Projeto: VLI – Estação de Mamória: Porto & Pesca
Entrevista de Bruno Fernandes Takano
Entrevistado por Ane Alves
Santos, 20/10/2025
Entrevista nº: VLI_HV010
Relaização Museu da Pessoa
Transcrito por Arielle Oliveira Paro
Revisado por Ane Alves
P/1 - Bruno, em primeiro, muito obrigada em aceitar receber a gente e contar um pouquinho da sua história. Para iniciar, você pode se apresentar falando seu nome completo, cidade, estado que você nasceu e a data de nascimento, por favor.
R - Bom, eu que agradeço o convite, Ane. Eu sou Bruno Fernandes Takano, sou nascido em São Paulo, capital mesmo, de 07/02/1983.
P/1 - Bruno, você sabe por que seus pais escolheram esse nome ou quem escolheu? Por que você se chama Bruno?
R - Não sei. Bruno, ele é alguém de pele mais morena. E eu não sei se eles já tinham escolhido ou não, antes de eu nascer, mas eu acho que casou bem, assim, com o meu perfil.
P/1 - E eles te contaram como que foi o dia do seu nascimento?
R - Nossa... A minha mãe fala que foi um dia tranquilo, que não teve nada demais assim, também. Sem nenhuma particularidade.
P/1 - Como que é o nome da sua mãe e como que você descreveria ela?
R - Minha mãe é Rosana Fernandes. Uma pessoa que se entrega muito para os outros. Ela faz tudo para que os outros estejam bem. Muito amorosa. Uma pessoa que se entrega inteira para a família, para que tudo saia da melhor forma possível.
P/1 - E você sabe um pouco da história dela? Qual que é a origem dela?
R - A minha família inteira, da parte de mãe, família muito humilde, de interior, que veio pra São Paulo. A minha família, meu avô com a minha avó, cresceram numa vilazinha, uma rua sem saída, na Vila Mariana. A casa da minha avó é lá até hoje, então a gente tem muitas memórias. Eu cresci ali também, nessa vila, então eles contam bastante de uma infância, putz! Com todas as crianças brincando na rua, muito livre ali, com muita amizade. Tem amigos até hoje, eles, ela com os...
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Entrevista de Bruno Fernandes Takano
Entrevistado por Ane Alves
Santos, 20/10/2025
Entrevista nº: VLI_HV010
Relaização Museu da Pessoa
Transcrito por Arielle Oliveira Paro
Revisado por Ane Alves
P/1 - Bruno, em primeiro, muito obrigada em aceitar receber a gente e contar um pouquinho da sua história. Para iniciar, você pode se apresentar falando seu nome completo, cidade, estado que você nasceu e a data de nascimento, por favor.
R - Bom, eu que agradeço o convite, Ane. Eu sou Bruno Fernandes Takano, sou nascido em São Paulo, capital mesmo, de 07/02/1983.
P/1 - Bruno, você sabe por que seus pais escolheram esse nome ou quem escolheu? Por que você se chama Bruno?
R - Não sei. Bruno, ele é alguém de pele mais morena. E eu não sei se eles já tinham escolhido ou não, antes de eu nascer, mas eu acho que casou bem, assim, com o meu perfil.
P/1 - E eles te contaram como que foi o dia do seu nascimento?
R - Nossa... A minha mãe fala que foi um dia tranquilo, que não teve nada demais assim, também. Sem nenhuma particularidade.
P/1 - Como que é o nome da sua mãe e como que você descreveria ela?
R - Minha mãe é Rosana Fernandes. Uma pessoa que se entrega muito para os outros. Ela faz tudo para que os outros estejam bem. Muito amorosa. Uma pessoa que se entrega inteira para a família, para que tudo saia da melhor forma possível.
P/1 - E você sabe um pouco da história dela? Qual que é a origem dela?
R - A minha família inteira, da parte de mãe, família muito humilde, de interior, que veio pra São Paulo. A minha família, meu avô com a minha avó, cresceram numa vilazinha, uma rua sem saída, na Vila Mariana. A casa da minha avó é lá até hoje, então a gente tem muitas memórias. Eu cresci ali também, nessa vila, então eles contam bastante de uma infância, putz! Com todas as crianças brincando na rua, muito livre ali, com muita amizade. Tem amigos até hoje, eles, ela com os meus tios também, com amizade até hoje. Então, acho que foi uma infância feliz da minha mãe.
P/1 - E o seu pai, qual que é o nome dele e como que você o descreve?
R - Meu pai, Mário Takano, faleceu esse ano, meu pai, no começo do ano. Mas, putz, também é uma pessoa muito amorosa, que deu tudo o que ele tinha pra família também, pra formação minha, da minha irmã. Então... Até me emociono um pouquinho, que é muito recente, mas uma pessoa que entregou tudo que ele tinha para os filhos e para a família.
P/1 - Ele também é de São Paulo?
R - Nasceu no interior de São Paulo, mas eu tenho origem nipônica, meu pai é japonês, filhos de japoneses vindos do Japão, mas a mesma origem, pessoal muito carente, naquela época, veio pra São Paulo também, sem nada, e construíram muita coisa. O meu pai morou, a família do meu pai morou na mesma vila que eu falei da minha mãe, se conheceram lá pequenos e começaram a namorar, casaram e... Então, desses amigos que eu tinha falado da minha mãe ali, meu pai era um dos amigos, entendeu? Então, as famílias se conheciam há muito tempo.
P/1 - E eles contaram pra você como que eles se apaixonaram? Como que foi? Eles contavam sobre isso?
R - Era de amigos mesmo, assim. Acho que da amizade que foi crescendo alguma coisa ali. Ficaram juntos e casados.
P/1 - Você tem uma irmã?
R - Tenho uma irmã.
P/1 - Como que é o nome dela?
R - Mais nova. Mayla. Mayla, M-A-Y-L-A.
P/1 - Só vocês dois?
R - Só nós dois.
P/1 - E o que você sabe dos seus avós, fala dos maternos primeiro.
R - O materno, os meus avós, bom, meu avô de origem, ele era filho de portugueses, então veio também e construiu a vida aqui. A minha avó, pelo que eu sei, o pai dela era de Minas Gerais, ali perto da Bahia, talvez, e vieram para São Paulo também. Meu bisavô era negro, casou com uma espanhola loira de olho azul, aí deu minha avó. Minha avó casou com um português. Minha mãe casou com um japonês e daí tô eu aqui. Por isso que eu falei ali no começo, como é que se identifica. Eu sou a mistura geral aí, tudo junto e misturado. Então, essa foi a miscigenação da parte da minha mãe. E a parte do meu pai, minha avó e meu avô vieram do Japão, se estabeleceram no interior de São Paulo. Bom, meu pai nasceu por ali também, daí veio para São Paulo e cresceu ali nessa vilazinha.
P/1 - Você tinha proximidade com os seus avós?
R - Tinha, tinha.
P/1 - E eles contavam por que que eles eram no Japão? Por que que eles faziam aqui quando chegaram?
R - A família do meu pai veio pra plantação de tomate no interior de São Paulo, daí depois eles abriram uma tinturaria. Clássica também, de japonês. Em São Paulo. Daí depois, eles conseguiram abrir uma concessionária de automóveis. Como que se deu esse salto, eu não sei. Mas abriram uma concessionária da família, a família inteira trabalhava ali nessa concessionária. E foi isso. Da parte do meu pai, de história, assim, como é que eles chegaram. Da parte da minha mãe, é isso, o avô dela, meu bisavô, acho que é de Minas Gerais e que em algum momento vieram pra São Paulo também, estabeleceram aqui.
P/1 - E você lembra a casa da sua infância? Era nessa vila também?
R - Era nessa vila.
P/1 - Como que era essa casa?
R - Puts, era um sobrado, dois andares. E uma rua sem saída, fechada, então todo mundo ali se conhecia. Da casa, um sobrada com dois quartos, um banheiro em cima, sala grande embaixo, um quintalzinho. Mas todo mundo ficava na rua, todo mundo se conhecia, a brincadeira era na rua ali mesmo.
P/1 - Tinha muitos amigos lá?
R - Tinha muitos amigos lá.
P/1 - E o que vocês brincavam na rua?
R - A gente brincava de tudo que criança brincava naquela época, esconde-esconde, polícia e ladrão, mãe da rua, pula-sela, amarelinha. Tudo que criança gostava. Daí em determinado momento da infância apareceu um videogame ali também, o pessoal jogava, começaram a jogar um videogame já também.
P/1 - E a sua irmã, vocês são próximos? Brincava também, de idade assim?
R - A gente tem quatro anos de diferença. Em algumas brincadeiras sim, mas na maioria eu acho que não, era menor, assim.
P/1 - E você começou a ir pra escola lá também?
R - Comecei a ir pra escola lá.
P/1 - A sua irmã estudava na mesma escola?
R - No começo sim, depois ela mudou.
P/1 - E como que vocês iam pra escola?
R - O meu avô levava a gente de carro pra escola, deixava a gente lá. E eu acho que depois ia buscar também. Até uma certa idade, quando a gente era menor, depois voltava a pé, que era razoavelmente próximo aí.
P/1 - E aí voltava com os amigos da rua?
R - Daí voltava com os amigos no começo, depois com a namorada, morava perto ali também, de casa.
P/1 - Tem alguma história de quando você começou a voltar sozinho da escola? Alguma coisa marcante que aconteceu?
R - Puts… Ah, eu lembro bastante já namorando, de eu voltando com a namorada, que hoje é minha esposa. Então, a gente se conheceu na escola. E a gente voltava juntos sempre. Eu deixava ela na casa dela e voltava pra minha. Uma vez teve um caso de uma tentativa de assalto. Eu fazia aula de violão, naquela época, estava voltando com um violão, que era emprestado, na verdade era da minha madrinha, um violão super de estima dela, que ela tinha me emprestado pra eu fazer essa aula de violão, que eu não tinha condições de pagar, de comprar um violão naquela época. E eu voltando com um violão dela, que era dela há muito tempo também, assim. E daí um cara colou do meu lado. “Me dá essa guitarra aí.” “Mas não é guitarra, é violão.” “Tá bom, mas me dá então essa guitarra.” “É violão, cara.” “Tá bom, mas eu tô te roubando.” Daí, “cara, não posso te dar esse violão.” Daí eu puxei assim, ele me deu um soco, eu saí correndo e salvei o violão da minha madrinha. Mas voltei com o olho machucado pra casa.
P/1 - Então, você começou a namorar com a sua esposa, vocês dois eram novinhos, que série que vocês estavam?
R - Novinhos, lá no primeiro colegial, oitava série, por aí.
P/1 - Ah, e como que foi isso? Conta um pouquinho pra gente.
R - Ela vai ficar brava comigo depois que ela...
P/1 - Como que é o nome dela?
R- Mariana. Bom, a gente sempre se conheceu, estudou junto, a partir da quinta série. Eu repeti a quinta série, então eu sempre fui um ano a mais do que ela. Daí eu repeti a quinta e comecei a cair com ela. E tem um amigo que, inclusive, ele tá trabalhando aqui hoje também. Passou no concurso agora da nova leva, que é o Breno, que sempre estudou com a gente também. E eu falava pra ele, eu vou namorar essa menina um dia. E lá pra oitava série, a gente começou a conversar, a se aproximar mais. Daí ela me roubou um beijo. É isso que eu falo que ela vai ficar brava, essa é a minha versão. Mas é a minha versão que vai estar gravada, então é o que vai valer aí. Ela me roubou um beijo e daí a gente começou a sair junto, começou a voltar junto da escola, eu deixava ela na casa dela. E começamos a se aproximar bastante. No final… Mamoramos bastante, dez anos de namoro. Daí casamos. Hoje a gente tem um filho, o Arthur. Então, de namoro de escola, assim, que a gente foi construindo uma relação.
P/1 - E o que vocês gostavam de fazer para se divertir na adolescência?
R – Putz! A gente ia muito para cinema, para teatro, para show. Era isso. E construir, pensar na vida, na construção da vida mesmo, sabe? Desde adolescente a gente já meio que foi traçando assim, pra onde a gente queria ir, sabe? Foi construindo. Então, essa construção que eu acho que foi o mais legal, assim, o melhor passatempo.
P/1 - E na época de escola, você tem algum professor que foi marcante pra você? Você lembra?
R - Sim. Professora Nurimar, de português. Ensinou muito a gente. Ela falava que a gente era bonitinho, mas ordinário. A gente aprontava bastante, mas no final entregava lá. E a gente aprendeu muito com ela. Eu aprendi muito com ela. Estava conversando com o pessoal esses dias da importância dessa professora pra gente. Ela e outras também. Eu acho que a gente teve uma formação muito boa, não só das matérias, mas de caráter ali também. É que eu falo dos... a gente, tanto a minha esposa, quanto o meu colega que está aqui hoje, o Breno, mas a gente tem ainda hoje um grupo muito unido, assim, de pessoas da época da escola, tem umas 20 pessoas que até hoje a gente se encontra. No sábado agora reuniu um pessoal lá em casa, dessa época. Daí agora é todo mundo casado, com filho, mas a gente sempre volta nesses papos daquela época.
P/1 - E quando você estava lá na escola pequeno, você já sonhava com alguma profissão? Pensava em ser, “quando eu crescer, eu vou ser?”
R - Ah, eu queria ser profissional de educação física, que eu gostava de esporte. E gostava muito de Biologia também, já naquela época. Mas foi a minha esposa que, já na época de escolher ali no terceiro colegial. “E aí, o que você vai prestar?” “Ah, Educação Física.” “Mas, pô, Educação Física, como é que você se imagina aí?” “Sei lá, um técnico de futebol.” Não tinha muita noção assim. Daí ela que foi me trazendo pra realidade aí. Acabei mudando, fiz a biologia, tinha mais campo de atuação e...
P/1 - Ela é bióloga também?
R - Não, engenheira. Ela é engenheira. Ela já sabia desde criança o que queria, ela sabia que era engenharia. Você vê que é um pensamento totalmente diferente, um… Ela é toda metódica e eu mais largadão, que não queria nada, mas foi o que deu liga aí. Mas muita influência dela, do que eu fiz, da minha profissão hoje também.
P/1 - E da época da faculdade, tem algum professor marcante? Alguma cena marcante?
R - Putz, na faculdade tem...
P/1 - Aonde você estudou?
R - Eu fiz o Unesp Botucatu, então saí de São Paulo pra fazer a faculdade. Putz, faculdade é um novo mundo, onde você se descobre, descobre outras pessoas, descobre o mundo de uma outra forma. Putz, mas tem muitas histórias, eu acho, da faculdade, assim. Uma que dá pra contar também.
P/1 - Você foi estudar em Botucatu e a sua esposa...
R - Ela ficou aqui. Ela ficou aqui. É uma história, vai, logo no começo ali do... Quando a gente... Eu tinha ido pra lá, acho que fazia umas duas, três semanas que eu tinha ido, e lá a época de trote, tinha muito trote. Bicho ainda de faculdade, o pessoal sequestrava a gente pra levar pras festas lá. Daí teve um dia que me sequestraram, junto com uma galera da sala. Falei pro pessoal, “não, peraí aí que eu tenho que ligar pra minha namorada pra falar que eu fui sequestrado.” “Não, você tá zoando.” “Para o carro aí, eu vou ligar pra ela.” Daí pararam, eu liguei pra ela do orelhão, a cobrar. Eu: “Mari, pessoal me sequestrou aqui, tô indo pra uma festa.” Ela: “não, você não vai.” Daí eu, “então, eu fui sequestrado, os caras tão me levando, eu vou.” Falei: “ó, vamos chegar num acordo aí. Eu vou no negócio. Eu posso falar pra você que eu não vou. Você fala, tá bom, você não vai. E eu vou! Ou eu falo que vou, e você fala: não, vai, se cuida. Que é o que eu vou fazer. E eu vou, porque eu tô sequestrado aqui, eu vou na festa.” Daí eu acho que esse, pelo menos pra mim, foi um momento marcante, assim, que a nossa relação de confiança se concretizou ali. Então, ela também, ela fez USP, POLI -USP, só tem homem também na engenharia, então sempre foi uma relação muito de confiança assim, da gente. E esse momento acho que marcou bastante essa relação.
P/1 - E trabalho, você começou a trabalhar com quantos anos?
R - Puts, eu comecei a trabalhar com uns 16 anos.
P/1 - E qual que foi o seu primeiro trabalho?
R - Trabalhava de monitor de buffet infantil. Foi meu primeiro trabalho. Era onde eu conseguia uma graninha ali pra mim, pra eu fazer minhas coisas. Ganhava R$20,00, por festa. Depois teve um aumento de R$1,00, por festa, ganhava R$21,00, por festa. Mas fazia muitas festas, eu fazia de terça a sexta, eu fazia uma festa por dia, à noite, então eu ia pra escola, à noite eu fazia a festa, a monitoria de festa, e de final de semana, duas festas por dia, então duas sábado, duas domingo, mais quatro aí, dava umas oito festas por semana. Dava uma graninha boa para uma criança de 16 anos, dava para juntar um dinheirinho legal.
P/1 - E quando você foi para Botucatu, você morava em república? E como que foi? Você saiu da sua casa para morar na república?
R - Saí da minha casa para morar em república. Tenho amigos até hoje, dessa época, grandes amigos. No começo é tudo estranho, é diferente, sair da casa da mãe, onde você tem tudo, pra ir morar numa república em que você tem que aprender ali a conviver com gente que pensa totalmente diferente de você e que não vai te atender da forma que você quer, muitas vezes. Então, aprender a respeitar as opiniões, construir as relações ali, foi uma época de muito aprendizado também.
P/1 - Era só meninos?
R - Só meninos.
P/1 - Tinha muita festa?
R - Sempre teve. Sempre teve. Época de faculdade, e daí a gente tentando… Faculdade interior sempre tem muita festa assim, muitas repúblicas, daí cada república fazia a sua festa. A minha república lá fazia umas pizzadas e vendia cerveja, daí a gente revertia todo esse dinheiro para melhorias da casa ali. Então, comprava um sofá, comprava uma televisão, com o dinheiro desses eventos aí. Eu não sei como é que a gente conseguia fazer, que era R$ 5,00 pra entrar, você comia pizza à vontade, que a gente mesmo fazia, e vendia cerveja. E a cerveja era R$ 1,00 e pouquinho. Era R$ 1,00, você vendia R$ 1,50. E a gente ainda conseguia fazer uma graninha pra dar mais festa e pra comprar coisas da casa.
P/1 - Lá você não trabalhava, só estudava?
R - Não, só estudava. E daí o meu pai que ajudava. Meu pai, ele separou da minha mãe e ele foi trabalhar no Japão. Então, ele de lá mandava um dinheirinho básico ali pra eu poder me sustentar ali na na faculdade, pagar um aluguel. Básico, alimentação, aluguel.
P/1 - E depois da faculdade, como que seguiu a profissão? Você já saiu da faculdade, já foi trabalhar como biólogo?
R - Eu saí da faculdade, eu fiz um mestrado, logo na sequência, assim. Fiz a licenciatura, o bacharelado, depois eu fiz um mestrado, na sequência. Daí, na época do mestrado, eu conheci um pessoal que trabalhava com caverna e uma ONG que trabalhava com caverna também. Nessa época aí, ó.
P/1 - Aonde é?
R - Essa aí eu acho que é no Petar, aqui em São Paulo. E a gente nessa ONG, eu ia muito pra caverna assim também, fiz uns contatos. Tinha uma professora da USP também que trabalhava com cavernas e acabei indo pra essa… Juntando biologia com caverna e fazendo, entrando numa empresa de consultoria que trabalhava com caverna. Então, fiquei um tempinho aí nessa empresa de consultoria, até eu passar aqui no concurso e vim pra cá.
P/1 - Você se especializou em algum tipo de biologia?
R - Eu fiz um mestrado com zoologia, ecologia, estudava os crustáceos para ver como aquela população estava composta ali e se ela tinha risco ou não de extinção, com proposições de melhoria no ambiente ali, para a manutenção dessa população que vivia ali.
P/1 - Aí você fez o concurso aqui pro Porto?
R - Fiz o concurso, mas foi meio que tudo acontecendo antes, assim, que eles demoraram pra chamar aqui. Então, logo depois que eu fiz… que eu estava terminando o mestrado, eu falei: pô, vou acabar o mestrado, eu não quero fazer um doutorado, não é a vida acadêmica que eu... não é o que eu quero pra minha vida. Daí eu comecei a procurar outras coisas. Comecei a trabalhar na Cobasi. Você conhece a Cobasi? Trabalhei uma semana na Cobasi. Uma semana. Também vi que não era isso. Me chamaram para a consultoria. Quando larguei lá. E nessa época eu estava meio que procurando, fiz alguns concursos, inclusive o daqui de Santos. E comecei na consultoria, fiquei um tempo na consultoria, daí chamaram aqui. Daí o pessoal me ligou. “Ó, você tem que se apresentar aqui… Você passou no concurso, né?” Daí eu, “não, não prestei concurso nenhum.” Nem lembrava mais. Nem lembrava mais. E eu estava no Pará essa época, fazendo a consultoria lá no Pará. E o cara, “não, mas você passou! Você não prestou nenhum concurso?” “Puta, há muito tempo.” Ele, “então, é esse que você prestou há dois anos atrás. Você tem que se apresentar depois de amanhã.” Eu, “não, cara, eu tô no Pará, como é que eu vou? Não tem como.” Daí eu dei os meus corres lá e consegui chegar aqui a tempo ainda. Mas um dia depois do que todo o pessoal. Então, tem todo o pessoal da minha turma aí, o Thiago ali, entrou na minha turma também, só que eles falam, um dia antes de mim, porque eu cheguei atrasado aqui pra me apresentar.
P/1 - E como que foi começar a trabalhar aqui? Você já estava casado?
R - Já, estava casado.
P/1 - Então, vamos voltar um pouquinho. Conta do casamento pra mim. Vocês namoraram desde adolescentes, aí namoraram 10 anos, né?
R - 10 anos, e daí ela me pediu em casamento. Brincadeira. Brincadeira. Daí pedi ela em casamento, a gente casou. Foi um casamento simples, assim. A gente nunca ligou muito pra festa. Eu acho que os nossos pais queriam mais festa do que a gente. A gente sempre achou meio que um fluxo natural, assim, sabe? Era mais uma continuidade daquilo que a gente já queria. A relação já tava construída, então a gente falou: não, vamos casar mais pra formalizar aquilo que a gente quer do que pra ser uma super festa, sabe? A gente fez um casamentinho mais básico, mais tranquilo, vamos falar assim, mais marcante também.
P/1 - E como que foi começar a trabalhar aqui? Um ano atrasado, um dia, né?
R - Um dia atrasado. É... Putz. Mudança total de vida, né? Não só de trabalho, mas de cidade também, uma outra cultura. Não conhecia nada de Santos. Tinha vindo algumas vezes só pra cá, mas como turista, que é uma relação totalmente diferente.
P/1 - Que ano que você assumiu aqui?
R - Putz, daí você vai me perguntar de datas, daí eu... Vou me ferrar, sim.
P/1 - Pra eu ter noção, quanto tempo você tá trabalhando aqui.
R - Faz 13 anos que eu trabalho aqui, cara. 2000 e…
P/1 - 2012, né?
R - É, 2012. 2012 comecei a trabalhar aqui, mudança total de vida. Saí da minha cidade pela segunda vez, eu tinha saído para ir para a faculdade. Mas, apesar de fazer o caminho todo dia de subir e descer…
P/1 - Você nunca morou aqui, você sempre...
R - Nunca morei aqui, mas me sinto um santista aí, quase, vai! 12 anos já na cidade, aqui já... com uma cultura totalmente diferente, de uma cidade de litoral lá pra São Paulo. Mas do trabalho, propriamente dito, também mudança completa. Eu saí de uma empresa de consultoria, trabalhava com licenciamento ambiental, vim pra cá como uma empresa de governo, totalmente diferente de tudo que eu já tinha feito. Não conhecia nada de política também, que a gente é obrigado a acompanhar mais de perto aí o que acontece.
P/1 - E aí há 12 anos você faz esse percurso todos os dias?
R - Todos os dias.
P/1 - Conta coisas que já aconteceram marcantes nesse percurso de todos os dias.
R – Putz, na estrada? Nossa, daí minha esposa vai ficar brava comigo de novo, mas a gente vê muita coisa cabulosa na estrada. Tipo, caminhão tombado na sua frente. Uns dois meses atrás, um caminhão explodiu enquanto eu estava passando ali na estrada também. Estava pegando fogo no acostamento, quando a gente estava passando, o caminhão explodiu. Ela nem sabe disso. Ela vai ficar sabendo agora aí. Passo medo ali, mas… Putz, acidente direto também. É o que eu falo, a questão de tempo, pra mim, não tem muita diferença de quando eu trabalhava em São Paulo, trabalhava no Butantan e demorava uma hora e pouquinho pra chegar da minha casa até o trabalho, na consultoria lá. Então, tempo é tranquilo, eu demoro mais ou menos o mesmo tempo que eu demorava antes, no emprego anterior. A minha esposa também, às vezes, vai sair do trabalho dela, eu saio daqui e chego antes dela lá em casa. Então, o tempo é tranquilo.
P/1 -E ela trabalha em São Paulo?
R - Trabalha em São Paulo. O que pega é a assunção do risco aí. Esse que é o diferencial, eu acho. Você assumir o risco de pegar a estrada todo dia e ver algumas coisas tensas assim, na estrada, de vez em quando. Mas vai com atenção, vai tranquilinho, que chega. Eu nunca sofri um acidente na estrada aí, então também tá tranquilo.
P/1 - E quando você assumiu para trabalhar aqui, você assumiu que cargo?
R - Eu entrei como especialista portuário biólogo, que é o de base, daí fui galgando alguns cargos intermediários aí, coordenador, chefe de serviço.
P/1 - E o que o especialista portuário biólogo faz?
R - A gente trabalha com tudo que é relacionado ao meio ambiente aqui do ambiente portuário. Desde licenciamento ambiental, de obras. Então, fazemos os estudos ou contratamos os estudos ambientais para o licenciamento. Tem uma parte de vegetação também. Tudo coisa que eu nunca tinha trabalhado na faculdade ou já tinha tido na faculdade, mas não trabalhado com esses temas antes. Poluição, fiscalização de terminais para ver se estão poluindo ou não estão poluindo.
P/1 - Mede a água?
R - A gente contrata, faz a contratação das empresas que fazem os monitoramentos. Então, o Porto, hoje ele opera por meio de uma licença de operação emitida pelo IBAMA, pelo órgão ambiental. Nessa licença tem perto de 20 programas ambientais para garantir que a atividade portuária, ela gere o menor impacto possível para o meio ambiente e para a sociedade de entorno. Então, vamos falar, a gente sabe que o Porto é um grande impactante, que impacta muito as questões aqui da região, tanto do meio físico, meio biótico e meio social. Mas todos esses impactos foram identificados por meio de um estudo que é o EIA/RIMA, e para cada impacto identificado a gente tem um programa para redução desses impactos. Então, a gente faz, por exemplo, monitoramento da qualidade da água, que você falou, faz análise. Todo mês o pessoal vai lá e faz uma coleta de água no canal para ver se está em conformidade com a legislação. Se der algum parâmetro que está fora, a gente vai tentar entender o que aconteceu. Ah, o Nitrogênio está fora nesse ponto. Pode ser por causa da operação de tal terminal. Então, a gente vai no terminal para ver se tem alguma correlação ou não. Então, isso para todos os parâmetros. Água, qualidade do ar, efluentes, a biota, os animais que vivem no canal, as aves, tartaruga. E pra parte de população também, de entorno, da sociedade que vive ao redor do porto, como que a gente tá impactando e como que a gente faz pra reduzir ou mitigar esse impacto.
P/1 - Quando vocês percebem, tipo, que a água, aconteceu alguma coisa errada, e vocês vão atrás de por que está acontecendo aquilo, aí vocês que multam a empresa que jogou alguma coisa na água? É isso que é o trabalho?
R - Sim, é nesse sentido. A autoridade portuária não pode multar hoje, mas a gente reporta para a ANTAQ, que é a agência reguladora, e eles sim podem multar. Ou se for alguma coisa relacionada a um item contratual, daí sim a gente pode colocar alguma sanção na empresa
P/1 - Até eles regularizarem?
R - Isso, até eles regularizarem. Ou informamos o órgão ambiental também para atuar como parceiro nosso nessa regularização do impacto.
P/1 - E como que é o relacionamento de vocês aqui como portuário e com os pescadores, no caso?
R - O relacionamento, de modo geral, não só com o pescador, mas com as comunidades e as cidades do entorno, hoje tem melhorado muito, viu Ane. Num passado recente, eu diria até, o pessoal sempre falava: Ah, o porto está de costas para a cidade. Então, o porto crescendo, se desenvolvendo e a cidade as margens do porto, vamos falar assim. Nas últimas gestões teve um movimento grande de abertura do Porto para as comunidades, não só de pescador, mas todos os municípios aqui do entorno do Porto, para eles entenderem o que é Porto e para que a gente possa construir essa relação efetiva de Porto-Cidade. O Porto é uma atividade muito antiga aqui na região. A gente sempre fala que o porto cresceu junto com a cidade, numa relação de interdependência total aí. O porto crescendo, crescia a cidade também. E o porto precisa de uma cidade estruturada também para se manter. No final, a gente sempre fala que o porto está batendo recordes de movimentação, recorde de exportação e importação de produto, a gente movimenta por aqui um terço da corrente comercial brasileira, um terço de tudo que entra e sai do Brasil passa aqui pelo Porto de Santos, mas no final quem faz acontecer o Porto de Santos são as pessoas. E essas pessoas, elas não moram no porto, elas moram na cidade. Então, tem que ter uma relação de interdependência aí entre os dois. O porto depende da cidade e a cidade depende do porto também, que o porto retorna em imposto para a cidade também. Então, grande parte da renda da cidade vem do porto. Então, o porto faz a cidade crescer e a cidade também faz o porto crescer. Essa é a visão que eu tenho de interdependência, assim. E a relação com o pescador se dá de forma semelhante, o porto crescendo, muitas vezes os pescadores identificam isso como uma atividade que está impactando a atividade deles. Pesca artesanal, principalmente, é uma das primeiras profissões da humanidade, extrativismo animal por meio da pesca. Então, tem uma certa sobreposição e tem, como eu disse, o porto acaba gerando impactos de todas as formas e a gente tenta mitigar ou reduzir esses impactos da melhor forma possível.
P/1 - Tem algum canal, alguma forma, deixa eu ver como que eu vou fazer essa pergunta… Dos pescadores, quando os pescadores estão com algum problema e querem falar com vocês, como que eles fazem isso? Eles vêm aqui? Tem algum canal para procurar vocês?
R - A gente tem um programa de educação ambiental e um programa de apoio à pesca artesanal, vinculados com a nossa licença, e que a gente tem tentado se aproximar cada vez mais dos pescadores artesanais, das comunidades. Hoje a gente tem oito comunidades de pescadores tradicionais aqui mapeadas, e que a gente tenta atuar de forma mais próxima com eles. Há dois anos atrás, mais ou menos, a gente começou a fazer reuniões mais frequentes com essas comunidades e se colocando totalmente à disposição para discussões. Então, um dos grandes pontos que eles sempre trazem é a questão da dragagem, a gente sempre vai conversar de dragagem com os pescadores e sempre coloca o nosso canal oficial de comunicação que é a Ouvidoria. A Ouvidoria é o canal principal aberto 24 horas aí, que pode ser acessado de qualquer forma, telefone, e-mail, ofício, para tirar dúvidas, ou reclamação, ou denúncia. Mas a gente tem um grupo também de WhatsApp, temos tentado se aproximar mais do Instituto de Pesca, aqui da região, para fazer essa mediação com os pescadores. E uma das pautas que eles colocam é realmente essa de comunicação, de construção conjunta das políticas públicas. Então, estamos num movimento hoje de formar esses grupos para discussão sobre pesca e desenvolvimento da pesca e como o porto pode também ajudar nessa frente da pesca artesanal.
P/1 - Explica para quem for assistir o que é a dragagem?
R - A dragagem… Bom, o porto para operar, os navios para chegarem nos terminais eles tem como se fosse uma estrada marítima, e essa estrada, diferente de uma estrada convencional de asfalto, ela é um canal de navegação, e que ele precisa ter um mínimo de profundidade, que é o que a gente chama de calado. Hoje o porto está com um calado de 15 metros de profundidade, ele aceita navios com calado de 15 metros, na verdade, de profundidade. E a manutenção desses 15 metros é essencial para o porto, a gente não consegue operar se o calado estiver muito baixo, os navios não entram, não conseguem acessar os terminais para fazer a movimentação. E a cada centímetro mesmo, a menos de profundidade, são toneladas de carga que se deixa de operar no porto. Então, por isso a importância de se manter o canal de navegação com aquela determinada profundidade. Então, a gente teve uma licença emitida pelo Ibama, há um tempo atrás, para aprofundar o canal para 15 metros e hoje a gente tem uma licença para manter o canal a 15 metros. Então, por ser um canal natural, existe uma taxa de assoreamento, então o canal, ela vai se assoreando, ou seja, vai acumulando areia e outros tipos de sedimento ali no fundo do canal, então ele vai perdendo a profundidade com o passar do tempo. Só que a gente precisa manter os 15 metros pra....
P/1 - E faz essa manutenção de quanto em quanto tempo?
R - Não tem um período fixo, mas ultimamente a gente tá fazendo duas vezes por ano, uma vez por semestre, a gente… Então, vem uma draga, que a draga nada mais é do que um super aspirador de sedimentos ali, funciona como se fosse um aspirador de pó em que ele baixa ali no fundo do canal e tira o sedimento que está acima da cota de 15 metros. Então, vamos falar que ele está… deu uma super chuva aí e os rios da região trouxeram todo esse sedimento ali pro canal de navegação. Então, ele passou de 15 para 14,5 de profundidade. Então, a gente vai ter que tirar esse meio metro que assoreou. Então, chama a draga, ela vem como se fosse um aspirador de pó mesmo, tira esse sedimento, joga dentro de uma cisterna, dentro da própria draga e leva para um polígono de disposição oceânica, que é um polígono licenciado também pelo Ibama, gigantesco, de, sei lá…
P/1 - E aonde ficam esses sedimentos?
R - 10 quilômetros… Eles ficam em alto mar, então a draga vem aqui no canal, tira o sedimento e joga, dispõe nesse polígono de disposição oceânica, que é um lugar que foi licenciado pelo Ibama para que as correntes levem embora esses sedimentos dragados. Então, ele está num lugar específico pra que a corrente pegue e leve pra fora, não traga pra dentro do estuário de novo, ou pra praias, ou pra outras regiões aqui.
P/1 - E por que que os pescados tem tanto problema com a dragagem? Por que que eles reclamam da dragagem?
R - Eu acho que muito pela falta de informação ainda.
P/1 - É porque eu já escutei pescador falando que o grande vilão do porto pra eles é a dragagem e também já escutei pescador falando que é bom porque o sal do mar dá uma movimentada, sei lá, e aí acaba...
R - É, eles acabam trazendo o sedimento, o material sedimentar mais orgânico.
P/1 - E aí traz mais peixe?
R - E daí joga ali no polígono de exposição oceânica, ali onde seria só um areião, ele acaba atraindo mais vida ali, por ter mais matéria orgânica também. Esse é um viés. O outro viés que a gente ouve bastante dos pescadores é com relação à lama, eles chamam de lama, é um sedimento. Que muitas vezes o material que a gente dispôs no polígono de disposição oceânica poderia ser carregado para uma outra área de pesca ali do entorno e isso impactaria no pescado deles. O que a gente tem recebido são alguns vídeos com material, meio de lama mesmo, lamoso, mais de silte e argila, nas redes de pesca e que eles fazem a relação direta com a dragagem. Esse eu acho que é o principal pleito dos pescadores aqui da região. O que a gente tem observado, Ane, é que muitas vezes os locais de pesca deles não são num local em que o sedimento poderia ter chegado lá, entendeu? Então, no próprio relatório que eles fizeram recentemente, diversos pontos que foram observados ali, que eles fazem relação direta com a dragagem, estão a vários quilômetros de distância de onde a gente faz a disposição. E o que a nossa modelagem indica é que esse sedimento vai para fora. Ele não conseguiria chegar nesses pontos.
P/1 - E você acha que esse sedimento que eles falam que é da dragagem, que você falou que não tem como ser. Você tem ideia do que possa ser?
R- Em alguns dos principais eventos que eles relataram esse tipo de sedimento, estão relacionados com eventos climáticos, tipo, teve uma ressaca gigantesca e eles evidenciaram essa lama ali nas redes num evento climático desse porte, sabe? Então, pode... E que ocorre no litoral inteiro. Então, pode estar relacionado com essas frentes climáticas, assim, também. Entendeu?
P/1 - E a sua carreira aqui dentro, você começou como... especialista portuário biólogo e aí você foi passando….
R - Por cargos intermediários. Isso! Hoje não sou eu que trabalho diretamente com essa parte da dragagem aí. A minha gerência aqui trabalha mais com a parte social e de sustentabilidade, então toda parte de educação ambiental e comunicação social, tá aqui comigo. Então, a relação com a pesca artesanal está aqui na minha gerência, mas a gente trabalha indiretamente com as questões de dragagem também, pelos impactos.
P/1 - O que você faz hoje em dia? Explica pra gente. Você tem mais contato com as comunidades em volta do Porto?
R - Isso, também. É uma das frentes. Toda parte social vinculada à licença está sob minha responsabilidade aqui. Então, Programa de Educação Ambiental, um sub Programa de Apoio à Pesca Artesanal, Programa de Educação Ambiental para Trabalhadores, Programa de Regularização Fundiária, Programa de Comunicação Social.
P/1 - Fala pra gente um pouquinho desses programas.
R - Então, o Programa de Educação Ambiental, ele é um programa para toda a comunidade que sofre impacto direto do Porto. Então, o Porto, ele pode impactar nas comunidades de pesca artesanal. Então, a gente tem identificado essas oito comunidades que eu citei e a gente faz ações de educação ambiental com essas comunidades. Então, e feito um diagnóstico socioambiental participativo, onde a gente entrevista essas comunidades e as lideranças, para saber os problemas que eles têm com relação ao porto ou mesmo não relacionados ao porto, mas que tenha um viés ambiental, para que a gente desenvolva ações em cima dessas temáticas, para a educação ambiental com comunidades. Para trabalhadores portuários também tem uma frente de educação ambiental. Comunicação social é para deixar todo mundo ciente de tudo que a gente executa aqui, para dar transparência para as comunidades, tanto dos impactos que o porto normalmente gera, como para as ações de mitigação que a gente tem. Regularização fundiária, é um programa para acompanhamento da desmobilização de uma comunidade que hoje vive em palafitas, aqui dentro da área do porto, para retirar essas famílias ali daquele local, dar uma moradia mais digna para elas também. Estão sendo construídas moradias no Parque da Montanha, no Guarujá, essas famílias estão sendo desmobilizadas ali dessa região da comunidade da Prainha, para essa área do Parque da Montanha. Também a gente faz o acompanhamento disso e reporta para o órgão ambiental. Esses são os principais programas. E daí, tirando isso, tem diversas outras frentes aqui, principalmente relacionadas a mudanças climáticas, que a gerência aqui que toca também, para descarbonização, transição energética, corredores verdes internacionais. E a parte de sistema de gestão ambiental da empresa a aqui também, é tudo gerido aqui pelo sistema, gerido pela gerência de sustentabilidade. São as principais frentes aí.
P/1 - E nesses 12 anos que você está aqui, falando de mudanças climáticas, ou mesmo da cidade, quais as mudanças que você vê mais claramente assim em Santos, no Guarujá, nas regiões que vocês atuam, o que mudou? Pode ser para melhor ou para pior?
R - Do ponto de vista ambiental, mudou muito de quando a gente entrou há 13 anos atrás, mudou muito, assim. Os terminais, há0 13 anos atrás, você vinha aqui para Santos, tinha uma nuvem de material particulado, de poeira das atividades portuárias mesmo, que eu acho que era o que mais pegava, principalmente na ponta da praia. E que a gente conseguiu junto com fiscalização da autoridade portuária e mudança no modo de licenciamento da CETESB, principalmente, que passou a licenciar esses terminais. E antes eram atividades não passíveis de licenciamento ambiental. Exigiram mais medidas de controle desses terminais. Então, hoje o que a gente vê aqui é totalmente diferente do que tinha há 10 anos atrás. E a relação… Esse é o primeiro ponto, de poluição. A relação do Porto com o seu entorno, a sua vizinhança, as comunidades do entorno do Porto mudou muito também. Então, como eu disse, antigamente o Porto era dito como de costas para a cidade. Hoje a gente tem um movimento de abertura do Porto. Temos o Parque Valongo, por exemplo, que é um parque aberto ao público dentro da área portuária.
P/1 - Pode visitar esse parque?
R - Pode visitar esse parque. É um parque com playground para as crianças, com quadra de vôlei, com...
P/1 -Qual que é o nome?
R- Parque Valongo. E é um parque aberto ao público, é só chegar e fazer. Dá para fazer evento lá dentro também, então tem um galpão que vira e mexe tem evento do Porto ou da Prefeitura ali também, atraindo os cidadãos da cidade para dentro do Porto, para desmistificar muitas vezes essa questão do Porto só impactando. Agora é o Porto também trazendo benefícios para a cidade. E o terceiro, acho que são as obras de infraestrutura, quem passa também, quem lembra do Porto há 10 anos atrás, tinha outro cenário e hoje um Porto muito mais evoluído aí, com várias obras acontecendo.
P/1 - Com relação à imprensa, assim, se acontece alguma coisa, dá alguma coisa ruim no Porto, a imprensa procura… É vocês que tem que falar com a imprensa? Tipo, teve um, vamos supor, sei lá, que a gente escutava antigamente, um vazamento de óleo, alguma coisa assim. É vocês que tem que conversar com a imprensa?
R - Não, sempre o primeiro contato é com a superintendência de comunicação. Então, imprensa ou órgãos externos querem alguma informação, é a superintendência de comunicação. A não ser que entre pela ouvidoria também, que é um canal mais aberto pra sociedade, assim. Mas imprensa propriamente dita é comunicação. E daí a comunicação aciona os setores. Então, tem algo relacionado com o meio ambiente, eles mandam aqui pra superintendência de meio ambiente pra tentar embasar tecnicamente uma resposta.
P/1 - Defeso, é vocês que que decidem, toma decisão, tipo, esse tipo de camarão tá no defeso, não pode pescar agora?
R - Não, não. A autoridade portuária não tem nenhuma relação com o Ministério do Meio Ambiente, eu acho. Acho que nem Ibama, não é. Não tenho certeza. Mas essa definição não é com a gente, não
P/1 - Não é com vocês.
R - E a gente nem fiscaliza isso, nada.
P/1 - Aqui na Baixada Santista tem as colônias de pescadores, tipo Z1, Z2, Z3. É com eles que vocês entram em contato para fazer comunicação com os outros pescadores?
R - Geralmente a gente entra direto com as comunidades, então tem oito comunidades que a gente conversa diretamente, mas algumas delas fazem parte das colônias. E daí a gente conversa com as colônias também.
P/1 - Quais são essas oito comunidades?
R - De cabeça, vamos ver se eu vou lembrar de todas, peraí. Monte Cabrão, Ilha Diana, em Santos, daí no Guarujá tem Perequê, Sítio Conceiçãozinha, tem Praia do Góis, tem Santa Cruz dos Navegantes. Isso aí você me pegou, hein Ane. Não vou lembrar das outras duas agora, mas... Monte de cabrão, já falei, né?
P/1 - Bruno, a gente já está indo pras perguntas finais, eu queria saber se tem alguma coisa que eu não te perguntei e você gostaria de falar? De contar pra gente?
R - Eu acho que não. Principalmente relacionado aos pescadores aí. Novamente, a gente sabe que o porto causa impacto e que a gente vem num movimento de abertura e de tentativa de aproximação com todos, da parte social, todas as comunidades, não só de pescadores, para tentar construir política pública e mitigação dos impactos que a gente causa. Tem uma resolução, um direcionamento novo do IBAMA agora, da gente tornar o nosso programa de educação ambiental mais robusto, e a gente vai tornar esse programa mais robusto a partir do ano que vem. Estamos finalizando o processo de contratação para a execução do nosso programa de educação ambiental. Então, a partir do ano que vem, eu acho que vamos ter algumas ações diretamente com as comunidades de forma mais robusta e esperamos receber essas comunidades de braços abertos, para que a gente possa efetivamente levar essas ações para as comunidades também.
P/1 - E queria que você me contasse como foi se tornar pai.
R - Vish, foi a melhor coisa que aconteceu para mim. O Arthur hoje é o motorzinho lá de casa. Às vezes, a gente chega meio desanimado, mas é ele que traz a motivação da gente continuar fazendo aquilo que a gente faz. Eu digo, a gente, porque não é só pra mim, é pra mim, pra minha esposa, a família inteira vê o Arthur como um motivo de tudo. Acho que esse é grande diferencial, eu acho, de ter um filho. De ser um norte, a gente querer fazer tudo pra ele. Não sei se você lembra do começo da conversa, que eu falei que o meu pai e a minha mãe eram isso pra mim. E eu espero ser isso pro meu filho também. Fazer tudo que eu puder para que ele seja feliz no final.
P/1 - Quantos anos ele tem?
R - Tem 10 anos.
P/1 - E como que é a vida de vocês hoje em dia? O que vocês fazem para se divertir?
R - A gente, família?
P/1 - Vocês família?
R - A gente família. Eu acho que um pouco daquilo que a gente fazia quando era adolescente, assim, a gente gosta de ir pra show, gosta de ir pro cinema, gosta de ir pro teatro e gosta de ficar com os amigos e gosta de ficar junto só, às vezes, em casa sem fazer nada, só eu, a Mari e o Arthur. A nossa presença eu acho que já basta, assim, fazendo coisas do dia-a-dia, mas a gente estando junto tá bom.
P/1 - E você tem planos e projetos profissionais futuros?
R - Profissionais? Bom, eu sou especialista portuário concursado, mas eu estou no cargo de gerente de sustentabilidade, que é um cargo totalmente incerto, instável, vamos falar assim. Então, eu pretendo ficar aqui mais um pouco, eu acho que eu tenho muito a contribuir ainda para o porto e para o pro entorno do porto. Eu falo pro pessoal aqui da minha gerência, que uma das únicas gerências que tem a possibilidade real de transformação do porto e do entorno, principalmente, é a gerência de sustentabilidade aqui, que a gente tem muita relação com o externo do porto. Então, eu acho que eu tenho muito a contribuir, mas infelizmente, não sei como é que vai ser… Sabendo da instabilidade do cargo aqui, não sei como é que vai ser.
P/1 - E quais são os seus sonhos?
R - Meus sonhos? Meus sonhos sempre tem a ver com minha família. Que a gente possa viver da forma mais harmônica possível, que eu possa junto com a Mari, viver em tranquilidade, poder criar o nosso filho da melhor forma possível e que ele seja feliz.
P/1 - E como foi contar um pouquinho da sua história pra gente hoje?
R - Difícil. É muito difícil. Falado… tinha coisa que eu nem lembrava mais que eu trouxe aí. E eu acho que interessante, assim, da gente parar uma hora e pouquinho aqui, uma hora e meia que a gente ficou conversando e se forçar a pensar no passado, de como é que foi a nossa estruturação, a minha estruturação de vida. Como que eu construí isso e estamos aqui hoje.
P/1 - Muito obrigada, Bruno.
R - Obrigado a você, Ane. Valeu.
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