Em 1997 encontrei uma folha de jornal e um pequeno anúncio me chamou a tenção, era sobre o \\\"VII Concurso - Os melhores contadores de histórias da Biblioteca Publica Infantil e Juvenil de BH\\\". Eu já era ator profissional desde 1994, embora nunca tivesse conseguido pagar minhas contas com este ofício e \\\"me virava\\\", trabalhando em diversos locais completamente distintos e nada a ver com meus desejos.
No dia seguinte resolvi fazer minha inscrição para o concurso. Detalhe, eu nunca tinha assistido uma contação de histórias na minha vida. Para mim, até então, contar histórias era só para as crianças. Adaptei um peça de teatro que havia escrito, \\\"Procura-se uma tromba de elefante\\\", para poder contar a história no concurso. Porém, no ato da inscrição, a funcionária me pergunta em qual categoria eu queria eu queria me inscrever. Ela percebeu minha expressão de desconhecimento sobre o que dia e me passou o regulamento do concurso. Ao lê-lo percebi que poderia me inscrever nas categorias, infantil, juvenil ou adulto e que o tempo máximo da histórias era de 10 minutos.
Tudo bem que minha história era infantil, mas eu ultrapassaria de uns 20 minutos contando. Lembrei então de um livro de contos do Wood Allen, \\\"Que Loucura\\\" que havia adquirido no dia anterior e o conto que dava título ao livro, único que eu tinha lido, eu tinha gostado demais. Resolvi me inscrever então na categoria \\\"Adulto\\\".
Restava agora então, adaptara história para que não passasse de 10 minutos ao contá-la, decorá-la, (pois até então, eu achava pra conta histórias tinha que decorar) rezar pra \\\"São Cascudo\\\", de Câmara Cascudo, o santo dos contadores de histórias (invenção nossa) e aguardar o dia do concurso.
E no dia do concurso. lá estava eu. se ideia de onde estava me metendo. Naquele dia eram 10 participantes, dos 20 inscritos na categoria. Eu era o 9º a \\\"contar\\\". E a cada participante eu achava que estava no...
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Em 1997 encontrei uma folha de jornal e um pequeno anúncio me chamou a tenção, era sobre o \\\"VII Concurso - Os melhores contadores de histórias da Biblioteca Publica Infantil e Juvenil de BH\\\". Eu já era ator profissional desde 1994, embora nunca tivesse conseguido pagar minhas contas com este ofício e \\\"me virava\\\", trabalhando em diversos locais completamente distintos e nada a ver com meus desejos.
No dia seguinte resolvi fazer minha inscrição para o concurso. Detalhe, eu nunca tinha assistido uma contação de histórias na minha vida. Para mim, até então, contar histórias era só para as crianças. Adaptei um peça de teatro que havia escrito, \\\"Procura-se uma tromba de elefante\\\", para poder contar a história no concurso. Porém, no ato da inscrição, a funcionária me pergunta em qual categoria eu queria eu queria me inscrever. Ela percebeu minha expressão de desconhecimento sobre o que dia e me passou o regulamento do concurso. Ao lê-lo percebi que poderia me inscrever nas categorias, infantil, juvenil ou adulto e que o tempo máximo da histórias era de 10 minutos.
Tudo bem que minha história era infantil, mas eu ultrapassaria de uns 20 minutos contando. Lembrei então de um livro de contos do Wood Allen, \\\"Que Loucura\\\" que havia adquirido no dia anterior e o conto que dava título ao livro, único que eu tinha lido, eu tinha gostado demais. Resolvi me inscrever então na categoria \\\"Adulto\\\".
Restava agora então, adaptara história para que não passasse de 10 minutos ao contá-la, decorá-la, (pois até então, eu achava pra conta histórias tinha que decorar) rezar pra \\\"São Cascudo\\\", de Câmara Cascudo, o santo dos contadores de histórias (invenção nossa) e aguardar o dia do concurso.
E no dia do concurso. lá estava eu. se ideia de onde estava me metendo. Naquele dia eram 10 participantes, dos 20 inscritos na categoria. Eu era o 9º a \\\"contar\\\". E a cada participante eu achava que estava no lugar errado, pois eram realmente contadores, ou narradores de histórias. E eu era um ator, que decorou um texto de 10 minutos, que já estava preparado e ensaiado para incorporar um personagem, que narrava a sua própria história, ou seja, eu fiz um monólogo.
Ao ser anunciado pensei: \\\"Não da pra desistir agora, mas posso fingir que sou contador de histórias\\\".
Respirei fundo e comecei: \\\"Era uma vez um homem que muitos diziam ser louco, ou já não achava que era louco... querem saber de uma coisa, vou deixá-lo conta sua própria história...\\\" E assim tem um giro em torno de mim mesmo e comecei a fazer o que tinha preparado.
No dia seguinte sairia o resultado dos 3 finalistas e pra minha surpresa, que só liguei de um orelhão (em 1997 ainda existia), por insistência da minha saudosa mãezinha, eu estava entre os três.
Pra mim, que nunca tinha contado histórias o 3º lugar já teria sabor de vencedor. Mas, acreditem, e acho até que os jurados erraram no resultado, eu fui o vencedor. Pequei meu prêmio e saí de lá rapidinho, antes que mudassem de ideia.
A partir daí comecei a frequentar o encontro de contadores de histórias que, até hoje ainda acontece, todas as sextas-feiras de manhã. Mas, até então, nunca cheguei a pensar que a contação de histórias poderia se tronar minha profissão.
Em 2000, Recebi um recado que alguém de uma editora (Lê) tinha me ligado. Não fazia ideia do que se tratava e não retornei. Até que encontrei um colega andando pelo centro aqui de BH e ele me perguntou se eu tinha feito o teste para trabalhar contando histórias na editora.
Corri pro orelhão mais próximo e liguei, a atendente disse que já tinha passado o período de inscrição pros testes. agradeci dizendo que só fiquei sabendo naquele momento e antes de desligar ela me disse: \\\"Você falou que é o Pierre André?\\\" Eu afirmei, ela me pediu um tempinho, foi conversas com sua superiora e voltou dizendo, que conseguiu convencer \\\"a chefe\\\" e que eu poderia ir no dia seguinte fazer o meu teste.
A proposta da editora era de contratar como free lancer, 5 contadores de histórias, um para cada dia da semana. O resultado foi que só fiquei eu contando histórias na editora e nunca mais parei.
Hoje, posso dizer que vivo e sobrevivo da contação de histórias, pois, além de conseguir pagar minhas contas, o meu ofício já me fez superar a depressão e vencer algumas doenças, inclusive um câncer, pois quando soube do diagnóstico eu disse pra mim mesmo: \\\"Já que vou morrer, vou morrer feliz, contando histórias\\\".
Venci o câncer, continuo contando histórias, inclusive voluntariamente em hospitais, asilos e onde meu coração disser que eu devo ir voluntariamente.
Tudo por causa de uma folha de jornal que encontrei por acaso, ou não.
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