Memória indígena: jovens Enawenê Nawê registram histórias de seu povo

A memória indígena preserva saberes ancestrais, línguas originárias e modos de vida que resistem há séculos. Além de ser um valor histórico, ela representa um compromisso fundamental com o futuro, especialmente diante das ameaças aos territórios e às culturas.

Por isso, registrar essas histórias fortalece identidades, protege patrimônios imateriais e amplia o protagonismo dos próprios povos na condução de suas narrativas.

📌 Museu nos Territórios – ENAWENÊ NAWÊ

Preservação da memória indígena no território Enawenê Nawê

No Mato Grosso, o projeto Memória, Território e Patrimônios Imateriais exemplifica esse esforço de preservação. Desde maio de 2024, o Museu da Pessoa atua junto aos Enawenê Nawê para que jovens da comunidade documentem suas histórias e saberes em colaboração com conhecedores mais velhos.

Com a participação de cerca de 30 jovens, o projeto de preservação da memória indígena apresenta metodologias de entrevista e técnicas de gravação e edição de vídeos. Assim, eles realizam entrevistas com anciãos e conhecedores tradicionais da aldeia, sempre em sua própria língua. Um dos objetivos é salvaguardar e disseminar os patrimônios imateriais.

Entre eles está o ritual Yãokwa, prática central na vida espiritual e social dos Enawenê Nawê. Esse ritual foi reconhecido oficialmente como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Iphan em 2010 e, no ano seguinte, incluído na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial que Necessita de Medidas Urgentes de Salvaguarda, da UNESCO.

Ritual Yãokwa, que estava acontecendo no período da conclusão do projeto na aldeia Enawenê Nawê. Créditos da imagem: Aline Scolfaro.

“Aprendemos a filmar, editar e registrar as histórias dos nossos ancestrais. Isso é novo para a gente, foi muito bom. Homens e mulheres participaram, e esse trabalho vai ficar para as futuras gerações.”
Taola Enawene, jovem participante

“Essa terra tem história. Tudo tem memória: a floresta, as águas, os cantos, os animais e os humanos. Quero registrar essas histórias com o Museu da Pessoa para não perdê-las. Isso é importante para meus netos, para o meu povo e para o nosso espírito, que respira com a nossa história.”
Lolawenakwaene Enawene, cacique e sotakatali

📌 Coleção de histórias “Indígenas pela Terra e pela Vida”

Culminância do projeto na aldeia Enawenê Nawê

Entre os dias 22 de junho e 5 de julho, o projeto Memória, Território e Patrimônios Imateriais chegou à sua fase de conclusão na aldeia Enawenê Nawê. Nesse período, os jovens finalizaram a construção de um documentário a partir das histórias de vida registradas e ao final o exibiram para toda a aldeia. 

Também foi realizada a formatura dos jovens participantes, com a presença de parentes e de todos os caciques e anciãos que tiveram as suas histórias de vida registradas. Na ocasião, foram os conhecedores que entregaram os certificados de Guardiões da Memória aos jovens formados.   

Formatura dos Guardiões da Memória. Créditos da imagem: Diana Freixo.

Foram momentos de muita alegria e emoção para todos que estiveram envolvidos no processo. Além disso, teve também a implementação da Floresta de Histórias, com o plantio de mudas nativas em homenagem aos anciãos e conhecedores. Cada muda representa uma das pessoas que teve sua história registrada, simbolizando a vida que permanece. Essa ação contou com a parceria do projeto Buriti, que, apoiado pela Funai, mantém o viveiro de mudas da aldeia através do trabalho dos Agentes Indígenas Ambientais Enawenê Nawê.

Por fim, com a participação dos jovens e caciques, foram debatidos caminhos para a continuidade das ações de registro das histórias Enawenê Nawê. As ações da etapa de culminância ocorreram em meio a um período intenso do ritual Yãokwa, que teve início no mês de fevereiro e deve seguir até o mês de agosto, mostrando a força da cultura e da vida espiritual do povo Enawenê Nawê. 

Jovens Enawene construindo o roteiro do documentário. Aline Scolfaro.

“Aprendi muito com o curso e com as histórias dos anciãos, muitas que eu nunca tinha ouvido. Quero guardar essas memórias para contar aos meus filhos e netos. No futuro, quero criar um projeto para fortalecer ainda mais nossa cultura.”
Kawali Yotose Enawene, jovem participante e articulador local

“Estou muito feliz com o projeto e com os jovens que participam. Eles estão aprendendo nossas histórias, registrando, e isso era exatamente o que eu queria: ver esse trabalho com nossa juventude.”
Kalaina Enawene, cacique e sotakatali

Outras ações de preservação da memória indígena

O projeto Memória, Território e Patrimônios Imateriais ocorre ainda em outros territórios com patrimônios culturais imateriais reconhecidos. Entre 2024 e 2025, as ações de preservação de memória indígena também vêm sendo realizadas junto ao povo Iny Karajá com o envolvimento de 28 jovens de seis aldeias localizadas às margens do rio Araguaia. Eles são detentores das Ritxòkò, bonecas de cerâmica que são uma importante expressão de sua cultura.

Jovens Karajá entrevistando anciã na aldeia Hawalo. Créditos da imagem: Hariama Karajá.

E, em 2026, a iniciativa continuará com os Wajãpi, do Amapá, que têm a sua arte gráfica reconhecida como patrimônio cultural imaterial; e também com as comunidades que mantêm a tradição do boi bumbá no Médio Amazonas.

Conheça outros projetos realizados pelo Museu da Pessoa deste Programa:

📌 Exposição digital Patrimônios do Rio Negro

📌 Exposição digital Vidas Indígenas Maranhão

O projeto recebe recursos por meio do Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC 222467) do Ministério da Cultura, com apoio financeiro do BNDES e patrocínio da TecBan, além da parceria com o Museu dos Povos Indígenas – Funai e da cooperação técnica com a UNESCO e com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).