Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Vereníssimo Barçante
Entrevistado por Laura Olivieri e Marcia de Paiva
Brasília, 08 de fevereiro de 2007
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB552
Transcrito por Flávia Penna
P/1 – Bom dia! Gostaria de começar esta entrevista pedindo que o Senhor nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Vereníssimo Barçante, nome de guerra Barçante. Eu nasci no Estado de Minas, numa cidadezinha chamada Ibitiura, na região de Poços de Caldas.
P/1 – Ibituna?
R – Ibitiura de Minas. Quando eu nasci, pertencia a Poços de Caldas, depois ela se emancipou, né? Nasci em 22 de setembro, no primeiro dia da primavera, de 1955.
P/1 – Queria que o Senhor me contasse como o Senhor veio de Ibitiura para Brasília.
R – Eu nasci lá, mas ela fica aproximadamente 220 quilômetros de São Paulo e eu ficava entre São Paulo e Minas. A minha infância eu passei entre esses dois lados. Eu tive uma infância bem perturbada, o meu pai era militante do partidão e então, com sete, oito anos, a gente ficava pra lá e pra cá, porque ele ficava mais preso, época da ditadura, e ficava correndo pra lá e pra cá. Eu vim para Brasília, faz aproximadamente quatro anos. Eu trabalhava em São Paulo.
P/1 – Trabalhava em São Paulo aonde?
R – Trabalhava na Tecon no Estado de São Paulo. Na realidade, eu trabalhava em todo o Estado de São Paulo e, como eu sou técnico em comunicações, eu atendia o estado de São Paulo mais todo o centro-oeste, que é o Osbra, que começa em Paulínia e vem parar aqui, e mais o Gasbol, que vai até a Bolívia. Então, ficava nesse trecho aí, correndo.
P/1 – Deixa eu entender essa sua trajetória direitinho. O Senhor entrou para a Petrobras quando?
R – Em 21 de fevereiro de 1980.
P/1 – E foi trabalhar em São Paulo.
R – Em São Paulo.
P/1 – No Setor de telecomunicações?
R – É, Telecomunicações, que eu estou até hoje....
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Depoimento de Vereníssimo Barçante
Entrevistado por Laura Olivieri e Marcia de Paiva
Brasília, 08 de fevereiro de 2007
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB552
Transcrito por Flávia Penna
P/1 – Bom dia! Gostaria de começar esta entrevista pedindo que o Senhor nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Vereníssimo Barçante, nome de guerra Barçante. Eu nasci no Estado de Minas, numa cidadezinha chamada Ibitiura, na região de Poços de Caldas.
P/1 – Ibituna?
R – Ibitiura de Minas. Quando eu nasci, pertencia a Poços de Caldas, depois ela se emancipou, né? Nasci em 22 de setembro, no primeiro dia da primavera, de 1955.
P/1 – Queria que o Senhor me contasse como o Senhor veio de Ibitiura para Brasília.
R – Eu nasci lá, mas ela fica aproximadamente 220 quilômetros de São Paulo e eu ficava entre São Paulo e Minas. A minha infância eu passei entre esses dois lados. Eu tive uma infância bem perturbada, o meu pai era militante do partidão e então, com sete, oito anos, a gente ficava pra lá e pra cá, porque ele ficava mais preso, época da ditadura, e ficava correndo pra lá e pra cá. Eu vim para Brasília, faz aproximadamente quatro anos. Eu trabalhava em São Paulo.
P/1 – Trabalhava em São Paulo aonde?
R – Trabalhava na Tecon no Estado de São Paulo. Na realidade, eu trabalhava em todo o Estado de São Paulo e, como eu sou técnico em comunicações, eu atendia o estado de São Paulo mais todo o centro-oeste, que é o Osbra, que começa em Paulínia e vem parar aqui, e mais o Gasbol, que vai até a Bolívia. Então, ficava nesse trecho aí, correndo.
P/1 – Deixa eu entender essa sua trajetória direitinho. O Senhor entrou para a Petrobras quando?
R – Em 21 de fevereiro de 1980.
P/1 – E foi trabalhar em São Paulo.
R – Em São Paulo.
P/1 – No Setor de telecomunicações?
R – É, Telecomunicações, que eu estou até hoje.
P/1 - Então, me conta como era esse movimento de acompanhar, o Senhor acompanhou o Osbra?
R – Eu acompanhei a instalação do Osbra, desde a obra até a ativação do Osbra. Hoje ainda dou assistência em telecomunicações para ele. Quando começou a obra, eu acredito que foi em 1994 e eu dava suporte em telecomunicações para eles aí, o pessoal da engenharia, na época.
P/1 – “Pra eles aí” aqui em Brasília?
R – De Pirassununga até aqui em Brasília. Porque o Osbra começa em Paulínea, na Replan e termina aqui em Brasília, que é um terminal de dutos. E mais agora o escritório de Brasília, que eu não dava manutenção, mas de três anos para cá está sob minha responsabilidade.
P/1 – Me conta quanto tempo durou a obra e como era esse ir para lá, para outro ponto, ia subindo... Como foi? Me conta um pouco essas histórias, por que é tão bom ter uma pessoa que acompanhou esse processo todo.
R – A história do Osbra: primeiro, o terminal do Osbra, não é um terminal, é uma estação de bombeamento que é Pirassununga. Depois, vem um terminal de derivados de distribuição que é Ribeirão Preto; depois vem Uberlândia, que é um terminal de distribuição também; Uberaba. Uberlândia e Uberaba são no estado de Minas. Depois, entra no estado de Goiás, onde tem uma Estação de bombeamento que é Buriti Alegre. Ainda no estado de Goiás, vem outro terminal que é Senador Canedo e o último terminal que é Brasília, que é de distribuição. Essas obras começaram simultaneamente.
P/1 – Tudo ao mesmo tempo?
R – Exatamente. Então, veio o lançamento dos dutos e a construção dos terminais. E nós, da Tecon, dávamos suporte de telecomunicações para eles, que é implantar central telefônica, rede de dados – aquela rede precária, mas nós que dávamos – rádio transceptores para eles poderem trabalhar.
P/1 – E o Senhor é que dava toda essa cobertura.
R – Isso, dava toda essa cobertura. Porque era um terminal que era para ser o mais enxuto possível, totalmente automatizado, mas a atual conjuntura não deixou. Acho que erraram alguma coisa. Os negócios da Petrobras foram crescendo e eles foram crescendo também. A princípio, era eu sozinho que dava manutenção de lá até aqui. Depois veio um outro colega meu, o Miguel, que entrou e começou a ajudar. E, depois, os negócios foram crescendo, crescendo e hoje, em cada local, tem um pessoal nosso. Mas antigamente, era eu sozinho que fazia tudinho.
P/1 – E o Senhor chegava nesses locais onde começava a ser instalada essas obras, porque era mão-de-obra local ou a Petrobras já levava a mão-de-obra?
R – Não, existia o pessoal da Engenharia da Petrobras que fiscalizava as obras. Eram as empreiteiras que tinham mão-de-obra local e existia um pessoal da Petrobras fiscalizando.
P/1 – E o que o Senhor percebia também desse movimento de obra nesses locais em que estavam sendo implantados? Como era da vizinhança da obra, das comunidades? Tem alguma história para contar também dessa movimentação para a implementação desses terminais nos seus respectivos locais?
R – Onde a Petrobras chega, ela cria muita expectativa na população, é uma empresa que está chegando. Então, quem está chegando aqui não é nada mais que a Petrobras, o pessoal olha com outros olhos, né? Para você ter uma idéia, Senador Canedo era uma cidadezinha minúscula. A Petrobras chegou e aquilo se expandiu. Senador Canedo é a cidade de Goiás hoje que mais arrecada ICMS. Antes da Petrobras não era nada, não existia nem asfalto na cidade, era um abandono aquilo. E é a grande Goiânia aquilo; era um negócio largado e a Petrobras chegou, começou a especulação imobiliária, tudo começou a ficar caro. A especulação é muito grande. As coisas começaram a crescer, começou a ter loteamentos. Se não me engano, ela tem mais de 70 mil habitantes. Acho que, na época, ela não tinha nem 40. Então, teve uma expansão que, em dez anos, quase que dobrou a cidade. Como a cidade de Macaé, acho que todo mundo conhece, né?
P/1 – Uma verdadeira aventura, né, do nada para...
R – É.
P/1 – E como é trabalhar numa cidade que ainda está começando do nada, fazer um trabalho tão sofisticado como esse de telecomunicações? Como é a logística, para a gente que não tem noção do que acontece, como se chega e monta do nada?
R – Eu acho que eu sou um pouco suspeito para falar porque eu adoro o que eu faço...
P/1 – Então, conta pra gente um pouco como é.
R – A Divisão de Telecomunicações da Petrobras, para você ter idéia da grandeza da coisa, se você uma tele, como existia a Telerj, Telesp, antes de serem privatizadas, a Petrobras seria a quinta no país. Então, é muito grande o nosso parque de instrumentos, né? Na época, nós tínhamos o maior parque de ramal da América Latina. É um negócio muito grande. E é legal porque a gente começa do nada, né, e começa a colocar tudo. A Petrobras tem um sistema que chama rota e que interliga a Petrobras. Acho que a Petrobras sem essa rota e sem essa rede não seria ninguém.
P/1 – Essa telefonia interna, não é?
R – É interna. A gente fala internamente de qualquer lugar da Petrobras e grande parte por recursos nossos mesmo, a gente não aluga nada, nós temos a nossa própria rota, o nosso próprio circuito. A Petrobras hoje tem uma rede de fibra ótica que tem 18 mil quilômetros. Ela tem até parceiros nessa aí e na Osbra, quem utiliza ela é a Telemar então é um negócio muito grande.
P/1 – Só para eu entender: a própria rede do Osbra já foi montada junto com o poliduto...
R – Após a instalação do duto, nós instalamos e foi lançada a rede de fibra ótica. A rede do Osbra começa em Barueri e termina aqui em Brasília.
P/1 – E a Telemar também utiliza?
R – Ela utiliza parte, porque a gente usa, se não me engano, menos de um por cento desses recursos de fibra ótica. Na realidade é a Engerede que é uma parceira da Petrobras nessa firma, então é meio a meio, né? E ela subloca parte. Hoje, com certeza, a Telemar utiliza ela. É um negócio muito grande. Em outros estados também, no estado do Rio...
P/1 – Eu quero saber mais do seu trabalho. Explica pra gente que é de outra área: chega num local, como é também para fazer um acompanhamento de um duto com fibra ótica? Isso já tinha sido previsto na instalação do Osbra?
R – Eu não tenho esse dado. Eu acredito que isso veio depois, com aquela febre de fibra ótica, o pessoal começou a crescer e eles idealizaram isso. Quando começou o duto, eu acho que ainda era muito cara a fibra ótica para lançar. Aí, ela arrumou parceiros e os parceiros também lançaram. Mas ela está em toda a linha de duto, onde o pessoal usa para automação, fechar válvula, abrir válvula, tudinho a gente usa essa fibra.
P/1 – E os próprios terminais também.
R – Isso. Eu também acompanhei muito no Osbra, aqui em São Paulo, e a gente está automatizando todos os dutos, toda a linha de dutos e estou nisso há muitos anos.
P/1 – E o Senhor está baseado aqui em Brasília mais ou menos há quatro anos, como o Senhor falou.
R – É quatro anos.
P/1 – Porque veio pra cá? Conta como foi a sua vinda para cá.
R – Na realidade, na posse do outro governo, como eu sou sindicalista, havia uma perseguição política sobre mim.
P/1 – Isso lá em São Paulo?
R – Lá em São Paulo, quando eu atendia de lá pra cá. O Osbra não era assistido, a gente vinha correndo então o primeiro local que foi assistido...
P/1 – Assistido pelo Sindicato?
R – Não, assistido por técnico local. Aí eu fui convidado para vir pra cá e eu falei: “não, eu não vou pra lá não, a minha vida está toda lá em São Paulo e eu tenho um mandato sindical, não é o momento pra ir.” “Ah, tá bom, você não vai, tudo bem. Você não vai mudar, mas você vai continuar executando o trabalho de lá, não é?” Então, eu ficava correndo pra lá e pra cá. Depois passou um tempo e eu tentei vir para cá, aí: “agora você não vai, você vai ficar aqui, fazendo a mesma coisa.” Mandaram Um camarada pra cá, um outro colega meu, e eu focava dando apoio pra ele, do mesmo jeito, correndo pra lá e pra cá. Quando estava próximo de terminar o governo FHC, a minha filha prestou vestibular na UNB e eu voltei à tona. Aí, já era o Governo Lula, eu consegui vir pra cá. E agora estou assistindo aqui.
P/1 – Deixa eu entender essa parte da sua vida sindical também. O Senhor se sindicalizou desde o início?
R – Eu sou fundador do Sindicato.
P/1 – de qual sindicato?
R – Sindicato de São Paulo, que atende aqui em Brasília.
P/1 – A fundação foi quando?
R – Sabe que eu não sei dizer a data?
P/1 – Não tem importância, vamos adiante. O Senhor participou da fundação e exerceu que cargos?
R – Ah, eu já fui delegado sindical, fui diretor de base. Hoje eu sou diretor de base e estou na executiva do Sindicato também. Estou na Secretaria de Formação.
P/1 – Agora o Senhor está na Secretaria de Formação?
R – Estou, na coordenação dela, do Sindicato de São Paulo. Mas eu estou no Sindicato desde a formação, eu só fiquei fora um mandato do Sindicato, porque eu tinha uma divergência política com o pessoal.
P/1 – Com o pessoal do Sindicato lá de São Paulo?
R – Isso.
P/1 – Eu queria entender, o Senhor falou em perseguição, foi por parte da própria Empresa ou do próprio Sindicato?
R – Não, da própria Empresa, o Sindicato nunca me perseguiu, mesmo estando em outra posição.
P/1 – E como foi esse processo com a Empresa?
R – Bom, eu fiquei 12 anos sem ter uma promoção. Batiam nas costas, tava tudo bem, mas chegava na hora, não via nada. Para você ter uma idéia, na greve do Collor, em 1990, 91, foi a primeira greve que nós fizemos contra o Collor, terminou a greve e nós voltamos pro trabalho. Me convidaram para passar um mês no Edisp, o escritório lá de São Paulo. Eu fiquei cinco anos, tentando me calar. Mas como falaram, o bom cabrito não berra, e eu fiquei quietinho. Tanto é que me deixaram sozinho: “Ele vai pedir arrego lá” e eu tomava conta daquilo tudo e ainda sobrava tempo para militar, entregar boletim e fazer outras coisas.
P/1 - Militar e o quê?
R – Militar, entregar boletim, agitava, fazia a minha agitação toda. Essa rota da Petrobras era um negócio que estava encravado lá, ninguém fazia, tudo parado. Eu não tinha nada o que fazer e comecei a mexer com aquilo. Eu sou autodidata, comecei a ler aquilo: “o que é isso?” Então, eu implantei toda a rota no Estado de São Paulo sozinho. Tudo analógico, eu colocava tudinho. Aí me deram a coordenação do meu setor, que chamava Nuspo. Então, teoricamente, eu era o chefe do Nuspo.
P/1 – NUSPO?
R – É, Núcleo de São Paulo, vinha de São Paulo até aqui, em Brasília. Eu fiquei lá durante cinco anos. Eu era o substituto do camarada que era o coordenador. Depois, ele aposentou e eu fiquei um tempo. Aí me deixaram, eu falei: “vou cooptar bastante”. E cooptei
Quando chegou em 1995 foi aquela greve todinha. Não só eu fui para a greve, como levei todo mundo do meu setor. Quando eu voltei, sabe o que aconteceu, né? Não tinha mais lugar. Embora eu estivesse pouco me lixando pra aquilo. Aí me mandaram para Barueri, lá no Terminal de Barueri que, teoricamente, é um terminal altamente politizado porque todo mundo que era grevista ia pra lá. Aí eu fiquei em Barueri, atendendo o Osbra, mas estou aí até hoje. Atendia Barueri mais todo o estado de São Paulo.
P/1 – Aí você perdeu a gerência?
R – Perdi, não era gerência, era um cargo de coordenador.
P/1 – Mas perdeu a coordenação?
R – Perdi, tinha um cara que nunca bateu comigo. Não tinha nada a ver comigo, não. Aí, tudo o que eu fazia, eu escrevia para o camarada lá que ficou, por ele vinha perseguindo, a fim de achar um rabo pra sentar um relho, né? Hoje ele ainda continua na Empresa, continua gerente lá, o Bergson. Faz o que o pessoal manda, né, é um pau mandado.
P/1 – Me conta uma coisa, vocês vão manter essa ligação São Paulo, com o Sindicato de Brasília ou vocês vão terminar?
R – A gente vai manter isso aqui ainda.
P/1 – A idéia é manter?
R – É porque o volume de pessoas é muito pequeno.
P/1 – Me diga, como é o seu cotidiano de trabalho hoje?
R – Ah, é puxado. Para ter uma idéia, eu coordeno - e executo – eu e mais dois camaradas, todo o sistema de telecomunicações que é voz, dados e imagem, mais radio, telefone, de toda Brasília, que tem o terminal aqui, mais dois sites, tem o Ministério das Minas e Energia, tem Aeroporto e mais esse prédio.
P/1 – A Petrobras é ligada ao Ministério das Minas e Energia, mas o Aeroporto é uma coisa extra, que vocês dão apoio?
R – Não, não é o aeroporto, é porque lá dentro tem atividades da Petrobras.
P/1 – Ah, tá. De abastecimento?
R – Abastecimento das aeronaves, tem a BR lá.
P/1 – O Senhor é ligado à BR?
R – Não, sou da Petrobras. Mas a Petrobras é que abastece a BR, então, existe um link de comunicações Petrobras – BR.
P/1 – O Senhor me disse que é autodidata. Sua formação foi como?
R – Não, eu falo que sou autodidata porque eu pego qualquer equipamento e na hora leio...
P/1 – E a sua formação?
R – Eu sou formado em Eletro-técnica péla Escola Técnica Federal de São Paulo. Eu sou fundador da Embratel. Quando eu estava terminando o meu curso de eletro técnica, a Embratel foi na Escola Técnica e trouxe um monte estagiários, no qual eu estava incluso, que ela estava formando. Eu fiquei na Embratel de 1973 até1977. Aí , eu fui para a iniciativa privada, fui trabalhar no Grupo NEC, como técnico em telecomunicações já. A Embratel me catou e me formou, porque eu era formado em eletro-técnica, enrolava transformador, não tinha nada com isso aqui, não. Então, eu me formei dentro da Embratel, porque eles me deram um curso de aperfeiçoamento e, depois fui para outra Empresa de telecomunicações, que é a NEC do Brasil. Aí, eu me casei e, quando a minha mulher estava grávida, eu não parava em casa. Tanto é que quando meu primeiro filho nasceu eu estava lá na Guiana Francesa, no meio do mato. Quando eu descobri que meu filho nasceu, já fazia dois dias que ele havia nascido. Eu vim embora, saí correndo desesperado, vim, cheguei em São Paulo minha mulher estava desesperada. Aí, eu falei: “preciso arrumar um lugar que eu não viaje tanto.” E prestei concurso na Petrobras e na Cesp. Passei nos dois, o que veio, eu vim e fiquei, estou aí até hoje.
P/1 – Agora o Senhor vai me contar alguma história desses dez anos da obra da Osbra que tenha lhe marcado. Pode ser uma história engraçada...
R – Eu vou contar uma história engraçada, mas não é do Osbras. Faz uns cinco anos, eu já estava em São Paulo. A gente estava automatizado o trecho de Cubatão até São Paulo. E a gente tinha uma repetidora bem no topo da serra. Não sei se vocês conhecem Santos, mas no alto tem uma repetidora, tem uma torre lá. E tem uma outra repetidora bem em frente a fábrica da Volkswagen, no meio de uma favela, bem no alto da favela lá, sabe? Eu sai de manhã cedo para fazer um teste de rádio, para ver a propagação de rádio. E fui até o topo da serra, coloquei um rádio e voltei lá pro morro em frente da Volkswagen. Então, ela ficava no meio da favela, estradinha de terra e eu estou lá com o carro. Tinha um pequeno declive assim e eu parei o carro para passar. Quando eu fui passar no buraco, que dei aquela freada, vieram dois camaradas me assaltar, dois revolveres, um de cada lado: “desce, desce!” Eu até falei: “Ô, mano, paraí, não esquenta cabeça não”, “é grana, desce, desce.” Eu falei: “oh, o dinheiro que eu tenho ta aqui, oh, mano”. Tinha sessenta reais que um camarada tinha me pagado de manhã, eu tinha emprestado para o colega Freitas. Eu falei: “a grana que eu tenho ta aqui, são sessenta reais.” O camarada: “desce, desce.” E pegou o meu dinheiro: “e a carteira?” “Ih...” Pensei comigo:“vão me roubar, vão me levar carro, notebook, instrumento...eu estou ferrado!” “Me dá a carteira!” Quando ele pegou a minha carteira, caiu um monte de cartão, fez aquela bagunça, caiu tudinho no chão. E tinha um papelzinho do Sindicato, um convite para uma festa do PSTU. Quando o cara viu: “Õ, mano! Tu é do PSTU?” Não, mas tenho muitos camaradas, conheço muita gente!” “ Você conhece o Satanás?” Eu falei: “pô, conheço!” E, realmente, eu conheço. O Satanás era um metalúrgico da Volkswagen, e o apelido dele era Satanás porque ele era muito agitador. “Eu conheço o satanás, sim. É meu camarada!” “É, mano? Então, tu tá liberado!” Aí me devolveu tudo e me perguntou se poderia ficar com dez reais. Então, o Satanás me livrou a cara. Eu dou risada disso aí, né?”
P/1 – Se tornou um assalto amigável, né?
R – É ficou amigável. Depois, passou alguns dias, houve um incidente numa invasão de terras, próximo à Volkswagen em que mataram um repórter, não sei se vocês lembram. E esse camarada foi o que matou o repórter.
P/1 – Nossa!
R – Ai o pessoal até brinca. Que eu sou materialista e convicto, porque o Satanás me livrou a cara. Isso que foi interessante.
P/1 – Não era tão manso, né?
R – Não. Não era, e eles estavam... Foi muita sorte. E o Satanás estava lá comigo naquela hora.
P/1 – E aqui também por essas obras? Tem alguma outra historia? Dessas viagens acompanhando também?
R – Ah, tem muitas. Agora tem uma aqui marcante também, eu acho que foi muito engraçada. Eu vi um camarada sair de dentro de um buraco sem por as mãos no buraco. Na interligação da fibra óptica lá em Senador Canedo, tinha um camarada de uma empreiteira, se chamava Toninho, e ele estava executando o trabalho e eu estava fiscalizando. E ele estava passando um cabo telefônico, que tinha aproximadamente uns 500 metros. Eles compraram o cabo, lançaram o cabo, saíram puxando, eles compraram o cabo e o tamanho foi insuficiente, foi menor. Aí compraram outro cabo e tinha que recolher aquele. Então ele estava dentro de uma caixa de passagem de aproximadamente um metro e meio. Então uma pessoa pra sair era muito difícil. E ele estava lá puxando o cabo, lá dentro puxando o cabo e arrancando de volta. Aí quando ele puxou esse cabo veio uma baita de uma cobra, e esse camarada saiu do buraco sem por a mão. Pulou pra fora assim. Foi muito engraçado (risos) A gente passou a chamar ele de Super Toninho. (risos) Tem o Super Homem e ele saiu de dentro do buraco já voando. Era uma carirana até. Muito engraçado.
P/1 – Então está. Eu queria também perguntar: o senhor se sente petroleiro mesmo? O que é ser petroleiro?
R – Sinto. É uma coisa muito engraçada, eu não consigo nem expressar o que é. Eu sei que eu tenho muito orgulho de ser petroleiro, de estar aqui dentro dessa empresa. Essa empresa pra mim, eu fico até pensando hoje... Eu estou próximo da aposentadoria, esse dia vai chegando, tudo um dia vai findar, né? Eu fico pensando como que vai ser. Eu sinto muito orgulho de participar deste processo. Antigamente nosso setor não era atividade definida da Petrobras. Hoje nos somos. Nós criamos hoje... O que nos criamos aí dentro que a gente está. É muito prazeroso. Eu falo hoje que na Petrobras embora a gente... O importante pra gente não é nem a remuneração sabe? No meu caso, eu acho que seria melhor todo mundo, que embora isso pra mim nunca foi um fator muito relevante. Dinheiro é bom, mas eu sou um camarada, que nem eu te falei, eu sou filho de militante de esquerda, nasci na esquerda. Eu tenho 51 anos de idade, aí você pensa assim: “um camarada com mais de 50 anos de idade achar que pode mudar o mundo, esse cara não é bem, né?”. E eu sou um desses caras, e eu trabalho nisso, eu nunca vou mudar nisso. Eu sou um cara convicto, eu sei que aqui dentro hoje a nossa direção, a gente está trabalhando pra isso. Eu me sinto bem nisso, eu quero... Eu gostaria de me findar petroleiro sabe? Quando eu for embora estar com essa marca. Isto faz muito bem pro meu ego. Eu tenho muito orgulho de ser petroleiro. Uma das coisas de que eu me orgulho é isso.
P/1 – Laura você quer fazer uma pergunta?
P/2 – O senhor falou da importância que foi pra região centro-oeste, a chegada da Petrobras, foi uma parte que eu achei muito interessante na entrevista. Mas especialmente destacou a importância no município de Senador Canedo. Mas eu gostaria de saber se o senhor destacaria também alguma outra importância da Osbra, ou da distribuição da Transpetro, do abastecimento, da Petrobras propriamente assim como importância na região...
P/1 – Aqui pro centro-oeste também.
R – Ah sim. Falando em questão de empresa, né? O Osbra tem uma importância tremenda. Pra você ter uma idéia, tudo quanto eram produtos de derivados de petróleo vinha tudo por caminhão pra cá. Chegava tudo no caminhão. O pessoal era muito dependente disso. Hoje tem duto e distribui assim. Coisa muito grande isso aí. Hoje só não chega em Brasília querosene de aviação, por causa da extensão do duto né? Eu não sou especialista, mas a única coisa que não chega, mas abastecimentos locais, a região... Pra ter uma idéia, questão de economia, imagina chegando isso chegando tudo de caminhão pra abastecer todo o centro-oeste. É muito grande, é uma dependência muito grande.
P/2 – Então foi uma revolução né?
R – Foi uma revolução. Eu me lembro na época, só de lobby, o pessoal gastava, o pessoal dessas transportadoras, pra não implantar o lobby era muito grande.
P/1 – Teve toda essa pressão?
R – Teve, foi muito grande. Havia um lobby muito grande pra não ter isso aí.
P/1 – Contra o próprio Osbra?
R – Contra o próprio Osbra. O Osbra saiu por força própria sem problemas. É um negócio de uma relevância muito grande. A questão de logística, acho que dá até pra imaginar, como que vai distribuir aqui...
P/1 – Pais inteiro.
R – É.
P/2 – Uma região central né?
R – Central.
P/1 – Senhor Vereníssimo, queria perguntar se o senhor teria mais alguma outra historia ou alguma outra coisa que o senhor gostaria de deixar registrado. Que não falou, que a gente não perguntou, e que o senhor gostaria de falar.
R – Não. Eu não me lembro assim não.
P/1 – Eu queria saber então o que o senhor achou de ter ajudado, ter participado do Projeto Memória e estar ajudando a construir um pouquinho também dessa historia.
R – Eu achei muito bom. Que nem eu falei, eu gostaria de me findar, morrer petroleiro, eu acho que isso vai contribuir pra mim né? Eu acho que vai ser eternizado. Então é isso.
P/2 – E o senhor estuda história?
R – Estudo historia. Estou tentando terminar, alguns anos aí.
P/1 – Que bacana! A gente gostaria de agradecer a sua participação, a sua contribuição mesmo pro projeto. A gente gostou bastante da entrevista.
R – Está ok. Muito obrigado. Valeu.
P/1 – Muito obrigada ao senhor!
P/2 – Muito obrigada ao senhor!
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