Há exatamente meio século de vida nasci e cresci no seio de uma família
humilde, sem a figura paterna e, com muita dificuldade financeira e cultural, fui o
primeiro a formar-me na docência do ensino do 1º Grau, em Ciências, em 1988, nas
Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO). Na época, era, também, atirador n° 83 da
turma 02 do Tiro de Guerra (TG).
Desde o Ensino Fundamental, eu me empenhava em recuperar e ajudar os
colegas ou amigos mais novos nas horas em que não estava ajudando nos afazeres
de casa, ou no apoio às empreitadas da minha mãe de coração para o sustento dos
cinco filhos. Percebi, de forma prazerosa e intuitiva, que os colegas que passavam
por mim apresentavam sucesso e demonstravam nutrir um sentimento de gratidão
pelo apoio dado.
Ao me encontrar numa encruzilhada entre o sonho de cursar medicina ou
contabilidade, decidi-me pelo curso de Ciências - Licenciatura 1º Grau como única
possibilidade financeira viável, pois, afinal, a Faculdade estava próxima de casa e,
pela curta duração, eu poderia complementá-la na condição plena na cidade vizinha
de Jacarezinho (PR), com habilitação em Matemática, disciplina em que apresentei
facilidade desde muito cedo.
Gradualmente, enxerguei na educação um motivo ou propósito para buscar a
profissionalização e, quem sabe, até descobrir a minha missão de vida ou Ikigai1
,
contribuindo na construção de um ensino de qualidade para os meus alunos e para
outras pessoas - com certeza, motivado pelas boas aulas ministradas por excelentes
professores no ensino na área de Ciências e demais áreas formativas.
1 “Significa ter uma vida em harmonia com seus desejos e expectativas”. Disponível em:
https://www.muitomaisselecao.com.br/2019/06/este-exercicio-te-ajuda-a-encontrar-o-trabalho-ideal-
unindo-vocacao-proposito-e-impacto/. Acesso em 20 out.2018.
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Comecei a interessar-me por assuntos da Biologia e suas subáreas e, no ano
após a conclusão da...
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Há exatamente meio século de vida nasci e cresci no seio de uma família
humilde, sem a figura paterna e, com muita dificuldade financeira e cultural, fui o
primeiro a formar-me na docência do ensino do 1º Grau, em Ciências, em 1988, nas
Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO). Na época, era, também, atirador n° 83 da
turma 02 do Tiro de Guerra (TG).
Desde o Ensino Fundamental, eu me empenhava em recuperar e ajudar os
colegas ou amigos mais novos nas horas em que não estava ajudando nos afazeres
de casa, ou no apoio às empreitadas da minha mãe de coração para o sustento dos
cinco filhos. Percebi, de forma prazerosa e intuitiva, que os colegas que passavam
por mim apresentavam sucesso e demonstravam nutrir um sentimento de gratidão
pelo apoio dado.
Ao me encontrar numa encruzilhada entre o sonho de cursar medicina ou
contabilidade, decidi-me pelo curso de Ciências - Licenciatura 1º Grau como única
possibilidade financeira viável, pois, afinal, a Faculdade estava próxima de casa e,
pela curta duração, eu poderia complementá-la na condição plena na cidade vizinha
de Jacarezinho (PR), com habilitação em Matemática, disciplina em que apresentei
facilidade desde muito cedo.
Gradualmente, enxerguei na educação um motivo ou propósito para buscar a
profissionalização e, quem sabe, até descobrir a minha missão de vida ou Ikigai1
,
contribuindo na construção de um ensino de qualidade para os meus alunos e para
outras pessoas - com certeza, motivado pelas boas aulas ministradas por excelentes
professores no ensino na área de Ciências e demais áreas formativas.
1 “Significa ter uma vida em harmonia com seus desejos e expectativas”. Disponível em:
https://www.muitomaisselecao.com.br/2019/06/este-exercicio-te-ajuda-a-encontrar-o-trabalho-ideal-
unindo-vocacao-proposito-e-impacto/. Acesso em 20 out.2018.
15
Comecei a interessar-me por assuntos da Biologia e suas subáreas e, no ano
após a conclusão da habilitação em Matemática, retornei para habilitar-me em
Biologia. Nesse ínterim, recebi a indicação para atuar em um colégio particular que
trabalhava com Educação de Jovens e Adultos (EJA), tendo alunos desistentes do
Ensino Regular, na época suplência, na qual iniciei no ofício e no desafiante
processo do ensino e da aprendizagem.
Assim principiei a minha jornada na Educação, um tanto confuso entre a
Matemática e a Biologia. No mesmo ano, prestei um processo seletivo na prefeitura
para trabalhar em um programa, na época, denominado Programa de
Profissionalização de Crianças e Adolescentes – PROFIC, vinculado às Secretarias
Municipais de Bem Estar Social e Educação.
Fui aprovado em 14º lugar no geral de uma lista com vários profissionais das
mais diversas áreas e, em primeiro, na disciplina de ciências. Como já estava
contratado como oficial administrativo na prefeitura, antigo ofício, fui transferido para
atuar como professor de 1º Grau, assumindo, dessa feita, a tarefa de apoiar os
jovens no estudo de Educação Ambiental e de Ecologia, um elemento importante
para a escolha da temática do texto argumentativo em tela.
Na condição de professor de Educação Básica e do Ensino Superior, tive a
oportunidade de vivenciar vários cargos e funções dentro de sala de aula, na gestão
pedagógica, na gestão escolar, na definição e articulação das políticas públicas, em
órgãos executores e colegiados em âmbito municipal e estadual. Acumularam-se
muitas experiências e impressões, as quais serviram como mote, que alimentava o
desejo da volta aos estudos.
Em meados de 1989, já imerso no mundo da Ciência da Natureza, uma
preocupação me incomodava: os alunos viam os conteúdos da disciplina ou
componentes curriculares da Biologia de uma forma decorativa, pois acreditavam ser
ela muito difícil e com muitos termos \"esquisitos\". Esses estudantes não conseguiam
relacionar os conteúdos diretamente com o cotidiano, no entanto demonstravam
gostar e interessavam-se por atividades práticas ou experimentais e, após essas
ações educativas, eles sempre pediam que o professor explicasse os termos ou
conceitos, demonstrando certa satisfação na busca da resposta.
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De lá para cá, passaram-se mais de trinta anos de dedicação ao serviço
público e à educação, sobretudo no Magistério Municipal. Foram anos em diversos
cargos de professor e funções de confiança, em cargos comissionados, seja na sala
de aula, na gestão escolar, na coordenação, supervisão escolar ou como
Conselheiro Municipal de Educação ou do CACs/Fundeb, assumindo a presidência
desses colegiados em momentos delicados de construção importante no cenário
nacional, como a elaboração dos referidos planos de educação, plano de carreira ou
construção de projetos políticos pedagógicos e projeto Institucional da Educação
Infantil.
Na gestão (2013-2016) do município de Ourinhos (SP), assumi um cargo
estratégico e importante e, com um viés mais político do que técnico: Coordenador
de Apoio ao Educando. Certamente esse foi um dos principais desafios da minha
carreira, afinal, ser responsável por todo o trabalho pedagógico de uma rede ou
Sistema de ensino foi algo inusitado, por ser “o pedagógico” um setor pouco
valorizado pelas pessoas, diferentemente da dimensão administrativa nas políticas
públicas vigentes, para dar conta de sua gestão.
Para resolver esse desafio, eu e uma equipe da SME iniciamos uma tarefa
hercúlea de conhecer a realidade das escolas sistemicamente, de transformar
práticas já enraizadas por meio de reflexões coletivas com o propósito de elevar os
Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), visto que estava em
decréscimo em sua última edição (2012), tanto nos anos iniciais como finais.
Toda a legislação e os documentos indicavam que a gestão democrática teria
um valor importante ao ouvir as pessoas e acolhê-las, discutir problemas e buscar
soluções conjuntas em cada território e, depois disso, utilizar ferramentas de
planejamento estratégico e, com elas, traçar um mapa e um perfil de cada
comunidade escolar das unidades da minha cidade.
Outro ingrediente fundamental seria aproximar os pais da gestão escolar, seja
nas decisões escolares, na escolha dos líderes e de gestores em um processo
construído a muitas mãos, de responsabilidade compartilhada e, nessa direção, foi
necessário estar diretamente envolvido em sessões específicas e circunstanciais
para esse fim.
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Nessa jornada, muitos resultados não demoraram a aparecer. Conseguimos o
estabelecimento de parcerias com Institutos, ONGs, demais secretarias municipais e
estaduais, com o FNDE, MEC, com universidades públicas estaduais e federais,
como a Unesp e a UFSCar, com o intuito de garantir os insumos diversos (formação
continuada, know-how, implementação de projetos escolares, acompanhamento,
verificação das melhorias e de sua efetividade nas decisões tomadas, mormente).
Houve a necessidade de promover a inovação e redesenhar os formatos dos
Conselhos de classes/ano, que se tornaram mais participativos com a presença de
estudantes e seus pais e/ou responsáveis, com cronogramas informativos e
entregues com antecedência, fazendo, deste, um importante momento de avaliação
interna.
Aumentamos sobremaneira o diálogo com os multiprofissionais, ampliamos e
contatamos com instituições diversas e do terceiro setor, realizamos o
enfrentamento direto de dificuldades/entraves, encaramos com muita seriedade,
dedicação e compromisso cada uma delas a fim de oferecer uma educação de
qualidade e responsável aos munícipes da cidade.
Pelas experiências vividas em várias funções e cargos, em inúmeros
programas e metodologias de implantação de políticas públicas nos últimos anos,
resolvi iniciar a minha carreira de pesquisador e, dessa feita, enveredei-me na
perseguição de participar dos processos seletivos abertos na área de educação e do
ensino para Mestrados acadêmicos e profissionais.
Foi nessa ocasião que optei por participar daquele oferecido pela
Universidade Estadual de Londrina - UEL, no qual consegui ser aprovado até a
arguição, quando uma professora da Banca, gentilmente, me olhou e, assim afirmou:
“seu projeto está muito bem escrito, seu currículo é bom para o ensino, nem tanto
para a pesquisa.”
Naquele momento, entendi que, provavelmente, não estaria entre os
classificados, mas o toque dado por aquela docente alertou-me quanto ao
entendimento e ter ciência de pouco ter avançado na direção da pesquisa, estando
doravante disposto a caminhar na direção de aprofundamento dos estudos dessa
natureza.
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Em março de 2018, ingressei no curso de Pós-Graduação sob a orientação
da Profa. Dra. Ana Maria de Andrade Caldeira, na Faculdade de Ciências da
Universidade do Estado de São Paulo - UNESP, em Bauru (SP), no programa de
Mestrado Profissional da “Docência da Educação Básica”.
Atualmente, com extensa jornada de trabalho: a) no exercício da docência de
um dos quatro terceiros anos da Unidade Escolar, como titular de cargo, polivalente;
b) como professor de Educação Básica II de Biologia, na cidade vizinha em Canitar,
SP, com jornada reduzida e; c) como professor de Ciências da Natureza, nos oitavos
anos do Colégio Santo Antônio de Ourinhos.
Escolhi, para realizar meu projeto de pesquisa, a turma na qual sou professor
polivalente, ou seja, o 3° ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais, em virtude do
número de estudantes existentes, o pouco absenteísmo apresentado durante as
aulas, a capilaridade social, o interesse demonstrado por eles no que se refere ao
mundo natural e a parceria com os pais.
O trabalho em tela representou a concretização de um sonho há muito tempo
idealizado, e que só se concretizou com a oportunidade oferecida no Programa de
Pós-Graduação da Educação Básica da Faculdade de Ciências da Universidade
Estadual Paulista “Julio de Mesquita” – Campus Bauru. Certamente será marcado
em minha trajetória como um momento de muito estudo, desequilíbrios, desafios,
confirmações, refutações e conjecturas, que contribuirão indefinidamente para minha
práxis pedagógica e influenciarão em todas as esferas nas quais estarei presente.
Foi um período de descobertas, estreitamento de amizades verdadeiras,
análises e reflexões constantes, disponibilidade e fácil acesso à Coordenação do
curso, proximidade dos docentes e, com ela, a modelização de outros fazeres
docentes e relações humanas, a interação com outros colegas cursistas e alunos
especiais, que, de forma singular, deixaram suas marcas e boas lembranças.
Não poderia esquecer-me do apoio e acolhimento dos Grupos de Estudos da
Epistemologia da Biologia da Profa. Dra. Ana Caldeira, que abriu caminhos no
programa e, depois, da participação dos cursos de Extensão da Moralidade da
Profa. Dra. Rita Melissa Lepre e do Grupo de Estudo da Tecnologia, Educação e
Currículo (GEPTEC) da Profa. Dra. Thaís Cristina Rodrigues Tezani, que apresentou
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inúmeros momentos de trocas e aportou a segurança necessária acerca do currículo
e da confecção de materiais didáticos.
Dessa forma, iniciei, no mundo da pesquisa, uma importante caminhada cujo
produto e descobertas estarão exarados nas linhas que se seguem, e espero que os
efeitos e impactos sejam positivos para outros professores-pesquisadores que,
igualmente, acreditam na importância do Ensino e no aumento da necessidade da
oferta de cursos de Pós-Graduação como este fornecido pela Universidade Pública
(Unesp).
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