Aí teve um domingo que eu fui para a praia, com as amiguinhas, e criou aquele bando. Não era de ir sozinha, era em bando. O irmão, se não levasse, falava pra mãe. E aí a gente foi nadar, brincar na praia, catamos mariscos e fomos para casa da minha tia para cozinhá-los. Minha tia havia saído pra casa da minha mãe para comer uma feijoada. Ou seja, ela não estava lá.
Nós pulamos a janela, pegamos as latinhas e fizemos um cozinhado, antigamente se chamava cozinhado. Organizamos as latinhas com o fogão de lenha e a gente cozinhava. No passado, as pessoas nos davam peixes e a gente assava na brasa, matavam galinha, nos davam, e a gente fazia; a gente limpava as tripas, cozinhava e comia, com farinha e tudo. Ninguém estava nem aí, a gente queria era fazer farra e comer, mesmo.
A gente pulou a janela da casa da minha tia e cozinhou os mariscos lá na latinha. Comemos bem e tudo. Aí estávamos muito cansados, eu, minha irmã, outro irmão, uma vizinha, a Marisa, que era minha amiguinha, e a Verinha. Nós adormecemos, todo mundo, todos que pularam a janela acabaram dormindo. E aí o que aconteceu... Minha tia gostava muito de música, de som, vitrola, muito de disco, e quando ela chegou e viu todo mundo deitado - a gente não tinha essa de colchão, não, a gente dormia na esteira mesmo, de palha, sabe? E não era de biquini, todo mundo de short, de vestido, entende? A gente era criança mesmo - ela só pegou os baldes de água e jogou na gente! Todo mundo acordou num pulo e ela disse: "Comendo mariscos, né? Aqui dentro do meu quintal!" Ela fazia acarajé, e a gente pegou um pouco do dendê e capou no marisco! Quando ela viu aquele dendê, ela falou pra gente: "O que vocês fizeram, meninas? Eu vou falar pra Isaltina", que era a minha mãe, "vou agora voltar pra lá". E da casa da minha tia pra casa da minha mãe era um pouquinho longe, nós já morávamos, tipo, na transição de um bairro pro outro. Ela veio. Minha mãe não pôs a gente de castigo,...
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Aí teve um domingo que eu fui para a praia, com as amiguinhas, e criou aquele bando. Não era de ir sozinha, era em bando. O irmão, se não levasse, falava pra mãe. E aí a gente foi nadar, brincar na praia, catamos mariscos e fomos para casa da minha tia para cozinhá-los. Minha tia havia saído pra casa da minha mãe para comer uma feijoada. Ou seja, ela não estava lá.
Nós pulamos a janela, pegamos as latinhas e fizemos um cozinhado, antigamente se chamava cozinhado. Organizamos as latinhas com o fogão de lenha e a gente cozinhava. No passado, as pessoas nos davam peixes e a gente assava na brasa, matavam galinha, nos davam, e a gente fazia; a gente limpava as tripas, cozinhava e comia, com farinha e tudo. Ninguém estava nem aí, a gente queria era fazer farra e comer, mesmo.
A gente pulou a janela da casa da minha tia e cozinhou os mariscos lá na latinha. Comemos bem e tudo. Aí estávamos muito cansados, eu, minha irmã, outro irmão, uma vizinha, a Marisa, que era minha amiguinha, e a Verinha. Nós adormecemos, todo mundo, todos que pularam a janela acabaram dormindo. E aí o que aconteceu... Minha tia gostava muito de música, de som, vitrola, muito de disco, e quando ela chegou e viu todo mundo deitado - a gente não tinha essa de colchão, não, a gente dormia na esteira mesmo, de palha, sabe? E não era de biquini, todo mundo de short, de vestido, entende? A gente era criança mesmo - ela só pegou os baldes de água e jogou na gente! Todo mundo acordou num pulo e ela disse: "Comendo mariscos, né? Aqui dentro do meu quintal!" Ela fazia acarajé, e a gente pegou um pouco do dendê e capou no marisco! Quando ela viu aquele dendê, ela falou pra gente: "O que vocês fizeram, meninas? Eu vou falar pra Isaltina", que era a minha mãe, "vou agora voltar pra lá". E da casa da minha tia pra casa da minha mãe era um pouquinho longe, nós já morávamos, tipo, na transição de um bairro pro outro. Ela veio. Minha mãe não pôs a gente de castigo, ela deu uma surra! Em mim, na minha irmã e no meu outro irmão. A vizinha também, e a outra vizinha, todo mundo apanhou. Porque era assim, ninguém apanhava sozinho, todo mundo apanhava igual.
Eu estudava com meus irmãos, nós íamos para a escola a pé, todo mundo ia andando. A distância da escola da nossa casa era mais ou menos uns 3km. Todo mundo de conga, ou então, de sandália, direitinho.
Na escola, as professoras enchiam a gente de jornal por dentro da blusa e fechavam. Quem tinha uma meia era porque tinha, algo muito difícil na época. Levávamos nosso material no saquinho de plástico; caderno, a cartilha, o livrinho, tudo direitinho. A gente era obrigado a cantar o hino, a chegar na escola no horário certo, aí tomava a merenda, o café da manhã, depois subíamos no pátio da escola. Todas as escolas lá tinham, tipo assim, duas escadas e em cima, assim, um quadrado que ficava a diretora. Ela vinha, batia o sino, e todo mundo corria, chegava no pátio, se alinhava e cantava o hino nacional. Quem não sabia tinha que pegar o caderno, porque a letra estava atrás no caderno, dado pelo governador, prefeito da escola. Tinha que cantar e tinha que saber cantar. Todo mundo em fila, direitinho. E se você não estivesse cantando a diretora falava: "Você!" Nunca esqueço, entendeu? "Está abestalhado?" Desse jeito. "Vamos cantar." E era cantar direitinho, o hino nacional e o hino da escola, cada escola tinha o seu hino, tudo direitinho.
Eu estudava na escola Ruy Barbosa, nunca esqueço. As datas, símbolos, tinha aquele "Salve lindo o pendão da...", todo mundo tinha que cantar, isso era de praxe, e era muito bom. A gente cantava e ficava todo mundo feliz. E rezava também. Todo mundo rezava o pai nosso, ave maria, todo mundo, independentemente. A escola era assim, e era muito bom. E só passava de ano quem sabia ler e escrever, tá? Todo mundo com seu lápis, com a borrachinha na ponta do lápis, quem não tinha aprendeu a fazer assim, pegava o miolo do pão e passava...
Todos faziam o primário, depois iam para o ginásio, faziam admissão. Mas quem ia pro ginásio era um privilégio, só filho de bacana, eram os ricos, porque pobre não chegava lá. Eu parei no primário, porque aí fui trabalhar e então Sonhos em outros lugares fui realizar... (Só não sabia que seria tão doloroso)...
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