Sou Laura Faria Puri, descendente dos povos indígenas Puri.
Meus bisavós eram indígenas, mas não há registro deles; apenas sei o que minha mãe e meu pai contavam. Cresci ouvindo as histórias do nosso povo. Infelizmente, muitas tradições se perderam devido ao medo das violências sofridas e aos preconceitos.
Minha mãe narrava que minha bisavó materna era uma parteira muito respeitada. Pessoas vinham de longe para chamá-la e realizar partos. Ela tinha o dom de, apenas com as mãos na barriga da mulher, identificar a posição do bebê e prever se o parto estava próximo ou não. Caminhava longas distâncias de uma cidade a outra a pé, e descalço. Os chás, banhos e rezas que ela usava foram passados de geração em geração na família. Até hoje conheço muitos deles, úteis para curar febres, dores no corpo, gripes.
Minha mãe contava também que, sempre que minha avó ouvia o som de um cavalo, mandava todos se esconderem no mato, pois o povo Puri era calmo, mas vivia sob constantes ameaças.
Até os 17 anos, fui criada em uma casa com um quintal grande . Cresci rodeada de animais: galinhas, gansos, patos, porcos e cachorros, galinhola. Costumava até dar aulas para eles! Tínhamos muitas frutas, lagos uma infância que hoje considero perfeita. O cuidado com a natureza era notório por parte dos meus pais. Usávamos água do poço , no quintal, havia até uma lagoa para os patos e gansos, além de pés de cana caiana.
Por trás dos sorrisos, havia histórias dolorosas. Meu pai contava que um dia sua irmã estava no quintal, com os cabelos soltos, quando um grupo de homens armados a levou. Eles foram pegos de surpresa e, desde então, meu pai nunca mais a viu. Ele nunca gostou que eu alisasse muito meu cabelo, pois carregava consigo esse trauma sombrio. Quando ouvia o som de um cavalo, ele abaixava a cabeça e olhava para baixo, tomado pela dor e pelo sofrimento.
Minha avó, segundo minha mãe, estava sentada à sombra...
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Sou Laura Faria Puri, descendente dos povos indígenas Puri.
Meus bisavós eram indígenas, mas não há registro deles; apenas sei o que minha mãe e meu pai contavam. Cresci ouvindo as histórias do nosso povo. Infelizmente, muitas tradições se perderam devido ao medo das violências sofridas e aos preconceitos.
Minha mãe narrava que minha bisavó materna era uma parteira muito respeitada. Pessoas vinham de longe para chamá-la e realizar partos. Ela tinha o dom de, apenas com as mãos na barriga da mulher, identificar a posição do bebê e prever se o parto estava próximo ou não. Caminhava longas distâncias de uma cidade a outra a pé, e descalço. Os chás, banhos e rezas que ela usava foram passados de geração em geração na família. Até hoje conheço muitos deles, úteis para curar febres, dores no corpo, gripes.
Minha mãe contava também que, sempre que minha avó ouvia o som de um cavalo, mandava todos se esconderem no mato, pois o povo Puri era calmo, mas vivia sob constantes ameaças.
Até os 17 anos, fui criada em uma casa com um quintal grande . Cresci rodeada de animais: galinhas, gansos, patos, porcos e cachorros, galinhola. Costumava até dar aulas para eles! Tínhamos muitas frutas, lagos uma infância que hoje considero perfeita. O cuidado com a natureza era notório por parte dos meus pais. Usávamos água do poço , no quintal, havia até uma lagoa para os patos e gansos, além de pés de cana caiana.
Por trás dos sorrisos, havia histórias dolorosas. Meu pai contava que um dia sua irmã estava no quintal, com os cabelos soltos, quando um grupo de homens armados a levou. Eles foram pegos de surpresa e, desde então, meu pai nunca mais a viu. Ele nunca gostou que eu alisasse muito meu cabelo, pois carregava consigo esse trauma sombrio. Quando ouvia o som de um cavalo, ele abaixava a cabeça e olhava para baixo, tomado pela dor e pelo sofrimento.
Minha avó, segundo minha mãe, estava sentada à sombra de uma árvore quando ouviu o barulho de cavalos. Mandou minha mãe se esconder, mas foi levada por homens e sofreu violência. No dia seguinte, voltou para casa. Ficou o dia todo triste, chorando, até que juntou suas coisas e decidiu mudar o local onde viviam. Os povos indígenas Puri, por esses motivos, eram nômades: sofriam ataques, se defendiam e, em seguida, se mudavam em busca de paz.
Infelizmente, mesmo em 2025, esse preconceito persiste. Certa vez, uma pessoa soube que sou descendente indígena e fez piada com uma amiga enquanto eu estava por perto, dizendo: \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"Agora não pode falar índio, né? Não estou falando com você, Laura, só comentando o que vi na notícia.\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\" Para mim, isso é falta de respeito. Em outra situação, mencionei que estava pensando em acrescentar \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"Puri\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\" ao meu sobrenome, e a reação foi: \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"Você não deveria fazer isso, eles eram selvagens.\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"
Você é escritora renomada, certificada e graduando em Psicopedagogia (LPS). Quando apresentei um trabalho em um museu, a proprietária quis usar todo o projeto que criei sem pagar pelo serviço, como se ele tivesse que ser gratuito. Isso reflete a desvalorização do trabalho de nossa etnia.
Lembro me que namorava um rapaz da cidade grande pois eu morava na roça contei sobre minha família o que gostávamos de comer ele olhou para mim vocês são índio se agente se casar eu te deixar chateado você vai me comer você come gente são coisas que nos machucam por isso vejo alguns descende que não se declaram tem medo por estarem só por isso temos que nos unir construir nossas vilas e estarmos próximo uns dos outros ajudando nossa cultura tradição permanecer viva
Precisamos mudar essa percepção. É fundamental que as pessoas nos vejam em todos os lugares, como criadores de projetos, idealizadores, escritores, professores, compositores, e que respeitem nossa etnia. Sou indígena. Sou Puri. Respeite minha história. Ela vem de longe. Antes de vocês chegarem aqui, nós já estávamos.
Sou shuteh, palavra em puri que significa \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"bom\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\".
Escrito por Laura Faria Puri.
Minha história.
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