O nome de meu avô materno era Fernando Monteiro. Ele nasceu em Portugal, na região de Trás-os-Montes e migrou para o Brasil com os pais na juventude, em busca de melhores condições de vida. Foram residir em Santo André, na época uma região que foi passando de rural para um grande pólo industrial. Após algum tempo de experiência profissional nas fábricas do Grande ABC, sobretudo no setor químico, em 1932 integrou como segundo secretário a primeira diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos André, ao lado de Marcos Andreotti (presidente), Antonio Nunes (primeiro secretário), Luiz Calsolari (tesoureiro) e os conselheiros fiscais Euclides Fernando, Aníbal Ferrari e Francisco Moro.
Sempre tive muita admiração por uma foto da assembleia de posse da diretoria, que minha mãe guardou com carinho entre suas poucas lembranças familiares, mas eu só soube de fato quem eram as pessoas ao lado de meu avô na foto quando em 2024, após longa pesquisa, encontrei o livro comemorativo dos 50 anos do Sindicato, intitulado \\\"50 anos de luta: 1933/1983\\\".
A seu lado esteve a companheira Maria Callejon Monteiro, minha avó, também sindicalista, filha do anarco-sindicalista espanhol José Callejon e da italiana Irene Melaratto. Essa mulher brilhante e de uma coragem ímpar para a época nasceu em alto mar, próximo a um porto da França, no porão de um navio, durante a migração de sua família para o Brasil, vindo se instalar na mesma região que a família de meu avô, onde trabalharam como agricultores e feirantes por muitos anos, até que sucumbiram ao advento das indústrias, para as quais passaram a vender sua força de trabalho.
Desde jovem ela lutou bravamente pelos direitos das mulheres trabalhadoras, fortalecendo ideias que futuramente viriam a se constituir como direitos, como a licença amamentação. Além de minha mãe, Maria Monteiro, ela perdeu uma filhinha chamada Olga (em homenagem a Olga Benário), vítima da coqueluche, aos...
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O nome de meu avô materno era Fernando Monteiro. Ele nasceu em Portugal, na região de Trás-os-Montes e migrou para o Brasil com os pais na juventude, em busca de melhores condições de vida. Foram residir em Santo André, na época uma região que foi passando de rural para um grande pólo industrial. Após algum tempo de experiência profissional nas fábricas do Grande ABC, sobretudo no setor químico, em 1932 integrou como segundo secretário a primeira diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos André, ao lado de Marcos Andreotti (presidente), Antonio Nunes (primeiro secretário), Luiz Calsolari (tesoureiro) e os conselheiros fiscais Euclides Fernando, Aníbal Ferrari e Francisco Moro.
Sempre tive muita admiração por uma foto da assembleia de posse da diretoria, que minha mãe guardou com carinho entre suas poucas lembranças familiares, mas eu só soube de fato quem eram as pessoas ao lado de meu avô na foto quando em 2024, após longa pesquisa, encontrei o livro comemorativo dos 50 anos do Sindicato, intitulado \\\"50 anos de luta: 1933/1983\\\".
A seu lado esteve a companheira Maria Callejon Monteiro, minha avó, também sindicalista, filha do anarco-sindicalista espanhol José Callejon e da italiana Irene Melaratto. Essa mulher brilhante e de uma coragem ímpar para a época nasceu em alto mar, próximo a um porto da França, no porão de um navio, durante a migração de sua família para o Brasil, vindo se instalar na mesma região que a família de meu avô, onde trabalharam como agricultores e feirantes por muitos anos, até que sucumbiram ao advento das indústrias, para as quais passaram a vender sua força de trabalho.
Desde jovem ela lutou bravamente pelos direitos das mulheres trabalhadoras, fortalecendo ideias que futuramente viriam a se constituir como direitos, como a licença amamentação. Além de minha mãe, Maria Monteiro, ela perdeu uma filhinha chamada Olga (em homenagem a Olga Benário), vítima da coqueluche, aos dois anos, o que a fragilizou profundamente, mas reforçou a necessidade da luta pela amamentação infantil como prerrogativa para a saúde das crianças. Infelizmente isso não foi registrado em lugar algum, pois os registros históricos da época eram fortemente machistas. Ela trabalhou inicialmente em uma tecelagem, conferindo a qualidade dos fios e posteriormente na Pirelli, juntamente ao pai, José.
Meus avós morreram muito jovens, vitimados pelo câncer, após enfrentarem prisões e torturas no período ditatorial do governo Getúlio Vargas. Quando minha avó faleceu, minha mãe tinha apenas 08 anos e quando seu pai partiu, ela mal havia completado 12. Apesar de todo o trauma que isso representou para uma criança tão pequena, mamãe sempre teve uma memória muito viva sobre a história e o legado de seus pais e pôde transmiti-la aos filhos .
Tenho muito orgulho de minha história familiar e prometi à minha mãe, ainda na infância, que um dia eu a contaria ao mundo. Ela partiu em 2023 e não pôde ver esse registro, mas seus descendentes verão. É uma realização imensa poder escrever sobre eles nessa plataforma, cuja proposta dignifica a vida de tantas pessoas que fizeram parte ativamente da construção de um Brasil mais justo e solidário. Contar a própria história é fundamental para a construção de uma nova História.
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