P- Boa tarde.
R- Boa tarde.
P- Obrigada por você ter vindo. Adenor, então eu queria que você falasse o seu nome completo, data e local de nascimento.
R- Meu nome completo é Adenor Talbino Teixeira, sou nascido em 26/02/59, São João do Oriente, Minas Gerais.
P- Adenor, há quantos anos você trabalha aqui na Companhia?
R- Olha, eu, pra dizer a verdade, eu trabalho, duas vezes que eu trabalho na AmBev, porque primeiro eu trabalhei cinco anos e oito meses na Antárctica, aí, a minha área de serviço foi terceirizada na época e... Então eu fazia parte da caldeiraria, como faço até hoje, da engenharia, e terceirizou a caldeiraria, então eu fui pra essa terceirizada e fiquei três anos numa terceirizada. Aí formaram o grupo AmBev, eu voltei pra empresa, acabou com a terceirizada, eu voltei pra empresa, agora estou com cinco anos, vai fazer 12 anos que eu trabalho diretamente na empresa, não saí da área.
P- Você podia falar um pouquinho pra mim o que é que você faz, como que é essa área, o que é a caldeiraria?
R- A caldeiraria é fabricação de peças, a gente fabrica tubulação... fabrica, solda, monta, e, e várias outras coisas, enchimento de eixo, e parte mecânica também, não é só fabricação de peças, é mecânica, é em geral.
P- E essa fabricação de peças que você falou dessa, dessa...
R- Tubulação.
P-É pro fabrico da cerveja, dos refrigerantes?
R- É tubulação que passa o produto, passa a cerveja, é, pra (CIPE?) então, é, (MOSTO?), tudo passa nessa tubulação, então a gente fabrica, fabrica as peças, que na verdade a tubulação é uma peça que é comprada, porque a gente não tem como fabricar, a gente fabrica as peças com a tubulação. E, pra montagem de linha e pra passar produto, cerveja, água, vapor, então tudo isso a gente... é as peças que a gente fabrica.
P- E quando você fala da mecânica, é relacionado a isso?
R- É relacionado a isso também. É, porque tudo isso daí faz parte da engenharia.
P- E assim, é um dia muito cheio, você tem sempre alguma coisa pra fazer, como que é seu dia?
R- O meu dia, eu posso dizer que é bastante cheio. É bastante cheio pelo seguinte: porque de eu ser um técnico em manutenção da empresa, eu ainda sou um “CIPEIRO”, sou vice-presidente da CIPA da empresa, da unidade de Jaguariúna, e eu faço muitos trabalhos e ver e agir pra CIPA.
P- Ah, tá. E como que é esse trabalho da, da CIPA?
R- Esse trabalho da CIPA é condição insegura que a gente tem dentro da empresa, dentro da unidade de Jaguariúna. Então, todos os “CIPEIROS” têm a obrigação de fazer uma rota, a gente tem uma rota da CIPA - são quatro rotas por mês - então a gente faz essa rota.
Nessa rota, o que a gente vê que acha que é condição insegura, que pode causar um acidente leve ou grave, a gente vê o que que tem que fazer ali pra melhorar e evitar esse acidente. Então isso é um serviço nosso, da parte da CIPA.
P- E acontece muito acidente ou não?
R- Não. Acontece, graças a Deus, eu posso dizer que não, principalmente na minha área de atuação - eu faço parte do processo - eu diria que não. Um acidente que... o que pode causar acidente é vazamento de água, vazamento de produto químico - no caso da Soda - ácido, o cloro. Mas isso aí é uma coisa que a gente trabalha muito em cima disso, até agora, graças a Deus, não. A gente já teve esse tipo de acidente, mas, graças a Deus, a gente soube sanar ele e até agora eu diria que está correndo bem, a gente conversa sempre com os colegas da gente de seção. Eu, cada “CIPEIRO” tem a sua área de atuação, eu atuo na área da utilidade, casa de máquinas e CO2, então a parte dos gases perigosos, todos são da minha área. Então eu converso bastante com meus colegas na parte da manhã, eles não fazem parte da engenharia, que eles “é” utilidade, mas, como eu sou o “CIPEIRO” daquela área, eu sempre converso com eles na parte da manhã e peço atenção, falo: "Se “ver” algum vazamento, me procure", porque quem tem que fazer esse tipo de serviço sou eu e um operador que trabalha naquele setor. Então até agora, graças a Deus, não está tendo problema nenhum não.
P- E me fala uma coisa, Adenor, na sua área de caldeiras vocês são em quantos?
R- Na parte de caldeiraria somos três.
P- E de “CIPEIRO”?
R-Só “CIPEIRO” são dois. Eu, além de “CIPEIRO”, sou um brigadista também.
P- Nossa, são muitas funções!
R- É, eu faço parte da brigada desde a época que a AmBev formou o grupo, o corpo de brigada dela, porque na Antárctica tinha bombeiro próprio, era bombeiro mesmo, não era, assim, pegar a pessoa, ela não tinha essa parte dos bombeiros, então ela utilizava bombeiros de verdade mesmo. E a AmBev, no caso, montou o corpo da brigada da própria empresa.
P- Ela deu o próprio curso, vocês fizeram curso?
R- Deu, a gente faz o curso, inclusive dia 21 passado agora, eu fiz o treinamento, ontem teve treinamento pro pessoal que não foi junto comigo - ontem “foi” mais 11 pessoas - inclusive até terceirzado participou, porque a guarda da empresa e o pessoal da portaria, os guardas foram e participaram, fiquei sabendo que foram três. Nesse ponto aí é bom pra gente, porque a gente aprende muitas, muitas coisas, como salvamento, é, se, o próprio incêndio, não precisa de ser dentro da empresa, até lá fora, se a gente vê... A gente tem certificado do governo do estado, eu tenho esse certificado que ele dá; cada curso que a gente vai fazer lá vem um, um certificado desses.
P- E vocês tão sempre fazendo?
R- A gente está sempre fazendo, está sempre inovando, pra não ficar só naquilo ali também, né?
P- E me fala uma coisa, assim, quando você entrou, como é que foi essa sua entrada na Antarctica, você já conhecia a Antarctica?
R- Não.
P- Já tinha ouvido falar?
R- Eu ouvia falar da Antarctica, porque é uma cerveja conhecida, então eu ouvia falar bastante. Mas da empresa, mesmo, eu não ouvia falar. Porque, nessa época eu trabalhava na USIMINAS, eu trabalhava em Cubatão, na USIMINAS, e tava de férias e vinha pra Pedreira, porque minha família tava aqui, minha esposa, meus filhos. Então peguei e vim passar férias aqui e tinha conversado com o engenheiro da USIMINAS, que era um cara que eu trabalhei com ele 12 anos e gostava muito - gosta muito de mim - não diria gostar, porque a gente toda vida, a gente sempre está falando com o outro, nem que seja por telefone, é um cara 100%, sabe? Então eu peguei e falei com ele, que se conseguisse um emprego mais perto da minha família, seria melhor pra mim, porque minhas filhas já estavam virando mocinhas, ia chegar uma hora em que elas iam casar, arrumar noivo, casar, e o pai não tava nem presente. Então foi uma coisa interessante na minha vida. Eu vim passar férias aqui, na minha casa, em Pedreira, e resolvi bater um currículo, na época da Antarctica. Coloquei o currículo numa sexta-feira, quando foi na segunda-feira eu recebi um telegrama. Aí foi aquela alegria, né? Aí eu falei: "Agora quero ver salário, pra “mim” ver se vai ser o que ganho aqui ou, se for igual, eu prefiro ficar dentro de casa, que aí eu vou estar todo dia com meus filhos, né?". Então mandaram me chamar urgente aqui. Eu peguei e vim, e disputei teste com 11 pessoas da parte de caldeiraria, quando eu cheguei já tinham sido feitos 11 testes, e eu peguei e fui fazer o meu teste.Graças a Deus, eu posso dizer e agradecer a Deus que eu fui o felizardo. Entre 12, eu fui o escolhido e estou até hoje na empresa.
P- E você sentiu muita diferença da USIMINAS pra Antárctica quando você entrou, ou...
R- Eu senti sim... O modo de trabalhar não, porque as condições aqui, eu diria que é até melhor. Eu diria que é melhor pelo seguinte: porque lá era fabricação pesada, e aqui a gente trabalha livre, a gente tem liberdade total pra trabalhar. Então não é... é cobrado num sentido que todo mundo é cobrado, então o gerente nosso cobra o meu gerente, o meu gerente cobra o meu supervisor, o meu supervisor cobra de mim, mas eu, eu posso dizer que, graças a Deus, nesses, nesses 12 anos, eu, até hoje, não fui cobrado, porque o que eu faço, eu faço de livre e espontânea vontade. A gente tem OS e tudo que saí pedindo serviço, mas a gente trabalha, eu trabalho com supervisor, esse que eu trabalho com ele, hoje ele é gerente - ele é gerente da engenharia nossa aqui - então é uma pessoa que eu conheço demais, admiro muito, que me ajudou bastante também, e ele me dá liberdade total, porque sabe que aonde tem pra fazer, eu vou. Então a confiança dele é tanta, que eu deposito, que ele deposita confiança em mim e eu nele, então tem esse lado, um ajuda o outro. Então eu trabalho livre. Um chama, porque a gente atende por telefone, e a OS sai, mas às vezes o local de fazer esse trabalho não está liberado, a linha está passando produto, eu tenho que aguardar. Então eu já fico na seção, ali, de sobreaviso, qualquer coisa, me liga aqui na hora que parar, parou a linha, me chama que eu vou e resolvo o problema. Então a confiança dele é essa, de tarde, eu vou nele e passo tudo pra ele, ó, é até o Massaroti, né, eu falo: "Massa", a gente chama ele de Massa, carinhosamente de Massa, que é um cara maravilhoso mesmo, então eu posso falar isso de peito aberto, que é realmente. Então eu, a gente chega perto dele e fala pra ele: "Ó, foi feito isso e isso e isso, isso não deu pra fazer, ficou combinado pra fazer amanhã, porque não pararam a linha". Então eu posso dizer que é assim, eu trabalho à vontade, livre, ninguém não é de pegar no pé de ninguém, a gente conversa sempre, porque ele é um cara que, apesar de hoje ele ter virado gerente, ele continua sendo a mesma pessoa, ele não tem diferença dele, a gente não notou nada de diferente nele, sendo que hoje ele tem até um pouquinho mais de poder do que ele já tinha.
P- Mas continuou o mesmo.
R- Mas continua a mesma pessoa. Então uma pessoa que deposita confiança na gente e a gente tem que sempre fazer por merecer a confiança dele.
P- Falando um pouquinho dessa coisa que você falou de mudança, né, que as pessoas mudam, como foi pra você, assim, quando, você é da Antárctica, depois você virou AmBev, né? Houve uma diferença, ou você acha que não?
R- Bom, no meu, igual eu acabei de falar agora, no meu modo de trabalhar, não houve diferença, eu diria que não houve mesmo, porque desde a Antárctica, mesmo quando eu fui pra terceirizada, porque, igual eu te expliquei, que foi terceirizado, e eles prefiriram me manter dentro da empresa. Tanto que eu não notei diferença, assim, no tratamento, por eu ter sido terceirizado, eu continuei sendo a mesma pessoa, o mesmo direito que eu tinha, eu continuei tendo o mesmo direito, eu não era tratado como um terceirizado, eu fui tratado como funcionário Antárctica;. Aí,passou a AmBev, AmBev. Tanto que, assim que virou grupo AmBev, já de imediato a gerência da AmBev na época - tinha um mês e pouco que tinha virado AmBev - já foram atrás de mim. Eu até me emocionei no dia porque a minha idade é uma idade já elevada, hoje eu to com 48 anos, e eu fiquei assustado, na época eu tava com 42 anos, eu fiquei assim, porque o comentário que a gente ouvia aqui é "Brahma não pega pessoa acima de 30 anos". Então a gente sempre ficou preocupado com isso, mas pra mim, graças a Deus, foi diferente. Eu não sei se é pelo que eu já tinha, havia feito pela Antárctica, e eles depositaram essa confiança em mim, e até hoje, graças a Deus, eu diria que, pelo que eu vejo, eu acho que eu não, até hoje eu não decepcionei ninguém deles, eu acho que não mudou o meu jeito de ser, eu acho que pra mim foi bom, foi excelente.
P- Nesses anos que você tem de Companhia - 12 anos - tem algum momento que te marcou muito, ou mais de um, você sempre lembra ?
R- Esse, eu acabei de falar ele aqui agora.
P- É esse.
R- É a mudança da terceirizada pra AmBev, por conta da minha idade. Esse momento me marcou, porque quando eu cheguei na minha casa, a minha esposa ... eu brinquei com ela, sabe, fiz uma brincadeira, assim, falei: "É, meu bem, infelizmente...". Porque foi feito uma brincadeira comigo, o próprio gerente, na época, fez uma brincadeira comigo. Ele chegou em mim e falou: "Adenor, é uma pena que nós não vamos poder te aproveitar, por conta da sua idade". Ele brincou comigo desse jeito, que ele era muito, muito meu amigo mesmo, inclusive hoje ele é diretor regional do nordeste - que é o Flávio Torres - então ele brincou desse jeito, ele e o outro que era gerente de gestão, que era o Luciano na época, então ele brincou desse jeito comigo. Aí eu fiquei meio assim, meio abalado, mas simplesmente eu virei pro lado dele e falei: "É, Flávio, se for pela idade, eu não posso fazer nada, né? O que que eu tenho que fazer é juntar minhas coisas e ir embora, porque de graça também eu não posso ficar, porque eu tenho família pra sustentar". Foi o que eu brinquei com ele. Então eu acho que esse momento aí me marcou bastante, sabe? E pra mim, eu achei que foi gratificante a confiança que eles depositaram em mim, uma pessoa com 42 anos entrar numa empresa de um porte - hoje a maior indústria de bebidas do mundo. Então aquilo me marcou, é uma coisa que vai ficar sempre na minha memória. E eu sempre falo com meus filhos: "Siga o exemplo do pai, porque o papai está velho", igual a gente brinca, “é o velho daqui, o velho dali”, né, meus filhos, graças a Deus, “está bem criado”, então eu brinco muito com eles, eu sou um cara extrovertido, brinco com todo mundo dentro da fábrica aqui, com todo mundo, até com o gerente nosso, aí, o Renato, o Cristian...
P- Isso é bom, né?
R- O Cristian é mais caladão um pouquinho, mas a gente, a gente não gosta de ser calado, a gente gosta de falar, eu sou mineiro mas não sou aquele quietinho, sabe? Não sou problemático. Eu gosto é de falar, eu não gosto de ficar calado, o que eu sinto eu jogo, pra não ficar aqui dentro, aqui.
P- Que faz mal, né?
R- Faz mal pra mim e eu não gosto disso aí.
P- Adenor, me diz uma coisa, qual o produto que te, que te marca, assim?
R- Ah, eu acho que... Bom, eu sou uma pessoa que, apesar dessa idade toda e trabalhar numa fábrica de bebidas, eu não bebo bebida alcoólica, eu nunca coloquei na minha boca, é uma coisa que eu não bebo. Então, hoje a gente tem a Liber. Então eu achei importante o nascimento da Liber e foi dentro da nossa unidade aqui que saiu o Projeto Rei e passou a fabricar essa Liber, que, por sinal, pra mim é uma excelente cerveja, que eu não sou, eu não bebo álcool...
P- Você adorou, né? [risos]
R- Então vira e mexe eu to bebendo uma Liberzinha, é... [risos] Então esse, eu acho que esse daí, pra mim, é um produto importante. E o refrigerante, por exemplo, que agora, segundo a nossa, o nosso gerente, o Renato, parece que vai voltar a fabricar aqui outra vez, a gente tem o Gatorade aqui, e o nascimento do envazamento de água também, que eu trabalhei muito nesse projeto ali, nas tubulações...
P- Ah, você trabalhou?
R- Trabalhei bastante, no [projeto] das tubulações, apesar de que tinha empresa terceirizada fazendo, mas eu ajudei bastante também, então era de manhã, era até de madrugada, tinha vez que eu tava em casa, a supervisora na época, que era a Magda - hoje ela não trabalha na empresa mais - mas ligava na minha casa: "Adenor, eu to com um problema na válvula, está passando ferrugem, você podia vim dar uma olhada pra mim?". A gente tava ali, disposto a vim, ajudar, então a gente viu nascer aquilo ali, apesar de já é envazava, parece que em Curitiba, eu não tenho, não posso afirmar. Mas aqui dentro da fábrica eu vi nascer, vi furar os poços artesianos, trabalhei na linha da tubulação do poço artesiano.
P- Você viu muita coisa aqui, né?
R- Eu vi bastante coisa aqui.
P- E, Adenor, você gostaria de, de deixar um recado pra AmBev?
R- É, eu gostaria sim.
[Troca de fita]
P- Continuação. Adenor, voltando um pouquinho assim, um recado que você queira deixar pra AmBev.
R- Eu deixaria o seguinte: pra todo funcionário AmBev ser persistente e gastar sola de sapato, que é um dos nossos temas aqui, sabe? Então a gente discute muito isso aqui nas nossas reuniões de PEF, a gente tem uma reunião de PEF, então a gente tem que bater metas pra que todo mundo, todo o pessoal de todas as unidades, não é só da nossa aqui, porque, afinal de contas, no Brasil são 32 unidades e é todo mundo AmBev, não adianta a pessoa falar: “Eu trabalho em (Aquirás?)”, por exemplo, que é bastante longe. Não. É AmBev. Então a mensagem que eu gostaria de deixar é que todo mundo seja persistente e cada um procure fazer o seu e fazer melhor, com segurança.
P- Você queria falar mais alguma coisa, Adenor?
R- Pra mim está bom.
P- Então nós te agradecemos muito por você ter vindo aqui. Obrigada.
R- Obrigado.
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