Projeto: Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Wilmar Carneiro Barbosa
Entrevistado por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 25/06/2008
Realização do Instituto Museu da Pessoa.Net
Entrevista PETRO_CB438
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde, Wilmar.
R – Boa tarde, Márcia.
P/1 – Gostaria de começar a entrevista pedindo que você nos diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Wilmar Carneiro Barbosa, eu nasci no Rio de Janeiro, em seis de março 1960.
P/1 – Qual é a sua formação, Wilmar?
R – Eu me formei em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, trabalhei depois durante três anos na área nuclear, na Comissão Nacional de Energia Nuclear. Em 1987 eu entrei para a Petrobras e desde então trabalho na Petrobras.
P/1 – Fez aquele curso de especialização em engenharia de petróleo na Bahia?
R – Isso, fiz um ano e dois meses, um ano e três meses na Bahia e logo depois fui trabalhar na Bacia de Campos, em março de 1998. Desculpe, 1988.
P/1 – Então você saiu do curso e foi direto para a Bacia.
R – Isso, direto para a Bacia de Campos.
P/1 – Você se especializou em produção, tinha uma escolha, né, no curso?
R – É, na época eu entrei para a parte de poço, né, trabalhei 12 anos na área de poço, depois eu fiquei cinco anos na área de plataforma de produção e nos últimos três anos eu vim trabalhar no Rio de Janeiro, foi quando eu mudei para o Rio de Janeiro, 2004, na área de implantação de novos projetos e atualmente na Gerência de Projetos de Construção e Montagem da UN-Rio, recentemente criada no final de 2007.
P/1 – Então vamos voltar lá para o princípio.
R – Vamos.
P/1 – Você terminou o curso, a especialização, e foi para Macaé, como foi a sua ligação com a Bacia, você veio para essa parte toda de...?
R – Eu trabalhei na parte de E&P sempre, e logo...
P/1 – Mas aqui no Rio ou lá?
R – Não, sempre em...
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Depoimento de Wilmar Carneiro Barbosa
Entrevistado por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 25/06/2008
Realização do Instituto Museu da Pessoa.Net
Entrevista PETRO_CB438
Transcrito por: Maria Luiza Pereira
P/1 – Boa tarde, Wilmar.
R – Boa tarde, Márcia.
P/1 – Gostaria de começar a entrevista pedindo que você nos diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Wilmar Carneiro Barbosa, eu nasci no Rio de Janeiro, em seis de março 1960.
P/1 – Qual é a sua formação, Wilmar?
R – Eu me formei em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, trabalhei depois durante três anos na área nuclear, na Comissão Nacional de Energia Nuclear. Em 1987 eu entrei para a Petrobras e desde então trabalho na Petrobras.
P/1 – Fez aquele curso de especialização em engenharia de petróleo na Bahia?
R – Isso, fiz um ano e dois meses, um ano e três meses na Bahia e logo depois fui trabalhar na Bacia de Campos, em março de 1998. Desculpe, 1988.
P/1 – Então você saiu do curso e foi direto para a Bacia.
R – Isso, direto para a Bacia de Campos.
P/1 – Você se especializou em produção, tinha uma escolha, né, no curso?
R – É, na época eu entrei para a parte de poço, né, trabalhei 12 anos na área de poço, depois eu fiquei cinco anos na área de plataforma de produção e nos últimos três anos eu vim trabalhar no Rio de Janeiro, foi quando eu mudei para o Rio de Janeiro, 2004, na área de implantação de novos projetos e atualmente na Gerência de Projetos de Construção e Montagem da UN-Rio, recentemente criada no final de 2007.
P/1 – Então vamos voltar lá para o princípio.
R – Vamos.
P/1 – Você terminou o curso, a especialização, e foi para Macaé, como foi a sua ligação com a Bacia, você veio para essa parte toda de...?
R – Eu trabalhei na parte de E&P sempre, e logo...
P/1 – Mas aqui no Rio ou lá?
R – Não, sempre em Macaé.
P/1 – Sempre em Macaé.
R – Logo em 1988, eu comecei a trabalhar embarcado na área de poço, trabalhei durante quatro anos embarcado na área de poço como fiscal de sonda, de completação. Na época, a completação era separada da perfuração. Então eu fiquei na área de completação, que é o que a gente faz num poço depois que ele é perfurado, equipar o poço para botar ele em produção. Aí eu trabalhei quatro anos direto nisso, depois desses quatro anos embarcado eu vim...
P/1 – Só para a gente explorar um pouco esse teu trabalho embarcado.
R –Tá, vamos lá, sem problema!
P/1 – Para não ser tão rápido.
R – Tá bom.
P/1 – Eu sei, você está com muita pressa mas é para eu poder explorar um pouquinho.
R – Não, não, não, nenhuma. Pode ficar à vontade.Você dita o ritmo.
P/1 – Esse período embarcado, esse trabalho não tem um campo específico que você trabalhava, você ficava rodando pela Bacia.
R – Isso.
P/1 – Conta pra gente um pouco como é que é esse trabalho, como era esse cotidiano de trabalho, o quê que você já encontrou na Bacia, como é que estava...
R – Tá! Então, quando eu cheguei na Bacia, as plataformas hoje chamadas fixas, de lâmina d’água rasa: Namorado, Cherne, Pólo Nordeste, Pargo Vermelho, já estavam todas implantadas, mas a gente já vinha num crescente da perfuração de poços submarinos, né, com as plataformas semi-submersíveis, mas nós tínhamos ainda poucas plataformas que estavam produzindo nessa área nesse tipo de plataforma. Eu basicamente, eu trabalhei quase todos esses meus quatro anos embarcado em plataformas fixas. Havia uma divisão na época na parte de completação de poço: plataformas submersíveis e plataformas fixas. As plataformas fixas elas tinham sondas em cima, as antigas SMs e SPMs, e eu trabalhei praticamente nesses quatro anos nessas plataformas trabalhando nos poços dessas plataformas.
P/1 – Em quais que você trabalhou?
R – De tudo, trabalhei Cherne, Garoupa, Namorado, todas do Pólo Nordeste que tinham sonda, então eu circulei por praticamente todas as plataformas; Pampo na área Sul, Enchova, e os dois últimos anos desses quatro, eu trabalhei na recuperação dos poços de Enchova após o incêndio que destruiu a plataforma.
P/1 – O incêndio foi 80 e...
R – Eu cheguei em 88, fiquei até 92 trabalhando nessa função de fiscal.
P/1 – Mas o incêndio em Enchova foi 80 e...
R – Não, ocorreram dois incêndios em Enchova, teve um primeiro que não destruiu, foi apenas um problema na sonda específico, foi controlado e o segundo, que realmente destruiu toda a plataforma foi mais na frente, deve ter sido em coisa de 90 e depois a gente tirou tudo que tinha em cima da jaqueta de Enchova, da parte fixa, começou a reconstruí-la aos poucos e a primeira coisa que foi, foi uma sonda de intervenção em poços e eu passei dois anos lá trabalhando na recuperação dos poços para recolocá-los em produção.
P/1 – E você tinha alguma preferência por alguma plataforma, existe isso, ou é indiferente?
R – Eu diria que essa vida de poço ela é uma vida itinerante. Então você pode até gostar mais de uma plataforma pelo conforto, pelas pessoas, mas você trabalha em qualquer uma delas, né?
P/1 – O conforto qual era a que você preferia?
R – Hã?
P/1 – Qual era a que você preferia como conforto?
R – Como conforto Pampo era uma das melhores, né, mas depois Enchova, mesmo sem o conforto, né, porque a gente começou a botar container alojamento nessa recuperação, nessa fase, mas foi um trabalho muito interessante. Então, apesar da falta de conforto, foi um trabalho muito gratificante pela diferença dele, né, que era você pegar aqueles poços totalmente destruídos, a região toda da cabeça de poços estava tudo destruído e fazer uma recuperação passo-a-passo_____ poços. Dava muito trabalho, dormia-se muito pouco, como se dorme em qualquer atividade de poço, não tem horário e o ritmo é extremamente acelerado, mas era um trabalho que eu gostava muito. Muito gratificante, mas que depois de quatro anos eu achei que estava na hora de trabalhar num ritmo diferente, aí eu passei a trabalhar em terra.
P/1 – Deixa eu perguntar, desse trabalho de recuperação de Enchova, foi um desafio, como é que era, foi uma dificuldade?
R – Foi um desafio porque...
P/1 – O quê que ele representou também para você, se foi especial para você?
R – Sem falsa modéstia, foram escolhidas algumas pessoas chaves para fazer esse trabalho, nós éramos em três revezando, a princípio éramos em dois porque era escala 14 por 14 que tínhamos antigamente, no finalzinho é que começamos a ter três fazendo 14 por 21, era um trabalho interessante porque ele fugia da normalidade. Então você tinha características diferentes no trabalho, você tinha desafios diferentes, preocupações com segurança além do normal do trabalho em poço, né, porque você tinha às vezes um vazamento de gás pelos equipamentos danificados pelo fogo, pela temperatura, né, as vedações não funcionavam, então você tinha que ter uma série de preocupações e nessa recuperação dos poços até trabalhos diferentes, envolvendo mais a área de perfuração, que era de revestimento e cimentação, a gente começou a ter que fazer também para poder recuperar os poços no estado que eles ficaram depois do incêndio. Então teve uma série de desafios bastante interessantes.
P/1 – Deixa eu te fazer uma pergunta bem de leigo: a recuperação de um poço que teve um incêndio, no mar, lá embaixo também ele... O quê que danifica, assim, bem...
R – Não, na verdade não danifica lá em baixo, né, você (danificou?) toda a parte de superfície que estava no topo da jaqueta. Mas, ao mexer naquilo, você não mexe só naquele equipamento, né, a cabeça de poço tem os revestimentos todos que você desce compondo um poço nos diversos diâmetros, eles estão ancorados ali em cima naquela cabeça de poço. Para substituir uma cabeça de poço dessas, você tem que começar a retirar alguns revestimentos internos, pelo menos parte deles. Então você tinha que descer ferramentas que cortavam esses revestimentos a 1000, 1000 e poucos metros, recuperar os revestimentos, recuperava o outro que vinha depois num diâmetro mais largo, né, eu pegava o mais fino, de menor diâmetro e ia recuperando, retirando esses até chegar às vezes no de 20 polegadas, onde você fazia a recuperação da cabeça de poço propriamente dita e tinha que ir retornando aos poucos re-conectando esses revestimentos de diâmetros inferiores que você havia retirado e ancorando novamente todos eles nessa cabeça de poço. Então o dano estava ali em cima, mas a medida que para mexer lá em cima eu tinha que mexer nos revestimentos até uma profundidade bastante razoável, a gente começou a mexer em trabalhos que não eram o cotidiano da completação.
P/1 – Vocês tinham uma equipe então bastante complexa, né, para ter um pouco de especialização?
R – Isso, a tinha a equipe da sonda normal que qualquer sonda tem para movimentar os equipamentos da sonda, mas tinha o suporte dos diversos setores diferentes da engenharia de poço que auxiliavam nesse trabalho. Então tinha pessoal específico da área de revestimento, da área de cimentação, da área de pescaria, né, a palavra peixe eu acho que já é um tradicional na área, para quem assistir a esse filme vai entender claramente, a gente tinha que recuperar algumas coisas que ficaram dentro do poço, né, para depois conseguir _______ nesses revestimentos, substituí-los, trocá-los, então tinha uma série de técnicos especialistas que apoiavam esse engenheiro fiscal de sonda, que era o papel que eu fazia. Então a gente coordenava a atividade da sonda propriamente dita, com todo esse suporte das demais gerências.
P/1 – Você pode explicar para quem não é da área e quem não conhece também o mundo do petróleo, o que é uma pescaria?
R – Normalmente quando a gente deixa alguma coisa no poço, né, que um poço ele tem lá todos os seus revestimentos que o compõem, até o revestimento de produção que é o de menor diâmetro, depois vem o pessoal da completação aí equipa esse poço com uma série de equipamentos para trazer o óleo lá de baixo em segurança até a superfície e ir para planta de processo de uma plataforma. Então, à medida que você desequipa um poço que na época já podiam ser considerados como poços velhos, os de Enchova, muitas vezes você não consegue recuperar todos os equipamentos de uma vez só. Os pedaços que sobram a gente chama de “peixe” e existem ferramentas especiais, técnicas especiais e um grupo de técnicos especiais, né, acostumados a fazer esse tipo de trabalho, desce ferramentas específicas para recuperar esses pedaços que ficaram lá dentro. Isso é uma pescaria para nós.
P/1 – Tem um grupo todo especialista em pescaria?
R – Temos até hoje, tínhamos e continuamos tendo um grupo especialista em fazer pescarias em poços.
P/1 – Wilmar, vou perguntar também antes da gente passar para a outra fase quando você cansou de embarcar, eu quero te perguntar a sua primeira sensação ao embarcar, o quê que você sentiu?
R – Ou você gosta ou não gosta. Aquilo é ame-o ou deixe-o, né? Então, quando a gente chegou na Bacia de Campos no começo de 1988, a gente foi fazer um estágio, passar pelas diversas áreas que a gente podia escolher, né? E eu gostei muito o trabalho embarcado, era totalmente diferente do que eu jamais tinha imaginado em poder fazer, então, você à noite numa plataforma daquelas olhar ali na beirada e ver todas aquelas outras aquelas luzinhas é um negócio muito interessante, então eu gostei do serviço, eu me encantei com aquilo, então vou tentar a vaga para aquilo. Consegui, felizmente, né, e depois você vai pegando o gosto pelo serviço e aquilo se torna uma rotina para você, você trabalhar aqueles 14 dias, principalmente na área de poço em que não tem sossego, não tem descanso, não tem hora parada, que eu acho que o pior ali é você não ter o que fazer, e você estando ocupado direto, aqueles 14 dias passam rapidamente e você se identificando bem com o serviço eu acho que isso é que é importante. Há pessoas que se forçam a trabalhar naquilo, talvez para morar num lugar específico pelo acréscimo que o salário lhe dá, mas a pessoa não consegue viver muito tempo disso e não vive satisfeito. Quatro anos que eu passei lá eu passei muito satisfeito e quando tomei a decisão, “não, agora chega, tô cansado dessa rotina”, também foi uma decisão normal em que não me impactou nem financeiramente, nem o fato de eu ter que depois passar a morar em Macaé, que eu não morava, né? Morei 12 anos em Macaé sem o menor problema.
P/1 – E aí então, quando você parou de embarcar você permaneceu ainda em Macaé...
R – Fiquei em Macaé até 2004.
P/1 – É, 2004 , e aí você foi para que área?
R – Eu continuei na área de poço, trabalhei dois anos em terra acompanhando de terra aquele serviço que eu fazia no mar, aí não tomando conta apenas de uma sonda, mas de várias sondas, variava de seis a dez plataformas de dez sondas que nós tomávamos conta, né, ditando e dando as orientações para os trabalhos que os nossos colegas engenheiros fiscais faziam a bordo. Depois desses dois anos, essa empresa é uma empresa de oportunidades ímpares, né, então eu comecei uma carreira gerencial na área de poço, eu fui gerenciar durante quase cinco anos a parte de equipamentos de poços, onde aí nós incluíamos os equipamentos descidos dentro do poço pela completação, fornecimento de revestimentos para a perfuração dos poços, todo o equipamento de superfície e gerenciava também os contratos de prestação de serviços: cimentação, estimulação, canhoneio, perfilagem, contrato dessas firmas que a gente hoje conhece, o __________, ___________, _______. Então durante cinco anos eu fui gerente disso tudo ainda co-relato a área de poço.
P/1 – Nesse período, Wilmar, desde a sua entrada até então, Marlim então já tinha sido descoberto e eu queria saber então o quê que mudou com a entrada desses super-campos...
R – Hum, hum.
P/1 – Como foi recebida e o quê que modificou lá no dia-a-dia de vocês?
R – É, Marlim, quando eu cheguei lá Marlim já estava naquela descoberta lá, delimitando, vendo o tamanho daquele campo, que como diz um ex-gerente geral nosso aqui da UN-Rio: “Jamais vamos encontrar outro campo como aquele”, aquilo foi uma particularidade enorme e o que isso mostrou foi: a Bacia de Campos tem futuro, o futuro está em lâminas d’águas cada vez mais profundas, né, depois de Marlim vieram outras descobertas interessantíssimas que mostravam que nós estávamos no caminho certo e que dependíamos do desenvolvimento de tecnologia para poder aproveitar aquilo que estávamos descobrindo. E nessa área de equipamentos de poços, a gente acompanha essa evolução porque a gente tinha que se adaptar aos novos equipamentos, as novas ferramentas que nós precisávamos para trabalhar nessas fronteiras novas. E isso mantinha a gente atualizado com essas novidades, fosse de Marlim ou de outros poços que vieram depois, como Roncador, que é outro gigante que a gente descobriu na Bacia de Campos.
P/1 – Mais profundo também, né?
R – Há dois mil metros de lâmina d’água, vai de 1500 a dois mil metros, né?
P/1 – Eu também queria que você falasse desse período, qual era a maior dificuldade nessa área... Você pode até falar a diferença entre gerenciar e estar lá na linha de frente.
R - Tá. As duas coisas são muito interessantes, mas eu acho que cada coisa tem seu tempo, né? A gente evolui, né, como tudo, e aquele tempo de estar na linha de frente foi muito bom, mas o tempo de gerenciar também estava sendo muito interessante, foi uma oportunidade ímpar, como eu já citei e a gente tinha uma visão diferente, você começa a ter uma visão mais ampla do negócio. Quando você está trabalhando numa plataforma você tem a visão focada naquele seu poço, cada quinzena é um poço diferente, mas é aquele poço a sua vida naqueles 14 dias. Gerenciando você começa a ter uma visão mais ampla, não só técnica do negócio, mas como você começa a lidar com pessoas. Eu acho que o maior dom de um bom gerente é saber lidar com pessoas, seja com os seus subordinados, com os seus (pares?) e para cima também, né, é uma arte isso. Fazer um bom trabalho nisso é uma arte. Eu acho que isso amplia a visão, né, essa oportunidade de gerenciar. Mas ao mesmo tempo você ainda no nível de gerência que era, você não perdia o contato com a área técnica, você tinha que estar atualizado na área técnica, porque dependia de você trazer a novidade para os seus fornecedores de equipamentos para aqueles desafios e viabilizar aquelas novas tecnologias, novos equipamentos para aquele dia-a-dia que se apresentava. E o grande desafio era você conseguir a tempo e a hora as novidades que as pessoas queriam. Muitas vezes a demanda de quem está lá na frente é uma e o tempo para você disponibilizar aquilo para ele é outro. E a pressão é sempre grande, assim como sempre foi nessa empresa e vai continuar sendo. Mas você conseguir disponibilizar todas as novidades para todas aquelas plataformas que vinham chegando, aumentando aquela frota de plataformas; é porque Marlim e outros campos menores, mas tão importantes quanto, trouxeram uma demanda enorme de todos os recursos, fossem de barcos, de rebocadores, de sondas e de todos os equipamentos que a gente precisava para trabalhar no poço.
P/1 – E atender a todos ao mesmo tempo acabava sendo complicado.
R – É, é um jogo de cintura, porque é uma disputa de recursos finitos, né, que a gente sempre quer mais do que aquilo que a gente tem disponível e a gente tem que fazer com que aquilo seja dividido para atender a cada um dentro da sua prioridade, né, e a prioridade em petróleo varia em termos de produção, o poço que produz mais é o prioritário para receber aquele equipamento quando a gente não tem para todos, mas o grande desafio é que eu acho que a gente, de certa forma, conseguiu e consegue nessa empresa resolver, é conseguir disponibilizar o suficiente para no tempo ir atendendo a todos, sem prejuízo da campanha de produção que a gente que alcançar, né, nas nossas metas de produção de óleo e gás, que é o objetivo final, a gente não faz poço pelo poço, a gente faz poço para botar óleo para frente.
P/1 – Queria que você me remarcasse, você trabalhou também com essa parte toda de equipamento, quais foram os grandes ganhos, né, a evolução ao longo desse tempo. Desde que você entrou, o quê foi um avanço que você remarca assim: “Isso foi importante.”
R – Eu acho que o grande avanço que a Petrobras teve e que a gente não pode fazer nenhuma dissociação é a gente ter ido para lâminas d’água cada vez mais profunda. Em termos de poço a gente tinha que ter equipamentos diferentes para encarar essa lâmina d’água mais profunda, mas principalmente em termos da cabeça de poço no fundo do mar, que era um equipamento distinto e que a medida em que a gente ia para lâminas d’água mais profundas a gente teve que ir adaptando esses equipamentos. E a árvore de natal que vinha, né, que é um conjunto de válvulas que fica na cabeça de poço para controlar o fluxo do poço no fundo do mar. Essa foi a que sofreu a grande evolução e que (relevou?) a Petrobras a ser líder desse mercado de produção em águas profundas. Ao mesmo tempo, as ferramentas que a gente usava dentro dos poços também sofreram evoluções não à vezes associadas a lâminas d’água, mas associada à complexidade das ferramentas, né? Essas ferramentas de poço de perfilagem, de canhoneio, de contenção de areia dentro dos poços – a gente produz de arenitos que muitas eu tenho que instalar equipamentos para não deixar a areia vir junto com o óleo, porque ela é prejudicial à produção, aos equipamentos. Então esses equipamentos evoluíram e continuam evoluindo numa velocidade muito grande. A gente tinha que acompanhar isso para ter sempre em (prateleira?), com os nossos contratados ou com equipamentos próprios o último equipamento disponível no mercado em termos de tecnologia, porque isso é que possibilitava a gente, nessa lâmina d’água profunda, onde os custos são muito mais caros do que furar poços, fazer poços numa lâmina d’água rasa numa plataforma fixa. Eu tinha que ter a melhor ferramenta disponível para furar aquele poço da melhor maneira possível, mais rápido, né, e achando o reservatório, o óleo, da melhor maneira possível. Então, a evolução dessas ferramentas, trazer essas novidades, era o grande desafio do dia-a-dia.
P/1 – Você sabe me explicar se a própria Petrobras ali no dia-a-dia e pela experiência prática, até a ajudava a empresa: “olha, desenha isso de uma forma melhor porque isso aqui para a gente não funciona”, vocês faziam recomendações?
R – Certamente, certamente.
P/1 – Como é que funcionava isso?
R – Houve uma parceria enorme, porque o nosso negócio é produzir óleo e gás, não é desenvolver equipamentos. Mas nós temos uma equipe técnica de uma capacitação enorme, né, seja na E&P, em poço, seja no Cenpes, nas demais áreas em que a Petrobras se envolve, ela tem uma equipe própria de uma capacitação enorme. E essa equipe, sem dúvida nenhuma, ela participou do desenvolvimento desses equipamentos. Quando a gente compra um equipamento de um fabricante, seja uma árvore de natal, um equipamento de poço, a gente não está comprando equipamento; às vezes compra, mas na maioria dos casos nessa evolução principalmente para lâmina d’água profunda, a gente não compra equipamento que o cara desenvolveu, houve uma participação enorme da Petrobras no desenvolvimento desses equipamentos, né, com esses técnicos altamente capacitados que a gente (tinha?). E obviamente com toda capacitação da indústria nacional ou internacional, associada à indústria do petróleo.
P/1 – Mas como é que funcionava, tem o Cenpes, tem quem está lá no operacional, existia uma integração dos trabalhos, como era? Você pode me contar um pouco?
R – Existe uma integração dos trabalhos, alguns desenvolvimentos desses equipamentos vem daquela equipe da própria engenharia de poço, outros vinham de uma ajuda de programas de desenvolvimento de tecnologia do Cenpes, porque a gente não pode deixar de citar o Procap, o Plano de Capacitação da Petrobras, para produzir em águas profundas que tem o Procap 1000, 2000 e, hoje, estamos no 3000, né? Tem até uma curiosidade: quando eu cheguei na Petrobras e começaram a falar do programa do Procap 2000, para mim era do ano 2000, depois eu fui descobri que era para 2000 metros de lâmina d’água, né? Hoje nós estamos no 3000. Então haviam alguns equipamentos, alguns projetos de pesquisa que iam por demanda nossa para o Cenpes, mas sempre com uma participação dos solicitantes no Cenpes, para que a gente tivesse o direcionamento que aquilo saísse realmente de acordo com a nossa necessidade e a gente ia envolvendo ou diretamente ou através do Cenpes a capacitação dos fabricantes, dos principais fornecedores do equipamento no mercado. Essa mistura “a seis mãos”, digamos assim, e sempre não podemos nos esquecer do pessoal da Sede, porque a gente sempre tinha pessoal altamente experiente, capacitado na Sede também no desenvolvimento desses equipamentos. Então essa mistura é que fazia com que a gente conseguisse chegar a tempo e a hora com os equipamentos para os novos desafios.
P/1 – E isso ainda continua.
R – Isso continua e é a chave do segredo, né? O dia que a gente romper essa cadeia a gente está perdendo um elo fundamental. Então a gente tem a experiência do pessoal que está na frente operacional, tem a experiência e a capacitação do pessoal que se dedica à pesquisa, né, e o Cenpes é um centro sensacional, que desde que você faça a sua encomenda correta, né, e trabalhe junto com ele, levando a sua experiência e trazendo; a gente sempre fala: “Ah, o Cenpes o pessoal só pensa em coisas exóticas”, não, desde que você encomende claramente e trabalhe com eles para trazer aquele fruto para a realidade que a gente precisa, os resultados são excepcionais. Então a gente não pode quebrar esse elo, que é: a experiência da área operacional, da frente de trabalho, com aquele pé um pouco fora do chão que o cara que pesquisa tem que ter, ele tem que ter uma visão diferente, as duas juntas é que fazem com que o resultado saia bom.
P/1 – E do próprio crescimento físico da Petrobras em Macaé, você que morou lá, né?
R – É, a Petrobras ela cresceu enormemente e isso obviamente influenciava Macaé, né, como influencia até hoje, Macaé cresceu demais nesse tempo que eu morei lá, foram, sei lá, quase 17 anos. Macaé cresceu demais puxado pela indústria de petróleo e tudo que ela trás ao seu redor, porque ela trás uma série de outros fornecedores que têm que se instalar ali para suprir toda essa cadeia de valores de fornecimento que a gente precisa. E o crescimento da Petrobras foi espantoso, né, a cada ano trazendo mais gente. Esse período que a gente ficou até meio sem contratar, que foi a década de 90, até hoje eu acho que a gente sente falta disso, a gente deixou uma lacuna na criação de novos talentos, de novos profissionais, então hoje a gente tem uma lacuna que a gente está se esforçando para suprir, para desenvolver os últimos contratados dos últimos seis anos da Petrobras para gerar uma nova geração tanto na área gerencial quanto na área técnica, a gente sente essa carência, mas o crescimento foi monumental. E pelo que a gente vê no mercado hoje, das novas descobertas, das novas fronteiras, futuro é o que não nos falta para trabalhar, então isso não é uma preocupação.
P/1 – E aí então você passou para essa área gerencial, né, depois que você parou de embarcar. Teve algum desafio que foi específico para você, que te marcou?
R – Hum, hum. Eu acho que o desafio é; não é a toa que essa é a frase da empresa, né? Então, depois de cinco anos gerenciando na área de poço eu tive a oportunidade de passar a ser gerente de uma plataforma de produção no Campo de Marlim. Foi a P-19. Então, esse foi o grande desafio porque era uma área totalmente desconhecida, depois de 16, 17 anos na área de poço, o desafio de gerenciar a produção, né, uma plataforma de produção em lâmina d’água profunda naquela época, né? Hoje o profundo tem um conceito relativo, mas era uma lâmina d’água profunda, uma plataforma que chegou a produzir 140 mil barris de óleo por dia, e que na época era uma das maiores produções da Petrobras e que qualquer problema despertava a atenção de todo mundo, todo mundo queria saber o quê que aconteceu e quando volta. Então esse foi um grande desafio, porque na área de poço eu cresci, na área de produção eu cheguei já para assumir uma plataforma de grande porte, isso foi um grande desafio, mas que com a equipe que eu tinha em terra e a excelente equipe que eu tinha no mar, né, desde o geplat até os operadores, supridores, toda a equipe era muito boa e a gente conseguiu superar esse desafio bastante bem. Eu acho que o grande lance quando você tem um desafio desses, mudando de área principalmente, é você ter a humildade de chegar para agregar, mas sempre aproveitar tudo aquilo que você já encontra. Claro que um gerente quando chega num lugar ele vai botar ao seu estilo com o tempo, mas ele tem que saber pegar, aprender e aproveitar tudo aquilo de bom que tem e aí ele consegue ir direcionando, moldando tanto a equipe, quanto à maneira daquilo andar a sua forma. Então esse foi um grande desafio.
P/1 – Wilmar, esse trabalho junto a P19, que você vê da terra, tem que ver do... é quase um trabalho de um prefeito, né? Como é que é o cotidiano...
R – Não deixa de ser, né?
P/1 – E a administração de um... é uma cidade, né?
R – É, você tem que ter...
P/1 – Que tem uma logística própria, né? Queria que você falasse também um pouco dessa logística de terra e administrar isso tudo.
R – É, você tem uma equipe reduzida em terra, que girava em torno de 10 pessoas, hoje é um pouco maior a equipe de uma plataforma em terra, e tinha 150 pessoas rodando para cuidar daquilo no mar, fora os contratados, os terceirizados, que faziam muitos trabalhos também a bordo. Eu acho que é mais ou menos um trabalho de um prefeito, de um bom administrador para cuidar de uma plataforma dessas, a logística é muito grande e você depende de uma série de outros órgãos da Petrobras para te suprir essa logística, então o meio de campo tem que ser muito bem feito para que tudo isso flua sem atrapalhar o processo e o processo para mim ele continua no mesmo objetivo, porque eu tinha que produzir era óleo e gás, o que eu tinha que fazer para chegar nessa produção, para manter essa produção, tinha que ser (praticamente?) transparente, né, não era para parar a produção por falta de nada, de um insumo, de um equipamento, de um produto químico, não era para parar por falta de pessoal, por problemas aéreos, né? A gente tinha que ter habilidade de contornar isso tudo e além de você ter que ter uma habilidade de tratar com pessoas, porque pessoas trabalham 15 dias lá e voltam para casa e voltam para mais 15 dias, são pessoas têm uma rotina extremamente delicada, extremamente pessoal e você tem que saber lidar com isso. Às vezes eles trazem alguns problemas que podem interferir no dia-a-dia e você tem que saber lidar com isso. Eu embarcava com uma freqüência bastante grande, eu fazia cerca de 20 embarques a 25 embarques por ano, eu tentava pegar todas as turmas que estavam lá nos seus 14 dias, né, de modo que eu pudesse acompanhá-los e isso passa por uma conversa com todo mundo no auditório no dia em que você chega, passa por conversas particulares quando necessárias, passam por levar as orientações da empresa para bordo e nem sempre são boas notícias, então você tem que saber levar as boas notícias. Eu acho, eu sempre falava para eles: “Eu prefiro dar a má notícia a vocês, mas que você saibam por mim e não fiquem perdidos sem saber”. Mas, às vezes tem uma notícia que você tem que dar, então o que você tem que fazer é como é que você leva isso à força de trabalho, mas nunca deixar de falar francamente com eles. Eu acho que esse era o grande lance de relacionamento com uma equipe, para gerenciar pessoas é você levar, mas nunca deixar de levar a verdade para eles. Se é para ser dado a notícia, vamos dar a notícia, seja ela qual for, mas vamos dar da melhor maneira possível. E esse relacionamento com eles é que eu acho que era bom para eles assim como era bom para mim, né? Você tem que saber ouvir, tem que saber ponderar, tem que saber a hora de parar, isso tudo é um crescimento enorme em termos pessoais e em termos profissionais também, porque você gerenciar 150 pessoas abre um horizonte para você enorme.
P/1 – O quê que é mais difícil, gerenciar o lado técnico ou o lado humano?
R – O humano, sem dúvida nenhuma. Tecnicamente a gente resolve qualquer problema, eu não tenho a menor dúvida disso, qualquer problema que se apresente para você, pode demorar um pouquinho, pode não ter o recurso imediato, mas você acha uma solução para aquilo. Para pessoas nem sempre você consegue tão rápido, nem sempre você consegue atingir a solução que você gostaria. É muito mais complexo lidar com pessoas.
P/1 – A gente falou aqui em desafio, dificuldade, eu quero que você me conte uma alegria.
R – Enormes, não é? Têm muitas.
P/1 – Um exemplo de uma que tenha te marcado.
R – Os sucessos que você faz, né? Quando você tem uma comitiva, e a P19 era a menina dos olhos na época, então a gente levava uma série de comitivas para conhecer a plataforma, desde banqueiros japoneses, até outras empresas, operadores que queriam conhecer, Marlim era um Campo que ganhou prêmio na OTC, né, na Offshore Technology Conference, que a gente tem todo ano e a Petrobras participa todo ano e ganhou prêmio na OTC, então era uma plataforma, um Campo que todo mundo queria visitar.
P/1 – Foi com a P19 que ganhou o prêmio?
R – Não, não era nenhum poço específico da P19, foi o campo, foi uma completação em lâmina d’água profunda do Campo de Marlim. Mas a alegria que você tinha ao receber uma comitiva e receber depois os elogios, pessoas que não tinham a menor obrigação de elogiar, não iam ter um outro retorno, outro contato com você jamais e às vezes faziam questão mandar reconhecimentos escritos, mandavam e-mail agradecendo, elogiando o que tinham visto e isso dava uma satisfação enorme para a gente. E você poder colocar, você todo dia abrir a situação das plataformas e ver a sua plataforma produzindo 140 mil barris de óleo por dia, que na época era uma produção; hoje a gente já tem de 180, mas na época, produzir 140 era um feito. Então isso também era um prazer, né? Mas teve um caso particular de uma auditoria que veio fazer, uma auditora externa foi recebida na P19 e depois ela se rasgou em elogios que isso foi até ao diretor Coutinho na época, que era o diretor de E&P. Esse elogio veio descendo o morro, né, até chegar de volta para a gente e quando a gente recebe, repassa para a equipe esse é um reconhecimento, né, você está fazendo um trabalho que pessoas externas que vieram para achar defeitos, né, voltam apenas elogiando. Isso é... E isso chegando à alta administração da empresa dá uma satisfação enorme para você.
P/1 – E quem é o trabalhador da Bacia de Campos, que agregou tanta gente de fora lá em Macaé e até de Macaé, que vai só para embarcar, como é que é esse trabalhador, como é o perfil desse trabalhador?
R – Esse trabalhador tem de um tudo, né, a gente tem de todo o tipo de profissionais, de todos os níveis de profissionais. Hoje a gente até exige que todos tenham segundo grau pelo menos, para qualquer que seja o serviço; quase todo serviço que ele vai fazer, mas já houve algum tempo em que a gente tinha profissionais semi-alfabetizados, até doutores trabalhando na Bacia de Campos, então é uma gama enorme. É um pessoal que faz acontecer, seja a própria Petrobras ou não, a gente tem uma parceria enorme, porque a gente tem um volume enorme de pessoal terceirizado de coisas que não são o foco, o produto meio da Petrobras, né, não é o core business da Petrobras, mas é uma gama, uma variedade enorme de pessoas e isso é que dá essa grandiosidade, né? Dessa mistura sai uma coisa muito boa desde que você saiba conduzir. E isso te ensina muito também. Então você tem que saber como você vai se relacionar com geplat, que é um engenheiro – porque muitas vezes eu tive geplats com 25, 30 anos de empresa e você tem que chamar atenção de um geplat desse. Ao mesmo tempo, você tem que saber lidar com uma pessoa extremamente humilde que se passa por você e você cumprimenta, ele ganhou o dia, ele sai dizendo que: “Pô, o gerente passou por mim, me cumprimentou, parou, conversou”. Saber fazer esse dia-a-dia, esse contato, você tira muita coisa. Você percebe problemas que às vezes não perceberia se não desse essa atenção às pessoas que estão no dia-a-dia. Então essa força de trabalho é de uma mistura incrível, mas é que dali que sai a grandeza do que a gente hoje colhe na Petrobras.
P/1 – E gente de outros estados também, que até vai e volta, tem?
R – Tem de mais, né? A Petrobras hoje tem gente de todo lugar, tem gente que mora fora do Brasil, trabalham inclusive embarcado...
P/1 – Também?
R – Tem. Mas a maioria é do Brasil.
P/1 – Da onde, por exemplo?
R – Tem gente que mora nos Estados Unidos, tem gente que mora na Alemanha, né? São poucos, mas tem, que fizeram a sua vida e por outro motivo qualquer o seu parceiro, sua parceira, seu cônjuge, foi morar fora por razões profissionais e ele consegue manter essa rotina de trabalhar embarcado e passar as suas folgas fora do país, acompanhando o seu parceiro, então isso é muito interessante. Mas a diversidade de regiões também é muito interessante, porque ela traz curiosidades desses lugares, traz hábitos diferentes, traz cultura para a gente que convive nesse meio. Se você parar numa plataforma hoje e fizer uma estratificação de região, você tem de todas as regiões ali dentro, Sul, Norte, Nordeste, Centro-Oeste, tem de tudo. Então é uma cultura que vem, que se agrega e ao mesmo tempo uma preocupação, porque essas pessoas que vêm de longe deixam problemas longe que não vão poder estar presentes rapidamente, mesmo que você; e a Petrobras faz muito disso, desembarque aquela pessoa se ela tem um problema sério, até ele chegar na casa dele, no lugar que ele tem que trabalhar, que ele mora é muito longe, né, então é um relacionamento também que você tem que cuidar, essas pessoas tem que ter uma atenção especial porque eles estão muito distantes de suas famílias e os problemas continuam acontecendo. Se você mora em Macaé, você desembarca e na mesma hora você está em casa, se você mora em Natal e Sergipe você às vezes não conseguir uma passagem, se for de ônibus são dois dias, então o problema ficou longe, mas está acontecendo. Mas tem que tentar dar esse apoio total a essas pessoas também, porque senão a gente... Essa força de trabalho se não estiver concentrada no que tem que fazer nos seus 14 dias é uma fonte de problemas, não só financeiro e físico para as instalações, mas problema de segurança também. Então a atenção para esse pessoal também tem que ser muito grande.
P/1 – Wilmar, a gente vai para um minutinho que ele vai virar a fita.(pausa)
R – Certo.
P/1 – Bom, vamos retomar...
R – Vamos lá.
P/1 – Então a gente estava falando dessa diversidade, né, até regional dos trabalhadores lá da Bacia. E aconteciam brincadeiras do gaúcho com cearense, a diversidade das comidas, como é que era?
R – Sem dúvida nenhuma.(riso) O que a gente leva dessa vida são as bobagens que a gente fala, né, as brincadeiras, a gente tem que ter essa liberdade, né? Alguns ficam mais retraídos ou alguns podem não gostar no começo, mas é o que eu falo para eles: “Se você pega a pilha é pior”, então é melhor encarar aquilo como uma brincadeira, então um está sempre implicando com o outro pelas características regionais, pelos gostos pessoais, pelas palavras que as pessoas usam, né? Você vai aprendendo com o tempo que uma mesma coisa tem vários nomes nesse país, seja do Nordeste ao Rio Grande do Sul ou do Centro, então isso é... Mas eu acho que isso se as pessoas souberem levar é até um negócio positivo e é uma alegria ali naquele... Esse pessoal à noite não tem o que fazer, tem que conviver entre eles seja vendo televisão, batendo papo, jogando carta e as brincadeiras estão correndo ali soltas. Se a pessoa souber levar bem isso, isso eu acho que é extremamente positivo.
P/1 – Você se lembra de alguma brincadeira desse tipo quando você embarcava?
R – Eu acho que a mais característica é a tentativa de pegar o cara novo que acabou de embarcar pela primeira vez.
P/1 – Tinha trote?
R – Tinha, tinha, é...(riso)
P/1 – Me conta um.
R – E eu me lembro até que na época comigo mesmo, era em Pampo, e um cara experiente chamou pelo interfone, né, pelo sistema de comunicação da plataforma, comparecer a um tal local para ver alguma coisa interessante. Chamou um só, como nós éramos em quatro fomos os quatro e aí desmanchamos um pouco o trote porque eles iam dar um banho de mangueira de incêndio em todo mundo. Como eram quatro, a gente acabou segurando o engraçadinho da frota, né, que queria fazer a piada, ou ele se molhava também ou não tinha banho para ninguém.(riso) Então a gente conseguiu contornar de certa maneira. Mas já teve coisas do tipo do... A gente passa umas esferas grandes em gasoduto para tirar líquidos, né, periodicamente, de mandar um estagiário pegar uma esfera lá em baixo na plataforma, subir 40 metros levando aquilo na mão, para entregar para alguém, quando aquilo é absolutamente desnecessário. O serviço para ser usada aquela esfera está lá onde ela estava. E as pessoas entram nessa, né, desconhecem, não querem fazer papel de “não conheço nada”, então acabam entrando de gaiato numa história dessas. Isso acontece muito, desde que tenha limites é legal, não pode é passar do limite.
P/1 – Voltando também para essa parte da produção, qual é a fase que você acha que foi mais importante e mais mesmo marcante para a Bacia? Que vocês falaram”é agora que engrenou”?
R – Eu acho que ela... Quando eu cheguei, ela já tinha uma perspectiva de futuro, né? Mas essa perspectiva ela foi se concretizando à medida em que o nosso pessoal de exploração, de geologia, sísmica, ao perfurar poços exploratórios, foi achando o caminho das pedras e foi conseguindo descobrir o que sustenta hoje a empresa, que são esses campos em produção e os campos que ainda vão entrar em produção. Então eu acho que a Bacia de Campos ela teve uma seqüência, né? O primeiro grande fato foi ter descoberto, depois nós descobrimos uma série de pequenos campos, mas que eram em lâminas de água rasa que fizeram sustentabilidade daquilo. Mas petróleo, se você produz 1000, você tem que repor pelo menos 1000 para dar uma visão de médio a longo prazo para aquilo, a reposição de reservas, que a gente tem sido muito feliz na reposição de reservas e está sendo mais feliz ainda nesse último ano com as descoberta que nem estão computadas ainda nas nossas reservas prováveis, mas que vão dar um horizonte muito maior. Então eu acho que a Bacia de Campos se fez de uma seqüência de eventos que não acabou e a gente espera que ainda não tenha acabado, que ainda tenhamos mais surpresas, possamos descobrir mais coisas aí na Bacia de Campos e parece ser muito promissor ainda a Bacia de Campos e essa seqüência de eventos é que fez ela crescer e ser sustentar e ser o que ela é hoje, né?
P/1 – Então, da própria Bacia vocês ainda têm uma boa perspectiva para o futuro dela, de novas descobertas.
R - Temos, se você conversar com alguém da exploração, o otimismo ainda é muito grande, apesar de hoje a gente estar com foco muito grande na Bacia de Santos, mas essa Bacia de Santos, esse pré-sal que a gente fala tanto, que hoje todo mundo fala nos jornais, diz até sem entender do que se trata, ele se espalha por toda a costa, desde o Espírito Santo, Campos, Rio, e vai até o sul, até a Bacia de Santos. Então isso ainda tem muita coisa a ser descoberta. Hoje, se a gente tivesse recursos infinitos num passe de mágica, que pudéssemos furar poços em todos os lugares que os geólogos querem, nós íamos descobrir uma infinidade de coisas. Eu tenho essa certeza, que nós ainda temos muito a descobrir. Estamos focando hoje aonde a gente acha que é mais promissor porque os recursos são finitos. Então vamos priorizar e vamos atacar aquilo que a gente tem no momento que principalmente blocos novos, que tem limites de devolução à ANP, uma série de coisas, mas nós estamos focando naquilo que hoje é o mais promissor dentro dos recursos que a gente tem e que a indústria do petróleo disputa a tapa qualquer recurso que existe, não tem nada sobrando, nada parado. Então o que a gente tem, a gente está usando da melhor maneira possível.
P/1 – Queria que você me contasse uma história, você já me contou algumas aqui, alguma história também engraçada, curiosa, ou que tenha te marcado de uma forma também especial.
R – Eu diria que logo que eu cheguei, em 88, a plataforma de Enchova estava pegando fogo e eu fui estagiar na plataforma de Pampo, ao lado de Enchova. E havia uma rotina de um barquinho todo dia, descia um pessoal de Pampo e ia dar uma volta em Enchova, ver como é que estava a situação. E aí nós podemos ir nesse barquinho fazer esse mesmo passeio. Então primeiro teve a descida de cestinha da plataforma que já é um negócio estranho para quem não está acostumado, depois vira uma rotina. E você circulava aquela plataforma, ela ainda não pegava fogo, estava vazando gás apenas, mas o barulho era ensurdecedor, aquele monte de rebocador jogando água em volta dela, era algo que assustava e mostrava tanto a grandiosidade quanto o tamanho do perigo e da instabilidade de se mexer com aquilo. Depois eu estava mexendo naquilo, né, eu fui para a área de poço e o que causou todo problema em Enchova até a perda da plataforma, foi um problema de poço. Então é um negócio que assustava a grandiosidade. E depois tem...
P/1 – Mas vocês iam num barquinho ali perto da...
R – Da plataforma, a gente circulava a plataforma num rebocador, né, obviamente era uma distância de 150 metros, mas o barulho era ensurdecedor pelo vazamento de gás, eram milhões de metros cúbicos de gás saindo ali, ainda não pegava fogo, estava jogando água, né, em volta...
P/1 - E depois é que a plataforma...
R – Depois é que veio a dar o incêndio desse vazamento de gás, já quase um mês depois, enquanto a gente tentava fazer poços para controlar aquele poço, né, para matar aquele poço, aliviar aquele poço, ele parar de produzir gás, aí no finzinho, quando a gente já estava quase lá é que ela pegou fogo e aí não teve mais jeito.
P/1 – E vocês viram também do barquinho?
R – Vimos, eu embarque outras vezes ali e aí você via aquilo bem de perto. É uma sensação extremamente forte. Mas tem muitos outros momentos bons, de pessoas que se aposentavam e você faz uma festa para eles, né, de pessoas que eu desembarquei com gente que estava se aposentando e a pessoa chorando dentro do helicóptero e a equipe no heliponto dando tchau, né? A pessoa sente, depois de 30 anos trabalhando ali... Então são momentos muito interessantes, muito marcantes que a gente vive. Momentos ruins também de acidentes com pessoas, nós tivemos que receber em Enchova mesmo um acidentado de um rebocador, né, uma porta daquelas de submarino que a gente vê, né, tinha batido na cabeça dele, ele não estava muito bem das pernas, mas a gente teve que receber ali para o helicóptero/ambulância levar. São momentos complicados, tem os bons, tem os ruins, mas eu diria que os bons superam de longe. Quando você faz um evento na plataforma e você leva, nós levamos na P19, por exemplo, uma palestra do Amyr Klink, então a equipe fica maravilhada, todo mundo quer ficar em volta, fazer pergunta, o cara é de uma simpatia enorme, né, eu acompanhei ele, essa palestra que ele faz é sensacional, é uma pessoa simplíssima, de uma comunicatividade enorme. Então são outros momentos que você consegue levar para aquele pessoal de bordo, umas novidades assim, uma coisas diferentes que eles adoram, sai daquele dia-a-dia deles. Então isso também é muito interessante. Têm muitos momentos bons, muitos momentos agradáveis.
P/1 – E ele achou curioso, gostou de estar numa plataforma?
R - Ele gostou, quis conhecer, quis visitar a plataforma. Até interessante, no dia que a gente foi a gente teve que pousar numa outra plataforma por falta de visibilidade, o tempo estava ruim, a P19 estava envolta em nuvens, não conseguíamos pousar, pousamos na plataforma vizinha, aí ele visitou a outra plataforma, depois a gente (transbordou?) para a P19, conseguimos chegar na hora do almoço, ele é um cara muito interessado, então ele quis conhecer, ele quis saber, então, o pessoal queria saber dele, ele queria saber dos caras, o quê que eles fazem, o quê que é, o quê que não é, é uma dinâmica muito interessante, é bastante bom.
P/1 – A P19 é uma FPSO...
R – É uma SS, é uma semi-submersível, ancorada em numa lâmina d’água de 700 a 800 metros de lâmina d’água, com capacidade de produção original para 100 mil, mas chegou a produzir 140 mil barris de óleo por dia, produziu durante três, quatro nos 140 mil e hoje ainda representa uma grande produção, ela produz na faixa de 60 a 70 mil, o que é uma produção extremamente interessante ainda para a Bacia de Campos, mesmo com essas plataformas que chegam agora para produzir 180, que estão no Campo de Marlim Sul, Campo de Roncador, Campo de Albacora Leste, são plataformas de maior porte, mas que em nada as P19 da vida deixam a desejar, né, continuam contribuindo.
P/1 – O Campo que ainda produz mais na Bacia qual é, é Marlim ainda?
R – Hoje ainda é Marlim, se eu não estou errando e em breve será o Campo de Roncador, que vai ter a FPSO Brasil, a P52, a P54, mas no pico de produção de Roncador ele não deve ultrapassar a produção pico que foi do Campo de Marlim.
P/1 – Wilmar, e aí você ficou nesse período gerenciando a P19, toda essa estrutura em terra e mar, e de lá...
R –É, aí eu fiquei lá até 2004, 2004 eu fui convidado para ser coordenador da implantação de um novo projeto no Campo de Roncador, no caso vai ser a plataforma P55, que deve entrar em produção lá para 2011, então no final de 2004 eu voltei para o Rio de Janeiro, eu sou do Rio, voltei para ser o coordenador de implantação do módulo três do Campo de Roncador, que é o nosso maior campo hoje, ele vai ter quatro grandes plataformas produzindo o campo até 2011. Nós já temos a P-52 e a P-54, que entraram em produção no final de 2007, e lá para 2011 nós vamos ter a P-55 e a P-62 produzindo também no Campo de Roncador.
P/1 – A P55 vai ser o quê?
R – É, esse foi outro grande desafio, ela vai ser uma semi-submersível, com um casco que é um projeto Petrobras, do Cenpes, que já está em construção e o top side está sendo licitado, a parte de cima, né, a planta de processo, utilidade, está sendo licitado. Até o final do ano a gente deve assinar e começar a construção desse top side para depois casar com o casco e já está em construção e ela deve entrar em produção lá para 2011. Mas o módulo três de Roncador não é só a plataforma de produção, tem toda a perfuração dos poços e toda parte submarina das linhas para interligar esses poços a essa plataforma. São poços de uma lâmina d’água de 1800 metros, a plataforma P55 vai ficar ancorada a 1800 metros, ela vai produzir 180 mil barris de óleo por dia, então o projeto em si como um todo é também um desafio. O coordenador do projeto é mais ou menos o maestro de uma orquestra, ele não tem equipe própria, ele conta com as equipes das diversas disciplinas da Petrobras e tem que fazer com que essa orquestra toque a mesma música, com que esse pessoal todo ande na mesma direção e no tempo certo. Então é um ajuste que você tem que estar no dia-a-dia fazendo para que o poço, a parte das linhas submarinas, os equipamentos, a construção da plataforma tudo saia mais ou menos no tempo certo para que a gente tenha a plataforma chegando pronta, poços prontos, eu estou interligando esses poços à plataforma e começo aquela subida da (curva?) de produção dela, até atingir o seu pico de 180 mil barris de óleo por dia. Então é um trabalho também muito interessante.
P/1 – Então você está coordenando todas essas equipes?
R – Eu estava, né? Essa empresa é dinâmica. Então, no final do ano passado nós tivemos uma pequena reestruturação no E&P, nas UNs, né, nas Unidades de Negócio e toda parte de projeto, construção e montagem que eram gerencias dentro dos ativos de produção, ativo de Roncador, de Marlim, de Marlim Sul, né, foi criado então uma gerência diretamente ligado ao gerente geral, para cuidar de projeto, construção e montagem de plataformas em produção, chamado PCM. Então eu fui convidado pelo antigo gerente da UN-Rio, o Abi Ramia, para ser o gerente dessa nova gerência que estava sendo criada e desde outubro de 2007 até o momento eu sou o gerente desse PCM, desse Projeto de Construção e Montagem, que agregou todas as construções de montagem, que tinham dentro dos ativos, tiramos os ativos e criamos essa gerência ligada ao gerente geral. E eu estou nesse desafio desde então e estamos estruturando esse PCM para atingir os objetivos que nos foram dados, as metas que nos foram dadas, da união desse monte de grupos. Outro desafio que é juntar grupos acostumados a trabalhar independentes com seus conhecimentos, com suas culturas, montar uma estrutura maior que tem que fazer com que todo mundo trabalhe do mesmo jeito, na mesma direção, com um manual de filosofia numa nova estrutura. Então nós estamos agora vencendo esse desafio de estruturar essa nova gerência.
P/1 – Você passou da linha de frente até uma gerência super complexa. Nesses anos todos o quê que mais mudou? Foi a parte administrativa, a parte operacional, o quê que foi uma mudança assim para você?
R – É, eu diria até que a gente tem mudanças cíclicas, como uma onda, a gente hora está de um jeito, hora esta de outro e daqui a pouco vamos mudar de novo, eu acho que o que mais a grande mudança que eu vejo foi a Petrobras ela cresceu demais e teve que cada vez ter mais a sua administração voltada para o mercado, a gente hoje tem ações na bolsa de Nova York, então a gente tem uma série de compromissos que a gente tem que cumprir se não a gente decepciona o mercado, os acionistas, isso prejudica a empresa, então a Petrobras ela foi crescendo e se adaptando, ela foi se internacionalizando, então ela foi colocada no mercado. Hoje ela é uma empresa que ela jamais pode ser chamada de uma estatal com aquela cara caricata que uma estatal tem quando as pessoas se referem ao serviço público. Não é isso, a Petrobras está anos luz de distância de um serviço público, ela é uma empresa eficiente, é uma empresa enorme, uma empresa de mercado, né, e que consegue crescer e reagir como uma empresa de mercado. Então isso evoluiu muito. Apesar de reestruturações que a gente vem sofrendo com o tempo, às vezes volta para um caminho que a gente largou, depois sai desse caminho, vai para outro, isso tudo a empresa consegue conciliar sem fazer com que o mercado sinta qualquer perturbação por essas reestruturações que ela vai ciclicamente fazendo. Então ela é uma empresa hoje extremamente sólida com a visão de mercado, o mercado vê a empresa. Para você ter uma idéia, uma curiosidade na OTC agora de 2008, nós fomos apresentar um trabalho ainda de Roncador, porque eu vinha de Roncador e já estava fazendo esse trabalho e o nosso presidente estava dando uma coletiva na OTC, lá nos Estados Unidos e uma repórter perguntou para ele o quê que a Petrobras tem, qual é o segredo para ela ser a queridinha do mercado. A Petrobras hoje é a queridinha do mercado. Não só porque ela reage bem e dá bons resultados, mas por todas essas descobertas que estão aí pulando na mídia sem números coerentes e eles doidos para saber os números disso, então a Petrobras hoje ela é uma queridinha do mercado.
P/1 – E qual foi a resposta?
R – Eu não estava presente na coletiva, eu soube da resposta, o nosso presidente é extremamente hábil com isso e ele disse: “Não, não é que a gente seja a queridinha, mas é que nós estamos num momento bom, a Petrobras está com grandes descobertas, grandes fronteiras, grandes desafios para o futuro e aumentando a sua produção” – e como brinca do presidente da República, né – qualquer dia aí discutindo produções na Opep e exportando cada vez mais. Então é uma empresa que ela não só tecnologicamente ela tem um peso enorme, né, que as outras querem dividir com ela algumas coisas, como esse futuro que se apresentou com essas últimas descobertas botam ela no nível, botam a Petrobras no nível das grandes operadores de petróleo no mundo e com perspectivas muito boas. Então isso faz com que ela hoje esteja na mídia e de maneira extremamente positiva, isso é bom.
P/1 – Eu queria perguntar o que a Bacia representa para o Brasil, o que a Bacia de Campos representa para o Brasil?
R – Ah, a Bacia de Campos ela representou para o Brasil...
P/1 – Em termos econômicos.
R – um ganho enorme, porque ela alavancou uma curva crescente de produção monumental, hoje a gente produz na faixa de mais de dois milhões de barris por dia, mais do que a gente precisa, então a gente conseguiu atingir a auto-suficiência apesar de exportarmos muito óleo, a gente exporta e compra porque a gente tem que ter um certo mix de petróleo adequado para as nossas refinarias, para os sub-produtos que a gente quer atingir. Mas hoje, se a gente fosse falar apenas em números de volume a gente produz o que a gente precisa e sobra um pouquinho, né, a gente vai produzir bem mais no futuro e vai ser um exportador de petróleo com características bastante interessantes e a Bacia de Campos foi o que trouxe esse crescimento. A gente hoje está falando de Bacia do Espírito Santo, Bacia de Santos, essas Bacias elas puderam crescer e existir baseadas em toda a capacitação desenvolvida na Bacia de Campos, em termos tecnológicos, em termos de saber produzir o que descobrimos em águas profundas, desenvolver tecnologia para produzir isso, né, que chegou a produzir os 2 milhões e que exporta hoje essa tecnologia para outras Bacias submarinas, que é do Espírito Santo e de Santos, então tudo isso cresceu dessa bacia, ela foi o embrião disso tudo, se desenvolveu, continua se desenvolvendo e exportando essa capacitação para os vizinhos, digamos assim, que á a Bacia de Santos e a Bacia do Espírito Santo, que vão também ser grande pólos de produção e de desenvolvimento de tecnologias novas, junto com a Bacia de Campos. Então as nossas bacias offshore em lâminas d’águas profundas vão agora andar juntas no desenvolvimento da tecnologia, mas a Bacia de Campos ainda carrega um peso enorme, porque ela congrega UN-Rio, UNBC com a produção de 1.5 milhão de barris de petróleo por dia. Então ela foi uma alavancadora enorme tanto para a indústria nacional, e aí você vai dá indústria naval a indústria de acessórios, de equipamentos, de ferramentas, de tudo, uma geração de serviços monumental para o Brasil, como geração de emprego e permitiu essa tranqüilidade do país em termos de ter o seu recurso petróleo, um recurso escasso, um recurso cada vez mais caro, mas dentro do seu controle. Então hoje nós estamos numa situação extremamente confortável em termos de produção de petróleo versus a nossa necessidade e ainda podendo exportar nesse preço que está é um lucro para o país, né, para balança de pagamento, para tudo.
P/1 – Wilmar o quê que a gente pode marcar como tecnologia offshore da Petrobras, o que diferencia a Petrobras das outras empresas?
R – Hoje essa tecnologia já está bastante disseminada para outras operadoras, mas a tecnologia de perfuração em águas profundas e de produção, equipamentos como árvore de natal molhada, que fica lá no fundo no mar para cada poço, manifolds, a robotização para descer e mexer nesses equipamentos nas lâminas d’água em que trabalhamos hoje, por mais que a gente tenha desenvolvido em parceria com outros, né, a Petrobras foi quem puxou isso no mercado e quem deu grande contribuição naquelas parcerias que nós comentamos anteriormente, com o nosso corpo técnico extremamente capacitado, o nosso corpo do Cenpes de pesquisa, trabalhando junto com os fornecedores, mas fomos nós que demos esses grandes saltos de produzir em águas profundas. Tanto que a Petrobras, eu já mencionei um prêmio que ela ganhou por Marlim, na OTC, assim como ganhou em Roncador também, a Petrobras ela tem dois prêmios dessa OTC por completação, por produção de poços em águas profundas. Um foi em Marlim a 700 e poucos metros, o outro foi Roncador a 1800 e poucos metros. E todo esse salto de evolução foi, de uma certa forma, sem demérito nenhum aos outros operadores que também tiveram suas grandes contribuições no desenvolvimento dessas produções em águas profundas, mas a Petrobras eu diria sem medo de errar e sem medo de desprestigiar as demais grande companhias, que ela foi a empresa que mais puxou, forçou esse desenvolvimento de equipamentos, de tecnologias, para perfurar e produzir em águas profundas. Então a Petrobras e a Bacia de Campos foi quem felizmente trouxe isso por razões geológicas, né, fora do nosso controle, mas estava ali o que a gente descobriu, então foi essa a Bacia de Campos que puxou a empresa para o nível que ela está e para o desenvolvimento de tecnologias para produção em águas profundas. Sem dúvida nenhuma.
P/1 – Wilmar, a gente está terminando a nossa entrevista, eu queria perguntar, você se sente um petroleiro?
R – Sem dúvida nenhuma.
P/1 – Me explica então a alma do petroleiro para você.
R – É difícil de explicar a alma do petroleiro, eu acho que ela tem diversas caras, diversas facetas, mas depois de quase 22 anos vivendo nessa empresa você se sente parte dela, você fica chateado se alguma coisa dá errado, você fica satisfeito com o que dá certo, ela é uma empresa que oferece muitas oportunidades para quem sabe usar as oportunidades; claro que nós vamos ter sempre gente reclamando, isso é inevitável, mas ela é uma empresa sensacional para quem corre atrás, para quem consegue encarar desafios, quem consegue perceber as oportunidades passando, né, às vezes o bonde não passa duas vezes na sua porta, mas eu me sinto um petroleiro, eu me sinto uma pessoa da indústria do petróleo, né, é interessantíssimo, você vai para eventos fora, as pessoas querem conversar com você, as pessoas querem ouvir do que você faz, né, de como é que a gente chegou a fazer isso, fazer aquilo. Então eu acho que petroleiro tem várias facetas, mas eu me sinto, sem dúvida nenhuma petroleiro e sem medo de dizer também que eu vou me aposentar nessa empresa, não tenho a menor dúvida não, e ainda faltam alguns anos para eu trabalhar.
P/1 – Wilmar, tem algo que a gente não conversou e que você gostaria de deixar registrado?
R – Não, eu acho que o principal é que essa empresa ela fez muito por esse país, né, a Bacia de Campos assim como a Bahia, numa época, as outras regiões de terra fizeram numa certa época, a Bacia de Campos conseguiu fazer e vem fazendo e continua fazendo muito pela empresa e pelo país. Eu acho que a gente ainda tem um futuro brilhando pela frente e a Petrobras sabe que o seu grande potencial está na sua força de trabalho, hoje 52 mil pessoas. E ela, na minha visão particular, cuida muito bem dessa força de trabalho. Eu acho que ela cuida com um carinho todo especial, ela dá uma atenção enorme, nós vamos sempre ter aquela relação de _______ entre a empresa e o sindicato, mas isso é o papel desse teatro, né, cada um fazendo o seu papel, cada um reclamando um do outro, mas no fim a gente consegue ter um relacionamento bom e a força de trabalho dessa empresa é muito bem cuidada. Tanto que você vê, o último concurso que a gente fez nós tínhamos 400 mil candidatos para 2 mil vagas, mais ou menos isso. Então significa que é uma empresa que atrai, que ela chama atenção, ela dá uma perspectiva de carreira para essas pessoas e não só crianças, pessoas novas que saíram da faculdade querem entrar nessa empresa, tem gente entrando com 40, 45, 50 anos. Então, mesmo para quem já está com essa experiência de mercado, ainda procura a Petrobras para entrar lá embaixo, na carreira, né, porque sabe que tem uma perspectiva, que tem caminho pela frente a traçar, isso é que eu acho é o grande lance dessa empresa, você entra para ficar. E tem gente que está entrando hoje e quer ficar e tem gente que está entrando com uma idade avançada que quer ficar nessa empresa. E acho que esse é o grande lance da Petrobras.
P/1 – E essas fronteiras novas que estão abrindo vocês estão necessitando também de bastante mão de obra, não?
R – A gente não faz idéia do que precisa, que a gente deve, se tudo for como os números mostram e alguns números ainda são segredo dentro da própria empresa, mas se for metade do que a gente tem visto nos jornais, a gente ainda vai ter que crescer muito, em termos de recursos físicos e recursos humanos, ainda vamos precisar ter outra Petrobras. Essa Petrobras que nós fizemos nos últimos 40 anos, são 40, né, mais ou menos isso, 50 anos já; nesses últimos 50 anos, nós vamos ter que fazer outra nos próximos 10, 15, 20 anos. Se tudo for como os números mostram que realmente nós vamos ter um futuro ainda brilhante, vamos crescer muito, essa empresa tem muito ainda pela frente e vai precisar de muita gente, não tenho a menor dúvida.
P/1 – Wilmar, queria perguntar para terminar, o que você achou de ter participado aqui do projeto Memória.
R – Eu achei muito interessante, fui convidado ontem pelo pessoal da nossa comunicação, fiz questão de vir participar, eu acho que é bom para mim, é bom para a empresa. Essa mensagem vai ficar para o futuro, não é? Essa não é uma mensagem do passado é uma mensagem de futuro. Nós estamos relatando histórias do passado, mas para mostrar que esse passado tem um grande futuro e esses testemunhos vão servir para animar ainda mais as pessoas que estão entrando e aqueles que ainda querem entrar nessa empresa. Eu já tive outras oportunidades de dar depoimentos para outros eventos dessa empresa, eu acho isso importante, eu particularmente gosto, não pela exposição, a ser filmado ou não, não tenho menor _______ com o assunto, mas isso é um detalhe, eu acho que isso faz parte. Se a gente tem uma experiência, se a gente tem o que agregar, eu acho que essas entrevistas que vocês estão coletando vão ser um ânimo, um entusiasmo, um depoimento de um passado para um futuro brilhante que essa empresa ainda vai ter e que vai ser constituído, vai ser construído nessa experiência que a gente tem. Nós não vamos fazer outra empresa do nada, nós vamos fazer uma empresa desses depoimentos que vocês estão coletando, né, das partes boas que a gente fez que vamos repetir, das partes ruins que a gente deve não repetir, mas tudo isso faz parte dessa história que vai fazer com que a gente tenha um futuro. Então eu acho importantíssimo que as pessoas dêem esse depoimento, que participe desse projeto, é essencial. Um país sem memória não é um país, né?
P/1 – Wilmar, eu queria te agradecer você ter vindo participar, ter disponibilizado o seu tempo e vim aqui colaborar com a gente, muito obrigada.
R – Obrigado vocês.
(Fim da Fita MBAC_CB_ nr 124)
- (passo-a-passo?)
- (cimentação?)
- (danificou?)
- (outro?)
- (pares?)
- (relevou?)
- (prateleira?)
- (tinha?)
- (praticamente?)
- (transbordou?)
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