como ele é uma pessoa muito digna, muito correta, então é tranqüilo dar esse passo. Vou trabalhar num lugar, um lugar agradável.” Realmente foi muito prazeroso. Muitos e muitos estresses e tudo mais, mas é inerente à coisa. Um pouco da minha personalidade, de querer sempre ver as coisas bem feitas e, enfim, cumprir com as tarefas, que até mesmo eu mesmo me impunha, de modo que são coisas que a gente fez lá, bastante gratas de recordar.
P/1 - Nesse primeiro momento que você trabalhou na Almap, não havia esse setor de Relações Públicas na Volkswagen? Como é que era o relacionamento da Volkswagen com a imprensa?
R - Não, havia sim, havia, era chamado de Relações Públicas, que no caso era exercido pelo Corduan, que era o segundo homem na empresa naquela época. Estava ligado ao departamento da imprensa, comunicação, essa coisa. Então, ele estava realmente começando a ter mais expressão nessa atividade de Relações Públicas que, na época, era meio desconhecida, comparado a hoje. Inclusive o próprio prestígio. Era uma coisa meio estranha, o pessoal confundia com favorecimento pessoal, com uma série de coisas assim, menos recomendáveis, até poderia dizer. Mas sempre tinha muita coisa para a gente desenvolver.
P/1 - Nessa época, você lembra, como era o mercado da imprensa especializada de automóveis? Já existia a imprensa especializada?
R - Ah, muito pouco. Foi quando, inclusive, nasceu a Revista Quatro Rodas, eu me lembro, até com apoio bastante grande da empresa que já se comprometia com uma programação de 12 páginas duplas, ao longo do ano, a cores e tal, para dar uma primeira sustentação. E a imprensa, pouco a pouco, também foi se desenvolvendo nessa área.
P/1 - E você tem ideia de como era o relacionamento entre as montadoras e essa imprensa especializada.
R - Bom, as montadoras, não havia muitas. Na verdade, existia a Volkswagen, na época sem maior expressão. A Ford comprara a America Motors que era a Willys do Brasil aqui. Aliás, a Willys que realmente tinha uma atividade bastante intensa nessa parte de relacionamento com a imprensa e apoio de implementação da área. Na verdade, todo mundo aprendia um pouco. A gente se desenvolvia e se profissionalizava, cada vez mais, à medida que o mercado crescia. Os carros eram mais simples. Depois é que a tecnologia foi avançando. Então, a gente caminhava passo a passo.
P/1 - Voltando um pouquinho, quando você entrou na Volkswagen, você entrou no auge de uma greve. Como foi essa chegada? Chegar numa fábrica de frente para uma greve, uma fábrica parada?
R - É. Era o início verdadeiramente de uma manifestação. Aliás, eu já tinha tido uma pequena experiência anterior, na Mercedes, quando foram as primeiras atitudes, assim, já do pessoal da parte sindical, exatamente começando reivindicações, mas de uma maneira ainda iniciante. Depois a coisa já tinha ganhado volume, força. Aí o pessoal, realmente, com uma postura mais dura. Era difícil lidar com isso, porque era uma coisa nova e então você sempre fica entre o autoritário e o conciliatório. Então isso dependia da pessoa, da empresa, mas das pessoas principalmente, de lado a lado. E eu até concordo, hoje, quando a gente vê uma negociação bem conduzida, eu diria, que demora às vezes, tem suas diferenças, mas realmente a evolução foi, quando se compara à época, meu Deus do céu, foi um aprendizado um pouco duro, mas acho que foi necessário e bem digerido pelas duas partes. Eu acho que isso foi difícil, teve momentos de muita dificuldade, mas eu acho que quando a coisa começou a acalmar, ficar melhor o entendimento, eu acho até que essa fase caminhou mais rapidamente.
P/1 - Horst, você, então, tem 20 anos de Volkswagen, mais ou menos isso.
R – É, 22.
P/1 - Passou por várias fases. Você pegou a expansão da Volkswagen. Já existia a Anchieta, já existia Taubaté, que foi em 76, e você foi pegando a abertura das outras fábricas.
R - Exato.
P/1 - Em todo esse período, em toda essa expansão, esse desenvolvimento, quais fatos que você acha que são importantes, que marcaram?
R – É...
P/1 - Você acompanhou o crescimento da Volkswagen do Brasil.
R - Sem dúvida, sem dúvida. É, é. Houve uma fase, digamos essa... Foi... (riso) Realmente, quando eu entrei, a turma até costumava a brincar: “Você entrou mesmo na hora mais complicada. Até aqui era um mar de rosas, agora...” Porque, de 80 para cá, nós tivemos, uma primeira recessão, e aí realmente foram crises, depois uma melhoras, e depois outra vez crises. Foi uma caminhada dura. Com uma concorrência maior, enfim, uma série de fatos. Mas eu acho que a Volkswagen sempre liderava e se impunha pelo porte, pelos bons produtos que tinha, pelo desenvolvimento de novos produtos, pela conquista de mercados. Eu acho que a operação de vender, exportar o Fox para os Estados Unidos, o Voyage, foi uma coisa que marcou muito. Que deu muita imagem. Depois a operação com o Iraque, com a exportação de mais de 200 mil Passats, com uma operação triangular, onde se forneciam os Passats para o Iraque que pagava em Petróleo, que era transportado até certo ponto, para depois ser embarcado por uns tanqueiros da Petrobrás e a Petrobrás pagava, então, à Volkswagen em reais. Quer dizer, foi uma coisa, assim, muito marcante e inteligente, porque cada um conseguiu dispor daquilo que tinha sem maior envolvimento de um dólar, que era curto para todo lado. Era isso. Então, essas duas fases foram bastante marcantes. Uma coisa que foi surpreendente, num primeiro momento, foi o casamento da Volkswagen com a Ford, criando a Autolatina. Duas culturas diferentes, mas onde cada lado, também, acredito que tenha aprendido o que o outro tinha de bom para compartilhar ou até para passar. E isso levou a um convívio, que também foi um aprendizado bastante fácil de recordar. Porque foi algo que mexeu com as pessoas, mas foi uma operação que foi exitosa, pelos sete anos que teve. As coisas, quando fluem muito facilmente, ficam muito cômodas. Quando a coisa já é mais difícil ou parcialmente difícil, mas com desenvolvimento, é sempre proveitoso. Quer dizer, é lição de vida. Eu acredito que as pessoas realmente, com o tempo, elas têm na bagagem da vivência, algo insubstituível. Recordações e ensinamentos que a gente tem e comenta com os mais jovens, inclusive, para passar isso.
P/1 - Nesses 22 anos que você esteve na Volkswagen, você foi o anfitrião de várias visitas ilustres, não é? Você poderia falar alguma coisa...
R - Não. Anfitrião, exatamente, não. Mas digamos que a gente ajudava o anfitrião, que era sempre, o presidente, um diretor, mas foram muitos e muitos. Meu Deus do céu... (riso)
P/1 - Fala um pouquinho.
R - Olha, eram roteiros interessantes de visita e recepção. Às vezes, dois grupos praticamente paralelos, e aí você era passado para atender outro, com aquele grupo, que outra pessoa estava ocupada com aquele. O Dr. Sauer era muito dinâmico nessa área, muito relacionamento, tinha uma atuação muito pessoal, realmente muito dinâmica, e isso levava a (riso) a coisas interessantes na visita, preparação, resultados, enfim, nesse desbravamento contínuo.
P/1 - É verdade que a Volkswagen recebeu até índios para conheceram a fábrica?
R - É. Eu sei dessa passagem. Eu não estava lá, quer dizer, eu não vivenciei isso, não. Mas eu sei que... Eu acredito que aqui, também, na época da Autolatina, se não me engano, também me parece que houve uma visita, mas eu, coincidentemente, estava com outra tarefa, outra ocupação, não assisti, não. A Volkswagen, nesses anos todos, a visita, o que me impressiona mesmo, é que ela, dentro do âmbito automotivo, continua sendo, inegavelmente, o Vaticano. Isso no sentido exato dessa reverência. É exatamente a reverência à seu porte, à sua importância, aos vários modelos que lançou, todos com êxito, o que é realmente muito marcante. E isso é uma verdade, não é nenhum favorecimento a eles. Um ou outro modelo, talvez, não teve aquele êxito, mas, francamente, isso marca a gente. Seja quem for, sempre acaba se impressionando, e bem, desde a chegada, ao transcurso da visita, e realmente leva uma impressão sempre muito positiva, seja de onde for, de que país for, seja homem ou mulher, idoso ou mais jovem. A gente nota, realmente, essa reverência. É algo estimulante.
P/1 - As visitas, as grandes visitas que vieram, todas as visitas ilustres, aumentaram quando começou a exportação? Quando a Volkswagen começou a exportar ou não teve uma influência?
R - Não. Assim, paralelamente, não haveria um fator de aceleração, eu não percebi isso. É claro que se você negocia com um país, como foi com o Oriente, e depois com a própria China também, obviamente as pessoas vinham com mais freqüência, para visitar, para discutir negócios, para acompanhar na parte tecnológica, enfim, isso fazia parte. Então havia um incremento nesse aspecto. Obviamente, isso provocava..., principalmente essas operações maiores, que foi exatamente, com o Iraque e com os Estados Unidos. Dentro da exportação, foram numerosas visitas, sempre bem organizadas e muito proveitosas, sem dúvida nenhuma.
P/1 - E dessas visitas estrangeiras que chegaram à Volkswagen, o que você acha que impressionava mais? Os iraquianos, quando chegaram à Volkswagen, quer dizer, eles olharam aquele gigantismo todo, qual era a reação deles?
R - É. A reação era comedida. A gente percebe que, inclusive eu acho que faz parte desse talento de negociador que eles têm, de não mostrar, assim, digamos que para negociar, você não pode mostrar muito entusiasmo pela coisa, que de repente pode até (riso) ter uma influência no preço, algo assim. Quer dizer, tem essa... Mas era sempre, de muita perspicácia e muita observação. Sempre tornavam a visita, algo muito, muito proveitoso, para quem visitava.
P/1 - Você, nesses anos, a gente estava comentando, você falou que viajou bastante. Você estava falando antes da Volkswagen.
R - Sim.
P/1 - Na Volkswagen, você chegou a fazer muitas viagens...
R - Olha, curiosamente não. (riso) Eu talvez seja um dos que menos viajou da Volkswagen, e até já perguntam: “Ah, você não conhece o mundo?” Eu estive duas vezes em reuniões na Alemanha. A Volkswagen tinha esse salutar hábito de uma vez por ano reunir os gerentes, dos vários países. Eram relações públicas e, às vezes, os importadores também faziam o papel de relações públicas. Então era lá o encontro e uma troca de experiência interessante, embora eu sempre reclamasse que... Eu sugeri isso, até, uma vez. Eu falei: “Olha, isso, eu acho uma ideia boa, a mecânica é boa, mas eu acho que o planejamento deveria ser diferente. Eu acredito que em todas essas reuniões, cada representante de um país deveria trazer o problema. Sempre surge um problema, ou inventa um episódio qualquer, mas para que, realmente, pudesse servir de ensinamento para os demais.” E vice-versa, claro. Esse intercâmbio, digamos que de problemas e soluções, porque, às vezes uma pessoa tem um conflito: “Puxa, como é que resolve isso?” “Olha, eu resolvi assim” “Oh, é mesmo!” Então, eu sempre digo, a comunicação, que é a mais difícil das artes humanas, e isso é verdade. Havia um convívio, troca de idéias e tal. O anfitrião, no caso, tinha uma programação boa, e era, obviamente, muito proveitoso. Por exemplo, eu me lembro de uma vez, numa das viagens, foi na época do Salão de Paris, eu levei daqui, o resultado do projeto do Pró-álcool, que para mim foi, um dos grandes projetos, dos poucos projetos que realmente deram certo, dentro de um período até mais ou menos curto, obviamente com o apoio das empresas, que contribuíram de uma forma, muito significativa. Aí uma vez fizemos isso na Alemanha, depois na África. Também, na reunião da África do Sul, na empresa de lá, curiosamente, a coisa, lá, pendia mais por aproveitar a presença de quem vinha, para o lado político, na época... Depois houve uma espécie de solução, graças a Deus, na África do Sul, mas na época, havia, assim, uma tensão muito grande. Então, a pessoa, o anfitrião, no caso, levava isso mais para a pessoa testemunhar uma série de coisas que de outra maneira, talvez, não soubesse. E havia, digamos, um pouquinho... se fugia um pouco do objetivo, digamos, eminentemente profissional.
P/1 - Eu queria voltar no assunto da imprensa especializada. Você acompanhou...
R - É, veja bem... Aí um pequeno detalhe. A gente, dentro da área de comunicação, tem uma parte só de imprensa, quer dizer, realmente, o jornalista, e que, no caso, eu não tinha esse contato assim. Era o outro grupo, mais numeroso, obviamente, que se ocupava disso. E eu me ocupava mais da parte de Relações Públicas. O que é isso? É a promoção de visitas, é a resposta a consultas, é fornecer material para estudantes, para trabalhos, doações, é uma loucura o que chega. Então você tinha que examinar todas, ver a possível solução para isso, e como encaminhar, como responder, você nunca pode já dar uma resposta, e a parte espinhosa. Você tem sete peixes e sete pães para alimentar um povo enorme, o Brasil todo. Aí você sente aonde entra a necessidade da, digamos, entre aspas, da diplomacia, de você conduzir a coisa. Sempre cuidando de que a pessoa, fique, se não satisfeita com o resultado, mas pela atenção e pela preocupação. E várias coisas que a gente criava, às vezes, paralelamente. Eu, no caso, por sorte, como eu tinha essa sensibilidade, eu não precisava ser um ator, mas simplesmente um personagem que sentia aquilo, pensava, inclusive compartilhava daquele problema e procurava buscar uma solução. Muitas vezes, agora eu não me lembro, mas tinha, umas sugestões que a pessoa aceitava como: “É, realmente, isso daí é até mesmo uma alternativa, um caminho, é uma pequena solução, um passo para a solução.” E, sabe, coisas do tipo. Eu me lembro de uma pessoa que tinha um problema terrível, tinha um filho que tinha uma doença, um negócio impressionante, que obrigava a mãe a ficar, dia e noite, ali ao lado, e tinha de deixar de trabalhar. E um dos problemas era o remédio, muito complicado, muito raro, que ela precisava e não tinha o acesso. Então eu falei: “Puxa, mas olha, a Volkswagen, nós, pelo porte, pelo relacionamento, nós aqui...” Com a Varig, por exemplo, nós tínhamos um relacionamento muito bom..., “o que a senhora acha de a gente procurar o piloto.” E, de repente, achamos um caminho para que esse remédio chegasse por um preço menor e com a freqüência desejada. Então, era só a vontade de ajudar, acabava brotando a ideia, surgindo essas coisas.
P/1 - Esse fato. Pegando o que você falou dessa senhora...
R - Só... É, depois, eu tenho o registro, aqui, de uma coisa que, apenas para confirmar isso, eu digo, quando a gente é relações públicas, a gente realmente passa a viver esse papel, mas não o papel, eu volto a dizer, como ator, mas o papel como solucionador. Não sei se é a palavra certa, mas, realmente, de tantos pedidos, tantas coisas, tão variadas, que a gente... (riso) seria uma coisa fantástica. É uma coisa da própria natureza da pessoa. Eu, curiosamente, só para mencionar, eu, quando fui para a Volkswagen, o Alex Periscinoto, falou: “Olha, estão precisando de uma pessoa lá, e tal.” Foi assim que, realmente, eu nem sabia, que eu ia me candidatar lá para trabalhar na área. Eu falei: “Ok!” Aí, eu disse assim, eu falei: “Puxa, mas relações públicas?” Minha loucura sempre foi propaganda, marketing, trabalhei tantos anos nisso, inclusive trabalhando com equipes brilhantes, a DBO, Alcântara Machado, e um time da Alemanha que tinha umas técnicas... coisas realmente fantásticas. Eu falei: “Puxa, mas relações públicas? Bom, vamos lá, né!” E depois, na prática, quase que autodidata na coisa, porque na escola, durante a faculdade..., mas na verdade a teoria é uma coisa e a prática é tão diferente. Eu me identifiquei com a coisa e às vezes eu até me surpreendo, quando eu comento com os amigos: “Puxa, 22 anos!” Eu nunca pensei que fosse trabalhar nessa área, com essa coisa, e eu acabei gostando. Creio que eu desempenhei razoavelmente bem. Tive algumas coisas brilhantes, outras coisas talvez menos, mas é curioso como a vida da gente ... Como é que se pode dizer? Você imagina algo..., e depois você, ao se despir daquilo lá, se despojar, você de repente fala: “Puxa, é mesmo e tal!” Eu joguei fora a roupa de gladiador e eu estou sendo, aqui, um bispo excelente. Qualquer coisa assim, né?
P/1 - Mas, essa senhora... As pessoas mandavam carta para a Volkswagen pedindo coisas?
R - Ah, sim, e telefonemas: “Relações Públicas, pois não?” “Olha, aqui é fulano de tal, eu tenho tal problema, será que a Volks não pode...” Todo mundo acha que a Volkswagen pode dar automóvel como quem dá um bombonzinho, um chiclete. É impressionante, até em pessoas de nível..., a percepção de fora para dentro é uma coisa incrível. Eles acham que dar um carro é como dar boa tarde. É impressionante. É incrível como as pessoas julgam que aquilo lá é uma coisa tão barata para a empresa, tão fácil que, puxa, não dar aquilo é até um sacrilégio. Então, os pedidos são inúmeros. Problemas pessoais, familiares, de escola, de creches, de associações, de asilos. É um universo. E aquilo, você depois faz o balanço: “Meu Deus, mas quanta gente com quem eu falei” Me falaram e tal, e me convidam para ir ver: “Olha, vem ver, isso aqui é sério e tal.” “Pois não.” Mas é impressionante. A gente fica... e você, assim, acha: “Hoje eu vou sair às 5” E acaba saindo às 8 da noite outra vez. E entra um ano, dois anos depois, e fala: “Puxa, é a mesma coisa, estou eu sempre no mesmo dia!” Incrível, porque você acaba, realmente, envolvido. É uma coisa impressionante. Pinçando um episódio que foi muito gratificante para mim, foi o Projeto Andar. A Volkswagen, desde 1963, inclusive o Sauer foi um homem que estimulou muito isso, ou seja, que foi muito, muito, muito generoso, nesse início, ela fornecia um ferramental para a AACD, para atender o pessoal. Então, você tinha que, com esse ferramental, que custava para fazer, oferecendo o ferramental, daí nasciam todas aquelas outras próteses e articulações de quadril. E nós tínhamos uma forma de contribuir, depois isso passou a ter uma importância até maior. Uma contribuição em dinheiro razoavelmente expressiva. Tinha uma pessoa que era o diretor, dessa outra instituição chamada AVAPE, que é Associação para a Valorização e Promoção dos Excepcionais, um nome muito feliz, por sinal, então havia esse triângulo: a Volkswagen, a AACD e a AVAPE. E eu me lembrei que, depois, em outras gestões, de repente, exatamente na fase da Autolatina, havia uma outra disciplina de gastos, e essa coisa ficou reduzida, não podia estar fornecendo tanto assim como necessitava. “Puxa, mas você não pode interferir junto à Volkswagen.” Enfim, estava minguando um pouco esse recurso. Não era por nada, mas é que realmente era uma disciplina nova e não permitia. Enfim, aquilo realmente caminhava para uma falta de apoio futuro. E um dia eu falei: “Puxa vida, mas realmente esse negócio é... Esse pessoal lá necessita disso, ferramental e o custo...” E aí, um dia eu estava caminhando lá, nós temos um lugar chamado Ala zero, eu não sei se você conhece, onde fica a oficina da Volkswagen, a gente ia muito lá, exatamente por causa das doações. Então queriam que fizesse uma forração numa Kombi. Então a gente freqüentava lá. E eu me lembro uma tarde, eu estava passando assim, e isso até foi um estalo, eu acho até tipo uma coisa superior, e eu fico muito, muito, muito reverenciado a isso, eu estava caminhando, assim, e vi duas pessoas, porque às quatro e meia, como o pessoal entra mais cedo, toca uma sirene, de repente o pessoal, pára, vai bater o ponto e vai saindo, e eu vi, duas pessoas, como outras, estavam saindo, de repente o camarada falou uma coisa para o outro, parou e retornaram. Eu não sei porque cargas d’água eu peguei e observei aquelas duas pessoas. Pensei: “Esqueceu alguma coisa e voltaram.” E olhei, assim, e aí eu cruzei com uma outra pessoa, uma pessoa conversou comigo: “é, tal, não sei o que, tal.” E aí eu tornei a olhar, e vi as pessoas lá voltando para uma Kombi. Eu olhei assim, não sei porquê eu falei: “Eu vou ver porque esse pessoal voltou.” Aí eu voltei e vi que o pessoal começou... Abriram uma caixa de ferramenta e começaram a trabalhar numa Kombi. Olhei na Kombi e estava escrito: Hospital para Crianças com Câncer. Quando eu olhei aquilo, eu adoro criança, dá um negócio, né? Você lê aquilo e já fica com um negócio. E vi o pessoal trabalhando. Aí eu fiquei meio assim, e cheguei lá e falei: “Oh, companheiro?” “O quê?” “Tudo bem?” “Tudo bem!” Eu falei: “Olha, só uma curiosidade: vocês estavam saindo, aí vocês voltaram... Eu observei, gozado, todo mundo sai, de repente dois voltam...” Eles falaram: “Não, moço, é o seguinte: isso aqui, eu tenho uma sobrinha que está nesse hospital, é cuidada lá e eu soube, aqui pelo Hélio...”, que era o gerente da oficina, há tantos e tantos anos, “que realmente isso aqui precisava fazer uma reforma maior, mas que não vai conseguir a verba, o orçamento não vai alcançar. Então a gente falou com ele: nós, vamos fazer assim, vamos trabalhar aqui, mesmo de graça, mas vamos adiantar o projeto para tocar o negócio.” Eu falei: “Puxa, que bacana” “É, realmente.” E aquele negócio me acendeu uma luzinha. Eu falei: “Puxa vida! Eu vou, com a minha retórica, eu vou ver se eu pego uns três ferramenteiros, já aposentados, e vou fazer um apelo para eles fazerem essas ferramentas, porque eu estou vendo que esse projeto aqui vai dar uma parada e eu acho que ele não pode.” Enfim... E aí, comentei com outro colega, comentei, inclusive, com esse diretor da AVAPE. Eu disse: “Olha, eu tive uma ideia.” Ele falou: “Qual é?” Eu falei: “Olha, o senhor está sempre solicitando dinheiro, eu sei que a coisa vai ficar difícil e tal, eu estou pressentindo isso, e tal...” “Ah, não diga...” “Mas eu estou sentindo isso, e tive uma ideia.” “Qual é a ideia?” Eu falei: “A ideia é a seguinte: olha, pega cinco ferramenteiros, a gente pega sobra de material, nós temos uma área lá na ferramentaria, na hora ociosa, assim, uma hora, duas horas, o pessoal vai lá, trabalha...” “De graça?” Eu falei: “É.” Ele falou: “Ah, esquece...” “Por quê?” “Não, de graça ninguém vai fazer...” Eu falei: “Não, mas a gente faz um apelo.” Ele falou: “Não, não.” Aí eu falei: “Não, mas eu acredito que...” Ele ficou meio assim: “Ah, você está desanimado?” Bom, aí no outro dia voltamos a conversar, duas ou três vezes e tal, ele falou : “Puxa você está insistindo.” Eu falei: “Eu não sei porque, eu estou insistindo.” Aí ele falou para mim: “Então eu vou ver se eu pego uma verba...” Tinha um negócio chamado FAT - que é FAT? FAT é Fundo de Amparo ao Trabalhador, “e se eu pedir um pouco essa verba aí, talvez a gente possa remunerar os ferramenteiros. Eu já fui ferramenteiro sete anos, sei como é.” Enfim, a gente conversou e eu falei: “Tá bom, vai vendo isso daqui.” E eu comecei a levantar, lá, a área e na parte operacional, onde que podia ser. Está tudo guardado, lá, tudo manuscrito, que a minha letra é feia, mas está tudo registrado lá. Se levou um mês, dois meses, três meses, quatro meses, e aí, um belo dia, eu peguei, fiz um bilhete maior para o meu superior, que no caso era o Miguel Jorge, e eu disse: “Olha, eu tenho uma ideia assim, assim, assim, assim, eu não sei se você está sabendo a situação de verba e tal...” Bom, para encurtar a história: um belo dia, eu recebi um bilhete dele assim: “Horst, toca o negócio.” Aí eu fui ver, o diretor concordou em dar essa área em que tinha luz, que tinha isso, tinha a bancada, e aí o outro falou: “Eu tenho uma verbinha, aqui, para pagar os ferramenteiros.” Bom, para encurtar a história, ele contratou três ferramenteiros aposentados. Essas pessoas trabalham segunda, terça e quarta. Três vezes por semana e isso já tem 5 anos. E já no primeiro ano, com uma verba pequena e mais esse apoio, mais essa coordenação toda que houve, foram produzidas 32 mil próteses, órteses e articulações, enfim, para 23 mil pessoas. Já havia surgido um alívio. E eu fiquei extremamente gratificado com aquilo. Aí passou mais um ano, a coisa continuando no mesmo ritmo, até aumentou um pouco, e aí até eu acabei falando com uma pessoa e me ocorreu: “Eu vou fazer um pequeno projeto para concorrer para o prêmio de opinião pública, que não custa nada.” E realmente, a gente acabou ganhando, com louvor, o prêmio de opinião pública. Cada ano eu vejo lá, a coisa continua, e eu acho que já chegou a 36 mil por ano. Angola, Moçambique, onde tem essa guerra civil, com aquelas bombas e minas, que eles colocam. Então, sempre que eu vejo aquele negócio, eu me lembro. Então, por isso que eu digo: quando a gente tem a vontade de ajudar alguém, de repente Deus nos inspira. Não é a gente, de repente há uma coisa. Agora, depois que inventou a roda é fácil, mas na hora, foi um negócio..., articular tudo isso, e convencer as pessoas: “Ah, não...” “Não, não me interessa. Eu quero um sim.” E, sabe, a gente lutar por aquilo. Não tive, graças a Deus, nenhum na família que tenha algum problema, que precisasse disso. Naquele momento que eu vi o Hospital para Crianças com Câncer, ai meu Deus do céu. E o pessoal com aquela dedicação. Na verdade, o mérito foi deles porque eles acenderam uma luz. Eu falei: “Puxa, tem pessoas que são generosas, pensam um pouco além, que bacana. Puxa, a gente pode ser um desses também.”
P/1 - Você falou de visitas de estudantes na Volkswagen... Havia algum roteiro específico para estudantes? Como é que você administrava a informação técnica para estudantes?
R - É, veja, aí há um aspecto interessante: a gente supõe que, ao você receber um grupo, você deva conhecer um automóvel de cor e salteado, todas as peças e tudo o mais. Mas acontece que você só tem a necessidade de saber isso se você é do outro lado, o seu interlocutor, ou o grupo, são engenheiros os pós-graduados em engenharia. Como na verdade são estudantes colegiais, ou estudantes do SENAI, o que eles querem, na verdade, é primeiro conhecer o Vaticano, é um negócio, assim, que “Oh”. E, depois ver como é que isso funciona lá dentro, aquele mundo de pessoas trabalhando, o que fazem, como é que se divide isso, e tal. Então, esse conjunto, a visita, em si, a parte plástica, de dentro de uma organização lógica, é que atrai e fascina as pessoas e eu realmente sempre sinto elas muito satisfeitas com a visita. Obviamente, no começo, era uma coisa muito, muito simples. (riso) As pessoas chegavam, desciam do ônibus, a gente colocava diante de um painel, contava a história da empresa rapidamente e depois saía e fazia um percurso numa área que era da estamparia, depois a outra área era onde montava o motor, a gente via só de longe, depois a gente passava na pintura. Naquela época tinha esse acesso, como era todo o processo de pintura. E depois a montagem final, por si só explica: você vai olhando cada um no seu posto trabalha colocando aquilo. Não tem muito que explicar, mas, obviamente, você vai também procurando se instruir para você poder responder. Mas eu achava aquilo muito, muito... Não sei, eu falei: “Puxa, mas uma empresa desse porte...” E aí eu comecei a pensar. Um dia, eu vi: “Tem o filme...” E aí eu acabei solicitando, inclusive, um local para receber o pessoal, com muita luta, assim..., de uma forma itinerária: “Vamos ver se a gente consegue um dia uma sala, outro dia outra.” Mas sempre já marcado previamente. Depois o filme, a gente mostra o roteiro na manufatura de um carro, no outro filme do teste do impacto, ambos de 12 minutos, que era uma coisa muito interessante, e depois aquele montando um modelo. Depois o filme é um filme extremamente didático, de uma felicidade única, feito por uma outra pessoa, um outro grupo, o rapaz de treinamento de Recursos Humanos e um japonês, aí, de São Caetano, também extremamente talentoso, e montaram uma coisa muito didática. Isto mais a visita depois, então é das oito e meia até umas onze e quinze, quando termina o turno final, da montagem final. Aí também para a visita, porque realmente depois tem uma hora de almoço. Mas com isso, a gente realmente tem uma formatação que, nesses anos todos, tem agradado a quantos vem. Sejam estudantes do primeiro ano da Politécnica, segundo ano de Mauá, ou da Unicamp, ou então, na maioria, colegiais. As escolas, hoje, estão com esse hábito de levar mais as crianças para conhecer uma realidade, não só a teoria na classe, a industrialização, o que é uma indústria, como é que ela se compõe, como é que ela surgiu. Aliás, eu percebi isso no Japão. No Japão, eu me lembro que eu olhava assim e via uns pirralhos descendo do ônibus: “O que é aquilo lá?” “Ela está dando aula de Geografia” “Ah, é?” “Dá, é, no castelo, mostra isso e isso.” E eu: “Puxa, que interessante!” “O que é aquilo lá?” “Aula de História.” “Ah, é?” “É, no local e tal e tal...” “As várias dinastias, a batalha de Kyoto.” A História era muito mais fácil, você dar uma aula assim. E aqui, por sorte, o pessoal já está começando a, não exatamente nessa escala, mas, realmente, tendo mais discussões ou visitas assim. Vai para a Kibon, vai para a Nestlé comer chocolate, tomar sorvete e tudo o mais. Mas aquele pessoal que realmente tem um interesse, tem uma programação. Em março já estava programado até novembro.
P/1 - Nossa!
R - O pessoal liga: “Ah! Agora tem uma fila de espera aqui.” “Não é possível?” “Desculpa, mas se quiser, liga...” “Ah, tá certo. Obrigado.” Eu digo: “Olha, pode ser que tenha alguma desistência aí, eu encaixo.”
P/1 - Mais ou menos, assim, não exato, mas só para a gente ter uma ideia, em um ano, quantas visitas a Volkswagen recebe, assim, de escola?
R - Bom, você precisa dividir, tem um setor mais voltado para a parte comercial. Eu atendo à parte institucional, que são universidades, faculdades, cursos técnicos e colégios. Dá uma média anual de 6.500 a 7 mil pessoas.
P/1 - Nossa! E qual é a idade mínima para entrar na fábrica?
R - A gente recomenda 14, primeiro colegial em diante, porque a gente percebe que, por exemplo, o quinto ano de ginásio, o quinto ano, o sexto, a primeira meia hora a criança adora, olha aquilo lá, ouve tudo, percebe. Depois de uma hora, começa a cansar, dá uma fadiga, aí começa a dar chute no outro, dar calço, empurrar, beliscar, menino puxa cabelo de menina... É incrível, eu observo essas coisas.
P/1 - Dispersa...
R - É, fica um pouco disperso. Então, a gente, por princípio, a gente fala que: “Olha, por questão de segurança.” E é verdade, 14 anos para cima. É uma turma que está numa faixa com uma maturidade maior, inclusive com proveito maior, até. Porque deixam de ter aula a manhã toda, tem que entrar num ônibus, autorização dos pais, quer dizer, sempre é trabalhoso de organizar para as escolas. Hoje, já tem vários intermediários vivendo disso. Tem empresas que dizem: “Ah, eu tenho o contato aqui e acolá, eu consigo, não se preocupe, e tal.” Eu não sei como é, mas acabam sendo intermediários.
P/1 - O mundo moderno...
R - É, as coisas vão surgindo. É Prestação de Serviços. A área de Serviços hoje em dia, Terceiro Setor.
P/1 - E vem estudantes do Brasil inteiro?
R - Do Brasil inteiro. Do Brasil inteiro.
P/1 - Puxa!
R - Assim, mais acima de Vitória, Espírito Santo, não. Mas aqui, em Uberlândia e Uberaba, Florianópolis, Santa Catarina, Paraná, é uma coisa... Paraná diminuiu um pouco em função da fábrica da Volkswagen da Audi. Audi/Volkswagen em Curitiba, então uma parte se dirige para lá..., uma parte, não..., realmente, todos. E olha, é impressionante. Eu me emociono. A pessoa sai de Porto Alegre, viaja a noite inteira, não dorme, chega, faz a visita e depois retorna. Eu digo: “Meu Deus do céu!” Até isso é uma expressão minha, eu digo: “Isso não é visita, é peregrinação.”
P/1 - Ao Vaticano. (riso)
R - No caso, agora, você matou em cima. (riso) Vaticano foi acidental, mas na verdade, o peregrino é o que faz quase que um sacrifício maior para cumprir uma promessa, por alguma razão. Mas é impressionante. É emocionante essa vontade de conhecer. Por isso que eu digo, e eu volto a dizer, essa imagem que ela tem, eu acredito que está muito ligado ao porte da empresa. Independente da sua excelência tecnológica e tudo o mais que tem, mas realmente o tamanho é algo que o pessoal comenta. É efeito multiplicador. A pessoa vem de Casa Branca, ou então de Passa Quatro, ou de Americana, e cada um que chega: “Oh, eu estive na Volkswagen.” “E não vai contar não?” “Eu vi isso, eu vi aquilo. Porque o homem falou aquilo e eu li aquilo outro.” Quer dizer, você tem um efeito multiplicador muito grande. Quer dizer, cada um dentro de uma família, acaba sempre contando. Ou porque realmente tinha o que contar, ou porque quer se sentir importante, com a turma da esquina, e por aí vai. É impressionante, o fator multiplicador. Eu curto como uma atividade muito interessante para uma empresa, para a imagem da empresa, seja ela qual for. Se conduzido adequadamente, claro. Então, voltando um pouquinho nas vistas, perguntas e respostas, uma coisa que eu sempre menciono, e mostro, inclusive, o número de pessoas, a divisão, é o seguinte: a Volkswagen, desde o começo, desde o início, aqui, ela teve uma decisão que eu achei muito interessante, muito simpática, que era prestigiar a Engenharia brasileira. O que quer dizer isso? A Volkswagen, desde o início, achou que estava no Brasil, portanto teria que desenvolver carros que estivessem adequados ao clima brasileiro, que não é o clima da Alemanha. Digo Alemanha-Europa. Adequado às estradas brasileiras dos anos 60 e 50, que não são as entradas da Europa, não é? Ao bolso do brasileiro, que não é o bolso do europeu, e com isso desenvolveu aqui projetos que fossem realmente 100% adequados ao Brasil. Então ela desenvolveu aqui, com engenheiros brasileiros, o primeiro carro chamado Brasília. Foi um projeto exitoso, 1 milhão e 300 mil carros produzidos, descontinuado em abril de 83. Com alguns protestos, mas digamos que já estava no fim da linha desse produto, excelente produto. Depois o Zé do Caixão, o primeiro Fusca quatro portas, em 66. Depois um carro chamado TL, depois um carro chamado SP 1, SP 2, eu não sei se você lembra? Um carro bem alongado, esportivo, uma maravilha. Inclusive publicado na Europa, assim: um carro que foi feito na selva, e tal. Uma coisa realmente gozando um pouco, talvez um pouco ignorância do pessoal em relação ao Brasil, embora seja nossa culpa a gente não se divulgar mais. E depois, mais para frente, um outro projeto chamado AB9, entre os anos 70 e 80, que foi o Voyage, a Parati, o Gol e a Saveiro, todos eles líderes no seu segmento. O Gol está aí, o carro mais vendido há 17 anos, o Voyage virou Fox, foi para os Estados Unidos e deu o recado dele, belíssimo lá, durante quatro anos. A Saveiro aí, muito boa e exportando para o México um número expressivo, e a Parati, que liderou por muitos e muitos anos. É uma coisa que eu sempre cito: “Olha, são 2.564 pessoas ocupadas, só na área de Engenharia, desenvolvendo produto, estilização, reestilização, o face lift. Às vezes, sai geração 1, 2, 3 e assim por diante. Isso prestigia 100% engenheiros brasileiros.” Ninguém mais faz isso, só ela. Desde o início e continua fazendo. É uma coisa que, obviamente, é muito simpática. Agora, quanto à parte social, vamos dizer, saindo um pouco da área de doações e tudo o mais, de que ela sempre fez o que podia e fez bastante, dentro da possibilidade, a parte social da Volkswagen é uma coisa que me impressiona e que eu aplaudo sempre. A Volkswagen sempre se preocupou em desenvolvimento de carreiras, em ensinar até, as pessoas a levar para casa, para a esposa, uma outra forma de cozinhar, de aproveitar melhor os nutrientes. Nem todos que vem de cada ponto aí, tem esse conhecimento. Então isso me parece que sempre foi uma orientação muito boa, e depois toda a parte assistencial, mesmo. Por exemplo, a Volkswagen, pelo seu porte, tem dentro do departamento de Assistência Social pessoas que se ocupam o tempo todo de problemas, porque sempre houve, dependência química, que antigamente estava ligada ao álcool e ao fumo. Na verdade, a droga foi coisa que surgiu nos últimos 10, 12 anos, e eu estou falando de 30 anos, mais ou menos. O universo que ela representa, pelo tamanho que ela tem, porque dentro de uma pesquisa o que vale é o universo, a representatividade. Agora, daquele tamanho, e você apresentar os resultados que eles apresentam, da cura de pessoas ou de diminuir muito essa dependência, seja ela do álcool, do fumo, e hoje das drogas, mas principalmente o álcool, eu acho isso extremamente louvável, pela preocupação, pela perseverança no programa ao longo dos anos. Então isso realmente é uma coisa que é digna de registro. Inclusive eu tenho citado isso, eu falei: “Tereza, você tem que comentar isso com outros, porque esse teste, com esse universo, com esse tempo todo, não é brincadeira. Tantos e tantos e tantos anos, tanto dinheiro investido e os bons resultados. A gente fez e tem isso, mas precisa passar para outros.” Então isso foi uma coisa que eu acho extremamente bem feita. Tanto é que há pouco tempo, houve uma exposição lá no saguão, dos painéis, eu acho que eram 20 painéis, contando, assim, a seqüência, a história, as soluções, os resultados, e eu falei: “Olha, isso aqui, agora a gente tem que pegar isso aqui e fazer isso aqui ser itinerante.Ir aos grandes colégios, para colocar isso no pátio, dois ou três dias.” Eu já estou me articulando. Por quê? Porque os que não tem problema vão ler e vão dizer o quê? Vão ficar alertados. E os que eventualmente tentaram alguma vez, vão ficar alertados e enfim, pai e mãe que se preocupam com isso vão sempre achar uma forma: “Como foi? Como lidaram com isso? Os resultados? Como abordar isso e tudo o mais.” Porque, infelizmente, é um problema que ninguém está livre isso. Então, isso é uma outra parte que eu acho, essa atividade constante, muito grande. Tanto é que a Volkswagen desenvolveu um projeto muito bem conduzido que foi o Aids Care, que já teve uma premiação pela Organização Mundial de Saúde. Foi uma premiação que foi entregue em Londres para o nosso gerente médico de Serviços Gerais há uns três anos, eu acho. E agora, novamente foi citado e mostrado como um modelo que concilia a utilidade, a factibilidade, o custo aceitável, o resultado e outras coisas ligadas a isso de uma forma extremamente construtiva e muito bem testada.
P/1 - Como é esse programa aí? Você tem dados?
R - Bom, isso aí precisaria ver com a nossa equipe. Com o Doutor Murilo, com a Maria Tereza, eles obviamente poderiam detalhar. Essa parte social da Volkswagen, volto a dizer, é muito importante. Ela, como a maior empregadora, durante muitos e muitos anos, hoje reduziu, mas eu acho que pelo tempo, pelo universo, pelas estratégias e pelas formas com que isso foi montado e conduzido, resultados sempre compilados e servindo como referência, sempre melhorando, trabalhando em cima disso, achando pequenas melhoras sempre, é de uma validade e de uma expressão muito, muito grande.
P/1 - Você, esses anos, na Volkswagen, se nós tivéssemos que falar de um carro que é símbolo, qual o carro que você acha que é símbolo da Volkswagen?
R - Bom, deixa eu ver... Para a gente, obviamente, o Fusca. Hoje seria o Gol. Se você pegar a Volkswagen no âmbito mundial, você tem o Golf, que está chegando nos 24 milhões. Primeiro, o Fusca superou o modelo T da Ford, de longe, há muitos e muitos anos. Depois, a própria produção do Fusca foi superada pelo Golf. Então, realmente, eu acho que o Golf, a nível europeu. O Fusca é o mundial, o Golf, eu acredito, hoje, está permeando muito aqui a preferência do pessoal, mais do brasileiro, mas eu acho que a nível europeu, numa grande escala, realmente o Golf é muito marcante. Talvez a própria Brasília, eu acho que foi também um símbolo, a Kombi, que é um bom produto, é muito resistente, é muito durável, é muito útil, e pela vida longa, acaba realmente sendo, digamos, uma aferição boa, porque eu falo: “Puxa, a Kombi tem tantos anos. O Fusca foi um dos primeiros projetos. Foi 32, 33, 34, 35, os primeiros protótipos foram testados em 35, 36. Depois desenvolvido, depois veio a guerra, interrompeu, depois foi relançado, estudado em 46, 47. Aí começou a escalada outra vez. E a Kombi também.” A Kombi foi nos anos... 49, eu acho que foi até um holandês que fez o projeto da Kombi, como importador. Ainda agora, nós estamos com uma produção, mais ou menos reduzida, algo como 70 por dia, e o pedido é tanto que já estava mais de 100, 120, outra vez, diariamente. A mesma coisa o Santana. O Santana também já está aí há um bocado de anos, e na relação custo benefício ele leva vantagem. Os taxistas, um dia, fizeram um grupo que chegou na Volkswagen e falou: “Pelo amor de Deus, eu ouvi uma conversa que vocês vão descontinuar. Pára com isso, hein. Continua produzindo porque essa é nossa solução.” Eu acho, para mim, esses três batutas aí, o Fusca, o Golf e o Gol. E o Gol vai longe, ainda. Aonde ele chega, faz sucesso. Chegou no México, o carro mais vendido. Na Argentina era muito vendido, depois veio a crise. Tínhamos que fazer em três lugares para poder atender a demanda; fazíamos na Anchieta, em Taubaté, tradicionalmente, e mais em Buenos Aires, para poder atender a Argentina, principalmente. Exportamos para o Egito, há algum tempo atrás, não faz tanto tempo, agora há um ano e pouco, depois, eu acho que deu uma parada. Mas a aceitação dele é impressionante. Ele concilia estilo, simpatia, operacionalidade, custo baixo, manutenção melhor ainda, longevidade, enfim, ele realmente, é um projeto brasileiro, engenharia brasileira.
P/1 - Você tem acompanhado as visitas na nova Anchieta também?
R - Sim, ué? Como na Nova Anchieta? É a mesma, só que... (riso) Todo dia é o mesmo roteiro.
P/1 - Então, eu queria que você falasse um pouquinho sobre isso. Ela é uma fábrica completamente diferente, enfim, da Anchieta original...
R - Não, veja... A Nova Anchieta é um conceito, em que você realmente procura, com o Polo, desenvolver a linha mais moderna do mundo, com os meios de produção mais modernos, melhores, tecnologicamente falando. Quer dizer que realmente é o topo hoje a nível mundial. Agora, o desafio foi exatamente você fazer isso tudo novo, reformando o aspecto predial mais a montagem disso tudo, paralelamente, sem interromper a produção uma única hora. Daquilo que é o pão nosso de cada dia, que é a produção do Gol, Saveiro, Golf e Santana. Então você tem, na verdade, duas fábricas em uma só: você tem uma fábrica do Polo, com expectativa de produção de que é a mesma fábrica, que é inclusive com previsão, expectativa de 1100 unidades por dia, só ele, quando o mercado realmente estiver caminhando bem; e você fazer outros 600, 700, 800 carros, por aí. Quanto à Nova Anchieta, ela é esse conceito. Eu não domino a coisa assim como aqueles que trabalham esse tempo todo, mas na verdade você vê que se aproveitaram novas áreas. Por exemplo, o parque dos ônibus, uma área até que a gente não cuidava muito, hoje é uma área que se revelou muito interessante, generosa para poder abrigar isso tudo, com a possibilidade do pessoal desembarcando, ir já próximo ao seu posto de trabalho, e não aquela caminhada longa, às vezes com chuva, com o tempo ruim, caminhar muito mais. Então, a coisa é muito mais racional. O lay out industrial da época da construção tinha um conceito diferente de hoje. Inclusive, uma curiosidade, eu sempre digo: o pessoal, naquela época, nunca imaginava que a Volkswagen fosse crescer tanto porque talvez tivessem feito a fábrica ao contrário, já que existe um desnível de 100 metros entre a Portaria 1, aonde você chega, e o topo, onde ela está hoje. Então botaria o Newton trabalhando a favor da gente, né?
P/1 - (riso)
R – Esse conceito, então, de você ter a coisa mais compactada, você ter um espaço vendido, alugado, para os fornecedores, mais próximo do ponto de produção, quer dizer, com um atendimento rápido, com uma agilidade maior, com uma pontualidade maior, uma confiabilidade maior de ter as peças ali, a sua disposição para a produção, tudo isso foi dentro de um projeto em que se remodelou, se procurou otimizar tempo, espaço, custo, enfim, tudo, dentro de uma articulação e de uma construção de um projeto extremamente inteligente e adequado.
P/1 - Nós estivemos lá, visitando, e realmente é muito impressionante. Eu queria que você falasse da reação das pessoas quando entram lá na Nova Anchieta.
R - Olha! Na verdade, o visitante, 95%, 98% vai lá pela primeira vez. Para você dizer: “Puxa, quando eu estive aqui era assim e agora é assado...” No caso deles, não, porque é a primeira vez. Então, você observar esse contraste é difícil porque eles não têm o referencial anterior. Obviamente, vêem uma linha moderna, como a linha do Polo que, mesmo se conhecer pouco, é uma coisa que impressiona tremendamente. Quanto a essa disposição muito mais inteligente hoje, para ser sincero, o visitante, o visitante, que eu digo é o público colegial, estudantil, eles falam: “Quero conhecer!” E conhecem. Impressiona como impressiona sempre o porte, quer dizer, apesar de ver 300 mil metros quadrados menos de área construída, ainda é muito grande. Então, você mostrando, projetando aquilo lá, você diz: “Olha, aqui já não existe mais 300 mil metros quadrados.” Aliás, eu brinco, porque já que a Volkswagen é muito grande, eu sempre digo: “Olha, aqui, como eu sou caipira do Vale do Paraíba, eu gosto muito de falar até em alqueires.” Então, na verdade, você já pega outra escala. Você, ao invés de falar em metros quadrados, fala: “São 47 alqueires de área construída e 84 alqueires de terreno. 2 milhões de metros quadrados.” É uma forma de você, em uma palavra, otimizar a dimensão da coisa. Mas, a Nova Anchieta ainda está sendo desenvolvida. Quer dizer, ainda tem coisa para fazer, obviamente. Mas, está caminhando, e realmente continua sendo a segunda maior fábrica do grupo Volkswagen do mundo todo, depois da Alemanha, que é a maior, sempre foi. Em tamanho, produção, número de pessoas empregadas, em produtos produzidos. Só lá, 10 milhões, mais de 10 milhões de carros, só na Anchieta, num total de mais de 14 milhões. Tem a sua majestade, né? E tem outra coisa que eu também achei fantástica, indo para o lado do compromisso social. Pouca gente percebe, porque fica meio escondido. O acesso à Volkswagen, hoje, está um pouco complicado porque tem uma portaria que fechou. Uma outra portaria, acabou sendo sacrificada em função de um piscinão que a Volkswagen, eu não se sei você viu, nas duas áreas, tanto da caminhões Volkswagen, do outro lado, como aqui, uma boa parte da área foi doada para esse piscinão. Esse piscinão vai regular e vai evitar aquelas enchentes que tanto assolam não só São Bernardo, mas com reflexo até no médio Tietê, que é ali perto de Aricanduva, no Corinthians, por ali. Aquilo lá vai ter um reflexo muito positivo para aquela área. Então eu acho isso um bem incomensurável. Uma vez, eu me lembro, eu saí da Volkswagen uma tarde, ia para Taubaté, alguém falou que era para ir por Mauá, aqui, que era mais perto. Nunca mais eu vou na minha vida, porque não é nada disso, mas tinha acabado de dar uma chuva, eu olhei, assim, da estrada, e vi aquela água até na cumeeira das casas, ali, eu falei: “Meu Deus!” Por causa de mais meia hora, não tem mais televisão, rádio, cama, nada!” Quer dizer, é um negócio, como se fosse um raio, para destroçar aquilo, deve ser uma coisa pavorosa. Você poder livrar as pessoas desse caos, dessa desgraça, na verdade, eu acho isso uma dádiva fantástica. Quer dizer, beneficia, a ela, porque do terreno que tem ao lado, ele acaba mesmo sendo um terreno altamente utilizado para qualquer coisa, sem risco nenhum, mas fundamentalmente você vai aliviar centenas, milhares de pessoas dessa desgraça, Acho isso um negócio extraordinário!
P/1 - É maravilhoso!
R - É extraordinário! Um bem social que, sabe, eu não... Eu não sei se é porque não está consolidado ainda, e tal, eu não sei, mas na verdade é que... Vamos ver, na próxima temporada. Agora dizem que esse fim de ano, por causa do efeito do El Niño vai chover muito mais e tal, vai ser um fim de ano muito chuvoso e tal, vamos testar, vamos ver.
P/1 - Você, eu não sei, eu posso estar enganada no que eu vou te perguntar, você me corrija se for o caso...
R - Opa!
P/1 - Você chega a acompanhar lançamentos de carro?
R - Muito pouco!
P/1 - Quando você entrou, da época que você entrou até hoje, houve vários lançamentos...
R - Muitos!
P/1 - O atual lançamento - eu não vou falar muito porque teremos vários ainda...
R - Não, sempre tem o último. Você vai ter um próximo, você pode... Não é o último na história, mas o último a ser lançado...
P/1 - Do momento...
R - Está certo!
P/1 - Foi o Polo.
R - Foi o Polo.
P/1 - E quando você entrou, da época que você entrou até hoje, quantos lançamentos, assim, você acompanhou? E qual deles te marcou? Que talvez você tenha participado mais, trabalhado mais, assim. Porque... eu lembrei disso...
R - Foi o Gol. Foi o Gol por uma razão. Porque o Gol, ele foi lançado... Aliás, o dia que eu entrei, eu sempre digo isso, eu entrei na fábrica no dia 15 de maio de 1980, uma quinta-feira de lua cheia; quando eu cheguei lá, não tinha ninguém. Estava todo mundo em Campos de Jordão para o lançamento do Gol. E quando o Gol foi lançado era motor a ar ainda, motor 1.3. Eu lembro que a expectativa era de que o motorista brasileiro gosta de pisar e o carro arrancar e esse pisava e não arrancava. Realmente foi um problema. De cara foi um problema. E aí você solucionar, quer dizer, você procurar uma solução para esse problema dramático, foi assim de cara a vivência do que a gente teve. E eu me lembro que eu tinha um colega, já falecido, entrou junto comigo dividindo a área, o Matias, e disse: “Bom, o que a gente faz?” Então, uma das saídas foi, primeiro, ter outro motor. Aí lançou o motor 1.6, a ar ainda. Desse motor 1.6 você tinha que rapidamente provar que ele era realmente bom. Então o Matias teve uma ideia e disse: “Vamos fazer um teste junto com um segmento que é muito importante sempre, embora você não venda no início, que é o taxista.” Então houve um concurso entre os taxistas dizendo: “Quem fizesse a maior quilometragem com o tanque cheio, ganharia um carro zero quilômetro, um Gol zero quilômetro.” Então, realmente aí, eu digo que começou a ver como o pessoal é criativo. Teve um camarada, você acredita, que congelou a gasolina porque com isso ele ganhou alguma coisa em volume. A minha parte foi sempre a parte universitária, e eu me lembro que fizemos uns testes com os estudantes, em Interlagos. Eu acabei desenvolvendo, por acidente, uma coisa que foi um grande êxito na Volkswagen. Eu sacrificava a noite, porque eu ia a todos os Diretórios Acadêmicos das faculdades, para divulgar o que foi chamado Curso Rali Volkswagen para universitários. Então os universitários fizeram um rali de regularidade, não de velocidade, e com isso a gente começou a ter esse pessoal participando. Claro que participavam os outros também, não só do Gol, mas o Gol sempre estava no meio. E a pessoa dizia: “Puxa, mas esse carro anda bem.” Vão para Interlagos, corriam lá, sempre com limite de velocidade para não acontecer acidente. Mas eu sei que aquilo também ajudou tremendamente a reerguer aquela imagem que depois, também, quando largou, ninguém mais segura. Mas foi, também, um episódio dramático, porque era, naquele momento, um carro novo e o primeiro passo foi complicado. Foi completamente fora daquilo que se imaginava. Eu, quando entrei, estavam lançando, eu não participei de nada, mas eu sei que o resultado estava lá. E agora, como solucionar? E aí imprensa e Relações Públicas eu acho que tiveram uma participação, nós tivemos uma participação muito grande. Esse curso de rali universitário inclusive, depois, foi por anos e anos desenvolvido aqui, praticado nas universidades, e depois passou até para outra organização, mas sempre com o mesmo espírito. E eu me lembro que um dos últimos aqui feito era o percurso da Cidade Universitária por Campinas. Uma coisa fantástica foi que, nesse percurso direto, que a cada 3 minutos largava uma dupla que era sempre o navegador e o piloto, porque na regularidade, o que vale não é o piloto, mas é o navegador que vai fazendo cálculo matemático o tempo todo, você não pode ir nem além nem aquém, tem que manter. E você recebe o livro de bordo na hora, sem saber qual é o percurso, um negócio todo muito bacana. Então, eu me lembro que o primeiro carro já chegava na Cidade Universitária e o último não tinha largado ainda. Era um anel vivo, da Cidade Universitária até Campinas e voltando outra vez.
P/1 - Nossa!
R - Esse rapaz que participa disse que a prova saiu até no livro do Guiness como recorde e tal. Eu não cheguei a comprovar, mas se não está, merece! (riso) Mas são episódios que realmente foram, assim, muito marcantes. Eu fiquei muito satisfeito, quer dizer, com um custo mínimo e tal, a gente convidava, as pessoas se inscreviam nas revendas, tinha uma ficha. Com isso a gente já tinha o endereço, o carro que tinha, enfim, tudo o mais. Tinha uma ficha até para eventuais convites depois, mas realmente foi uma alavancada. E também surgiu assim, daqueles estalos que a gente tem.
P/1 - E nesses 22 anos de Volkswagen, se você tivesse que escolher um dia que foi o dia mais marcante para você nessa trajetória, qual seria? O que aconteceu nesse dia?
R - E agora? É difícil! Mas eu diria... Um que me marcou... Na verdade é susto! (riso) Eu me lembro que eu estava lá há pouco tempo e o meu chefe, que era um excelente chefe, e mais uns colegas, não sei porque razão, estavam em alguma outra coisa, e eu sei que eu estava sozinho. Aí, de repente, tocou o telefone: “Seu Horst?” “Pois não?” “Olha aqui, tem um pessoal aqui na portaria que são delegados da OIT e querem fazer uma visita de inspeção aqui.” Eu falei de uma forma que o guarda percebeu, quer dizer, percebeu, entendeu e passou. Eu dei um gelo, eu falei: “Meu Deus do céu. Trabalho, estão aí para inspecionar o trabalho...” Eu falei: “Meu Deus!” Aí eu disse assim: “E agora?” Aí eu liguei para o departamento, não estava uma pessoa, eu não sabia nem exatamente como fazer, para quem ligar, mas eu liguei para alguém, eu acabei chegando em alguém lá e falei: “Olha, tem um assim, assim.” Ele falou: “Não, fica tranqüilo, espera aí que eu já vou descer.” Chegou lá e tal, recebeu o pessoal e tal, e começamos a andar, e aí ele disse assim: “Rapaz, fica tranqüilo.” Ele olhou para mim, eu estava lívido assim: “Alguma inspeção, alguma coisa? ” “Não, não, não, não. Você sabe o que eles estão fazendo? O pessoal vem... Passa um ano, dois anos, no mais tardar, eles vem aqui. É o chefe da Organização Internacional do Trabalho, representante da Organização Internacional do Trabalho em Genebra aqui no Brasil.” Depois que eu me lembrei, ele tinha sido até meu colega como chefe de Departamento Médico, na Mercedes Benz, um trabalho excelente. E eles iam lá na Volkswagen, porque a Volkswagen, pelo seu tamanho e pelo que representava o que eles faziam lá? Era uma forma de mostrar o quão correto, adequado, se desenvolvia a engenharia da segurança no trabalho na Volkswagen. A Volkswagen era um exemplo e que ele, como brasileiro, gostava de mostrar. E eu com receio de alguma coisa meio séria e era exatamente o contrário. Era praticamente um louvor à preocupação, ao sistema de segurança. Teve outro episódio, também, que, logo no começo, um camarada me ligou, falou: “Horst, tem uma pessoa aqui com uma Brasília lotada aqui na porta, ele quer falar com o presidente. Ele quer, faz questão de falar com o presidente, que se ele não falar com o presidente, ele chuta a porta, e faz não sei o quê, e tal.” Eu falei: “Meu Deus, o que é?” “Não sei o quê é.” Eu falei: “Olha, o presidente não está. Ele quer falar com o presidente por quê?” “Não, porque ele está com uma raiva danada, porque o carro dele teve um problema, ele levou não sei em quantos lugares e ninguém atendeu, ele precisa do carro todo dia, ele vende títulos de clubes...” Aquela coisa toda. E eu falei: “Então está bom, manda ele subir.” Aí o camarada chegou: “Pois não? Vamos tomar um café, senta aí, pois não e tal.” Bom, para encurtar a história, conversamos, ali, uns 10, 15 minutos, o camarada não queria mais chutar porta nenhuma, eu falei: “Você vai até a revenda.” Eu liguei: “Você vai atender a pessoa amanhã sem falta por isso e isso e isso.” E: “Ô, pode deixar.” O camarada saiu, e saiu abraçado, adorou a Volkswagen e foi embora. Sem querer eu acabei resolvendo um problema que eu, na hora, falei: “Nossa, vai acabar o mundo! O cara vai botar fogo na fábrica!” Porque no começo, quer dizer, a inexperiência e aquele senso exagerado de responsabilidade, te apavora um pouco. Mas, depois eu vi que nada como você ouvir a pessoa. Deixa ouvir! Desabafou, você já tem metade da carga emocional reduzida, a agressividade caiu em 70%. E os outros 30, depois você vai lá, conversa e tal. Essa foi uma lição, uma aula de como fazer a coisa. Não adianta, o livro não tem; você tem que vivenciar, apanhar, sofrer, e depois dizer: “Puxa, aprendi mais uma!” E episódios assim, você tem... barbaridade.
P/1 - Eu imagino. Ainda mais você! Deve ter tido inúmeros!
R - É, mas tem outros também. Mas realmente, a gente...
P/1 - Ligado às coisas que você está falando, eu acho que dá para a gente fazer um gancho com relação a isso, a cultura Volkswagen. Porque todo mundo fala da cultura Volkswagen. Como é isso? Como é que você olha para ela? Ela existe?
R - Existe!
P/1 - Como é esta cultura?
R – A cultura Volkswagen, ela existe. Eu diria que é uma coisa séria e é digna de registro. O que a gente percebe, isto a gente percebeu mais ainda, se acentuou mais, se delineou mais ainda, exatamente naquele episódio do casamento com a Ford, em que você teve uma cultura americana e uma cultura alemã, porque a cultura Volkswagen é uma cultura alemã. Você tem aí dois níveis: você tem o nível, digamos, acima do peão, do operário, dentro de uma cultura que eu diria que é a cultura de mimar as pessoas. É verdade. Tanto é que, da Volkswagen, quando saiu executivo depois de 25, 30 anos, a gente brincava que não sabia cruzar a Anchieta sozinho, se não tivesse uma pessoa ao lado. Porque ela fazia tudo. Plano de carreira, tudo o que tinha que estudar, tudo era pago; se você tinha um problema de divórcio, você ia ao departamento jurídico, o camarada pegava: “Qual é o problema disso aqui? Deixa comigo!”; se você ia comprar uma casa, tinha um problema documental: “Qual é o problema? Qual é o endereço? O que é? Onde é? Esquece, deixa comigo!” E isso realmente se desenvolveu de uma maneira que a pessoa, quando saía de lá, não sabia botar uma carta no correio. E não é força de expressão, é verdade! Então era uma cultura de dar apoio para que a pessoa realmente pudesse trabalhar tranquila, sem nenhuma preocupação. Ia desde a assistência médica, assistência escolar, enfim, tudo o que você pode imaginar. Isso é um nível, mais privilegiado, é claro. Quanto ao operário, ele também tinha, esse incentivo de desenvolver, de fazer cursos, de ter um apoio; os filhos dele já poderiam estudar no SENAI, de uma forma até espetacular, porque já eram registrados como empregados da Volkswagen, meio salário mínimo; tinha escola habitual de manhã, tinha um curso profissionalizante à tarde. Quer dizer, era um negócio, também, que cuidava muito. E isso, eu falei: “Puxa, mas por que será?” E depois da gente estudar um pouco, eu nasci no Brasil, estive na Alemanha três vezes, por quatro, cinco dias, quer dizer, é a mesma coisa que nada. Mas por leitura, a gente sabe. Isso na Europa, e quando eu digo Europa eu me refiro, aí, a parte da Alemanha, da Suécia, da Dinamarca, essa parte mais germânica, no sentido mais amplo, era aquilo que chamava “corporações de ofício”. Eu não sei se você já ouviu falar. Da Idade Média, os burgos. Então você tinha o sapateiro que era muito bom, então o camarada, para ser aprendiz do sapateiro, era um camarada que você ia até lá, o que o homem falasse você obedecia e ia aprendendo. Diziam até que ele teria de pagar para aprender com o mestre a fazer muito bem. Qualquer ofício seja ferreiro, sapateiro, o que fosse, alfaiate. E isso falando nas corporações de ofício. Então, havia uma tradição de você pegar uma criança, você tinha que investir na criança, mas era daquela maneira mais rígida: “Vai lá e aprende.” E isso, de certa forma, também foi praticado, até talvez de uma forma quase que natural dos que estiveram aqui no começo, fundando a Volkswagen, construindo a fábrica e desenvolvendo a mão-de-obra, porque a Volkswagen começou tudo do zero. A Volkswagen foi assim. Não tinha um fornecedor, ninguém sabia o que era uma qualidade. A Volkswagen quando começou a desenvolver a sua rede de fornecedores, chegava lá e dizia: “Olha, você vai fazer tal peça para mim, você vai ter que me cobrar tanto, vai ter que botar margem de lucro, senão você quebra, você precisa desenvolver, o lucro é o oxigênio da coisa.” Quer dizer, orientava para ter um fornecedor que continuasse vivo, fornecendo, motivado. E assim foi tudo, ela foi o guia dessa coisa toda. A assistência médica nasceu lá. Transporte, os ônibus transportando todas as pessoas, de casa até lá e de volta. Assistência médica: “Olha, minha mulher está doente.” “Não, pode deixar.” Quer dizer, essa parte toda foi desenvolvida e isso tudo criou uma cultura de amparo, de confiança, e que as pessoas, às vezes, não sabiam mas diziam: “Olha, é legal esse negócio.” Então, isso foi algo que se chamava de cultura Volkswagen, no sentido de que não havia antes, então ela desenvolveu isso e acabou praticando e sempre deu esse apoio. Dentro da Volkswagen tinha isso de dizer: “Olha, você começa e o que você precisar você fala.” É orientado, principalmente na parte social e treinamento, porque se você investia, você tinha uma pessoa mais preparada. Ela ganhava porque sabia, e você ganhava porque você tinha uma pessoa mais desenvolvida, mais preparada para desempenhar melhor o trabalho. Qualidade e produtividade. Havia um, digamos, casamento, muito feliz. Inclusive, uma coisa que me impressionou muito foi uma pesquisa feita em 1982, dentro da fábrica, e uma das coisas que foi muito bem conduzida, o rapaz está lá até hoje, e que ele dizia: “Como é que você sente a Volkswagen?” Aí o cara dizia assim: “Olha, quando a gente está fora, a gente fala, puxa, será que eu consigo trabalhar nessa empresa?” Depois que ele trabalhava, ele achava: “Ah, o leão não era tão bravo quanto parecia ser.” Algo assim. Então, ele sentia, às vezes, até um desafio, para trabalhar, e no fim ele gostava, exatamente por encontrar um meio muito bom para trabalhar. Aquele desafio já não tinha mais o mesmo tamanho que tinha antes.
P/1 - Depois de tudo o que você está colocando sobre a presença cultura Volkswagen, eu te perguntaria: o Brasil seria diferente sem a Volkswagen? Qual é essa relação entre a cultura Volkswagen e a cultura brasileira?
R - Essa é uma pergunta que merece um Oscar, viu?
P/1 - Quinze minutos, viu?
R - Obviamente, no entusiasmo e exagero, eu costumo, dizer nas visitas, sempre tem uma professora, ou é de Geografia, ou é de História. Eu digo: “Professora, por quê a senhora veio aqui na fábrica?” “Ah, eu vim aqui porque a gente está dando agora a fase de industrialização brasileira. A gente mostra o livro e fala, falar, é bom, mas nada como a gente visitar uma indústria, e ver como ela é, as suas diferentes áreas, essa inter-relação pessoal, essa compartimentalização da coisa, e principalmente pelo tamanho e tal, então nós achamos que isso é muito importante.” Aí eu digo: “Olha, realmente eu a felicito pela ideia, eu acho a iniciativa muito apropriada.” Aí eu cito o lance lá do Japão, e digo: “Olha, e para falar a verdade, eu até me atreveria a dizer que a Volkswagen, a industrialização começou com a Volkswagen, ou a Volkswagen começou com o início da industrialização.” Por quê? Porque até os anos 50, o que tinha realmente? Minha ignorância é grande, mas que eu me lembre, tinha Volta Redonda, como algo muito grande, dos anos 40, 42. Talvez uma outra siderúrgica, as indústrias tradicionais, o grupo Matarazzo, a Ramezoni, A General Eletric, coisas assim, que a gente lembra, mas eram poucas. E eu acredito, realmente, que a Volkswagen acompanhou, exatamente a industrialização brasileira. Começou a se desenvolver e veio num crescente. E, hoje, a gente se orgulha da nossa indústria. Mas dos anos 50 para cá, ela e a Mercedes, aqui ao lado, foram as que realmente deram um impulso maior à coisa. E com isso ela se desenvolveu. Tudo o que a gente tem hoje, maneira está aqui. Eu até digo: “Olha, até o eventual futuro Presidente da República nasceu aqui em função de sindicato que nasceu em função da Volkswagen.” Por que a Volkswagen se fixou ali? Qual é a razão da Volkswagen ficar aqui e não em outro lugar? Eu digo: “Olha, eu não estava lá para decidir, mas eu acho o seguinte: estava do lado da Anchieta, há 23 quilômetros da Praça da Sé, 46 quilômetros do Porto de Santos, por onde vinham os primeiros carros desmontados para serem montados aqui.” A Volkswagen criou um pólo fornecedor de mão-de-obra que era pequeno na época, São Bernardo do Campo, e apresentou o Fusca ao paulistano e ao brasileiro. Depois ela foi crescendo. Foi crescendo e se desenvolvendo, e é óbvio, foi incorporando pessoas de outras áreas, de outros centros, e que eram trazidos, inclusive, por ônibus. Só para citar, a Volkswagen, quando chegou a ter 45 mil pessoas trabalhando lá, e só na Anchieta 35 mil, a Volkswagen tinha, até 39 linhas de ônibus. E para transportar essas pessoas em dois ou três turnos, ela dava duas vezes à volta a Terra diariamente. Depois, uma cozinha que fornecia mais de 50, 60, 70 mil refeições. Tinha a padaria, com a fabricação de 90 mil pães por dia. Aí nasceu o Sindicato e foi crescendo. Em função disso, dessa dimensão, vieram as outras montadoras, mas ela, digamos assim, foi a vertente dessa coisa toda. Obviamente, ela e as demais, provocaram todo o parque de autopeças. Então, é uma vencedora. Até um antigo chefe me alertou sobre a mudança na mentalidade do operário da Volkswagen. Quando ele chegava em casa, ele dizia pra mulher: “Por quê você não faz aquilo que a Volkswagen faz? Uma comida assim, assado, e tal.” Quer dizer, até isso ela orientava, na parte de nutricionismo, balanceamento de alimentos, balanceamento da nutrição. Eu até costumo brincar, um camarada disse pro outro: “Você está indo trabalhar lá na Volkswagen?” “Mas acontece que eu não tirei uma sorte estar lá para poder almoçar.” “Pode deixar que eu trago o almoço.” “Mas, a minha bicicleta quebrou e não dá para chegar lá” “Pode deixar que eu vou trazer você de ônibus.” E com isso, acabou realmente se desenvolvendo, toda essa assistência, essa forma de você facilitar o acesso, e criar tudo isso. E, por conseqüência, acompanhou essa industrialização que está aí e que hoje, realmente, é digna de nota.
P/1 - E como é que você vê essa iniciativa da Volkswagen de contar os seus 50 anos no Brasil? Nessa linha?
R - Eu acho que é mais do que necessário porque poucos, talvez, tenham tanto para contar com tanto êxito, com tanto significado, por reconhecimento com exportação a mais de 60 países, desde 1964, 65. Quer dizer, tudo que ela já realizou, se você somar o que ela pagou de impostos até hoje, desde que ela nasceu, dá para dar um susto no FMI. Tudo que ela produziu, realizou, criou, incentivou, exemplificou, quer dizer, serviu como exemplo, enfim, é um desdobramento muito grande. E eu acho que contar isso, além daquela pontinha de vaidade que todos nós temos como seres humanos, eu imagino, que a empresa, tem que dizer: “Olha! Eu vim aqui. Vim, vi e venci!”
P/1 - Horst, como você se sente em ter vindo dar o seu depoimento?
R - Olha, eu me senti um pouco surpreendido, porque eu não... Eu falei: “Olha, eu não sou assim nenhuma pessoa de maior projeção.” Eu sou um colaborador entusiasmado, gosto do que eu faço. Como eu digo: os anos se passaram porque sempre... Eu sempre tive uma ponta de, digamos, de tensão maior que os outros, infelizmente, por natureza, mas sempre realizando, fazendo. Me sinto gratificado pelas muitas coisas que eu fiz, pessoalmente, com reconhecimento ou sem ele. E eu acho que é gostoso você se sentir realizado, embora não numa empresa sua, mas numa empresa em que você trabalha. E com relação a fazer um depoimento, eu acho isso extremamente honroso, e, como eu digo, a gente, quando não tem prática, acaba chegando na esquina e falando: “Meu Deus do céu! Esqueci de falar isso! Meu Deus, esqueci de falar aquilo!” Isso vai acontecer. E às vezes até mais... É que, às vezes, um pouco de emoção, ela acaba tolhendo um pouco, aí, o raciocínio um pouco mais fluente. Mas, só saber que a gente está em companhia de pessoas tão ilustres, tão participativas na vida da Volkswagen, no êxito da Volkswagen, eu acho isso muito, muito gratificante.
P/1 - O Museu da Pessoa te agradece, a Volkswagen agradece o seu depoimento
R - Uau!
P/1 - E nós agradecemos por você ter vindo falar com a gente.
R - Ok!
P/1 - Obrigada!
R - Obrigado eu! Imagina. (riso)
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