Projeto Trinta Anos Alunorte
Entrevista de Luís Augusto Linhares Santos
Entrevistado por Ligia Scalise
Belém, 23 de julho de 2025
Transcrito por Selma Paiva
(00:15) P1 - Obrigada, viu, Luís, antes de tudo. E eu vou pedir pra você começar dizendo seu nome inteiro, sua data de nascimento, dia, mês e ano e a cidade você nasceu.
R1 - Meu nome é Luís Augusto Linhares Santos, nasci em São Luís do Maranhão, em 27 de maio.
(00:34) P1 - De qual ano?
R1 - De 1965.
(00:38) P1 - Seus pais são de onde?
R1 - Meus pais são do Maranhão também, São Luís e meu pai de uma cidade próxima, chamada São Bento.
(00:48) P1 - Você sabe como eles se conheceram?
R1 - O que meu pai me contou é que ele morava, foi estudar e morar lá, com uma tia lá próximo e ele, passando numa rua, sempre via uma moça mais nova do que ele. Aí ele começou a flertar e aí começou o namoro.
(01:13) P1 - Quem são eles? Me fala o nome, o que eles faziam quando você nasceu.
R1 - Meu pai já faleceu, mas Augusto Franklin Santos Neto, era formado em Contabilidade, trabalhou durante 37 anos e meio na Petrobras e a Petrobras encerrou no Maranhão, vamos dizer, a Petrobras exploradora de petróleo, lá em casa ele desligou o último funcionário e foi transferido para São Sebastião, São Paulo, onde tem o terminal Marí e trabalhou lá mais uns quatro anos. Minha mãe Maria Luiza Linhares Santos, é professora e ela que alfabetizou praticamente os sete filhos.
(02:09) P1 - Desses sete filhos você está em qual posição?
R1 - Eu sou o terceiro e o primeiro homem, duas mulheres, depois eu.
(02:17) P1 - Quando você nasceu te contaram alguma coisa de como estava a vida deles, o dia do seu nascimento?
R1 – O que contou é que o primeiro homem, né? Meu pai queria um filho homem, então foi uma festa muito grande e eles tinham uma vida boa, regulada, muito focada na família. Também meu pai era religioso, minha mãe continua sendo muito católica. Então, sempre...
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Entrevista de Luís Augusto Linhares Santos
Entrevistado por Ligia Scalise
Belém, 23 de julho de 2025
Transcrito por Selma Paiva
(00:15) P1 - Obrigada, viu, Luís, antes de tudo. E eu vou pedir pra você começar dizendo seu nome inteiro, sua data de nascimento, dia, mês e ano e a cidade você nasceu.
R1 - Meu nome é Luís Augusto Linhares Santos, nasci em São Luís do Maranhão, em 27 de maio.
(00:34) P1 - De qual ano?
R1 - De 1965.
(00:38) P1 - Seus pais são de onde?
R1 - Meus pais são do Maranhão também, São Luís e meu pai de uma cidade próxima, chamada São Bento.
(00:48) P1 - Você sabe como eles se conheceram?
R1 - O que meu pai me contou é que ele morava, foi estudar e morar lá, com uma tia lá próximo e ele, passando numa rua, sempre via uma moça mais nova do que ele. Aí ele começou a flertar e aí começou o namoro.
(01:13) P1 - Quem são eles? Me fala o nome, o que eles faziam quando você nasceu.
R1 - Meu pai já faleceu, mas Augusto Franklin Santos Neto, era formado em Contabilidade, trabalhou durante 37 anos e meio na Petrobras e a Petrobras encerrou no Maranhão, vamos dizer, a Petrobras exploradora de petróleo, lá em casa ele desligou o último funcionário e foi transferido para São Sebastião, São Paulo, onde tem o terminal Marí e trabalhou lá mais uns quatro anos. Minha mãe Maria Luiza Linhares Santos, é professora e ela que alfabetizou praticamente os sete filhos.
(02:09) P1 - Desses sete filhos você está em qual posição?
R1 - Eu sou o terceiro e o primeiro homem, duas mulheres, depois eu.
(02:17) P1 - Quando você nasceu te contaram alguma coisa de como estava a vida deles, o dia do seu nascimento?
R1 – O que contou é que o primeiro homem, né? Meu pai queria um filho homem, então foi uma festa muito grande e eles tinham uma vida boa, regulada, muito focada na família. Também meu pai era religioso, minha mãe continua sendo muito católica. Então, sempre buscando o equilíbrio familiar.
(02:57) P1 - Eles estudaram, né? Eles já tinham uma profissão.
R1 – Sim. Minha mãe, como eu falei, era professora concursada no estado, mas dava aula. E meu pai, formado em Contabilidade e era... trabalhava na contabilidade da Petrobras.
(03:17) P1 - E a diferença de idade entre os filhos?
R1 – Deixa eu ver se eu me lembro. A mais velha é três anos mais velha do que eu, depois a outra dois anos, aí depois vem eu. Aí, o próximo filho é uma mulher, uns dois anos mais nova, depois outra. É uma ‘escadinha’, né? A diferença entre a mais velha e o último é oito anos. Ou seja, sete filhos, em oito anos.
(03:48) P1 - E eles colocaram algum nome que parece um com o outro? Tem alguma curiosidade?
R1 - Todos os homens têm Augusto, que é o nome do meu pai. Então, eu sou Luís Augusto, tem o Fernando Augusto e o Luciano Augusto. E todas as mulheres têm o segundo nome Maria, porque minha mãe é Maria Luiza.
(04:09) P1 - Três homens e quatro mulheres.
R1 - Três homens e quatro mulheres.
(04:12) P1 - Como que era essa infância? Como que era a sua casa?
R1 - Minha casa, que eu me lembro, desde que eu me lembro, minha avó paterna morava com a gente. Então, ela ajudou muito na nossa criação, também. Sempre foi uma família muito unida, feliz, brincalhona. Tinha que rezar agradecendo cada refeição. Quando meu pai chegava para jantar, tinha esse ritual. E nós fomos muito exigidos em estudar. Todos os filhos fizeram... passaram na universidade pública. Também na época não tinha tanta particular, mas todos passaram em universidade pública, todos se formaram no curso superior.
(05:12) P1 - Então, tinha uma exigência nos estudos. Tinha algum conselho de mãe e pai que ficou aí, na sua memória?
R1 - Principalmente para as mulheres, o meu pai dizia: “O primeiro casamento é o seu emprego, então você tem que formar e tem que se empregar, ou ser empresária, se for o caso, mas o primeiro casamento é com sua manutenção”. E para os homens também você só pode constituir família depois que você tiver um sustento.
(05:44) P1 - Foi importante isso, né?
R1 - Muito importante.
(05:47) P1 - E nessa infância vocês brincavam bastante? Vocês tinham quartos separados, quartos juntos?
R1 - Tinha, depende da fase, né? Porque a gente morou em São Luís, mudou umas três, de umas três casas, mas depois que foi para São Sebastião, lá mudou. Então, mas geralmente era o quarto dos homens, três homens e o quarto das mulheres. Aí depende, às vezes tinha duas mulheres num quarto e as outras duas no outro, e os homens juntos. Era assim que funcionava, com muito filho, sete filhos.
(06:20) P1 - Vocês se davam bem?
R1 - Davam bem.
(06:24) P1 - Brincava do quê?
R1 - Naquela época a gente podia brincar muito no quintal, na rua, então jogava bola: Queimada, futebol, depende da casa onde estava, tinha quintal grande, jogava bola, ia pro clube. Mas a brincadeira sempre tinha muitos participando porque olha o número de filhos, irmãos.
(06:55) P1 - Vocês passavam uma coisa para o outro, roupa?
R1 - Sim. Tinha ‘escadinha’, então ia ficando menor e ia passando. E minha mãe, além de professora, dava aula durante o dia, durante a manhã e de tarde ela acompanhava a gente no estudo e ela também tinha a habilidade de costurar. Então, ela fazia nossas roupas. Claro que comprava no começo também, mas muitas roupas nossas ela que fazia.
(07:26) P1 - Você falou da sua avó, eu fiquei curiosa. Me conta dela.
R1 - A minha avó, Estefânia de Cachos Santos, a mãe do meu pai, nos protegia muito, até quando a mãe ia colocar de castigo, ou dar um cascudozinho, aí ela protegia muito, para não deixar, né? Uma mulher muito religiosa também, católica. Todo dia, às seis, sete horas, depois que ela jantava, ela sentava para ler o terço. Às vezes eu ia lá e ela estava cochilando, eu a acordava e ela continuava passando os botõezinhos do terço. E nos ajudou muito também na educação. E sem contar que ela era uma cozinheira de ‘mão cheia’, então, sete filhos, cada um tinha um gosto diferente, aí minha avó fazia comidas distintas, para aqueles que eram mais chatinhos para comer.
(08:35) P1 - O que você gostava que ela cozinhasse para você?
R1 - Eu adorava o feijão que ela fazia e, dependendo da fase da vida, tem uma época que eu adorava era farofa de ovo, que ela fazia e todo tipo e a principal comida que eu gostava chama camusquim, que é um macarrão com camarão. Nós morávamos, nascemos e moramos a maior parte do tempo São Luís, é praia. Quando nós mudamos para São Sebastião, São Paulo, praia. Então, o camarão é abundante. Então, isso a gente comia muito, que era o melhor prato dela.
(09:17) P1 - E você? Como que você era, como criança?
R1 - Eu era um pouquinho rebelde. Dos sete filhos, eu era o mais, vamos dizer assim, danadinho, respondão, mais que brigava na rua e assim por diante, mas não extrapolando, mas comparando com os demais, que eram todos ‘na linha’, mesmo os dois meninos, eu era o mais afoito, vamos dizer assim.
(09:52) P1 - E como filho homem mais velho, você tinha uma obrigação a mais, uma responsabilidade a mais?
R1 - Tinha porque, lá em casa, quando nós saímos de São Luís, fomos para São Sebastião, a gente... meu pai até levou uma pessoa que trabalhava com a gente, mas lá ela casou e foi embora, então São Sebastião, naquela época, era muito difícil ter uma pessoa que ajudasse em casa e minha avó não foi, ficou com a outra filha dela. Então, nós tínhamos obrigações em casa, tinha uma tabela. Então, por exemplo: terça-feira e quinta-feira eu era responsável por lavar o terraço, lavar o carro de mamãe. E aí, o outro tinha que lavar o banheiro. As meninas, uma lavava a louça de manhã, a outra lavava... ou seja, tinha uma tabela: ir comprar o pão, comprar o leite. Então, tinha uma tabela e nós sempre tivemos obrigações em casa. É claro que o filho mais velho, quando foi crescendo, passou a também tomar conta das irmãs mais velhas, para não deixar namorar, essas coisas todas. (risos)
(11:06) P1 - Você cumpria?
R1 - Cumpria. Se não cumprisse pagava a ‘prenda’ em casa.
(11:16) P1 - Você tinha algum sonho de quando você era menino, que você queria ser alguma coisa?
R1 - Eu sempre pensei ser engenheiro, engenheiro mecânico, porque eu adorava carro, mas me formei e nunca mexi com carro, sempre fui pro lado da indústria, mas o meu pensamento na época era engenharia mecânica e acabou dando certo.
(11:38) P1 - Tinha alguma inspiração pra ser engenheiro mecânico, além de gostar do carro?
R1 - Não, era... não tinha nenhum parente engenheiro mecânico, assim, que eu me lembro, mas tinha pessoas conhecidas que eram engenheiro civil e assim por diante. Mas o mecânico, eu digo que é carro, mas eu gostava mais de máquinas, essas coisas, né? Me fascinava. Então, eu busquei fazer Engenharia Mecânica.
(12:00) P1 - Tem alguma memória da infância que para você é muito marcante? Algum fim de ano, aniversário, algum presente?
R1 - Eu tenho, sim, em termos de presente, quando eu ganhei minha primeira bicicleta, em São Sebastião, foi um momento espetacular. Agora tem outras memórias de férias também. Eu tinha um amigo que já faleceu, que quando a gente morava aqui em São Luís, a gente cresceu junto, criou muita amizade, eles foram embora pra João Pessoa, então mesmo eu, criança, ia passar férias lá, a gente ficava... os pais tinham casa numa cidade próxima, que chamava Cabedelo, Praia do Poço, então nós íamos... éramos muito soltos na praia, andava de barco sozinho, lanchinha e tal, então isso marcou muito minha infância. Fora o dia a dia, colégio, essas coisas.
(12:56) P1 - A infância eu já consegui imaginá-la bastante. E a adolescência?
R1 - Adolescência... a pré-adolescência eu passei em São Sebastião, voltei com 14 anos pra São Luís e fui estudar no colégio de onde eu tinha saído, que é o Dom Bosco. Nós sete estudávamos lá. Meu pai se ‘virava’ pra ‘botar’ sete filhos no colégio particular e nós tínhamos que cumprir as regras lá, né? Estudar, estudar, estudar. Apesar que eu era a nota mais baixa, era eu. Meus irmãos eram os que recebiam medalha todo tempo. E minha adolescência foi excelente, muita amizade no colégio, muita amizade no Clube Recreativo Jaguarema, excelente. Sábado à tarde passava até a noite lá, então ‘curtia’ muito, brincava muito na adolescência. E minha adolescência praticamente aí com 17 anos, eu passei no vestibular, aí já foi pouquinho interrompida, né, vamos dizer assim. Porque tem gente que vai na adolescência até 19, vinte. Eu, com 17 anos, entrei na faculdade e não demorou muito, eu casei.
(14:22) P1 – Então, você passou rápido da escola para o vestibular, na primeira?
R1 - Passei na primeira o vestibular. Todos os meus irmãos também, eu acho que todos.
(14:35) p1 - Foi onde a sua faculdade?
R1 - Foi em São Luís, na Universidade Estadual do Maranhão.
(14:42) P1 - E passou em Engenharia?
R1 - Engenharia mecânica. Mamãe não ‘botava’ muita fé que eu ia passar, porque minhas irmãs eram diferenciadas nos colégios, as duas mais velhas. Eu fui convidado a sair do colégio também, no finalzinho do terceiro ano científico. Brincadeira, brincando, sem querer acertei o rosto de um colega meu, isso daqui deslocou e tal, depois ‘botou’ na posição, mas peguei minha retirada, fui para outro colégio, aí mamãe achava que eu não ia passar, mas passei no primeiro.
(15:19) P1 - E foi uma festa?
R1 – Foi uma festa.
(15:23) P1 - Teve trote, teve tudo?
R1 - Trote. Raspou a cabeça, naquela época se raspava bem a cabeça. Eu fiquei sabendo, até foi um colega meu que chegou e disse: “Rapaz, saiu a lista aí, tu passaste no vestibular” e pegou a tesoura e cortou. Aí, assim foi. E aí...
(15:43) P1 - Você precisava... trabalhou durante esse tempo, até chegar no vestibular? Não teve trabalho?
R1 - Não, não. Eu trabalhei a partir do segundo ano, eu comecei a trabalhar, até como eu disse que eu acabei casando.
(15:56) P1 - Então, casou com quantos anos?
R1 – Com vinte anos. Com 21 anos eu já era pai.
(16:08) P1 - Aconteceu? Foi planejado?
R1 - Não foi planejado, não, mas namorava há um tempo e a namorada engravidou e acabei...
(16:20) P1 - E casou no papel e tudo?
R1 - Papel e tudo. Porque meu pai... você... agora você tem que garantir sua responsabilidade.
(16:30) P1 - E quem nasceu?
R1 - Nasceu Luiz Felipe. Hoje ele é advogado tributarista de uma multinacional, mora em São Paulo. E aí mudou um pouco vida, porque menino novo, né? Ou seja: enquanto os colegas meus, de faculdade, estavam indo para congresso, eu estava ficando casa, né? Já trabalhando. Claro que outros também trabalhavam, até pela condição financeira diferente da que eu tinha, né? Mas mudou a vida, mas de qualquer forma deu mais maturidade, né?
(17:13) P1 - Foi num primeiro momento, um susto?
R1 – Foi. Depois a gente foi criado para assumir as responsabilidades, então, normal.
(17:24) P1 - E aí você começou a trabalhar com que, então? Seu primeiro trabalho.
R1 - Aí, meu primeiro trabalho, eu comecei a trabalhar numa empresa que vendia e projetava cozinhas industriais, aí eu passei a fazer projetos, desenhar e projetos de cozinhas industriais. Aí depois disso, fui fazer estágio em uma empresa também, que era desse mesmo ramo da Alunorte, lá em São Luís. Fiz estágio lá. Durante o estágio também eu comecei a dar aula. Aliás, eu dava aula particular até antes de... quando eu passei no vestibular, antes de casado, eu já dava uma aula particular para as colegas das minhas irmãs mais novas, para poder ter o dinheiro para sair no final de semana.
(18:25) P1 - Era aula de quê?
R1 - Eu dava aula de física e matemática.
(18:29) P1 - Você sempre foi bom com Exatas, então?
R1 - Eu me ‘virava’. Não sou aquele ‘cara’ bom, mas me ‘virava’.
(18:36) P1 - Sabia. E aí você continua fazendo estágio e ao mesmo tempo dando aula?
R1 - Dando aula, fazendo estágio e com uma bolsa em escola técnica, sendo inspetor de estagiários, ia nas indústrias e tal. E aí, depois, fui pra esta multinacional e fiz o estágio até eu me formar.
(19:07) P1 - E durante o estágio você já tinha mais ou menos desenhado para você o que você queria? Era indústria?
R1 - Naquela época o que tinha de trabalho? Ou era indústria, que lá em São Luís tinha algumas indústrias fortes, como a Vale, como a Alumar, que é essa indústria que eu estagiei e outras também, que eram cervejarias e assim por diante. Senão era para engenheiro mecânico, trabalhar no governo, fazer mestrado e dar aula. E aí eu mirei na indústria. Me formei e fui convidado para trabalhar numa empresa de engenharia que estava fazendo uma ampliação lá na Alumar, mas ampliação na parte do smelter, da redução. Porque eu estagiei sempre na refinaria onde faz alumina, igual a Alunorte, mas eu fui trabalhar nessa empresa, Iesa Engenharia, na redução, que é como se fosse a Albras aqui, frente a Alunorte. Então, eu trabalhei lá, eu fiquei uns nove meses e, nesse período, 1990, teve a notícia da minha segunda filha, Laís. E aí, passei uns nove meses e eu passei no processo de engenheiro trainee, pra Alumar Refinaria e fiquei lá trabalhando durante 23 anos, eu acho.
(21:03) P1 - Tudo isso em São Luís?
R1 - Tudo isso em São Luís.
(21:05) P1 - E a chegada da Laís, você já estava com uma vida mais estável?
R1 - Estava, porque eu já estava... não era mais funcionário... não era mais estudante, já estava formado e já tinha uma remuneração na época bem superior do que no primeiro, porque eu já era engenheiro. Então, o plano de saúde e assim por diante, mais.
(21:33) P1 - E com a chegada dos filhos, como é você se sentiu? O que te marcou, com eles pequenos?
R1 – Um certo conflito que eu muito novo, meus amigos ainda ‘curtindo’ a vida e eu um pai, mas aprendi muito, eduquei também, tive sucesso na educação deles. A Laís formou em Engenharia Mecânica, mas também formou em Publicidade e Propaganda. Como engenheira mecânica ela tentou seguir até a minha carreira, ela é gerente de manutenção dessa empresa onde eu estagiei.
(22:15) P1 - Você teve seus pais por perto? Também tendo esse papel de vô e vó, como você teve na sua infância?
R1 - Tive, mas mais colado pelo lado dos pais da minha ex-mulher. A mãe estava muito mais perto do que a minha mãe, porque minha mãe continuou com seis filhos.
(22:38) P1 - E a família se reunia em datas comemorativas?
R1 – Se reunia. Final de semana, sempre na casa da minha mãe e assim por diante.
(22:45) P1 – As crianças cresceram no meio de um monte de primos?
R1 - Vários primos. Eu acho que são uns 13 primos aí, que eles têm.
(22:54) P1 - Assim é bom, né? Então, você passou 23 anos nesse outro emprego?
R1 - Foi.
(23:00) P1 - Como que foi seu crescimento lá?
R1 - Foi um crescimento que eu diria que foi excelente. Eu comecei como trainee, engenheiro mecânico júnior e foi. Comecei a tomar conta depois de toda a manutenção e pelo resultado, mesmo eu não sendo de operação, eu assumi toda a operação da planta. Fui o gerente de produção da refinaria. Acima de mim tinha um gerente da refinaria e o diretor geral. Diria que foi muito bom para mim e para a empresa também, que os resultados foram excelentes. A empresa também me mandou passar uns seis meses nos Estados Unidos, antes de assumir essa posição. Foi uma experiência boa também, passei numa outra refinaria. E diria que eu deixei um grande legado lá, porque as pessoas que dirigem lá hoje fizeram parte da minha... fui coach deles assim, novo, vamos treinar nisso. Eu contratei engenheiros novos e assim por diante. Hoje eles coordenam quem está na minha posição, por dizer assim, que foi orientado por mim.
(24:42) P1 - Então, qual foi sua data de início e de saída dessa empresa?
R1 – Acho eu entrei em 20 de agosto, se eu não me engano, de 1990 e saí 11 de abril de 2011. Então, são 21 anos que eu fiquei lá, como funcionário da empresa. Depois eu pedi para sair, ‘botei’ meu próprio negócio e passei até parte do negócio e prestava serviço para eles. Eu ‘botei’ uma empresa de manutenção e construção e fiquei seis anos prestando serviço. Mas também tinha outro negócio com minha mulher, na época já era outra esposa, segundo casamento e nós empreendemos muito lá, na parte nos shoppings, tinha lojas nos shoppings e assim por diante. Loja chama de quiosques né, são de maquiagem, essas coisas. Maybelline, The Body Shop, tudinho a gente teve.
(25:59) P1 – Então, você ficou seis anos como consultor e empreendedor?
R1 - Empreendedor para esse lado, mas o outro não era consultor. Eu fazia manutenção, eu tinha equipes, cheguei a ter seiscentos funcionários na empresa, junto com outras pessoas, era sócio. Na realidade, eu comprei uma pequena participação de uma empresa que já existia, mas eu que passei a ser o diretor, líder, né? Hoje dia todo mundo é CEO, né? Mas naquela época eu tocava era a empresa, mesmo.
(26:33) P1 - Você sentiu muita diferença de ser um empregado de uma empresa e depois estar nessas outras posições?
R1 - Muita. Pelo seguinte: eu sendo responsável pela operação da refinaria da Alumar, eu tinha o RH, tinha o jurídico, tinha suprimentos, que me atendiam. E lá você passa a ser tudo. Mesmo que você tem uma pessoa que faz compra, você tem uma pessoa que é o RH ou uma equipe, mas é você que é o responsável. Se tiver um problema jurídico, você que vai receber. Então, é totalmente diferente. Mas no começo foi um impacto, mas com isso me deu uma experiência fora do comum. Se eu não tivesse passado nessa oportunidade, eu não teria como funcionário de uma multinacional.
(27:40) P1 - Conseguiu ter férias? Conseguia descansar?
R1 - Férias era muito curta: uma semana, um final de semana, mas férias, assim, viajar muito, não.
(27:53) P1 - E para os seus filhos, você conseguia oferecer o que você pretendia?
R1 - Sim, conseguia. Nesse caso aí, quando eu... com os dois primeiros filhos, por exemplo, eu não conseguia ir - eu trabalhava na indústria - numa reunião de pais, eu não conseguia. Já depois que eu saí de seis anos aí com as menores, duas filhas menores que eu tenho, já conseguia ir numa reunião, revezar com a mulher e assim por diante.
(28:24) P1 - Então, me fala dos pequenos. (risos)
R1 - Meu segundo casamento com Rosana Trinta, aquela engenheira civil e eu conheci dois anos depois de ter me separado. Depois de uns sete anos de namoro, casamos e tivemos essas duas filhas, que é a Amanda e a Letícia. A Amanda vai fazer quinze anos, a Letícia vai fazer treze no final do ano. Ou seja, eu recomecei a vida, porque os dois já são formados, já tem... a Laís tem dois filhos, mas eu recomecei a vida, mas mesmo com a separação, eles sempre se mantiveram juntos. O Luiz Felipe é padrinho da Amanda, a Laís é madrinha da Letícia, a Amanda é madrinha do primeiro filho de Laís e ele está com quatro meses, vai batizar no final do ano, ela vai ser a madrinha. Então, eles se dão muito bem.
(29:40) P1 – Que bom! E aí esses seis anos acabaram? Você recebeu algum convite?
R1 - Eu resolvi desfazer a sociedade. Minha mulher continuou com o nosso empreendimento lá, de varejo, vamos dizer assim. E, quando eu saí, eu comecei a receber muito convite para vir para Alunorte. Mesmo quando eu estava nessa empresa, eu também recebia alguns convites, porque algumas pessoas que passavam aqui para Alunorte, nesse interim, que eram vice-presidentes, eles me conheciam, porque o mundo da alumina é pequeno. Então, eles me convidaram, mas eu: “Não tenho condição, acabei de ter uma sociedade, estou com meu negócio aqui”. E aí, em 2017 o Carlos aí insistiu muito e aí eu acabei vindo visitar aqui, tinha acabado a sociedade e acabei aceitando a proposta e vim pra cá, para tomar conta de toda a manutenção, eu vim como gerente executivo de manutenção da refinaria. Mas minha esposa e as duas filhas pequenas continuaram em São Luís, então eu ficava em ponte aérea. Ia sexta-feira e voltava domingo à noite, assim por diante.
(31:08) P1 - Você ficava Belém ou lá em Barcarena?
R1 - Ficava em Barcarena, vinha para Belém só pegar o avião e voltava.
(31:15) P1 – Nossa! Corrido, né?
R1 - Corrido. E, naquela época, ainda tinha duas, três pessoas que faziam isso também, que voltavam para São Luís no final de semana. Então, ele era corrido assim.
(31:31) P1 - E como que foi? Imagino que você falou que o mundo da alumina é pequeno, então você já sabia muito da Alunorte? Já era algo muito conhecido?
R1 - Não. Eu conhecia... eu já tinha vindo aqui, numa visita que a Alcoa lá conseguiu com a Alunorte, quando estava se desenvolvendo um projeto de expansão, lá. Eu tinha vindo aqui, mas a gente andou por parte só da refinaria, porque esse mundo também não se abre muito, porque as tecnologias são diferentes. Mas o processo, em si, sim, eu dominava, porque eu já tinha comandado uma refinaria menor do que essa, mas um projeto diferente e muito eficiente. E aí eu conhecia bem.
(32:26) P1 - Quando você começou, em 2017, então, o que te surpreendeu? O que te espantou? Quais foram as suas perspectivas?
R1 - Me espantou no começo a diferença de pensamento das duas empresas. De onde eu vim, se buscava muita eficiência, redução de curso. Aqui se busca, mas não tanta cobrança intensiva, como lá. E também um choque para mim foi o relacionamento que tinha com comunidades, que lá era mais forte do que aqui. E aqui era uma planta que foi crescendo aos poucos, cada expansão tem uma tecnologia diferente, então você... lá é muito mais padronizado, então você conhecendo aqui, é mais fácil para resolver. E aqui é amplo, mais de trinta mil ativos, as sete, que são desde um instrumento a um tanque. Lá é muito menos, porque é mais compacto. Então, isso impressionou bastante. Mas também impressionou muito a ir buscar novas tecnologias, como o caso do filtro-prensa, que foi pioneiro aí. Então, quando eu cheguei estava na implantação. Eu também assumia a parte de manutenção lá. Só que seis meses depois, apesar que, quando eu fiz o contrato, eu disse: “Olha, eu vou ficar só em manutenção”. E seis meses depois eu tive que assumir o filtro-prensa também, que já era operação de manutenção. Então, ampliou muito a expectativa. Muito problema, equipamento partindo. Projeto novo, não existia esse projeto na indústria da alumina. Assim, já improved technology, porque existia outras manufaturas, né? Então, foi também bastante impressionante. Estou falando porque quando eu cheguei foi seis meses logo isso, né?
(35:12) P1 - E você chegou querendo fazer, querendo ficar ou opa, repensou aí, um pouquinho?
R1 - Eu cheguei e olhei assim: “Vem cá, onde é que eu vou aqui me situar”, né? Porque tinha algumas coisas, vamos dizer assim, que são básicas de gestão de manutenção, que não tinha. Tinha, claro, outras coisas. Como é que a gente vai conseguir implementar com o ritmo que é diferente do meu? Então, foi um aprendizado muito antes, na adaptação, para colocar o meu ritmo, numa estrutura acostumada com outro ritmo.
(35:58) P1 - Você chegou ali numa empresa que já tinha gente trabalhando por anos também.
R1 - Muitos anos, inclusive, só dando uma adiantada, mas quando eu comecei a assumir a diretoria industrial, que depois é vice-presidente industrial, eu falei: “Tem pessoas aqui” - eu brincava – “que quando passaram a cerca para fazer, já estavam aqui dentro, porque 25 anos, outras tinham vindo da Albras, tinha até mais do que trinta anos. Como é que gente pode reconhecer esse pessoal que permanece aqui? Então, nós fizemos todo um projeto, para reconhecer esse pessoal. Passamos a ter reuniões, ter eventos 25 anos e até antes disso, quando eu era gerente executivo, eu conversei com o diretor e a gente criou isso aí, para reconhecer essas pessoas, né? Recentemente fizemos, último ano passado também, pessoas com quase trinta anos, pessoas com mais de trinta, mas que vieram da Albras.
(37:13) P1 - Então, isso tem o seu olhar, tem um olhar para essas pessoas. Você fez questão desse reconhecimento.
R1 - Sim, sim, sim. Eu tenho uma peculiaridade que sou muito exigente, cobro muito, mas eu também reconheço muito. Daí tem minha ideia, vamos dizer assim, fazer o reconhecimento. Essas pessoas passaram trinta anos aqui dentro. Quantas gestões diferentes tiveram, quantas crises de mercado tiveram e elas continuam. Criaram família.
(38:00) P1 - Casaram, tiveram filhos, os filhos começaram a trabalhar por lá.
R1 - Tem filhos, tem... até hoje, tem pais ou mãe que tem filhos lá. Tem uns que têm dois.
(38:13) P1 - O que você via neles? Eles tinham muita paixão por aquilo?
R1 - Eles têm muita paixão quando vão fazer o depoimento. Eles se emocionam. Se não fosse a Alunorte, talvez não tivesse tido sucesso na criação dos filhos, porque tiveram... porque a Alunorte, além do emprego, tem vários benefícios, né? Por exemplo: quem mora em Barcarena tem colégio que você só matricula o filho, não compra nenhum material escolar. Mas se você não quiser aquele colégio, quiser outro, você recebe benefício de ajuda de custo. Então, a maioria estuda no colégio, inclusive colégios que estão lá porque a Alunorte e Albras levaram, como Pitágoras e assim por diante.
(39:09) P1 – Não foi teu caso. Então, o que te chamou os olhos, o que te ofereceram ali, que você falou: “Eu quero trabalhar aqui”?
R1 - Na realidade, algumas pessoas que estavam aqui, a gente tinha sido par e: “Eu preciso da sua ajuda aqui, pra gente”. E aí gente acabou que começou a trabalhar e se envolver, né? Porque ‘está no sangue’ a produção de alumina, eu praticamente me formei e entrei nesse ramo. Comecei também muita autonomia que eu tinha, desde que eu cheguei, consegui implementar tudo que a gente imaginava que ia poder contribuir para o crescimento da empresa. E aí isso fez com que eu ficasse cada vez mais, até a família, em 2019, finalzinho: “Nós vamos mudar pra cá e ao invés de você vir, nós viemos de vez quando aqui, olhar os negócios”. E aí, em 2020, eu mudei até pra Belém, porque veio a mulher com as duas meninas, tinha sete, seis, cinco anos, sei lá. E aí, conseguimos permanecer mais tempo aqui, né? Com isso, acredito que tenha fincado raiz aqui, porque a própria família, apesar que quando mudou, passou dois meses, teve um lockdown, Covid, aí eu falei: “Como é que vocês... não têm suporte nenhum aqui familiar”, né? Como resolveram vir de última hora, aluguei um apartamento menor do que o nosso, o nosso é de frente para a praia, lá em São Luís, como é que essas meninas vão ficar? Mas foram ‘show’, se adaptaram muito bem aqui, então isso tudo ajudou a manter a paixão que se criou pela Alunorte.
(41:26) P1 - Você tinha alguma meta, quando começou? “Vou ficar dois anos”.
R1 - Eu não tinha meta fixa, mas eu dizia assim: “Vou ficar uns três anos” e fiz em julho agora oito. Também falei: “Eu vou ficar como gerente executivo de manutenção, porque pela experiência eu não preciso estar olhando dia a dia, produção, essas coisas, a manutenção a gente resolve até sem ir pela experiência, entre aspas, certo? Mas acabei que as pessoas, a alta liderança foi me empurrando para a operação, até que disseram: “Olha, nós precisamos de você aqui como vice-presidente de industrial” e eu disse não. “Mas nós precisamos de você”. E acabei ficando dois anos lá. E aí a gente conseguiu também, nesses dois anos, implementar várias coisas.
(42:37) P1 – Ou seja: a meta, né? (risos)
R1 - E aí estou há oito anos aqui, agora estou como vice-presidente de projetos, comecei em 1º de junho. Claro que os projetos da Alunorte estão comigo, como de Paragominas, alguns e os sociais, assim por diante. Mas foram oito anos dentro da Alunorte, bem intensos.
(43:04) P1 - Eu ia te perguntar exatamente isso: você sentiu o dia a dia, né? Você estava lá, você sabe andar por ali, você sabe como funciona aquela cidade. Como é que isso foi importante? O que isso te trouxe de respostas, também?
R1 - Dentro da Alunorte, a gente conseguiu quebrar alguns paradigmas, criar... claro que com a ajuda do time, mas ideias a gente conseguia buscar adeptos e fomos melhorando as cidades, vamos dizer assim, porque ali é uma cidade. São cinco mil funcionários, se a gente for contar próprios e terceiros, 2367 próprios, é o número que eu tenho, até o último dia que passei lá. E como que nós vamos fazer com que essas pessoas se sintam menos em casa e que essas pessoas deem valor à empresa. Então, por exemplo, até ainda como gerente executivo, mas como eu tomava conta da parte de infraestrutura, além da parte industrial, a gente fez alguns projetos para engajar mais os funcionários, né? Por exemplo: um dos benefícios da Alunorte é um cartão alimentação. Só que o cartão alimentação era dividido. Um percentual se pagava a refeição dentro do restaurante e o outro usava fora, no comércio. E eu via que algumas pessoas não almoçavam no restaurante, porque utilizavam aquilo para a família. Vi que tinha pessoas que levavam uma marmitinha e tal. Já os contratados não, porque era pago, no contrato que a gente fazia com as contratadas, eles tinham que fornecer. Aí eles pagavam a cozinha industrial que tem lá. Então, a gente conseguiu fazer um projeto onde a gente passou a fornecer essa alimentação. Então, isso eu diria que melhorou muito o engajamento, porque tem aquela proteína, aquela refeição e não só o que às vezes levava um sanduíche. O pessoal gosta muito do açaí, comia só o açaí. O açaí não segura o tempo todo numa indústria que, quem está no campo, é um esforço físico considerável. E a gente também fez outros projetos, de forma que melhorasse o bem-estar do funcionário. Desde a criação do uniforme, a lavagem de todo o uniforme pago pela empresa, que antes levava camisa pra lavar em casa. O EPI. E hoje você vê aquela fardazinha, a gente que implementou também. Claro que com apoio da organização. Eu vou aumentar o custo, mas vou reduzir aqui. Então, dá pra casar. Melhoramos outras coisas, por exemplo: quem vinha de ônibus, a empresa de ônibus não tinha banheiro. Aí o ‘cara’, uma hora... conseguimos fazer várias mudanças. A questão também de que hoje você anda na planta, a gente começou a trabalhar muito forte no que a gente chama de asset integrity, que é a integridade do ativo. Porque o mercado de alumina faz assim: quando estão em baixa e o sócio quer vender, ele não faz mais manutenção. Então, nós vimos muitas oportunidades e essas oportunidades, para ganhar força, nós dizíamos: “Olha, não adianta só eu ficar mostrando, vamos contratar um assessor, uma auditoria externa”. Quando nós mostramos e que mostrou a criticidade, foi fácil vender para Oslo, então nós tivemos. Então, hoje você não tem mais ativo ou estrutura que possa causar uma catástrofe. É claro que uma fábrica de trinta anos tem ainda oportunidades. Com a melhoria do processo do filtro-prensa lá, também reduziu muito o resíduo que ficava nas ruas. E aí conseguiu pintar, ter varredeira e assim por diante. Então, mudou muito. E aí, nessa época, ainda era gerente executivo, ganhei o apelido de Prefeito. Porque a gente conseguiu, junto com o time, nem todas as ideias eram minhas, muitas eram, mas do time, dos clientes e a gente foi transformando, ajudando a transformar a Alunorte. Também aos poucos tive que entrar na operação, começou a operar o DRS-2 de forma diferente até, suportando o pessoal de projeto, para revitalizar o DRS-1.
Vamos dizer, parece uma fazenda. Ainda tem áreas para sair com recompostos. E aí nós fomos também trabalhando o desenvolvimento de pessoas. Então, a gente desenhou e sugeriu e conseguiu implementar ainda como gerente executivo de manutenção, o programa de desenvolvimento de líderes para a manutenção, mas rapidamente o RH viu que não, tem que ser para todo mundo e hoje a Alunorte não toma mais conta. É global agora, mas a gente conseguiu pegar engenheiros, fazer os assessments com consultoria, às vezes aqui tem perfil e aí foram, hoje são gerentes, gerentes sêniors, uns são executivos já. Do mesmo jeito com a turma de operação. Então, isso aí também engajou muito a turma a ‘vestir mais a camisa’ e ver que não é só o salário no final do dia, né? Tem todo um benefício que, se a gente perder, né? Às vezes você está de ‘cabeça quente’: “Não quero mais isso”. Não está bem com o chefe aí, olha o que você perde, né? Então, aí você começa a ficar mais engajado e passa a ser o que eu comecei a dizer, quando eu me dirigia nos vídeos, para os funcionários, é família Alunorte. Então, nós passamos a ser uma... não que antes não fosse uma família, mas uma família, vamos dizer assim, que cada um goste mais de si e goste mais do outro também, não só de si. Então, isso foi me prendendo à empresa.
(51:07) P1 - Você falou uma coisa que me chamou muita a atenção: prefeito. Prefeito da Alunorte, como se fosse uma cidade que você estava zelando, cuidando?
R1 – É. Exato. Porque nós modificamos muito a infraestrutura dela. Uma indústria do passado foi desenhada muito mais para homem. E aí você vai aumentando número de mulheres, banheiros na área operacional e não tem feminino. Como é que nós vamos ter que fazer? Vamos criar os banheiros, né? Vamos... não foi ideia minha, foi ideia do pessoal de medicina com HSE, mas as mulheres estão chegando aqui pra... e aí, durante, elas retornam após a licença-maternidade, então vamos desenvolver aqui, mas a gente ajudou a implantar o Espaço Mulher, onde elas recolhem o leite, guardam, pra levar pra casa. Ou seja, acaba que é utilizado esse Espaço Mulher, pra higiene das mulheres, independente de estar grávida, porque assim são vários, não vai ter a máxima utilização. Então, aí acaba ficando o Prefeito por causa disso, que a gente foi organizando a cidade, que é uma cidade, como eu disse, são 33 mil ativos, cinco mil pessoas rodando. Cinco mil pessoas, não quer dizer que cinco mil stations durante o dia, porque tem folga de turno. Mas em termos de refeição, os três turnos a gente, de segunda-feira a sexta-feira, são cinco mil refeições servidas. E também eu era responsável por esse restaurante. Nós modificamos, colocamos outro restaurante lá no DRS, para evitar que o pessoal venha perder tempo. Então, colocamos módulos e assim por diante. Então, por isso que gente ganhou o apelido de prefeito.
(53:31) P1 - Você gostava?
R1 - Eu preferia que fosse governador, né? (risos)
(53:36) P1 – Mas tem carinho nisso, né?
R1 – Tem. E aí, depois, quando a gente foi para vice-presidente de industrial, de operação, aí a gente conseguiu também incentivar quem passou a ser o prefeito, a desenvolver mais coisas.
(53:55) P1 – Luís, apesar desse apelido, eu também te vi lá dentro, te vi caminhando no refeitório e eu via que você falava com muitas pessoas no seu caminho. Você andava e aí ia cumprimentando as pessoas. Então, eu queria saber: essas inspirações, essas ideias, esses projetos, vinham como? Vinha da escuta, da convivência?
R1 - Alguns era da minha observação, porque eu tinha até alguns subordinados, assim, que trabalhavam comigo, reclamavam muito, porque diziam que eu olho muito as oportunidades. Minha mulher também disse que eu olho muito as oportunidades. Então, eu via alguma oportunidade. Por que nós estamos vendo aquilo ali como paisagem, aquela oportunidade? Então, a gente foi, como essa questão da alimentação, me incomodava ver o ‘cara’ sentado ali, comendo. A falta de house-equipe, o transporte, porque eu peguei uma vez: “Eu vou entrar nesse transporte”. Aí fui, como na lancha também, aí a gente foi mudando. E outros inputs que chegavam, como é que nós podemos fazer diferente? Ou demandas até dos pares ou dos chefes. A gente via o que poderia implementar o que estava no nosso alcance porque, por exemplo, tem umas duas demandas que eu tentei até como vice-presidente, mas devido ao mercado não conseguimos, porque são projetos maiores. Ter uma rodoviária interna maior, aumentar a produtividade, porque a gente tem perda, porque a empresa foi ampliando e não cabe colocar tantos ônibus ao mesmo tempo. E quando eu percebi isso: “Podemos ter uma fatalidade”. Então, quem mora em Barcarena chega meia hora depois de quem mora Belém, Abaetetuba e tal. Então, isso acaba sendo uma improdutividade, porque tem um projeto, mas demanda ‘grana’. Mesma coisa uma área exclusivamente para as contratadas, para evitar que tenham estruturas em áreas tão centralizadas. Então, tudo isso tem projeto, mas não conseguimos implementar. Mas respondendo suas perguntas, uma boa parte foi minha ideia inicial, melhorada com sugestões do time, outras de escutativas. E aí a gente teve a felicidade e apoio do time todo, para implementar essas melhorias e poder comemorar os trinta anos da Alunorte. Até eu falei assim: “Por que nós não vamos escrever um livro de trinta anos da Alunorte?” Aí eu também tive que convencer: “Vamos escrever”, porque eu vi que tinha um de 15, né? Então, vamos escrever um de trinta. E aí você tem a ideia inicial, mas precisa convencer outras pessoas.
(57:12) P1 - Estou entendendo que o seu papel de articulador é uma ponte: você escuta quem precisa de alguma coisa e você leva para quem pode, talvez...
R1 - Exatamente.
(57:22) P1 - ... conectar isso.
R1 - E às vezes também de cima, como a gente consegue, o time também tem poder de execução alto, aí também vem, que são perfis diferentes. Tem perfis que o sonhador idealiza, mas o execution é baixo. Então, às vezes também só usar por causa do execution não só meu, do time.
(57:53) P1 - Você tem alguma coisa que, pra você, é muito marcante, que você tem muito orgulho de ter tido suas mãos envolvidas, ali?
R1 – Tenho. Como eu falei, eu tive um choque em algumas coisas de manutenção dos procedimentos, dos processos de manutenção, dos best practices de manutenção que a gente não tinha aqui. E aí a gente começou a trabalhar em criar as padronizações por etapa. Com isso, na época da pandemia, deu um estalo assim: “Vamos pegar a ISO 55001, que é gestão de ativos e vamos estudar e vamos ver como que a gente consegue implementar aqui, porque é uma planta grande e tem áreas que não implementam o que nós estamos propondo. A partir do momento que gente tiver uma... cada pensa diferente. Então, se gente tiver uma padronização, vamos fazer. Aí criamos uma estrutura, estudamos e começamos, designei uma pessoa, um perfil para tal e começamos e vimos: “Olha, a gente não estava pretendendo ser certificado nessa (59:30), mas a gente está próximo de ser certificado. Vamos tentar?” Isso na saída da pandemia, que a gente ficou trabalhando na pandemia nisso na saída da pandemia e nós fomos certificados e nós somos a única refinaria de alumina no mundo certificado na ISO 55001. A certificação não é só o titulozinho, né? É porque com isso a gente melhora o nosso processo de gestão de ativos e qual é o resultado? Nós temos redução de custo, maior disponibilidade dos equipamentos ativos, começamos a operar melhor, né? Passamos a ter padrões para serem seguidos. Então, nós fomos e somos ainda a única refinaria de alumina no mundo. Também em 2019, antes até um pouquinho do... quando a gente teve essa ideia, mas trabalhou durante a pandemia. Mas em 2019 eu propus para o Michel, que era o gerente... era o diretor, da gente criar um sistema de gestão de ativos. E junto com o Francisco Sérgio, que era o gerente sênior de manutenção, nós criamos o GPA. Eu levei até nosso amigo lá, na sala, vocês viram lá, de onde nós passamos a ter uma sala de controle que olha a saúde dos principais equipamentos. E essa... como é que feito isso? Através de instrumentação, chega as informações, os engenheiros de gestão de ativos analisam. Quando está fora dos parâmetros vai para o gerente sênior de manutenção e de operação, não fica esperando um tempo para emitir um laudo, como era no passado, com a manutenção preditiva, né? Hoje os técnicos de preditiva passam menos tempo na área coletando manualmente as informações, então eles passam mais tempo analisando aquele laudo, é como quando você vai no médico fazer ultrassom, tem a pessoa que faz a medição, mas tem que vê o laudo. Então, quem faz a medição hoje são os instrumentos no campo. E no lugar do técnico estar andando e fazendo as medições, ele está analisando. Se tiver uma dúvida, vai no campo. Então, isso daí fez uma diferença muito grande. Hoje nós somos referência e me enche de orgulho, isso pelo lado da operação e manutenção. Já como diretor da planta, tem algumas coisas também que eu consegui junto com o RH, desenvolver uma política para pessoas que têm mais de 25 anos, que elas, de acordo com o tempo e a nota dela na avaliação anual, se ela for desligada, ela tem bônus de X salários. Isso também para reconhecer as pessoas aqui, né? Claro que não pode ter medidas disciplinares ali, ninguém vai forçar. É o seguinte: é uma deliberação da empresa. Então, isso também enche de orgulho. Difícil convencer o Jurídico, RH, porque pode abrir precedentes, não sei o que e tal. Todo mundo olhando lei, mas a gente conseguiu convencê-los e implementamos, também enche de orgulho aí. E ano passado nós tivemos o maior resultado da história financeira na Alunorte, mesmo com todos os adventos, adversidade do projeto de descarbonização, que foi outro, que a Alunorte comprou a ideia da Hydro como propósito dela, de descarbonizar, mas implementar um projeto desse, teve uma equipe de implementação, mas a gente operava. Então, a gente tinha que estar junto, parando equipamentos e assim por diante, perdemos muita produção, além do que estava planejado, para poder implementar esse projeto, mas foi um sucesso e não perdemos produção que impactasse no resultado e, como o preço da alumina foi excepcional, nós tivemos o maior resultado de todos os tempos. Chegamos a reduzir a dívida pela metade. Então, para mim, isso enche de orgulho de todo o time, toda a família Alunorte e da família Hydro, porque ajudou a gente.
(01:05:40) P1 - Você falou Família Alunorte, que foi algo também que você ajudou a criar. Imagino eu que é um jeito de entender, de trabalhar, de viver ali dentro. Como que eles receberam isso?
R1 - Como eu lhe falei, eu sou uma pessoa muito exigente, mas também sou de reconhecer muito. Então, até me conhecer, exijo muito, mas reconheço também. Então, como eu sempre disse, nós não estamos numa ONG, que a gente recebe, nós estamos numa empresa. Imagina que você tem sua mercearia no bairro ali, você tem que entregar resultado. Se você contrata uma pessoa, ela tem que entregar resultados. Se não, fali. Ela perde o emprego e você também. Então, nós temos que tratar isso aqui como uma empresa, não ONG. Então, a gente é pago pelo nosso serviço e nós somos muito bem remunerados pelo nosso serviço. E isso que eu tentei e consegui, acredito, que é dar o paradigma de: “Está aqui no Pará, tem que nos dar tudo”. Não, nós temos que entregar o resultado e ser reconhecido. O benefício que nós temos aqui, nós temos que entregar. Já pensou a gente perder esse benefício? Qualquer um pode. Eu, como vice-presidente, como você, se a gente perder, eu vou sentir falta. Você não vai? Então, a gente começou a... então, nós precisamos nos unir, em prol do resultado. Seguindo as diretrizes, segurança em primeiro lugar; respeito ao próximo; os 3 Cs: cuidado, coragem, colaboração. Só que nós temos que fazer tudo isso, que nós estamos vendendo o nosso serviço e nós estamos sendo bem remunerados. A gente conseguiu mudar um pouquinho a percepção das pessoas. Por exemplo: logo após o Covid, nós sugerimos também para o diretor e começamos a participar junto, no começo e depois eu mantive, como diretor, quando ele ‘passou a bola’ para mim: todo novo funcionário que entra vai na reunião de staff, na refinaria. Então, nessa segunda semana do mês entraram oito funcionários, vinte funcionários e eles, durante a indução deles, que é o treinamento admissional, vamos dizer assim, eles vão na sala de reunião, na terça-feira, que eu reunia com o meu time e cada um se apresenta e a gente se apresenta. E aí eu sempre falava isso. Nós, quando a gente assina a carteira de trabalho ali, um contrato, nós estamos fazendo um contrato de casamento. Pro casamento dar certo, os dois lados têm que... você, mulher, casou com um homem, o homem também tem que corresponder para você, né? Então, aí isso ficou muito forte e continua porque, para a gente trabalhar numa empresa, a gente tem que dar o retorno. Então, isso que precisa. E, como a empresa nos dá muito benefício, nós temos que dar muito retorno. Com isso, todo mundo vai crescendo e desenvolvendo.
(01:09:59) P1 - Eu vi que tem espalhados por lá alguns outdoors: ‘Orgulho de ser Alunorte’, ‘Família Alunorte’. E isso tudo eles querem tirar foto na frente, é algo que eles reconhecem.
R1 – É. Juntos Somos Mais Fortes. A gente criou alguns espaços, né? Como esse: Juntos Somos Mais Fortes. É, que essa frase Juntos Somos Mais Fortes, foi até... começou, foi um gerente de segurança do trabalho, começou a falar e aí nós captamos, criamos aquela área ali, que foi muito Instagramável na época, o pessoal batia foto no Instagram e tal. E claro que tem outros, vários outros pontos, onde tem a campanha do mês da comunicação. O mês passado foi... esse mês, do orgulho...
(01:10:54) P1 - Diversidade.
R1 - Diversidade. Aí está lá. O mês que vem, se for... quando chega novembro lá, que é Novembro Azul, alguma coisa, aí, né? Mas o Juntos Somos
Mais Fortes permanece, que ali a gente disse que não poderia mexer, que era o orgulho de ser Alunorte.
(01:11:14) P1 - Eu vi também que tem aquele espaço como se fosse um coreto, o pessoal usa o celular.
R1 - Sim.
(01:11:19) P1 - Tem sua ‘mão’ ali, né?
R1 - Ali na parte que tem a parte da plantação, sim. Existia, mas estava largada. Aí nós mandamos ‘botar’ uma tela e a planta. Melhorar porque são, como eu falei, acaba o almoço, tem muitas pessoas... quem é da área vai para a área, mas as contratadas, até esperar o ônibus e assim por diante. Mas o importante aí é o resultado também de segurança, meio ambiente. Nós, ao longo desses anos que eu estou aqui, a Alunorte, todo o time construiu muita coisa. Mudamos a forma como a comunidade olhava a Alunorte antes da Hydro entrar e depois. Isso faz ajudar no orgulho da família Alunorte.
(01:12:28) P1 – A gente estava ali quando aconteceu uma visita dos familiares. Isso é uma preocupação de vocês também? Como receber essas pessoas de fora?
R1 - Exato. Tem um processo desde o convite, né, tem um calendário para as famílias, assim como tem para universidades, visitantes externos e tem a própria comunidade, que o time de relações com a comunidade chama SSI, também têm calendário. Então, tem todo um processo, onde a gente disponibiliza nosso pessoal operacional, para acompanhar, né? Que é importante, porque muitos: “Eu pensava que isso daqui podia desabar, ser igual Brumadinho”. Então, se você olhar lá no CDT, tem umas fotos nas paredes, assim e tem gente pulando no DRS. “Imaginava que é isso, falam outra coisa”. Então, é importante a gente trazer a comunidade para conhecer o que é Alunorte. E isso começou mais depois de 2018, começou mais depois dessa época, que era outra coisa que me impactou um pouco, porque a gente não tinha muito contato, né?
(01:13:55) P1 - E aí foi desenvolvido?
R1 - Foi desenvolvido, o time foi reforçado, o time aqui, externo. Não faz parte da Alunorte, é externo, mas a Alunorte suporta, né? E passa as demandas e assim por diante.
(01:14:07) P1 - Até por, imagino eu, do mesmo jeito que vocês têm a prioridade de cuidar de quem está de dentro, também cuidar do que está fora.
R1 - Exatamente. Nós temos que ter um excelente relacionamento com a comunidade. Esse trabalho muito bem-feito pelo SSI, com o suporte da operação. No passado tinha muita interrupção, greve de mototáxis iam lá e fechavam, porque chamaram a atenção de uma grande indústria. Então, hoje não fecham mais assim, né? Vão fazer protesto onde tem que fazer. Porque passou a ter um relacionamento. Se nós pararmos aqui, quantas pessoas vão... podem perder o emprego e assim por diante. A gente tem as estratégias, a forma de como conduzir, mas melhorou muito, muito, muito, muito mesmo.
(01:15:06) P1 – Então, você vê um antes e depois desde que você começou, para hoje?
R1 - Muito, muito, em todos os aspectos. Não só internamente, mas externamente. Imagina aí que veio de fora a diretriz para a descarga do gás e foi feito pelo time de projeto B & A que hoje eu estou na frente, mas nós suportamos a Hydro para a Alunorte e trouxe o gás, que hoje o gás vai alimentar uma termoelétrica. Vai poder ter carros, veículos movidos a gás. Então, imagina o impacto que a Alunorte proporcionou para o estado, não diria só para Barcarena e Vila do Conde, ali, mas para o estado, para o Brasil.
(01:16:15) P1 - Eu queria exatamente esse retrato: o que é a Alunorte hoje, nessa representação?
R1 - Eu acho que hoje, antes a gente dizia que Alunorte era a maior refinaria do mundo, mas a gente só falava em (01:16:29), né? Hoje está dizendo: “A Alunorte é a maior refinaria do mundo, está aqui no Pará, contribui significativamente através de impostos, de taxas, com o governo federal, o governo estadual, municipal. Além disso, tem os projetos sociais, onde se construiu uma escola técnica. Tem projetos sociais que nós estamos finalizando agora, deve finalizar em setembro, quatro (01:17:15), que são estruturas onde, em localidades de baixo poder aquisitivo, para poder facilitar as famílias de tirar o registro, uma carteira de trabalho, consulta. Ter um atendimento digno, porque a pessoa que mora numa localidade muito afastada, pra vir numa cidade mais próxima, não vai, não registra filho e tal. Então, claro que isso é um projeto do governo, mas quem está contribuindo, construindo, somos nós, a Hydro, tanto aqui na Alunorte, como Paragominas. Isso é uma contribuição gigantesca para a população, né?
(01:18:07) P1 - Daqui pra frente - são oito anos que você está na Alunorte e tem tantas mudanças que foram vividas - o que você mira?
R1 – Em termos... agora eu estou em projeto, então a gente mira em poder contribuir para melhorar ainda mais a operação através dos projetos, melhorar ainda mais a disponibilidade da planta, aumentar a confiabilidade de forma que você consiga produzir uma alumina ao menor custo, para poder sobreviver nesses momentos que o mercado está em baixa. Com isso, você vai poder dizer que a Alunorte vai ter vida longa, não é? Recentemente nós trouxemos, junto com a comunicação, um engenheiro, o Siqueira, que foi o projetista daqui, o idealizador, conseguiu convencer pessoas a investir, empresa investir dinheiro na Alunorte, aqui. E foi um grande feito. Só que ele também falou assim: “Olha, vocês estão operando muito bem aqui, conseguiram diminuir a dívida, que quando a entregou era muito maior, então, eu acredito que tem vida longa aqui na Alunorte. Mas pra... a gente não pode só acreditar, a gente tem que fazer acontecer, né? Então, por aqui pro projeto, que a gente, eu espero contribuir é suportar a Alunorte, ter uma operação eficaz, eficiente, baixo custo e com extrema segurança para as pessoas e pro meio ambiente.
(01:20:2) P1 - E você, como legado pessoal?
R1 - Legado pessoal, eu diria que, se eu interrompesse hoje, aqui, eu já tinha deixado todo o legado.
(01:20:46) P1 - Mas não é isso.
R1 - É, mas eu me sinto extremamente realizado, já. É claro que eu ainda quero trabalhar por muitos anos, porque eu não me vejo sentado, em casa. Se não for trabalhando numa indústria, vou empreender alguma coisa. Eu vou buscar ainda deixar mais legado, mas eu me sinto muito satisfeito pelo legado, até então.
(01:21:31) P1 - E para a tua vida pessoal, especificamente?
R1 - A minha vida pessoal é continuar na caminhada de educação das duas filhas menores, que elas tenham o mesmo sucesso dos mais velhos, do lado pessoal e profissional, não adianta ser só o profissional, mas eu acho que eu estou no caminho certo aí, cada uma tem sua particularidade. A mais nova adora e tem vários reconhecimentos em termos de design simples de pensamento computacional. A mais velha mais nas áreas de Humanas, mas todas as são diferenciadas. A mãe é na mesma linha minha, de educação em primeiro lugar.
(01:22:44) P1 - Você me falou o que representava para você ser pai ali, naquele primeiro momento, o ganho de maturidade de aprendizado. E ser avô?
R1 – Eu, como sou pai de duas meninas novinhas, eu digo para minha filha mais velha, Laís: “Eu sou um tiozão”. Eu não sou avô, porque eu não pego a menina ali, né? Porque eu tenho duas filhas, então estou criando essas duas. E a gente mora... ela mora em São Luís, eu moro aqui, mas eu tento contribuir com educação, orientando minha filha. E o pai, que também respeita a forma que eu eduquei a mulher dele e educo as outras duas.
(01:23:33) P1 - E pra você morar em Belém, é o seu momento? É o que você quer daqui pra frente?
R1 - Minha família está extremamente feliz aqui. Eu estou feliz na Alunorte. Eu não sei se eu estivesse feliz na Alunorte ou agora na Hydro e a família não tivesse, como seria. Mas onde você está com a família feliz e está conseguindo vender o seu serviço e ser remunerado... agora, claro que, no passado, eu recusei morar no exterior, porque eu não queria sair de São Luís de frente para a praia, porque eu desço, vou na praia, volto. Mas isso foi no passado. Hoje eu sou cidadão belenense. (risos)
(01:24:31) P1 - O que você gosta daqui?
R1 - Eu gosto do povo. A gente fez muita, através dos filhos, das filhas, amizade com os pais das coleguinhas lá, dos colegas. Então, bem como São Luís também, mais fácil que ir para o sul, que é mais difícil você... porque assim eu ficaria só com as amizades do serviço. Isso eu gosto bastante e tem uma culinária boa.
(01:25:09) P1 - Você tem um sonho ainda?
R1 - Eu tenho. Meu sonho é ver minhas filhas independentes, formadas, se for gosto delas casadas, mas bem casadas. Tenho sonho de ver um país mais igual, com oportunidade. Quem trabalha, quem produz tem que ser mais remunerado, todo mundo tem que ter educação básica. E continuar vivo enquanto tiver saúde, ao lado da mulher. Quando não tiver mais saúde, meu sonho é estar ‘lá em cima’.
(01:26:00) P1 - Vivo, trabalhando?
R1 – É. Sem saúde, não interessa.
(01:26:06) P1 - Tem algum hobby?
R1 - Tenho um hobby que é um pouquinho diferente: eu gosto de ouvir samba, tomar minha cerveja e fazer meu churrasco. Esse é o meu hobby no final de semana. Não tenho hobby de esporte, faço por obrigação. Gosto de carro antigo, mas não tive ainda coragem de investir num carro velho, para sair andando. Estou investindo mais nos estudos das meninas.
(01:26:35) P1 - Você me falou que você tem muito orgulho de fazer parte dessa história. Então, vocês estão fazendo aí trinta anos. O que isso representa para você, estar aqui, contando sua história para esse projeto, para essa comemoração?
R1 - É um legado para mim ter passado oito anos aqui, lá dentro da Alunorte. Hoje eu estou prestando serviço para a Alunorte, mais oito anos dentro da Alunorte. Aprendi muito, também pude transmitir muito conhecimento. Me orgulha muito de ter ajudado na formação de várias pessoas. É claro que gente não acertou em todos, não acerta. A gente também não é unânime, mas muitas pessoas gostaram da minha gestão. E eu espero que esse trinta anos da Alunorte vire quarenta, cinquenta e que todos que venham tenham paixão pelo que fazem, queiram contribuir para o crescimento da região, através da produção de alumina de forma sustentável, segura. Várias outras famílias que trabalham dentro da Alunorte ou na comunidade, porque quando você tem um trabalhador da Alunorte, ele gasta dinheiro ali, compra na comunidade, aquilo tudo prospera. Então, parabenizo todos que passaram pela Alunorte até então, nos trinta anos, desde quem teve a ideia, quem investiu, aqueles que contribuíram, mas saíram, mas deixaram grande contribuição, os que ainda estão e torço para que a gente ainda possa, eu contribuir alguns anos, quem sabe cinco, dez anos ainda e que quem venha deixe um legado para a região como um todo, para o Brasil.
(01:28:58) P1 – Um legado para o Brasil. Tem alguma coisa dessa sua história, que a gente não tocou nela, que você gostaria de contar?
R1 - Eu diria que as pessoas que me convidaram para vir para cá é porque viram o meu potencial que eu entreguei onde me conheceram. Então, essas pessoas aí contribuíram com toda essa jornada do Prefeito, vamos dizer assim e depois do Governador, junto com o time, porque ninguém faz nada sozinho, deixar esse legado.
(01:29:49) P1 - Isso é um agradecimento. E aí, com esses anos de vida que você tem hoje, com essa bagagem já bem construída, qual é o seu grande aprendizado de vida?
R1 - O grande aprendizado é o seguinte: ninguém faz nada sozinho. A gente tem que se desafiar. Momentos difíceis vão ter. Você tem que ter equilíbrio e inteligência emocional, para superar as dificuldades. Não deixar subir à cabeça quando está tudo ali, muito bom. Sempre dizer: “Olha, está bom hoje, mas o que eu tenho que fazer se amanhã não estiver bom?” Então, porque no ramo da alumina é assim, né? Então, isso, ano passado a gente, no final do ano, o maior resultado. Mas quando comemoramos o resultado, eu sentei com o meu time e falei: “Olha, o que nós vamos fazer para reduzir custos, aumentar a produtividade, disponibilidade, de forma que a gente mantenha esse negócio viável?” Então, diria isso.
(01:31:15) P1 - Então, como um paralelo, o mercado da alumina é assim e a vida também.
R1 - E a vida é assim. Então, você tem que ter inteligência emocional, estar preparado. Porque a sorte vem quando a oportunidade encontra a preparação. Tem a oportunidade, mas a gente está preparado aí? Sorte só na loteria, que uma pessoa ganha ali, por sorte, mas você tem que estar preparado e vem a oportunidade. Então, nós temos que, quando estiver lá em cima, a gente tem que estar preparado para produzir muito, com qualidade e vender bem. Quando está em baixa, temos que estar com custo baixo, para poder se manter. Então...
(01:32:00) P1 - Minha última pergunta, Luís: disso tudo, olhando para a sua vida nessa perspectiva que a gente fez, o que você acha que você teve de mais presente, uma característica tua?
R1 - Uma característica minha: eu sou muito objetivo, muito direto e busco executar. A gente planeja, é importantíssimo planejar, mas a gente também tem que executar. Numa indústria a gente tem que planejar, ter um planejamento estratégico, só que também tem que fazer acontecer. Tirar do papel aquela ideia e executar. Então, eu acho que é marcante para a família Alunorte nesses oito anos aí, que eu pude contribuir e ver é a questão de realização, fazer acontecer de forma sustentável e segura. E olhando o indivíduo, a pessoa que tem que ser bem tratada e bem reconhecida.
(01:33:32) P1 - Obrigada.
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