P1 – Então para começar, Tânia, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento. R - O meu nome é Tânia Regina de Borba, eu nasci em São Paulo, em 2 de abril de 1964. P1 – E você sabe se toda a sua família é de São Paulo também? R - O meu pai é de São Paulo e minha mãe é portuguesa, veio da Ilha da Madeira. P1 – E por que ela veio para o Brasil? R - Ela veio para o Brasil com 9 anos de idade, porque inicialmente veio o meu avô, ele era pescador, e veio pescar nos mares brasileiros. (risos) Então ele veio inicialmente, e resolveu trazer a família porque gostou muito do Brasil, se apaixonou pelo Brasil, e aí a família veio para cá também. P1 – E aí os seus pais se conheceram aqui em São Paulo? R - Os meus pais se conheceram em São Paulo, trabalhavam na mesma empresa, e aí começou o namoro, aí eles se casaram. P1 – E a tua escolha pela profissão como é que surgiu, Tânia? R - Bom, eu sou apaixonada pela educação, eu acho que a gente vai conseguir fazer muitas transformações a partir da educação, eu acredito muito nisso. Então, desde pequena, desde criança eu tinha o sonho de um dia ser professora. E aí comecei, continuando, estudando, sempre buscando o aperfeiçoamento. Fiz a faculdade de Ciências Biológicas, comecei o meu trabalho na sala de aula, e cada vez mais se acentuou essa intuição inicial de que realmente é um trabalho apaixonante. E foi crescendo, hoje me tornei coordenadora pedagógica, então nesse trabalho com os professores eu tento estar transmitindo isso que eu sinto, essa necessidade de que nós consigamos uma educação de qualidade e da importância da educação. P1 – E você é coordenadora hoje do CECAE. O que é o CECAE, conta para a gente? R - O CECAE é o Centro Especializado em Capacitação, Aperfeiçoamento e Educação. É uma escola que trabalha principalmente com empresas, ela nasceu dentro de uma empresa...
Continuar leituraP1 – Então para começar, Tânia, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento. R - O meu nome é Tânia Regina de Borba, eu nasci em São Paulo, em 2 de abril de 1964. P1 – E você sabe se toda a sua família é de São Paulo também? R - O meu pai é de São Paulo e minha mãe é portuguesa, veio da Ilha da Madeira. P1 – E por que ela veio para o Brasil? R - Ela veio para o Brasil com 9 anos de idade, porque inicialmente veio o meu avô, ele era pescador, e veio pescar nos mares brasileiros. (risos) Então ele veio inicialmente, e resolveu trazer a família porque gostou muito do Brasil, se apaixonou pelo Brasil, e aí a família veio para cá também. P1 – E aí os seus pais se conheceram aqui em São Paulo? R - Os meus pais se conheceram em São Paulo, trabalhavam na mesma empresa, e aí começou o namoro, aí eles se casaram. P1 – E a tua escolha pela profissão como é que surgiu, Tânia? R - Bom, eu sou apaixonada pela educação, eu acho que a gente vai conseguir fazer muitas transformações a partir da educação, eu acredito muito nisso. Então, desde pequena, desde criança eu tinha o sonho de um dia ser professora. E aí comecei, continuando, estudando, sempre buscando o aperfeiçoamento. Fiz a faculdade de Ciências Biológicas, comecei o meu trabalho na sala de aula, e cada vez mais se acentuou essa intuição inicial de que realmente é um trabalho apaixonante. E foi crescendo, hoje me tornei coordenadora pedagógica, então nesse trabalho com os professores eu tento estar transmitindo isso que eu sinto, essa necessidade de que nós consigamos uma educação de qualidade e da importância da educação. P1 – E você é coordenadora hoje do CECAE. O que é o CECAE, conta para a gente? R - O CECAE é o Centro Especializado em Capacitação, Aperfeiçoamento e Educação. É uma escola que trabalha principalmente com empresas, ela nasceu dentro de uma empresa e cresceu ali. Então quando terminou a formação dos funcionários da empresa, o CECAE foi separado dessa empresa. Então ele adquiriu uma identidade própria e começou a trabalhar com outras empresas, firmando contratos com as empresas, as empresas próximas da central é que fazem o contrato, mandam seus funcionários para estudar na central. Outras empresas, como é o caso do Laboratório Aché, que sua localização é mais distante da central, nós montamos as salas de aula dentro das empresas. Então, aí desenvolve-se o trabalho dentro da empresa. P1 – A ligação com o Aché começa desde quando? R - Começou em 1999, no segundo semestre de 1999, quando o Aché começou a desenvolver esse projeto chamado “Vivendo e Aprendendo”. E eles buscavam escolas que pudessem desenvolver esse trabalho. Como o CECAE já tinha um trabalho bem desenvolvido com empresas grandes também, Bayer, Lacta e outras empresas, então o Aché se interessou, conheceu o nosso projeto pedagógico, acreditou nesse projeto, e nós conseguimos então dessa maneira estar fechando um contrato, e estamos aqui concluindo já esse projeto. P1 – Você podia contar um pouquinho como era esse, aliás, como é esse projeto, como começou aqui, quantas turmas, como é que funcionava? R - Em 1999, como eu disse, nós iniciamos aqui com 6 salas de aula. Duas delas funcionavam no período da manhã, e as outras quatro no período da tarde e noite, no final da tarde, então foram montadas essas salas com horário especial, de acordo com a necessidade da empresa, e essas salas de aula foram montadas da seguinte maneira: nós tínhamos alunos de 1ª a 4ª série, desde a alfabetização até a 4ª série, e salas de 5ª e 6ª , são salas muito seriadas, salas de 5ª e 6ª , e salas de 7ª e 8ª séries. Mas, como o público era realmente muito bom, muito bem selecionado, muitos dos alunos concluíram logo no início. Como nós temos o sistema de reclassificação, a reclassificação permite a conclusão do curso em menor tempo, desde que o aluno apresente as habilidades e as competências desenvolvidas, então houve um grande número de pessoas que logo no primeiro, no segundo semestre conseguiram concluir o ensino fundamental. P1 – Você se lembra da primeira turma, a formatura da primeira turma? R - Eu não cheguei a estar com a primeira turma, que foi em 99, eu comecei com a turma de 2000. Mas houve formatura, como todas as outras turmas, quando foi havendo a conclusão dos cursos, então havia sempre um evento aí de formatura. P1 – Aqui mesmo no Aché? R - Aqui mesmo na empresa. P1 – E, quanto ao método ensinado, vocês usam algum tipo de material especial, apostila? R - Nós trabalhamos dentro da linha sócio-construtivista, procurando sempre contextualizar todo tipo de conhecimento, buscando desenvolver principalmente a comunicação do aluno, o raciocínio lógico, a capacidade de independência. Nós trabalhamos com o material didático de uma editora que trabalha com educação de jovens e adultos e, associado a essas apostilas, nós utilizamos todos os tipos de texto, desde bula de remédio, de jornal, revista, encartes, livros paradidáticos, livros de leitura, então nós diversificamos bastante o material. P1 – E você tem idéia de quantas pessoas já foram atendidas por esse projeto aqui no Aché? R - Olha, que já concluíram, por exemplo, eu acredito que esteja em torno de 80 pessoas que tenham concluído. Daí para até cem, mais ou menos. P1 – E como é que está esse trabalho hoje? R - Então, hoje nós estamos com uma única sala de aula, esta única sala de aula tem hoje 6 alunos, e esses alunos então são os últimos desse grupo, porque o grupo foi diminuindo pela própria formação. Como esse projeto prevê a formação de alunos somente de educação básica, do ensino fundamental, então foi concluindo, o pessoal foi concluindo, e hoje a gente está em fase de conclusão mesmo. P1 – E a seleção dos professores também passa pelo teu papel? R - Exatamente. Eu faço essa seleção, então, lógico, nós damos preferência para professores que conhecem o trabalho com adulto, que conhecem a linha de trabalho sócio-construtivista e, a partir daí, a gente vai adequando a partir de treinamentos, reuniões, a gente vai aperfeiçoando para que todo o grupo possa trabalhar da mesma maneira. P1 – E você teve uma freqüência também, no Aché, durante esse período? R - Sim, inicialmente eu vinha semanalmente, semanalmente eu estava aqui visitando as salas de aula, participando de algumas aulas, participando de algumas atividades, então eu me integrei bastante com os alunos, até para que conhecessem como a escola funciona, como é o curso, para a gente estar realmente passando para eles todas essas informações, até eles adquirirem bastante confiança. E isso aconteceu. Aconteceu, os alunos gostaram muito, deram depoimentos de que cresceram bastante, e isso foi bastante visível, muitos deles já fizeram o ensino fundamental, o ensino médio, eu digo, outros estão fazendo. Há pessoas que inclusive já concluíram o fundamental, concluíram o médio e já estão fazendo o curso superior. P1 – Que bacana. E nesses anos, nesses últimos anos tem alguma história mais marcante? R - Tem, tem histórias de alunos, por exemplo, que entraram sem domínio nenhum da leitura e da escrita, e que foram crescendo, crescendo e hoje já conseguiram chegar num nível de 8ª série, concluindo. E assim, que tinha o sonho de tirar uma carta de motorista, por exemplo, que tinha o sonho de saber ler a placa do ônibus, isso obviamente é uma conquista muito grande, eles inclusive falam que percebem que hoje são outras pessoas. Que hoje eles conseguem ler muito melhor o mundo. P1 – Isso está ligado com a cidadania, não é? R - Com certeza, né? E a nossa proposta é justamente estar fazendo com que essas pessoas possam exercer melhor a sua cidadania, sejam capazes de exercer melhor a sua cidadania, com mais justiça, buscando uma melhor qualidade de vida, inclusive. P1 – Você estava falando lá fora sobre projetos, que vocês trabalham com projetos. Você podia contar um pouco o que é isso? R - Sim. A cada semestre nós lançamos uma idéia de projeto, um tema, que é o tema gerador do projeto, que todos os professores desenvolvem atividades e depois, no final, no final do semestre são feitas exposições de trabalhos, enfim, relacionados a esse projeto. Para este semestre, dando continuidade ao que nós fizemos anteriormente, nós vamos estar desenvolvendo o projeto Cidadania e Educação Ambiental, para incentivar, por exemplo, a capacidade do aluno atuar no meio ambiente de uma maneira até política, visto que estamos chegando aí em época de eleições, e que eles possam se tornar mais críticos, mais ativos, mais atuantes dentro da sociedade. P1- Esses projetos partem da coordenação? R - Partem da coordenação, a idéia do tema parte da coordenação. Aí o que acontece? Os professores desenvolvem os seus projetos que estão relacionados ao tema, que são integrados a partir de reuniões com os professores das diversas áreas, e aí a gente faz uma avaliação, precisar fazer alguma adequação, isso é feito por nós. P1 – Você estava falando que o CECAE trabalha com várias empresas; você acha que o aluno do Aché tem alguma diferença em relação a outras empresas? R - Tem, é visível essa diferença. Nós temos outras empresas, e o Aché. Houve, como eu disse no início, um grande número de reclassificações. Eu entendo que essa, e a reclassificação é realmente uma coisa que acontece só para alunos excepcionalmente bem desenvolvidos, então são pessoas que apenas não têm o certificado na mão, mas têm as habilidades e as competências muito bem desenvolvidas. E isso acontece raramente, mas aqui no Aché aconteceu com uma freqüência muito grande. Eu acredito que isso deva ter acontecido pelos critérios definidos para a seleção de pessoal. Então são pessoas muito bem preparadas, e a gente nota que, não só pelo critério de seleção, mas pelo trabalho que se desenvolve aqui dentro, trabalho cultural mesmo que o Aché proporciona aos alunos. Então em momentos que nós fizemos, por exemplo, projeto de reciclagem de materiais, os alunos já tinham grande conhecimento, porque o Aché tem esse projeto. Enfim, vários outros de leitura, tem feira de livros aqui, então eles têm esse hábito. É diferente de outros alunos de outras empresas que não têm esse tipo de trabalho cultural dentro da empresa. P1 – Além disso você estava falando que o Aché, além de oferecer o curso fundamental para os seus funcionários, ele também fornece o material didático, é isso? R - Fornece o material didático. Toda a infra-estrutura é oferecida pelo Aché: sala de aula, a escola, os professores, a coordenação, direção, enfim, o material didático, lanche, transporte, tudo. Então, para o aluno fica a principal e mais difícil tarefa, que é se empenhar no aprendizado, mas todo o resto fica por conta da empresa e da escola. P1 – A gente falou bastante assim de tarefas que foram feitas, do passado, e qual que é o teu sonho para o futuro, Tânia? Está relacionado à educação? R - Está relacionado à educação: é nós termos uma sociedade mais justa, mais equilibrada, mais fraterna, mais amiga, né? Que as pessoas possam se entender melhor, se respeitar, serem mais honestas. Eu acho que tudo isso parte da educação, eu acho que assim, não é só a escola, não, mas eu acho que parte de lá, de dentro da família. Mas como o CECAE trabalha com adulto, eu acredito muito nesse trabalho, porque o adulto tem a família, ele é que vai formar e vai dar educação aos seus filhos. Então, eu acho que a gente consegue, dessa maneira, estar transmitindo esses conceitos, essas idéias, e aí a gente está caminhando num passinho lento, tal, com muita dificuldade, a longo prazo, mas eu acredito que a gente vai conseguir chegar lá. Eu acho que é importante esse otimismo. Se não tivermos, então não podemos trabalhar com educação. P1 – Sem dúvida, não é? E, para terminar, eu queria que você dissesse o que você achou de ter contado um pouquinho dessa história? R - Eu achei muito interessante. Eu acho que trabalhar com a história é uma coisa fantástica, e importante, estimuladora, eu acho que isso pode auxiliar muitos outros projetos. Muitas coisas ficam adormecidas na memória, esquecidas, e coisas que poderiam trazer grandes benefícios. Eu acho que esse tipo de iniciativa é realmente uma iniciativa poderosa, que vai conseguir trazer grandes resultados. P1 – Que bom, muito obrigada, Tânia. R - Obrigada.
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