Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Sirlene Antonia de Abreu Lima Coelho
Entrevistada por Morgana Maselli
Macaé, 06 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB377
Transcrito por Regina Paula de Souza
P/1 – Então, SIrlene, eu vou começar pedindo pra você dizer, o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – É, Sirlene Antonia de Abreu Lima Coelho, nascida em 18 de novembro de 1968, é, natural de Claudio Manuel Mariana, Minas Gerais.
P/1 – Sirlene, qual é a sua formação?
R – Eu sou engenheira geóloga.
P/1 – Como é que você veio parar de Mariana aqui em Macaé?
R – Bom, a minha universidade a gente sempre teve, quando eu estudei lá na, quando eu fazia graduação na Universidade Federal de Ouro Preto, é, tinha convênio com a Petrobras para os cursos de pós-graduação, então, desde então, de fazer a faculdade, eu já tinha o contato com pessoas da Petrobras, né? Que faziam pós-graduação lá. Aí, com isso, já despertou aquele interesse, embora, lá a exploração maior é minério de ferro, tem a companhia Vale do Rio Doce que me motivou a fazer geologia, né? Engenharia geológica. Mas eu sempre tive uma queda pelo petróleo, pelas rochas sedimentares, que são onde a gente encontra o petróleo. Então, isso e, tendo contato, já, com diversas pessoas da Petrobras foi despertando aquele interesse cada vez maior.
P/1 – E, como é que foi que você entrou aqui, quando é que foi?
R – Bom, eu passei num concurso. O concurso foi realizado em 2001, é, mas eu fui chamada no último dia de validade do concurso de dois anos, que ele foi prorrogado depois de um longo período que não teve concurso, a Petrobras ficou mais de 10 anos sem ter concurso, então, aí, quando voltou a ter concurso eu entrei nesse, fui chamada em 2003, né? De um concurso de 2001, foi quando eu fiz as provas.
P/1 – E, em que área você está trabalhando aqui, qual é a sua função?
R...
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Depoimento de Sirlene Antonia de Abreu Lima Coelho
Entrevistada por Morgana Maselli
Macaé, 06 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB377
Transcrito por Regina Paula de Souza
P/1 – Então, SIrlene, eu vou começar pedindo pra você dizer, o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – É, Sirlene Antonia de Abreu Lima Coelho, nascida em 18 de novembro de 1968, é, natural de Claudio Manuel Mariana, Minas Gerais.
P/1 – Sirlene, qual é a sua formação?
R – Eu sou engenheira geóloga.
P/1 – Como é que você veio parar de Mariana aqui em Macaé?
R – Bom, a minha universidade a gente sempre teve, quando eu estudei lá na, quando eu fazia graduação na Universidade Federal de Ouro Preto, é, tinha convênio com a Petrobras para os cursos de pós-graduação, então, desde então, de fazer a faculdade, eu já tinha o contato com pessoas da Petrobras, né? Que faziam pós-graduação lá. Aí, com isso, já despertou aquele interesse, embora, lá a exploração maior é minério de ferro, tem a companhia Vale do Rio Doce que me motivou a fazer geologia, né? Engenharia geológica. Mas eu sempre tive uma queda pelo petróleo, pelas rochas sedimentares, que são onde a gente encontra o petróleo. Então, isso e, tendo contato, já, com diversas pessoas da Petrobras foi despertando aquele interesse cada vez maior.
P/1 – E, como é que foi que você entrou aqui, quando é que foi?
R – Bom, eu passei num concurso. O concurso foi realizado em 2001, é, mas eu fui chamada no último dia de validade do concurso de dois anos, que ele foi prorrogado depois de um longo período que não teve concurso, a Petrobras ficou mais de 10 anos sem ter concurso, então, aí, quando voltou a ter concurso eu entrei nesse, fui chamada em 2003, né? De um concurso de 2001, foi quando eu fiz as provas.
P/1 – E, em que área você está trabalhando aqui, qual é a sua função?
R – Eu trabalho no laboratório de geologia, hoje, o laboratório, o nome atual é Sedimentologia e Estratigrafia, trabalho como geóloga mesmo, na descrição de amostras, acompanhamento de poços que estão sendo perfurados.
P/1 – A sua rotina de trabalho, mais ou menos, como é?
R – É bastante agitada, porque a gente dá suporte tanto pro pessoal dos ativos de produção, que é parte reservatório, quanto da exploração mesmo, as locações novas que a gente, que está tendo agora, que a gente está, aí, com o foco no Preçal. Então, assim, está tendo várias locações e a gente tem trabalhado intensamente nisso daí, dando o suporte com as descrições de rocha de poços antigos em áreas que, hoje, estão sendo mais aprofundadas pra verificar se tem petróleo nas camadas abaixo do sal, né? Do pré-sal, que é chamado de pré-sal. Então, assim, a rotina é bem acelerada, assim, têm fases, né? E nós estamos numa fase bem acelerada, que a gente tem feito plantão, assim, de sábado, domingo, feriado, a gente está, aí, direto, porque como estão furando poços importantes, assim, não que os outros não sejam, mas os poços, agora, com esse foco no pré-sal, então, a gente está tendo que ter um acompanhamento mais intenso, porque muita coisa é nova e não tem muito conhecimento ainda, então, a gente está correndo atrás pra estar dando, quase em tempo real, a descrição do que está vindo das sondas, né? Das plataformas de perfuração, pra dar a informação de rocha, pra ajudar no aprofundamento, na parada do poço, ajudando mesmo no processo mesmo de. Como conta muito custo, as sondas são caras, então, as tomadas de decisões têm que ser imediatas, então, com isso a gente está dando esse suporte. Os geólogos de laboratório dão esse suporte, também, junto com o pessoal das locações.
P/1 – Você acompanha, então, o poço, desde a descoberta, até furar?
R – Até furar, analisando as rochas. Enquanto está furando, e, depois que fura a gente pega as rochas, vem, aí, a gente com um pouco mais de calma, a gente redescreve novamente, né? E dá outra, fazendo os relatórios aí pra entendimento.
P/1 – Qual é o maior desafio no seu trabalho?
R – O maior desafio? Isso aí é difícil de responder. É, não, o desafio é coisa nova, está vindo muita coisa nova e que a gente tem pouca gente na Petrobras que tenha conhecimento de igual, das rochas que estão sendo furadas agora, então, a gente está tendo que correr atrás, com o pouco tempo que a gente está tendo, porque a gente tem que acompanhar rapidamente, e, esse desafio de, a curto prazo, a gente tem que dar uma resposta sensata, bem coerente, porque, às vezes, muitas tomadas de decisões dependem da gente, dos geólogos de laboratório, pra determinados poços de exploração que estão sendo furados. Então, isso é um desafio e tanto.
P/1 – E você veio de Minas, né? E é essa a realidade de muitos companheiros aqui da Petrobras, né? Que vêm de vários estados. Mas como é esse relacionamento?
R – Ah, muito bom. (riso) A gente começa a conviver com culturas diferentes, pessoas diferentes, assim, né? De diversos lugares. Conhecer gente, é, aprende um pouco, ensina um pouco, então, é tudo, é bem gratificante, assim, esse convívio bem heterogêneo de (riso) pessoas, assim, né? De diversos lugares.
P/1 – Tem pouco tempo que você está trabalhando aqui na Bacia de Campos, né?
R – Não, desde que eu entrei. Eu fiz um ano que é o vivencial, que é chamado, né? Que é o treinamento no Rio e já vim direto, lotada aqui em Macaé, no laboratório.
P/1 – Em 2003, né?
R – Em 2004 eu vim pra cá.
P/1 – E, nesse período, você tem alguma coisa que tenha te marcado, assim, no seu trabalho da produção?
R – Bom, a minha vida aqui foi difícil, porque quando eu fui chamada, nesse último dia, eu achava que nem ia mais ser chamada do concurso, ia expirar o concurso e eu não ia ser chamada, eu estava com um filhinho de 28 dias quando eu fui chamada, aí, tive que vir pra trabalhar, né? Tive que largar meu filhinho em Minas, porque tinha que assinar o contrato naquele dia, que era o último dia, senão, eu perderia a vaga, né? Não seria chamada mais. Então, assim, desde que eu entrei, eu entrei fazendo os quatro meses de curso, aí, depois, eu embarquei durante três meses, fiquei embarcada, tive que desmamar o meu filho, porque eu tive que embarcar, né? E fazia parte do programa, eu não tive como mudar isso daí, então, eu passei embarcando, aí, depois, voltamos de novo pra encerrar o ano com o vivencial, né? Com o curso de treinamento pra, aí, depois, ser a lotação. Então, assim, o início da minha vida na Petrobras foi muito difícil, porque na situação familiar, né? Que estava. Eu quase desisti de vir, eu já estava, se não fosse o incentivo, assim, de marido, familia: “Não, vai. Se é isso que você sempre quis, vai, né? A gente supera as dificuldades e fica aqui com o filho, mas vai”. Mas foi difícil. (riso)
P/1 – E, aí, você ficou, então, um tempo embarcada, conta como é que foi?
R – Eu embarquei pelo Espírito Santo, né? Foram três embarques, embarquei só em mar, não embarquei em terra, né? Lá, são sondas no mar. E, a primeira plataforma que eu embarquei, cheguei, eram 115 homens e só eu de mulher, então, já foi (riso) aquela coisa, assim, né? Eu chegando pra embarcar, nenhuma mulher, eu já assustada com aquilo que era muito novo, mas foi muito bom, as pessoas respeitam bastante. Então, assim, eu ainda estava, como eu estava amamentando, eu me senti muito mal no período, porque tive que ficar sob cuidados médicos lá na plataforma o tempo todo, porque eu enjoava muito, porque o navio sonda balançava muito, aí, o médico da plataforma cuidava de mim, assim, mas dando remédio e tudo, e, eu tentando fazer o meu serviço, que era pra isso que estava lá. Mas passou, foi bom, os outros embarques foram mais tranquilos, mas tudo muito assustador, assim, porque era uma coisa muito nova, né? Então, eu não tinha noção da dimensão que é a Petrobras, a exploração no mar, por exemplo. Então, isso aí só indo e vendo pra gente ter noção do que é. Contar, às vezes, a gente não consegue passar o que é. E as outras pessoas não conseguem passar pra gente como é realmente, só a gente indo ver. Então, é isso daí.
P/1 – E nesse tempo que você ficou lá na plataforma, tem alguma história interessante, assim, que tenha acontecido ou que você tenha presenciado?
R – Não, foram embarques, assim, tirando o mal tempo, que eu embarquei num período que estava bem chuvoso, então, os helicópteros vinham, assim, com períodos bem estáveis, né? Então, a gente ficava meio assustada, mas marcava pela novidade mesmo, pelo que era novo mesmo, porque só indo lá pra ver a novidade.
P/1 – E, aí, esse tempo de ficar na plataforma, como era o trabalho?
R – Bom, era um ritmo, também, acelerado, porque, uma vez que a plataforma está furando, a gente têm amostras direto pra descrever, então, a gente faz 12 horas de trabalho e, às vezes, até mais. O fuso horário da gente fica todo atrapalhado, que a gente dorme de dia trabalha a noite, aí, depende do tanto de material que está saindo, o quão veloz está a sonda, se ela estiver furando muito rápido a gente têm uma grande quantidade de material pra analisar rápido, então, acelera. A gente fica acelerado, em ritmo meio que acelerado, não é como o administrativo que eu estou hoje, que eu trabalho as oito horas ou um pouco mais, mas com o horário mais light, assim, né? Na plataforma é intenso o trabalho.
P/1 – E, agora, você mora aqui em Macaé?
R – Moro.
P/1 – A sua família, seu filho, todo mundo?
R – Meu marido ainda não. (riso)
P/1 – E como você tem percebido as mudanças na cidade, a relação da Petrobras com a cidade, o crescimento?
R – Não, o que a gente vê é que a cidade está crescendo assustadoramente, muito, muito. E a cidade não está absorvendo todo esse pessoal que está vindo. Aqui, a gente têm poucas opções de lazer, por exemplo, eu que tenho filhos pequenos, né? Então, a gente vê que tem pouca coisa pra se fazer, a não ser, ir a praia, se não tem tempo bom não tem o que fazer, não tem outra atividade. Não tem um shopping legal, não tem. Agora que está em vias de ter, mas a cidade oferece muito pouco. A infra-estrutura da cidade é muito, assim, está muito aquém do que poderia ser, com os royalties que têm, com o que a Petrobras investe, repassa pra cidade, né? O que a NP repassa. Então, poderia estar melhor.
P/1 – E, o que você acha que tem mudado, assim, desde que você entrou aqui na Bacia de Campos, em termos de equipamentos, de tecnologia que facilite o seu trabalho?
R – Ah, hoje em dia a Petrobras tem melhorado, assim, considerável. Em termos de cursos no exterior, a gente está tendo uma possibilidade muito grande de fazer cursos, excursões, trabalhos de campo no exterior, mesmo, no Brasil também. Mas coisa que, pelo o que os colegas relatam, que antes eles demoravam 10, 15 anos pra conseguir fazer uma viagem pro exterior, eu, com cinco anos de Petrobras, já fui três vezes pro exterior em missões de excursões de campo, em cursos, né? Então, isso aí tem melhorado muito.
P/1 – Pra onde você foi?
R – Eu já fui pras Bahamas, né? Ver os carbonatos, lá, nas Bahamas, uma sedimentação recente. Já fui pra Hungria, também, ver o sistema de gastificação, assim, que é uma coisa que a gente, também, está sempre buscando análogos pras coisas que a gente trabalha. E, agora, uns 15 dias atrás, eu voltei da Califórnia, do Vale da Morte, que a gente foi, também, numa outra excursão.
P/1 – Tudo pra buscar novas tecnologias?
R – Novos modelos pra gente tentar aplicar aos nossos aqui. Depois, a gente vê a sedimentação de coisas semelhantes, que a gente não têm afloramentos, a gente não tem isso em superfície, a gente tem em sub-superfície, então, a gente busca as coisas, hoje, nos lugares aonde tenha aflorando, pra gente tentar botar isso aí pros nossos modelos, no que está em sub-superfície. Então, é buscando análogos.
P/1 – Sirlene, você conseguiria definir o que é ser petroleiro?
R – É uma coisa muito boa. Eu me sinto com muito orgulho de ser, né? Era uma coisa que eu sempre, assim, vendo os meus colegas, lá, de pós-graduação, eu, enquanto bolsista da pós-graduação, que eu era bolsista, não bolsista da Petrobras, mas bolsista do CNPq com colegas bolsistas da Petrobras, então, assim, o meu desejo era sempre ser Petrobras, né? E hoje que estou Petrobras é muito bom. Assim, eu acho que a gente é muito bem visto em qualquer lugar que vai, falar que a gente é um petroleiro, então, assim, eu acho que tem todo um respaldo de ser Petrobras. Eu sinto isso.
P/1 – A gente está concluindo, assim, tem alguma coisa que você queira falar que eu não te perguntei?
R – Não, acho que não, acho que já falamos tudo. (riso)
P/1 – Então, pra concluir eu queria que você disesse, o que você acha desse nosso projeto de contar a história da Bacia de Campos a partir da memória dos trabalhadores?
R – É muito bom, é valorizar o que cada um tem pra poder falar. Cada um tem a sua história, com certeza, né? Pra contar, umas mais sofridas outras mais alegres, mas, com certeza, cada um tem alguma coisa pra contar do período que está aqui dentro, que tem trabalhado na Petrobras. Acho muito bom, muito importante. (riso) Bem legal essa iniciativa.
P/1 – Então, era isso. Obrigada, Sirlene.
R – De nada.
(FINAL DA ENTREVISTA)
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