P/1 – Bom, então pra começar, você pode me dizer o seu nome completo, local e data de nascimento?R – É Cid Cordeiro Silva, nascimento em 14 de março de 1962, nascido em Formosa do Oeste, no Paraná.P/1 – E qual é a sua formação educacional, Cid?R – Fiz curso de economia, com mestrado; eu cumpri os créditos do mestrado em “Desenvolvimento Econômico” na Federal.P/1 – E você pode dizer pra mim qual foi seu primeiro trabalho?R – Eu trabalhei com os meus pais, que tinham comércio. Então, pequeno, mas era cuidar de um bazar, um armarinho, né? Trabalho “fora” foi numa fábrica de telha e cimento, na parte administrativa.P/1 – Já nessa época, você tinha uma sensibilidade quanto à questão sindical, quando isso começou a aparecer na sua vida?R – Na questão política sempre tive uma sensibilidade, uma participação... Meu pai era de uma cidade pequena, onde havia a Aliança Renovadora Nacional (Arena) - Arena I e Arena II; e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) também; mas era muita repressão, então as cidades pequenas conseguiam ter dois partidos governistas. Com a Arena II eu tinha envolvimento; participava das campanhas políticas; depois começaram a vir os candidatos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) visitar a cidade, então, eu estava sempre presente nos comícios.P/1 – Isso era por volta de quando?R – Isso era em 1970 e,1974..., até antes um pouco de 1974, né?. É mas eu tinha dez anos, né, então 1972, 1974, 1976 são as minhas memórias, assim.P/2 – Mas como era pra você uma criança, praticamente?R – É, meu pai recebia um jornal regional e eu sempre lia essa parte de política, mesmo pequeno. Nas campanhas políticas, eu me envolvia; fazia as campanhas, distribuía panfleto, subia no palanque, ficava lá... mas evidente, uma participação é marcada por uma opção; mas mais por estar envolvido num...
Continuar leituraP/1 – Bom, então pra começar, você pode me dizer o seu nome completo, local e data de nascimento?R – É Cid Cordeiro Silva, nascimento em 14 de março de 1962, nascido em Formosa do Oeste, no Paraná.P/1 – E qual é a sua formação educacional, Cid?R – Fiz curso de economia, com mestrado; eu cumpri os créditos do mestrado em “Desenvolvimento Econômico” na Federal.P/1 – E você pode dizer pra mim qual foi seu primeiro trabalho?R – Eu trabalhei com os meus pais, que tinham comércio. Então, pequeno, mas era cuidar de um bazar, um armarinho, né? Trabalho “fora” foi numa fábrica de telha e cimento, na parte administrativa.P/1 – Já nessa época, você tinha uma sensibilidade quanto à questão sindical, quando isso começou a aparecer na sua vida?R – Na questão política sempre tive uma sensibilidade, uma participação... Meu pai era de uma cidade pequena, onde havia a Aliança Renovadora Nacional (Arena) - Arena I e Arena II; e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) também; mas era muita repressão, então as cidades pequenas conseguiam ter dois partidos governistas. Com a Arena II eu tinha envolvimento; participava das campanhas políticas; depois começaram a vir os candidatos do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) visitar a cidade, então, eu estava sempre presente nos comícios.P/1 – Isso era por volta de quando?R – Isso era em 1970 e,1974..., até antes um pouco de 1974, né?. É mas eu tinha dez anos, né, então 1972, 1974, 1976 são as minhas memórias, assim.P/2 – Mas como era pra você uma criança, praticamente?R – É, meu pai recebia um jornal regional e eu sempre lia essa parte de política, mesmo pequeno. Nas campanhas políticas, eu me envolvia; fazia as campanhas, distribuía panfleto, subia no palanque, ficava lá... mas evidente, uma participação é marcada por uma opção; mas mais por estar envolvido num ambiente que era legal, que eu gostava, participava.P/1 – E quando você saiu da sua cidade? Porque isso tudo se deu ali na sua cidade.R – Sim, sim.P/1 – E, por volta de quando você saiu da sua cidade?R – Eu saí de Formosa em 1976; daí eu fui para Londrina, onde não tinha essa participação, né? Porque tivemos no Paraná uma crise econômica, por causa de uma geada muito forte em 1974... então o comércio – meu pai trabalhava com armarinhos - começou a ir mal. Então nós abrimos um outro “armarinhos” em Londrina. Minha mãe ficou em Formosa, cuidando dessa loja e abrimos uma outra loja em Londrina, eu fui com meu pai, então lá eu só trabalhava no bazar, no armarinhos e estudava e visitava sempre a biblioteca; sempre tive uma ligação muito forte com ter acesso às informações.P/1 – Você prosseguiu os seus estudos ali em Londrina?R – É. Então fiz lá em Londrina o segundo grau, né? Não, terminei o primeiro grau... fiz o segundo grau, mas não terminei em Londrina porque daí eu fui terminar em Curitiba.P/1 – Aí você já tinha ido para Curitiba e lá você termina a sua parte educacional?R – Foi, foi em Curitiba eu terminei o segundo grau. E, em Curitiba eu tava estudando, trabalhando, daí fui numa reunião do MDB de então. Fui procurar onde era o MDB, fui numa reunião daí teve uma atividade lá que o Ulisses Guimarães esteve lá também, eu estive presente; mas não me envolvi, só foi essa minha pequena participação, no início.P/1 – E quando o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos [DIEESE] entra de fato na sua vida?R – Bom, antes, aconteceu um fato importante aí: quando eu comecei a trabalhar no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]; tava trabalhando no Censo de 1980, e fui fazer uma pesquisa com um Seminário, com os seminaristas, né? Então fui, era parte do setor; eles me convidaram pra uma reunião de grupo de jovens; nessa reunião tava marcando uma reunião do setor – um setor inclui vários bairros. Olha: “Então quem quer ir nessa reunião do setor, vai tá lá; quem quiser ir, “tamos” convidando, só que se forem tem que tomar cuidado, porque tem um pessoal lá comunista, falam muitas coisas subversivas e tal.” Então, fui lá, e nesse encontro eu vi a palestra de um padre que fez uma ligação muito forte com toda aquela carga que eu tinha de leitura de jornal muito superficial... Mas tinha informação, uma informação política; eu não tinha uma formação política e ele fez essa ligação. Então, com informação, e ele abordando pela primeira vez, eu vi uma pessoa abordando a realidade brasileira com um outro enfoque... eu não tinha informação, e ele trabalhando isso, eu me identifiquei imediatamente com aquela visão de Brasil! Me envolvi com Pastoral de Juventude, desenvolvi um ideal de estar defendendo um outro modelo de sociedade, onde os trabalhadores teriam um papel importante, né? Então, foi essa identificação primeira e eu trabalhava num órgão pesquisa, que é o IBGE; quando eu sai do IBGE eu já fiz uma opção política; fui trabalhar num sindicato, já era uma opção política, não mais profissional. Depois o DIEESE estava sendo fundado no Paraná, foi feita uma seleção, eu me candidatei e fui contratado.P/1 – Esse período antes de entrar no DIEESE, antes de passar pela seleção, você já tinha uma idéia do que ele fazia, do que era a instituição?R – Não, só naquele momento que foi aberta a seleção que eu vim a conhecer a entidade e avaliei que seria um espaço maior para desenvolver as coisas que eu acreditava, seria um espaço maior que o sindicato.P/1 – No decorrer destas entrevistas nós notamos que as pessoas acabam criando um vínculo muito forte com a entidade. Você consegue lembrar como foi seu primeiro dia, sua primeira experiência, naqueles primeiros anos de DIEESE, naquele primeiro momento?R – Eu entrei como auxiliar técnico, que fazia a pesquisa da cesta básica. Na verdade, tinha o Everlindo, que foi a pessoa que “levou” o DIEESE, supervisor técnico; só que ele era liberado(?) e eu, que era auxiliar técnico, não tive um envolvimento inicial muito grande com o DIEESE nacional, ficava mais regionalmente. Então, meu primeiro dia foi fazer a pesquisa nos sindicatos do perfil, da pesquisa do local de compra. Já foi um trabalho cotidiano do DIEESE.P/1 – A partir daí, o que você foi fazendo no DIEESE, como foi sua trajetória lá dentro?R – Bom, minha trajetória foi fazer esses trabalhos, pesquisa da cesta, dos recortes de notícias, de categorias, de greves, de temas econômicos. Eu não era formado ainda, estava estudando. Aliás, eu tinha parado, porque estava na militância política e no DIEESE; eu terminei o segundo grau e não fiz vestibular, até porque naquele tempo a gente tinha uma perspectiva. Aliás, a nossa perspectiva era pensar a formação fora da universidade, então, (havia?) uma resistência grande a ter essa formação formal. Então eu parei e entrei na militância política e sindical.P/2 – Qual era a alternativa de formação?R – Eram os encontros, as leituras que a gente fazia. Era muita atividade. Então eu fazia esses trabalhos todos no DIEESE e depois me decidi por economia, vendo que isso refletiria no meu trabalho dentro do DIEESE, me capacitaria a estar desenvolvendo esse trabalho. Como estudante de economia eu começava a exercer algumas funções de técnico dentro do DIEESE, daí tinha alguns problemas porque eu era praticamente o único “liberado” (?) logo depois entrou o Clemente. Mas éramos poucos, tinha que fazer esse trabalho muitas vezes e isso gerava um pouco de conflito.P/2 – Você foi pra faculdade depois?R – Fui, daí eu já tava estudando, teve esse momento que ele tava estudando, né? Entrei no DIEESE em 1982, comecei a cursar a faculdade em 1984, dois anos depois.P/1 – Para você no DIEESE a militância e o trabalho se confundem?R – Hoje menos.P/1 – Mas nesse momento inicial?R – Até recentemente sim, completamente! O trabalho era uma dedicação exclusiva, total.P/1 – Você falou que fazia essa pesquisa da cesta básica e passou a desenvolver outros trabalhos lá dentro; uma coisa muito marcante para nós que acompanhamos as entrevistas, é que a história do DIEESE se confunde muito com o sindicalismo paulista, por ele ter surgido aqui e as especificidades dessa cidade. Como é o DIEESE no Paraná, o que você pode dizer da experiência do DIEESE lá no Paraná, da realidade de vocês, das articulações, dos sindicatos?R –Quando surgiu o DIEESE - em 1982 e 1981 - estava tendo uma abertura na política brasileira, então foi feita toda uma articulação entre os sindicalistas do Estado para levar o DIEESE. Era um trabalho difícil porque nós tínhamos que nos equilibrar, porque o DIEESE sempre tinha essa identificação com levantar as questões dos trabalhadores; era visto mais como oposição naquele momento. O movimento sindical tinha pessoal de todos os (lados?) - governistas, oposicionistas - então nós tínhamos que ter esse cuidado – como sempre – de ser eqüidistantes, tendo essa opção pelo mundo do trabalho: estudar o mundo do trabalho. Tínhamos uma eqüidistância em relação a essa opção política partidária. Tinha que fazer esse equilíbrio muito difícil, porque sempre a gente levantava os dados que denunciavam a situação daquele momento: concentração de renda, as perdas salariais, as greves... Mas sempre, isso não interferia no trabalho, a gente só mostrava: “olha, é isso que está acontecendo”. Denunciava que a inflação era manipulada, quando tinha; logo depois teve os planos econômicos, (quando?) a gente fazia as análises apontando as perdas que os trabalhadores tinham nos planos econômicos, que começaram lá em 86.P/2 – Você falou que são poucas pessoas desse Escritório Regional do Paraná.R – Isto.P/2 – Como funciona o dia-a-dia, como é o trabalho de vocês?R – Com muita atividade, né? Nós temos, por exemplo, cerca de 50 a 52 sindicatos filiados ao DIEESE. Até um tempo atrás era um técnico; por um período (houve) dois técnicos depois ficou um; agora já estamos há um bom tempo com dois técnicos e um auxiliar, bolsista. Então, essa é a equipe para atender 52 sindicatos; nós temos uma inserção também muito grande em pesquisas lá no Paraná, que fomos criando ao longo do tempo. Nós temos, além dos técnicos, um atendimento muito grande junto à imprensa, várias coletivas que são realizadas durante o mês e palestras. O cotidiano é de reuniões e muitas vezes o pessoal até brinca, que lá no Paraná - no meu caso específico - consigo fazer três reuniões quase ao mesmo tempo. Ficar meia hora aqui, já tem outra ali, mas sempre procurando dar conta dessa agenda.P/2 – A demanda desses 50 sindicatos é muito constante, é todo dia?R – Sim, todo dia, e semanalmente você têm três, quatro reuniões, né? Muitas vezes eu marco uma reunião às 14, às 15 outra às 17 horas. Eu tenho que sair correndo de um lado pro outro...P/2 – E vocês desenvolvem trabalhos de pesquisa, além desses trabalhos com os sindicatos?R – Sim, pesquisas relacionadas ao mundo do trabalho. Nós fazemos lá porque tínhamos o trabalho de escritório; a característica principal do Escritório Regional é a pesquisa da cesta básica, e a assessoria às negociações, que sempre fizemos. Tivemos de 1995, dezembro de 94 a dezembro de 97, nós tínhamos a Pesquisa de Emprego e Desemprego [PED], lá em Curitiba, na Região Metropolitana de Curitiba, Pesquisa de Emprego e Desemprego. Como foi um período em que as montadoras estavam se instalando no Paraná, e o governo do Estado fazia uma forte propaganda de crescimento, a pesquisa revelava que a taxa de desemprego. Essa propaganda faziam sempre colocando o número de empregos que “estavam” sendo gerados com os investimentos das montadoras e nós questionávamos esse número pela divulgação dos dados de desemprego. Mostrávamos que Curitiba tinha uma taxa de desemprego um pouco menor que as demais capitais, por uma questão estrutural - como até hoje tem – mas ainda assim era alta. Então, em dezembro de 97 o Governo do Estado rompe a Pesquisa de Emprego e Desemprego. E isso nos motivou a desenvolver, a cobrir essa lacuna de informação sobre o mercado de trabalho na região. Passamos a trabalhar com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados [CAGE], do Ministério do Trabalho; com a Relação Anual de Informações Sociais [RAIS], também. Outras informações eram manipuladas no Estado - como os indicadores de produção industrial/vendas industriais da federação patronal, que só divulgava dados positivos. Todas as pesquisas tinham uma forte influência do Governo do Estado; as pesquisas que outros órgãos da sociedade realizavam no Estado sempre ressaltavam: “Olha, o Brasil tá mal, Paraná tá bem, nós estamos crescendo” a gente levava isso nas negociações e os patrões sempre com o discurso: “Tá ruim”. Isso nos motivou a trabalhar com os indicadores, como uma “missão da verdade”, né, da verdade do nosso ponto de vista; hoje eu tenho isso um pouco mais claro, né? Naquele tempo, era questão de princípio ser contra a manipulação, buscar essa verdade. Então passamos a levantar os dados do emprego formal; logo em seguida a pesquisa dos indicadores das montadoras; trabalhar com os dados da produção industrial do IBGE. São dados que estão aí, então a gente fazia resumos, análises para divulgar para a sociedade, porque os dados estavam ali mas a análise que era manipulada, enviesada. Pesquisa de tarifas públicas pelo impacto que tem no orçamento dos trabalhadores, do comércio, do desempenho do comércio, enfim uma série de pesquisas que nós passamos a divulgar com periodicidade, com regularidade. Daí, o DIEESE regional lá do Paraná assumiu essa dimensão, de trabalhar com os sistemas conjunturais, tornando-se uma referência principalmente junto a imprensa.P/2 – Uma referência nacional?R – Não, regional.P/1 – Uma coisa que sempre aflora aqui nas entrevistas é esse papel de idoneidade que o DIEESE tem; mesmo os índices que ele produz não sendo “agradáveis” ao movimento sindical ele divulga, e isso ressalta o papel que ele tem de ser fiel. Mas no caso do Paraná, quando você comentou agora me veio uma coisa à cabeça – existe uma imagem de Curitiba como cidade modelo – e agora há pouco você falou que o governo sempre tenta passar uma imagem que o país está mal, mas o Paraná está bem. Como entra essa relação do DIEESE? Quando o DIEESE apontava uma situação que desagradasse ao governo? Já causou algum problema, ou transtorno?R – Causou, porque nós tínhamos uma intervenção muito forte, sempre tivemos e temos ainda, na discussão do transporte coletivo de Curitiba que é considerado um transporte coletivo modelo. Nós sempre levantamos questões sobre o transporte coletivo de Curitiba, né? Primeiro que, essa nossa posição tornou o DIEESE uma referência, enquanto um ator - nem sei se poderia classificar como um ator – mas, enfim, como uma entidade que tinha uma leitura, do desenvolvimento do Estado, das questões do Estado, de Curitiba também. Então, a imprensa sempre nos procurou para ouvir o DIEESE, “o quê” o DIEESE tinha a dizer sobre os temas econômicos e sociais. Outra conseqüência disto é que acabou moldando bastante o perfil do escritório; nós durante a história tivemos muito poucos convênios com os governos municipal e estadual, né? Então, o DIEESE, o Escritório Regional do Paraná é um escritório que tem um número muito grande de filiados, a gente consegue o superávit, pelas filiações. Faz muito tempo a gente não tem nenhum convênio; o único, o convênio maior que nós tivemos foi realmente a PED. Depois, tínhamos algumas palestras na Secretaria do Trabalho, mas muito esporádicas; então, essa é uma característica do Escritório Regional. Nós não temos, praticamente, nenhum convênio com o governo, e muito mais um trabalho com os sindicatos.P/1 – E qual o trabalho do DIEESE dada sua experiência lá no Paraná, que você destacaria mais. Diria: “olha esse é o trabalho do DIEESE aqui”. Do seu ponto de vista.R – Sim, certo. Eu acho que o que mais eu ressaltaria do trabalho do Escritório Regional é esse levantamento dos indicadores e principalmente a assessoria que a gente faz nas negociações coletivas. No decorrer do ano são muitas mesas que a gente participa junto. Esse trabalho dos indicadores - que eu falei mais dos indicadores gerais - tem também os indicadores setoriais. Eu sempre avaliei o seguinte: a informação é fundamental, então se eu vou pra uma negociação, eu pego todas as informações possíveis; desde o preço do produto daquele setor, daquele segmento, dos produtos daquele segmento, dos custos daquele setor, do balanço das empresas, os dados de emprego, de média salarial, todas as informações possíveis (a gente levanta?). Tanto do setor privado quanto do setor público. Quando é do setor público levantamos os dados das finanças públicas, com informações muito atuais. A gente vai para a mesa de negociação com um número muito grande de informações mesmo.P/1 – Na entrevista que eu fiz com o Clemente, ele falou que o Governo do Paraná é, tradicionalmente, muito rígido até em questões de repressão e isso reflete até do lado patronal. As negociações eram muito difíceis? Agora que você me falou de ir preparado, com dados na mão, com a leitura do valor produto... Como eram as negociações, como era sentar com os patrões, auxiliando os sindicatos?R – Difícil, porque o empresariado paranaense é muito conservador. O Paraná sempre se caracterizou por ter a média salarial mais baixa da Região Sul, Sudeste, por conta desse conservadorismo. Os empresários sempre foram muito articulados com o Governo do Estado, de fato; então para nós, furar esse bloqueio, esse grupo monolítico que era – o governo e os empresários – era muito difícil. Por isso que nós começamos a levar informação; porque também a atuação política do movimento sindical do Paraná, se a gente for analisar historicamente, sempre foi menos presente na atuação política em nível nacional, por exemplo que o movimento sindical de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul de um tempo atrás, né? Acho que hoje já está no mesmo patamar, mas um tempo atrás não, era uma atuação política menor. Então, “você tinha” empresários muito conservadores e um movimento sindical que não tinha uma atuação política tão grande também. O que nos restava era trabalhar a informação, buscar os dados; isso a gente sempre buscou, né? As lutas, as discussões, eram difíceis, mas nós fomos conseguindo com o tempo. Primeiro: ganhar credibilidade; segundo: transformar as informações em instrumento importante para as conquistas dos trabalhadores. E, quando eu digo credibilidade, o que ocorre hoje é que o movimento patronal não tem uma entidade como o DIEESE os assessorando. Os patrões perguntam pra nós as informações na mesa: “Ah, Cid quanto vai dar o índice de inflação, qual que é sua estimativa?” ou “qual sua avaliação?” Muitas vezes eles perguntam alguma informação na mesa pela credibilidade que a gente teve durante esse processo todo.P/1 – Você está no DIEESE de 1982 até hoje?R – É, eu tive uma rescisão em 1988, para poder sacar o FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço] pra comprar um apartamento. [risos] Meu registro foi sem interrupção desde 1982.P/1 – Você pegou um período dos anos 90 completo, praticamente todos os anos 80. Sabemos que o mundo do trabalho se transformou muito nessas duas décadas. Como você vê a participação do DIEESE nisso? Porque essas transformações foram muito dinâmicas... R – Foram. Agora o seguinte, como “você” estava ali no limite, tá? Eu avalio o seguinte, que não é o mesmo ritmo como as coisas se dão, se deram. Nos anos 80, se estava lá discutindo a jornada de trabalho, se estava discutindo concentração de renda, a distribuição da renda, a produtividade. Então, muitos dos temas atuais estavam presentes naquele momento também. Eu diria o seguinte: tanto os anos 80, quanto os anos 90, a gente tava ali no limite dos acontecimentos, forçando a barra. O que é novo hoje ta sendo vivido hoje; eram as coisas que a gente trabalhava ontem, que foram sendo conquistadas. Agora é evidente que mudam com o tempo as relações de trabalho, né? Nós tínhamos, por exemplo, nos anos 80 a indexação que não temos hoje, então era difícil imaginar você viver uma negociação sem indexação, o reajuste automático dos salários, por exemplo, pela inflação. Nós tínhamos muito menos informação, apesar da gente trabalhar sempre com informação, mas, para ter informação naquele tempo lá, era muito difícil, hoje se tem a Internet. O movimento sindical, evidente, também mudou, tinha um movimento sindical muito voltado para as bandeiras gerais. Os sindicatos, eu diria - não o movimento sindical, os sindicatos - tinham um papel muito forte nas lutas gerais. Avalio que, talvez aí, pelo papel que as próprias Centrais assumiram de levarem essas lutas gerais, os sindicatos acabaram se voltando muito mais para uma luta corporativa. Sempre foi difícil porque a gente sempre estava ali na fronteira.P/1 – Você falou algo interessante agora, a questão das Centrais. Sabemos que o movimento sindical cresceu, se fragmentou em diversas correntes...R – Só agora recuperei uma coisa aqui, acho que teve uma mudança importante no movimento sindical. Importante dos anos 80 para os anos 90 e agora, né? Nos anos 80 a gente reivindicava, e só reivindicava: “Ah, queremos isto, queremos salário mínimo, queremos jornada de trabalho, queremos transporte coletivo, tarifa baixa transporte coletivo, queremos melhores salários”, nós ficávamos só na reivindicação nos anos 80. Nos anos 90, o movimento sindical começou a formular propostas também. Então, passamos de um momento só de reivindicação para um momento que reivindicava e também chegava com as propostas: “Olha, queremos o aumento do salário mínimo com essa política, queremos baixar tarifa por causa disso, porque a tarifa está sendo, enfim, porque o cálculo da planilha está superfaturado, porque é a forma de remuneração; queremos a redução de jornada porque isso vai gerar tantos milhões de empregos”. Nós passamos de “bandeiras” de reivindicação, dos anos 80, para apresentar propostas para essas reivindicações, daí a discussão ela passou a ser diferente.P/1 – O movimento sindical cresceu, se fragmentou, diversas correntes de pensamento, de idéias, “bandeiras”, cores etc. O DIEESE é o único lugar onde tudo isso se encontra e não há confronto. Qual sua visão disso, como você consegue enxergar o DIEESE sendo esse lugar?R – Bom, primeiro porque a gente trabalha com um tema, um interesse que é de todos, né? Que é a questão assim: “como remunerar melhor o trabalho?” Então, o DIEESE tem esse papel de levantar os subsídios para os sindicatos, a partir desses pontos básicos: “Como que eu vou melhorar a remuneração do trabalho?” “Como que eu vou ter uma economia com melhor distribuição de renda?” Como que eu vou subsidiar o sindicalista para que ele faça uma boa negociação e tenha bons resultados na negociação? São esses princípios, no meu ponto de vista, que norteiam o trabalho dos técnicos do DIEESE. E, quem vai definir os uso dessas informações, dessa assessoria é o sindicalista, a diretoria do sindicato. E eles vão utilizar de acordo com sua estratégia. Acho que a questão sindical se influencia muito mais nesse sentido da estratégia, da perspectiva que tem, do modelo de sociedade que cada uma defende, né? E nós trabalhamos com essa coisa que é comum a todas elas, que é geral: melhorar o salário, melhores condições de trabalho. Então, a gente vai lá: “Olha estão aqui as informações”. E o dirigente vai definir a ação sindical, ele tem uma ação sindical, vai utilizar aquela informação para sua ação. A questão toda também é a seguinte: nunca avaliar se aquela negociação está sendo melhor porque aquele sindicato é de uma central ou de outra central. Porque a conjuntura é que vai determinar os resultados de qualquer negociação. Uma categoria pode ter conquistado um acordo melhor em função de uma conjuntura específica - para aquela categoria - e outra categoria vai conseguir um acordo. Tomando como referência, por exemplo, a inflação; alguns outros parâmetros não tão “bons” quanto aquele outro, mas por causa da conjuntura que está afetando aquela categoria. Então, sempre teve esse olhar sobre as diferenças, compreender e respeitar essas diferenças também, e as opções políticas de cada um; pensar o seguinte, eu sempre penso o quê eu posso proporcionar de melhor para que aquele dirigente faça a melhor negociação, dentro do que ele estabeleceu como estratégia de ação sindical.P/1 – Como é participar de uma entidade que tem uma constituição tão própria? Que é o sindicalista de um lado e o técnico do outro?R – É, “cê” fala?P/1 – Assim estruturalmente, como é o dia-a-dia, como é lidar com isso?. Querendo ou não é um tipo de instituição que não é comum, que a gente tem a vivência do sindicalista de um lado e o técnico do outro. Cada um vem de um setor próprio da sociedade também.R – Acho que uma coisa importante aí é não confundir os papéis, o técnico não é sindicalista e o sindicalista não é técnico [risos]. Isto muitas vezes pode acontecer, né? Por exemplo, lá no Paraná a gente tem muito essa questão das coletivas, né, e nas coletivas a gente busca também. Bom, outra coisa que eu também não comentei. Essas informações que a gente produz lá; já volto e retomo aí, vai ter um gancho com essa tua pergunta, deu um outro gancho, uma outra lembrança. Além de contrapor aos dados do governo que eram manipulados, o Governo do Estado - que era manipulado - o que nos motivou a levantar as informações foi pensar que essas informações projetariam os dirigentes sindicais como referência junto à sociedade. Então, nas coletivas, a gente sempre busca privilegiar a participação dos sindicalistas. Para ele se tornar essa referência. Porque as unidades patronais fazem isto, eles tentam vender a informação e se projetam na sociedade como personalidades a partir do domínio que eles têm das informações. E nós pensamos isso também como uma estratégia: “olha, vamos promover os dirigentes sindicais como personalidades, como referência da sociedade”. Bom, por conta disso, muitas vezes, o dirigente muitas vezes acaba se empolgando, e quer dar mais explicações na coletiva do que aquelas mais gerais; ele começa muito a entrar na área técnica mas não consegue cumprir esse papel. Às vezes isso pode gerar um conflito, ou o técnico, né? Lá, nós sempre tínhamos muito esse cuidado, mas só citar como exemplo, para não confundir os papéis do técnico que tem a informação, conduzir uma negociação, ou determinar a ação sindical; na verdade aí a responsabilidade política é do dirigente. Então, sempre nós tivemos essa preocupação muito grande no DIEESE do Paraná de não confundir os papéis.P/1 – Muito da história do DIEESE se confunde com a história do sindicalismo paulista, e no caso vocês estão bem próximos de São Paulo. Quais foram as principais mudanças na seção do DIEESE do Paraná nesses 20 e poucos anos?. Porque se o DIEESE tem 50 anos aqui, ele surgiu no momento em que estavam surgindo várias outras subseções, vários outros Escritórios Regionais, alguns deles já estão com a mesma média de idade de 25, 20 e poucos anos. Quais as principais mudanças você viu nesse período?R – Dos 20 anos?P/1 – É.R – Do DIEESE?P/1 – Do DIEESE lá do Paraná.R – Tá, do DIEESE do Paraná. Bom, primeiro, isso também vai e volta e resgata uma outra resposta que eu dei aqui, de como o movimento sindical do Paraná – o que você falou que se aproximava do Paraná com São Paulo - na verdade é uma proximidade geográfica, mas política é distante. Por exemplo: o movimento sindical do Rio Grande do Sul, Santa Catarina têm muito mais uma influência de São Paulo do que o Paraná teve. Minas, Rio, Paraná foi um pouco isolado, né, até o movimento sindical, não acompanhou tão próximo, nos anos 80 a dinâmica do movimento sindical de São Paulo, como outros Estados. Bom, os 20 anos do DIEESE, nesses 20 anos o que mudou? Acho que hoje a gente tem uma estrutura bem melhor que tínhamos no passado; isso não foi só o DIEESE [risos], a sociedade toda melhorou, né?P/1 – Como era receber dados do DIEESE daqui de São Paulo naquela época?R – Ah!, sim. Eu acho que isto tinha uma ligação forte pelo seguinte: 20 anos atrás nossa capacidade de formulação, de tomar essas iniciativas era muito menor do que hoje. Dos anos 90 pra cá, São Paulo sempre é que criava, tinha um núcleo aqui de São Paulo que criava, trabalhava as pesquisas, a educação sindical; depois é que nós fomos nos capacitando para oferecer isto regionalmente; e também criar regionalmente, formular regionalmente. Então, acho que nós tínhamos um grau de capacitação diferente. Hoje eu já vejo isso pela própria experiência que a gente tem de casa, de desenvolvimento dos trabalhos; eu vejo isso como já mais equilibrado - essa formulação regional e nacional. Agora, as informações nós recebíamos, lá tinha o boletim do DIEESE mensal, tinha os trabalhos de perdas salariais que eram feitos, os trabalhos de educação sindical que o pessoal da equipe daqui ia pro Paraná dar seminários. Era uma relação legal, uma relação ótima com as pessoas e assim que a gente foi tendo uma relação institucional nacional. O que eu acho que uma coisa que marcou muito, no decorrer desses 20 anos também, foi os encontros que eram feitos da equipe nacional. Isto achei fundamental pra motivar, para trocar experiências, para ver como era feito, para recarregar as baterias, né? Porque, tanto no passado quanto hoje você fica muito isolado no Estado; isolado, que eu digo, é que você fica tocando as tuas coisas regionalmente, é muita coisa que a gente faz. Você têm as reuniões, as negociações, você nem tem tempo de estar conversando mais com as pessoas por telefone, ou pela “Internet” mesmo. Você tava o tempo todo envolvido naquele trabalho regional; nos encontros nacionais você descansava um pouco. [risos] Parece irônico dizer: “Ah! Você vinha pra uma reunião você achava que tava descansando”. Mas, eu sempre me sentia assim nessas reuniões. [risos]. P/2 – Pelo menos você sentava. [risos]R – Sentava, ficava parado, [risos] discutia, conversava. Então, você sentia, era quase como se fosse as férias, [risos] daquela correria toda do dia-a-dia. Era recarregar bateria, de fato, tanto como descansar mesmo, apesar de que ficava o dia todo de reunião [risos]. Mas, sair daquele ritmo alucinante. E com as informações, com a relação com as pessoas, a amizade com as pessoas, então você voltava recarregado.P/1 – Todo mundo frisa muito essa questão da amizade dentro do DIEESE. No caso desses encontros, aconteceu alguma coisa engraçada, algo que ficou marcado na memória, um fato engraçado? Quando você trabalha com muita gente, muita gente de lugar diferente, devem pintar as histórias mais mirabolantesR – Ah, sim, primeiro que sempre foi um ambiente muito descontraído, sempre. Então, o tempo todo a gente tem; a gente tá numa discussão seriíssima lá, mas aí tem uma tirada, tem uma piada que surge, tem o relacionamento que acontece. Também após as reuniões, a maioria das pessoas daí vai pra um barzinho, apesar que continua a falar do DIEESE no barzinho; [risos] falando das coisas. Coisas engraçadas: são várias, viu? [risos] Eu tenho que ver ...., vou me lembrando... Tem aquelas pessoas que ficam mais próximas, aí a gente começa a falar sobre isso, né, como o Sena e o Luís que a gente fala que é o “casal 20”. [risos] Ahn. Bom, vou me lembrar. P/1 – Claro, acredito. [risos] Você falou que lá no Paraná, há uma preocupação muito grande em expor para a imprensa, as coletivas, todos esses trabalhos.R – Sim.P/1 – Através disso, como é o reconhecimento do DIEESE pela sociedade, fora do mundo do trabalho?R – É. Muitas vezes as pessoas não sabem que o DIEESE é uma entidade que assessora o movimento sindical. Têm muitas pessoas que pensam que o DIEESE é uma entidade pública, uma Organização Não-Governamental (ONG); então há muito essa visão mais geral. Essa visão que não imagina que o DIEESE assessora exclusivamente o movimento sindical. Pela amplitude de temas que a gente trabalha regionalmente.P/1 – Você acha que o DIEESE fica camuflado? Você acha que as pessoas da sociedade não enxergam o DIEESE como realmente é?R – Da sociedade geral é; eu avalio que eles vêem mais o DIEESE como uma entidade que fala de um monte de coisa, né? Desde tarifa de ônibus, até produção da indústria, do emprego, da cesta básica, de análise da economia do Estado, análise da economia nacional... Agora, aquele público que é a gente - sindical, governamental, empresarial - identificam muito bem o DIEESE. Sabem que o DIEESE tem uma leitura interessada, de interesse, né? Daí o pessoal sabe que o DIEESE tá fazendo aquela leitura, dirigida, objetivada.P/1 – Todos nós sabemos que o movimento sindical se reconhece no DIEESE, sabe o valor que ele tem. Na sua opinião, qual a maior contribuição que o DIEESE deu para o movimento sindical?R – Certo. Aí eu vou ta falando muito mais pela minha experiência regional, né? Acho que ser esse instrumento do movimento sindical para conseguir melhores condições salariais e de trabalho. Acho que o DIEESE dá ao movimento sindical um suporte de informações. Aliado com um compromisso - não é que o DIEESE vai lá e disponibiliza a informação pro dirigente sindical - acho que essa é uma grande diferença. O DIEESE produz informação, mas vai estar junto com o dirigente sindical, acompanhando ele, porque a informação, na medida em que você a coloca numa discussão, ela ganha uma a uma mesa de negociação. Aquela informação pode morrer, ser só um número; agora, como nós estamos estamos envolvidos com o movimento sindical, com a luta, com a ação sindical também, a gente vive essa ação. Estaria compreendido pelo movimento sindical, essa informação meio que ela ganha uma dinâmica, você começa a construir na própria mesa de negociações outras informações, outras leituras. Então, esse suporte acho que é a maior contribuição: a informação com essa relação. Isso ganha uma vida própria nas discussões; tanto na mesa de negociação quando você vai negociar com o governo, acho que diferencia talvez o DIEESE de outras assessorias.P/1 – Qual foi a maior lição que você tirou da sua vivência no DIEESE nesses anos todos?R – Ah!, Primeiro que eu tive uma formação muito grande dentro do DIEESE, que acabou orientando minha opção profissional, minha escolha de ser economista. O DIEESE me influenciou nisto e depois eu avalio que eu também dei um retorno para a instituição, a partir da experiência, da formação, do conhecimento que eu consegui produzir com isto, que é um processo todo dinâmico. Acho também que convivendo com as pessoas do DIEESE, “tive” uma influência também muito grande no meu caráter, na minha personalidade, em princípios de você ter é, buscar aí essa sensação. Não essa sensação, mas buscar essa coisa da justiça, da verdade, apesar que defendemos um ponto de vista, não é, mas você buscar essa questão da objetividade da informação e a partir daí uma leitura dessa informação, acho que teve todas essas influências na minha vida.P/1 – Do seu ponto de vista, qual a perspectiva em relação ao DIEESE e como você acha que ele vai atuar nos próximos anos?R – É, neste momento, fiquei um pouco em crise por causa da crise [risos]. Então, esse período nós ficamos sem reajuste salarial por três anos. O atraso de pagamentos que houve do 13º do ano passado, me pegou num momento de vida que eu estava com um projeto, que foi a construção de uma casa - eu tinha feito todo o planejamento; no limite, até na minha vida pessoal eu vou no limite nas coisas [risos]. Então, tinha feito todo um planejamento do limite e daí isto me afetou pessoalmente. Fiquei assim um pouco em crise aí, essa crise financeira da instituição me deixou um pouco em crise; na relação Cid com a instituição. Mas olha, em termos de perspectiva acho que o DIEESE têm grandes desafios aí pela frente, né? O movimento sindical vai mudando, talvez até consegui responder melhor aquela pergunta que você fez “o que mudou dos anos 20, nos últimos 20 anos?” Acho que os dirigentes sindicais mudaram nesses 20 anos, eu tenho sentido que os dirigentes sindicais estão mais profissionais. Antes eram mais políticos; esse novo perfil de dirigente sindical acho que vai exigir do DIEESE um trabalho mais profissional também. Uma exigência de mais qualidade, uma exigência de mais informação, que gerem mais resultados. Acho que esse é um dos grandes desafios do DIEESE na relação futura com o movimento sindical. E, em nível geral, o DIEESE tem como um desafio estar produzindo mais informações macro-econômicas, para interferir mais - acho que nós interferimos pouco nessa discussão macro. Acho que esse seria um grande desafio para nós também.P/1 – A gente já entrevistou muita gente, bastante gente passou por essa cadeira e já deixou seu depoimento gravado. O que você acha do DIEESE estar investindo nesse projeto de memória?R – Bom. Acho importante ficar como um documento. Porque a gente tem tudo isto, na memória da gente que fica guardado aí; e a gente não consegue avaliar o quanto esse depoimento e esse histórico pessoal acaba sendo a história da instituição também, que vai resultar num produto que gere uma reflexão; pra gente pensar o futuro do DIEESE, né? Eu acho importante, desde que a gente consiga, olhando esse passado, projetar o futuro do DIEESE. Porque eu sempre vejo as coisas muito como uma dinâmica, né; não olhar esse passado só com saudosismo, mas olhar o que ele pode nos ajudar apontar para o futuro.P/1 – O que você achou de participar desse Projeto de Memória: 50 anos do DIEESE?R – Bom, porque eu passei a compartilhar, coletivizar uma experiência pessoal, né? Então, isso eu achei isso importante. Apesar de que em alguns momentos, nos encontros do DIEESE a gente fazer algumas retomadas, mas são momentâneas e pontuais muitas vezes; aqui foi mais uma, aqui teve toda uma trajetória da vida inteira da instituição, então achei importante coletivizar essa experiência pessoal.P/2 – Obrigada.P/1 – Obrigado, Cid.R – NadaP/2 – É isso.
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