Desastre socioambiental em Maceió: Museu da Pessoa participa de Programa de reparação de danos extrapatrimoniais

O desastre socioambiental em Maceió atingiu e atinge milhares de famílias que residiam nos bairros de Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol, além das que ainda permanecem nas regiões de borda dos bairros afetados. Casas foram abandonadas e histórias foram prejudicadas. Além de perdas materiais, o desastre, que causou o deslocamento forçado de quase 60 mil pessoas, causou a ruptura de vínculos comunitários, em seus diferentes níveis, e a perda das relações com o território.

Nesse contexto, o Museu da Pessoa é um dos parceiros implementadores do Programa Nosso Chão, Nossa História, coordenado pelo Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais e operacionalizado pelo Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS). A organização teve um projeto de reparação selecionado na primeira geração de editais do Programa, que prevê o resgate da memória do convívio nos bairros afetados e a relação com o meio ambiente em Maceió.

📌O que são Histórias de Vida? Descubra com o Museu da Pessoa

Reparação dos danos causados pelo desastre socioambiental em Maceió

O Programa Nosso Chão, Nossa História atua com a reparação de danos extrapatrimoniais causados pelo desastre socioambiental da mineração em Maceió — ou seja, danos que não envolvem perdas materiais ou financeiras, mas sim prejuízos emocionais, sociais e culturais. Esses impactos influenciam profundamente a vida das pessoas atingidas, e afetam vínculos com o território, laços comunitários e o senso de pertencimento.  Conheça mais sobre o Programa

Com esse propósito, em 2024, o Programa lançou os primeiros editais voltados a organizações da sociedade civil (OSCs) para apresentação de projetos visando a reparação de danos morais coletivos causados pelo desastre. O Museu da Pessoa é um dos parceiros implementadores selecionados nesta primeira rodada de editais.

Formação em entrevistas de história de vida do "Nosso Chão, Nossa História", projeto de reparação do desastre socioambiental em Maceió. Uma mulher está sentada, com um refletor no rosto. A sua frente, há pessoas sentadas.
Formação em entrevistas de história de vida do “Nosso Chão, Nossa História”.

O papel do Museu da Pessoa na reconstrução da memória

O projeto envolve tanto a formação de pessoas atingidas quanto a captação e a disseminação de histórias de vida do território afetado. Para isso, o Museu da Pessoa está formando 12 pessoas impactadas pelo desastre socioambiental em Maceió com sua Tecnologia Social da Memória (TSM) — metodologia criada para escutar, registrar e disseminar histórias de vida. 

Com os conhecimentos adquiridos nessa formação, essas pessoas realizarão entrevistas com 15 moradores das comunidades atingidas. As histórias reunidas farão parte de uma exposição digital, de 15 vídeos editados e de um teaser das entrevistas, com o objetivo de promover o resgate da memória do convívio nos bairros afetados e a relação com o meio ambiente — e de garantir que essas vozes sejam conhecidas e compartilhadas com o mundo.

Participantes e equipe local da Formação em Tecnologia Social da Memória do Museu da Pessoa no projeto de reparação do desastre socioambiental em Maceió. Eles estão todos um ao lado do outro, em pé e sorrindo.
Participantes e equipe local da Formação em Tecnologia Social da Memória do Museu da Pessoa.

Etapas do projeto em Maceió

A ação está sendo realizada em quatro etapas principais, combinando formação, produção de acervo e mobilização comunitária:

  • Construir (maio-junho): os participantes passam por formação teórica e prática sobre memória, história de vida e patrimônio imaterial. Em seguida, o grupo define os temas das entrevistas e constrói uma linha do tempo das comunidades atingidas.
  • Organizar (julho): depois disso, as equipes organizam o material coletado, elaborando minibiografias, sinopses e palavras-chave. Também catalogam fotos e documentos históricos.
  • Socializar (agosto): nesta fase, o projeto transforma o acervo em conteúdos acessíveis, com foco em audiovisual. O resultado será uma exposição digital aberta ao público.
  • Culminância (outubro): ao final, um evento presencial reunirá a comunidade para celebrar o projeto e lançar oficialmente a exposição virtual com as 15 histórias coletadas.

Por que preservar as memórias após o desastre socioambiental em Maceió

O desastre causado pela mineração não afetou apenas estruturas físicas – ele provocou e provoca danos que não se medem, mas se sentem na vida das pessoas Ele prejudicou vínculos afetivos, memórias de infância, rotinas e redes de convivência. Por isso, ouvir, registrar e disseminar as histórias dessas pessoas atingidas é um gesto de valorização, reparação e memória.

Além disso, preservar essas histórias ajuda a fortalecer o senso de pertencimento das pessoas ao território e à comunidade. Ao promover a escuta e o resgate simbólico das comunidades afetadas, o Museu da Pessoa reafirma a importância da memória coletiva como ferramenta de reconstrução social.

O projeto contribui não apenas no registro de histórias dos territórios afetados, mas também na ressignificação do que foi e é vivido e na reconstrução afetiva e coletiva de um novo capítulo.

O Museu da Pessoa é parceiro do Programa Nosso Chão, Nossa História, uma iniciativa realizada pelo Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais (CGDE) e o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS/ONU) voltada à reparação de danos morais coletivos causados pelo afundamento do solo em Maceió. As atividades e ações realizadas pelos parceiros refletem suas próprias abordagens e responsabilidades, alinhadas aos objetivos do Programa.