Memórias que Não Afundam: histórias que resistem em Maceió

O projeto Memórias que Não Afundam nasce para guardar o que sustenta uma comunidade: as memórias e as vivências de quem enfrentou e enfrenta o desastre socioambiental em Maceió. A ação acompanha de perto as histórias dos moradores dos bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto, Vergel e Farol, onde a mineração provocou o afundamento de solo e transformou, de forma profunda, a vida de quem cresceu e criou raízes ali.

A partir desse contexto, o Museu da Pessoa, no âmbito do Programa Nosso Chão, Nossa Historia, reuniu relatos de dezenove pessoas atingidas. Cada narrativa revela o antes, o durante e o depois de uma ruptura que marcou a cidade e continua presente no cotidiano das comunidades. Essas memórias, juntas, mostram a força de quem resiste e a importância de preservar essas histórias.

🔗 Saiba mais sobre o projeto

Como o projeto Memórias que Não Afundam foi criado

O projeto Memórias que Não Afundam nasce a partir do Programa Nosso Chão, Nossa História, que atua na reparação dos danos extrapatrimoniais — impactos que atingem memória, identidade e vínculos comunitários. O Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais coordena o Programa, enquanto o UNOPS (Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos da UNO) conduz sua operação. Juntas, as entidades fortalecem o território e impulsionam ações de reparação moral coletiva.

Nesse contexto, o Museu da Pessoa entra como parceiro implementador. O Programa selecionou o projeto Memórias que Não Afundam na primeira geração de editais. Assim, começou um trabalho profundo de resgate da memória dos bairros afetados e de suas relações com o meio ambiente.

Um dos relatos registrados foi o de Elisa Oliveira de Moraes: “Foi me causando revolta, quando eu comecei a ver as casas sem portas, sem telhas… Muitas pessoas tinham pichado as paredes, pedindo justiça.”

Participantes com o certificado da formação oferecida pelo Museu da Pessoa.

Protagonismo de quem viveu a perda

O projeto envolve tanto a formação de pessoas atingidas quanto a captação e a disseminação de histórias de vida do território afetado. Para isso, o Museu da Pessoa formou 12 pessoas impactadas pelo desastre socioambiental em Maceió com a Tecnologia Social da Memória (TSM), criada para escutar, registrar e disseminar histórias de vida. 

Com os conhecimentos adquiridos nessa formação, essas pessoas realizaram entrevistas com 19 moradores das comunidades atingidas. As histórias reunidas fizeram parte de um minidocumentário e de uma exposição digital, com 19 vídeos editados, e de um teaser, com o objetivo de garantir que essas vozes sejam conhecidas e compartilhadas com o mundo. Juntos, os participantes definiram as narrativas, escolheram os materiais e construíram a forma final do acervo digital para divulgar os resultados do projeto.

Última aula do projeto.

Memórias que não afundam na exposição digital

A exposição é um mergulho afetivo e, ao mesmo tempo, contundente. Ela reúne fotos, vídeos, reportagens e depoimentos. Todos eles mostram origens, conquistas e também dores. Dessa forma, ela revela tanto a vida que existia nos bairros quanto a ruptura causada pelo desastre. Vizinhanças se separaram. Patrimônios se perderam. Laços foram interrompidos.

Na exposição, também há um mapa interativo que localiza cada bairro e seus espaços de memória: escolas, praças, mercados, ruas, igrejas e pontos de convivência. Além disso, a linha do tempo ajuda o público a entender a sequência de fatos desde o início da exploração de sal-gema em Maceió. 

A exposição, realizada pelos participantes do projeto Memórias que Não Afundam, foi feita com o Memô, tecnologia desenvolvida pelo Museu da Pessoa para criar exposições digitais. Visando a colaboração e autonomia, qualquer pessoa pode contribuir com a iniciativa ao contar sua história na exposição e entrar para o acervo.

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Evento de culminância de memórias que não afundam

O projeto Memórias que Não Afundam teve seu evento de culminância no dia 28 de novembro, no auditório do Sinteal, em Maceió. O encontro, realizado com o apoio do Nosso Chão, celebra a força da memória, da identidade e da resistência de quem viveu e vive os efeitos do desastre.

Durante a noite, o público acompanhou a apresentação do percurso metodológico, ouviu relatos de moradores e assistiu a registros produzidos ao longo das atividades. Houve também espaço para diálogo sobre memória, território e reparação. Assim, a culminância encerra uma etapa, mas também abre outra: a continuidade das histórias que não podem afundar.

Falas institucionais do evento de culminância.

Um esforço contra o esquecimento

Os bairros atingidos não podem ser definidos apenas pela tragédia. Eles formam parte essencial da história de Maceió. Além disso, eles moldaram vidas, identidades e pertencimentos. Por isso, os depoimentos da exposição revelam o valor humano dos territórios.

O projeto atua em duas direções. Primeiro, como gesto de resistência. Ele reconstrói vínculos e reafirma pertencimentos. Depois, como registro histórico. Ele mostra as consequências profundas do afundamento, desde o impacto ambiental até as rupturas sociais.

Assim, Memórias que Não Afundam convida o público a enxergar a dimensão humana do desastre. Cada relato mostra como a desocupação forçada afetou moradores de formas diferentes. E, ao mesmo tempo, reforça algo essencial: mesmo diante da perda, as histórias seguem vivas.

O Museu da Pessoa é parceiro do Programa Nosso Chão, Nossa História, uma iniciativa realizada pelo Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais (CGDE) e o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS/ONU) voltada à reparação de danos morais coletivos causados pelo afundamento do solo em Maceió. As atividades e ações realizadas pelos parceiros refletem suas próprias abordagens e responsabilidades, alinhadas aos objetivos do Programa.