P/1: Qual o seu nome completo, local e data de nascimento.
R: Marcelo Akiyoshi, natural de São Paulo, nasci 21 de fevereiro de 1971.
P/1:Quem veio do Japão para o Brasil?
R: Por parte de pai meus avós, por parte de mãe meus bisavós.
P/1:Por que eles saíram do Japão, e quando?
R: Vieram aproximadamente entre 1908, e 1910, não tenho a data certa, mas por motivo de trabalho. Como no Japão, naquela época, não se ganhava muito dinheiro, eles vieram na expectativa de ter uma vida melhor, e ganhar dinheiro plantando café.
P/1:Você sabe como se deu a vinda deles, para onde foram, eles já tinham lugar certo para trabalhar?
R: È parecido com o que está acontecendo hoje. Nós vamos para o Japão para ganhar dinheiro, mas, tudo certo, já, meio que colocado e a gente trabalha lá, tudo certinho. Eles vieram nessa expectativa, tudo certinho, só quando chegaram aqui, era uma ilusão. Falaram que se ganhava muito dinheiro, e aqui se trabalhava mais do que se ganhava. Era quase um trabalho escravo.
P/1:Eles foram para que região?
R: Seria interior de S. Paulo, na região de Bauru. Eles foram trabalhar em fazendas, plantações de café, em geral, mas o forte era café.
P/1: E por parte materna, os seus bisavós vieram em que época?
R: Vieram um pouquinho depois ou antes, mas é na mesma época, e deram tempo de fazer os filhos aqui. Portanto sou a quarta geração por parte de mãe.
P/1: Eles foram para que região, você sabe?
R: Não. Certamente não.
P/1: Depois que seus avós foram para Bauru, o que fizeram depois?
R: Não. Conforme a expectativa de vida foi melhorando, eles foram migrando no sentido capital, e vieram até o Parque D. Pedro, no Mercadão Central, até chegar na Lapa.
P/1: E no Mercado Central o que eles foram fazer?
R: Trabalhar com legumes, frutas. Meu pai, por exemplo, trabalhou como funcionário um bom tempo lá naquele Mercado, até conseguir esse pedacinho que a gente toma conta até hoje. Você falou que seus pais...
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P/1: Qual o seu nome completo, local e data de nascimento.
R: Marcelo Akiyoshi, natural de São Paulo, nasci 21 de fevereiro de 1971.
P/1:Quem veio do Japão para o Brasil?
R: Por parte de pai meus avós, por parte de mãe meus bisavós.
P/1:Por que eles saíram do Japão, e quando?
R: Vieram aproximadamente entre 1908, e 1910, não tenho a data certa, mas por motivo de trabalho. Como no Japão, naquela época, não se ganhava muito dinheiro, eles vieram na expectativa de ter uma vida melhor, e ganhar dinheiro plantando café.
P/1:Você sabe como se deu a vinda deles, para onde foram, eles já tinham lugar certo para trabalhar?
R: È parecido com o que está acontecendo hoje. Nós vamos para o Japão para ganhar dinheiro, mas, tudo certo, já, meio que colocado e a gente trabalha lá, tudo certinho. Eles vieram nessa expectativa, tudo certinho, só quando chegaram aqui, era uma ilusão. Falaram que se ganhava muito dinheiro, e aqui se trabalhava mais do que se ganhava. Era quase um trabalho escravo.
P/1:Eles foram para que região?
R: Seria interior de S. Paulo, na região de Bauru. Eles foram trabalhar em fazendas, plantações de café, em geral, mas o forte era café.
P/1: E por parte materna, os seus bisavós vieram em que época?
R: Vieram um pouquinho depois ou antes, mas é na mesma época, e deram tempo de fazer os filhos aqui. Portanto sou a quarta geração por parte de mãe.
P/1: Eles foram para que região, você sabe?
R: Não. Certamente não.
P/1: Depois que seus avós foram para Bauru, o que fizeram depois?
R: Não. Conforme a expectativa de vida foi melhorando, eles foram migrando no sentido capital, e vieram até o Parque D. Pedro, no Mercadão Central, até chegar na Lapa.
P/1: E no Mercado Central o que eles foram fazer?
R: Trabalhar com legumes, frutas. Meu pai, por exemplo, trabalhou como funcionário um bom tempo lá naquele Mercado, até conseguir esse pedacinho que a gente toma conta até hoje. Você falou que seus pais estão na Lapa durante 40 anos.
P/1: Seus pais já estavam casados quando mudaram?
R: Meu pai já era morador da região, minha mãe é de Atibaia. Eles se conheceram na Lapa, e casaram.
P/1: Essa banca que vocês têm hoje no Mercado da Lapa era de quem?
R: Eles já tinham antes do casamento, e é de propriedade por parte de pai. Minha avó conseguiu tudo, e a gente está levando até hoje.
P/1: Sua mãe ou sua avó comentavam como era o Mercado da Lapa nessa época? Como era a região?
R: A região não tinha muito comércio. Então foi feito o Mercado para suprir todos aqueles bairros carentes. O movimento em relação a hoje, era muito melhor, porque naquela época não existiam supermercados, nem sacolões, apenas feiras-livres, que não eram páreo pro Mercado. E desde aquela época que eles estão batalhando.
P/1: Sua família trabalha com hortifrutigranjeiros. Tinha outros tipos de bancas?
R: O mercado é completo. Trabalhamos nos setores de frios, mercearia, hortifruti, tem carnes, peixes, então é bem diversificado. Cada setor tem descendente de alguma raça.
P/1: Naquela época o que diferenciava a forma de trabalhar?
R: Como o mercado era único na região, então não tínhamos concorrência. Não precisava trabalhar com o atacado. Apenas o varejo. O cliente vinha até o mercado. Hoje em dia mudou, temos muita concorrência, supermercado, varejão e o público tem aquela vantagem de escolher. Então, estamos partindo para o atacado. Não estamos trabalhando mais apenas no varejo. Temos entregas para supermercado, restaurante, lanchonetes, pastelaria, pizzaria, trabalhamos com o público em geral, e com delivery. Levamos a mercadoria até o cliente. O cliente não precisa vir buscar.
P/1: Você nasceu em 1971. Que língua era falada em casa?
R: Na época dos meus bisavós, avós, se falava muito o japonês. A princípio por respeito, porque eles é que vieram pra cá. Então, a língua japonesa era muito fluente em casa. Hoje já perdemos muito, porque eles já faleceram, a gente entra na escola, aprende a nossa língua, o português, e fala-se muito pouco. Só quando tem reunião de família, ou festa, que tem o pessoal idoso, somos obrigados a conversar com eles em japonês.
P/1: E o que mais marcou vocês em relação à cultura japonesa?
R: A cultura japonesa é muito unida. Tanto, que existem clubes até hoje que são freqüentados só por japoneses, Isso é muito leal. O povo é muito unido. Quando tem festa, algum bazar beneficente, de cultura japonesa, sempre está cheio. O povo assim procura sempre se concentrar. Porque não existem muitos. Tem uma boa porcentagem que voltou pro Japão, pra trabalhar, ganhar o seu dinheirinho lá, e o pouco de restou aqui a gente procura manter unido.
P/1: Quanto à alimentação, vocês conservaram a culinária típica japonesa?
R: Sim, sim, na época em que meu avós estavam vivos, no fim de semana, o prato no final de semana era exclusivo japonês ou 80% japonês. Hoje, não. A gente tem muita coisa prática, então tem opções. Mas, o arroz, continua sendo, desde aquela época que meus avós vieram, que trouxeram aquele tipo de arroz, até hoje a gente come aquele arroz.
P/1: Que pratos vocês comem até hoje, típicos japoneses?
R: Bom. Tem sukiaki, yakisoba, comemos muito sushi, sashimi, tem outras variedades de sushi, que o povo não conhece muito...
P/1: Qual seria esse tipo?
R: Aquele que vem com filé de lula, filé de polvo, o pessoal só acostumou com o filé de peixe, né, mas tem outras variedades que nós consumimos mas que o povo brasileiro não é muito chegado.
P/1: Por que?
R: Acho que é meio que falta de costume. Mas tenho muitos amigos brasileiros que eles... comem Numa boa. Normal. Eles preferem ir até num restaurante japonês, do que comer comida italiana.
P/1: Quais são esses clubes japoneses aos quais você se referiu? Aqui na Lapa, ainda existe o Anhanguera Nikei Clube. O povo que freqüenta lá é da raça oriental. Então, esse é um dos. Em Pinheiros também tem um, mas não sei a localização. Mas o mais forte daqui da região, é o Anhanguera Nikei Clube.
P/1: Que tipo de atividades são desenvolvidas nesse clube?
R: De tudo um pouco. Tem cursos de culinária, de ikebana, um tipo de... são costumes. Eles dão os cursos para a criançada desde pequeno, para ir já aprendendo, pra não perder aquilo. Então, tem também aulas de vôlei, de futebol. Mas a maioria são descendentes de japoneses.
P/1: Você fala e escreve japonês?
R: É vergonhoso falar, mas eu mais entendo do que falo. E também algumas coisas eu sei ler, do que escrever, porque escrever é difícil, um tracinho que você muda lá, e já muda totalmente a palavra. Você nasceu e morou sempre na Lapa. Sempre.
P/1: E nesse tempo todo quais as transformações que aconteceram no bairro? E mesmo os seus pais. O que eles comentam de antigamente.
R: O bairro ganhou muito migrante assim nordestino. Em geral. Mas, melhoria houve muitas. Porque a Lapa é um bairro muito baixo, e por ser baixo, tinha muito brejo. Ao redor do mercado, só existia o mercado, a linha do trem, e algumas ruas de terra. O resto era brejo. Então cresceu muito, tem muitos edifícios, teve uma boa melhoria. Mas o que meus pais e meus avós falavam, e minha mãe fala até hoje, é que era um lugar ermo, muito pobre.
P/1: Você lembra da casa onde você morava?
R: É a atual (riso). Até hoje. Antigamente não existia muito portão alto. As casas eram muradas até a cintura, e algumas nem portões tinham. Era tranqüilo. Até hoje é um bairro tranqüilo, em relação aos outros. Mas o pessoal por medo, privacidade, não sei, todos ergueram muros, portões altos, segurança e é um bairro que está crescendo.
P/1: Voltando à cultura japonesa. Você falou dos alimentos, do respeito, da língua, que outro tipo de hábito ficou dessa cultura no seu cotidiano?
R: Hoje em dia ainda existem aquelas famílias que são contra os nipônicos, a ter relacionamento com brasileiros, outro tipo de raça, e tal, isso ainda existe. Não é o meu caso. Eu tenho livre e espontânea vontade e escolha, mas tenho amigos que não namoram com brasileiros, porque a famílias é contra, os avós são contra, o cara não pode nem levar a namorada em casa porque a família não gosta. Esse ainda prevalece, esse tipo de...
P/1: Porque você acha que acontece isso?
R: É mais esse negócio de união. Os mais antigos preferem, mais pela cultura, pelo gesto de lidar com eles mesmos, porque tem muita gente hoje que não sabe lidar com uma pessoa idosa. E a pessoa idosa japonesa, ela é muito carente. Não é costume, mas a maioria, quando fica idosa, é de costume o filho mais velho tomar conta dos pais. Existe até hoje ainda. O idoso vai morar com o filho mais velho, que cuida dos pais, mesmo tendo 10 irmãos, sempre fica o mais velho pra tomar conta.
P/1: Bom, eu agradecer a tua entrevista.
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