Projeto Conte sua História
Depoimento de Wagner de Sousa
Entrevistado por Lila Schnaider e Rosana Miziara.
São Paulo, 25/03/2017
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV565_Wagner de Sousa
Transcrito por Mariana Wolff
Revisado por Viviane Aguiar
________________________________________________________________
P/1 – Wagner, você pode falar seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Wagner de Sousa Aguiar.
P/1 – Você nasceu quando?
R – Nasci no dia 15 de maio de 1983.
P/1 – Em que cidade?
R – Aqui em São Paulo.
P/1 – Seus pais são de São Paulo?
R – São de São Paulo.
P/1 – Como é o nome do seu pai?
R – Antônio Carlos Aguiar.
P/1 – E o da sua mãe?
R – Neusa de Sousa Neves Aguiar.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho.
P/1 – Quantos?
R – Tenho dois.
P/1 – Mais velhos, mais novos?
R – Um mais velho e outra mais nova.
P/1 – E você tem avós por parte de pai e de mãe?
R – Por parte da minha mãe só tenho avó, e na parte do meu pai só tenho avô.
P/1 – E você sabe um pouco a história do seu avô, o que ele fazia, o que ele faz?
R – Não. Do avô da parte da minha mãe, não.
P/1 – E do seu pai?
R – Eu não conheci ele ainda, porque morreu jovem.
P/1 – E seu pai e sua mãe, você mora com eles até hoje?
R – Moro com eles.
P/1 – Em que bairro?
R – Castro Alves.
P/1 – E você mora nessa casa desde pequeno?
R – Desde pequeno.
P/1 – Como é essa casa?
R – A casa tem… Eu não entendi essa parte.
P/1 – Ela é grande? Quantos quartos?
R – A casa é grande, tem três quartos, tem dois banheiros. Minha irmã mora em cima também, e a casa é supergrande.
P/1 – E você mora nesse bairro desde que você nasceu?
R – Desde que eu nasci.
P/1 – E você brincava? Você costumava brincar lá?
R – Brincava.
P/1 – Quais eram as suas brincadeiras de infância?
R – Na infância, foi jogar bola, empinar pipa, jogar pingue-pongue etc.
P/1 – E você se lembra dos seus amigos dessa época?
R – Lembro. Eu me lembro dos meus amigos dessa época, até hoje tenho uma amizade com eles. Não é como antigamente, que a gente ficava só na rua. Agora é totalmente diferente, a gente trabalha, nós só nos vemos sábado e domingo.
P/1 – Você se lembra de alguma história marcante dessa infância? De alguma brincadeira, algum episódio que tenha acontecido com os seus amigos?
R – Tem (risos).
P/1 – Conta.
R – Os meninos estavam brincando de esconde-esconde – naquela época, era esconde-esconde –, uma galera, tinha dez, 15 pessoas, nós brincávamos junto. Sempre tinha uma pessoa pra bater na parede, contar até 50, aí o resto se escondia. Tinha umas pessoas que se escondiam na casa, no outro lado da rua, pra ninguém achar mesmo. Um dia, fui entrar na casa do vizinho, porque a casa do vizinho não tinha porta, não tinha portão ainda, porque esse vizinho era meio chato e não gostava que ninguém invadisse a casa dele, porque a casa dele sempre era aberta. Tinha cinco, dez pessoas se escondendo na casa dele. A casa do meu vizinho é grande, é enorme, eu fui me esconder ali. Aí, de repente, ele está subindo… Um dia, ele estava nervoso, ele queria pegar a gente lá, queria bater.Em cima, tinha areia, embaixo, pra não… Ele veio com o machado. Pra ninguém se machucar, a gente pulava em cima da areia, mais gente assim, mais galera, pulava um, dois, três, o cara pra não pegar a gente, né?
P/1 – E ele não pegou?
R – Não pegou, não, porque eu pulei na areia. Por isso, o cara não pegou.
P/1 – O que te deixava mais feliz na infância?
R – Feliz? Amizade sincera. Até hoje eu tenho uma amizade sincera, aberta. De vez em quando, eu sinto saudades daquela época antiga também, com essas pessoas novas, sinto saudades de jogar bola com os amigos.De vez em quando não dá ou dá. Até hoje eu solto pipa também, mas é menos do que antigamente, porque antigamente era pior, porque saía de casa às oito horas da manhã, só voltava às cinco horas da tarde. Minha mãe ficava sempre preocupada: “Você não vem almoçar? Não vem tomar café?” Estava sempre na rua. Mas hoje é diferente, hoje eu solto pipa umas duas, três horas perto de casa ainda. Agora eu volto pra almoçar, eu fico menos tempo soltando pipa.
P/1 – Com quantos anos você entrou na escola?
R – Na escola? Foi em… Eu não me lembro.
P/1 – Que lembrança você tem da escola? De quando você entrou?
R – Pra falar a verdade, eu repeti cinco vezes e quatro na segunda série no primeiro colegial. Minha mãe ficou brava. Ficou brava e junto, chateada. Aí, depois, eu comecei a estudar direitinho, bonitinho, pra não deixar a mamãe mais triste, meio brava comigo.
P/1 – Você lembra de alguma história da escola? O que você gostava de fazer na escola?
R – Deixa eu ver… Eu não entendi essa parte.
P/1 – Você gostava de ir na escola?
R – Gostava, gostava muito de ir pra escola.
P/1 – Do que você gostava lá?
R – Educação Física.
P/1 – O que você fazia na Educação Física?
R – Jogar bola, jogar vôlei, basquete também.
P/1 – Vocêse lembra de alguma professora?
R – Não me lembro mais da professora.
P/1 – E de amigos da escola?
R – Eu tenho alguns ainda. Eu me lembro.
P/2 – Como eram as brincadeiras com os amigos? O que você se lembra desses amigos de quando você era pequeno?
R – Sempre joguei bola.Até jogo bola, empinava pipa junto com eles, da escola. Mesma coisa.
P/1 – E você ia como pra escola? Sua escola era perto da sua casa?
R – Era perto da minha casa a escola, eu tinha que vir com o uniforme mesmo, da escola que dava. Dava não, nós tínhamos que comprar, se nós não viéssemos com a camiseta da escola, não entrávamos para estudar. Como eu só tinha duas,ficava uma semana com a mesma camiseta.Aí lavava uma, usava a outra, mas sem camiseta não entrava para estudar na escola.
P/1 – De alguma professora você não se lembra, mas você se lembra de uma matéria, do que você gostava de estudar? Do que você mais gostava de estudar?
R – As provas em que eu ia bem eram de Português. Pelo menos nas matérias boas eu estava bom, Português.
P/1 – Você lia bastante? Sua mãe contava história para vocês?
R – Minha mãe contava história desde pequenininho, contava história pra mim, pra eu dormir também.
P/1 – Você se lembra de alguma história que ela te contava?
R – Não, não lembro direito.
P/2 – E você queria ser o quê quando crescesse?
R – Jogador de futebol, era o meu grande sonho ser jogador de futebol. Como não conseguia, deixa eu trabalhar mesmo na Colgate, melhor coisa que eu posso fazer.
P/1 – E com quantos anos você começou a trabalhar na Colgate? Quantos anos você tinha?
R – Se eu não me engano, acho que foi aos 19 anos, 19 ou 20, mais ou menos.
P/1 – Foi seu primeiro emprego?
R – É, foi o meu primeiro emprego.
P/1 – Como você ficou sabendo da Colgate,que tinha emprego aqui?
R – Eu vi, como fala?
P/1 – Como você chegou aqui na Colgate para trabalhar?
R – Deixa eu lembrar… Eu não lembro direito.
P/2 – Será que foi a sua mãe que soube e falou pra você? Pode ser, né?
R – Posso pular essa? Depois eu respondo?
P/1 – Pode. Não tem problema, imagina! E o que você começou fazendo aqui na Colgate?
R – Comecei a trabalhar, primeira coisa que eu fiz foi auxiliar de malote. A gente fala auxiliar de malote. É serviço administrativo, né?
P/1 – O que você fazia?
R – Entregava malote, entregava os brindes que os funcionários ganhavam pra outra empresa. Antigamente, uma loja virtual, comprava na internet, que eles mesmos faziam a compra. Naquela época, como eu não podia fazer compra, era estagiário, então, eles faziam a compra na internet pra vir pra cá, nós mesmos entregávamos na mesa das pessoas. Tivesse uma mulher grávida, nós entregávamos na mesa do cargo das pessoas.Não me lembro mais.
P/1 – E você andava aqui? Você andava pela Colgate o dia inteiro?
R – É, ficar parado não era o meu serviço, era mais ficar andando: “Tem um envelope aqui que precisa entregar para o financeiro.” Ia lá pegar, ou tinha alguma DHL [Deutsche Post] que tinha que entregar, tinha que ir lá na portaria sempre. Naquela época, vinham mais lotados, tinha mais, tinha revista bastante para entregar, tinha jornal, tinha um monte de coisa lá. Pra eu separar, gastava dez minutos cada.Eu sempre tinha um amigo meu, que nós entregávamos sempre juntos, sempre ajudando o outro, amizade. Até hoje eu tenho amizade aqui, do meu amigo. Até hoje, o meu amigo trabalha comigo.
P/1 – Como é o nome dele?
R – Chama Luiz Fernando. Quando eu entrei, tinha mais tempo que ele, fui eu que ensinei tudinho pra ele. Até hoje é totalmente diferente, ele que me ajuda bastante daqui pra…
P/1 – E vocês brincam entre vocês?
R – A gente brinca também, às vezes, nós damos risada. Tenho saudades daquele tempo antigo da Colgate, aquela época quando eu entrei, sinto um pouco de falta de dar risada também.
P/2 – Dar risada de quê?
R – Tá filmando?
P/1 – Pode falar, faz de conta que não está.
R – Não, vergonha. Teve um dia, não sei, você pode apagar depois, né?
P/1 – Tá, a gente vê.
R – Teve um dia, na presidência, tinha uma reunião lá, sempre. Quando sempre sobrava um lanche, refrigerante, pra não chegar lá e pedir, nós íamos lá dentro na sala de reunião mesmo, na presidência. Nós íamos mesmo, chegávamos assim, nós íamos levar com sacola, eu e as minhas amigas, levávamos sacola, guardávamos pra comer depois. Um dia, eu não percebi, eu vi o presidente parado, olhando pra mim, eu falei: “Vixe Maria, moço”, eu e os meus amigos. Nesse dia, eu dei tanta risada, engoli essa risada, falei: “Nossa,mano, agora eu vou ser mandado embora”, tantas coisas que eu já fiz. Presidente olhando pra mim, eu olhando pra ele, eu na sala dele, reunião.Aí começou a dar risada, eu e os meus amigos do lado. Depois ele faz assim: “Tsc, tsc, tsc.” Depois, desceu a escada, eu fiquei lá: “Tô aqui mesmo.” Aí continuei, depois eu fui embora, eu e os meus amigos, que vergonha.
P/2 – Depois disso, você continuou levando sacola ou parou?
R – Continuei, mas esperto, né?Eu fiquei mais esperto agora. Eu olhava um pouquinho ali, olhava na sala da presidência, se ele estava lá ou não. De vez em quando, até perguntava para a secretária: “O presidente não está aí?” “Está não, não veio trabalhar hoje.” “Tá bom.” Aí, dava uma disfarçadinha lá na sala de reunião, pegava…
P/1 – E as pessoas te conheciam? Você era conhecido aqui na Colgate nessa época em que você…
R – Foi, conhecia. Tinha bastante gente, eu conhecia muita gente, sabia o nome das pessoas de cor, sabia onde elas sentavam, as que mudavam pra outra área.Sabia direitinho, sabia também em que lugar as pessoas trabalhavam, daqui pra Anchieta, Jaguaré, Osasco naquela época, sempre com ajuda dessas pessoas, me ajudavam muito algumas pessoas.
P/1 – E depois que você trabalhou no malote, onde você foi trabalhar?
R – Aí fui convidado pra trabalhar na loja, ia inaugurar uma loja aqui. Tinha um amigo meu que tinha mais tempo na loja, convidaram ele e eu pra trabalhar. Ele aceitou, ele era da Anchieta, ele veio pra cá, se mudou daqui e foi trabalhar na loja, não sei o que aconteceu, algumas coisas. Aí a empresa mandou ele embora, infelizmente. Aí, me chamaram e falaram: “Tem uma vaga lá na loja, gostaria de trabalhar lá?” Falei: “Queria tentar outro serviço.” Aí me chamaram e eu estou lá até agora, até hoje, tem alguns anos que eu estou lá.
P/1 – O que você faz na loja?
R – Faço pedido para a loja, faço pedido da Hills também, eu e uma amiga minha.Sempre nós estamos juntos e nós fazemos contagem na loja.Todo finalzinho do mês, quando a loja está fechada, faz contagem lá da loja, do estoque todinho.
P/1 – Como é trabalhar com o público, com as pessoas que entram, você fica no caixa? Você vende?
R – Eu fico no caixa, e algumas pessoas são legais, outras não tanto. Algumas pessoas mais quietas, outros mais animados, algumas pessoas conversam, uma pessoa conversa, outra não.Aí vai levando.
P/1 – Do que você mais gosta nesse trabalho na loja? O que você gosta mais de fazer?
R – O que eu gosto mais de fazer? Tudo. Eu gosto de fazer tudo.
P/1 – Você se lembra de alguma história engraçada que tenha acontecido na loja? Devem ter acontecido várias.
R – Tem uma. Teve uma época, sempre com amigo, né? Tinha três amigos meus, um amigo meu é muito esperto. Naquela época, ele fazia muita coisa, contagem em um dia. Teve outro dia que nós trouxemos um pandeiro para fazer um pagode aí, eu mais três colegas meus. Dentro da loja, estava fechada. Aí, um dia, tinha uma salinha do lado, nós colocamos a bolsa lá. Teve um dia, eestava tocando pandeiro, tinha tudo lá, né? Aí, teve um dia, eu fui pegar a minha bolsa e colocar umas coisas lá. Quando eu saí, na bolsa, veio o meu gerente, eu ouvi aquele barulho de samba, pagode, tinha três colegas meus lá dentro. Eu olhei para o meu chefe, pra não entrar lá, pra ele não ver eu lá, eu pensei: “Vou dar uma disfarçadinha.”Cheguei assim: ”Bom dia, chefe, tudo bem?” “Tudo.” Nessa parte, eu estava ouvindo pagode, muito samba, muito samba, não deu pra avisar.Queria avisar, mas nesse dia não deu pra avisar. Depois, fui embora. “Bom dia, chefe, tudo bem?” “Tudo.” Aí o barulho do pagode,estava ouvindo.Depois de dez, 20 minutos, que os colegas meus me ligaram: “Por que você não falou que o chefe estava vindo?” “Não deu tempo.” Ele abriu a salinha lá na loja, onde eu fico, olhou: “Nossa, pagode aqui? Tá bom.” Tem outra história também, no restaurante.Todo dia de manhã, pegava pãozinho lá no restaurante, sempre eu e mais dois amigos meus, sempre! Sempre nos ferramos nós três juntos. Se ferrar um, ferramos nós três juntos. Aí, teve um dia, nós fomos pegar o pão. “Vamos pegar os pães.” Umas nove horas, eu estava parado um pouco atrás, os meus colegas estavam na porta, eles pediram: “Traz uns pães aí pra gente!” O meu colega do lado: “Pão não, traz o pacote inteiro.” Aí, olhando pra trás, e quem está vindo? Meu gerente. Lá dentro, ele ficou no meio, olhando: “Que bonito, hein?” Eu olhei pra trás: de novo, ele. “Que bonito, peguei, né?” Nós três olhamos pra trás, mas, sabe, como fala? Meu chefe era muito legal, bastante, não reclamava pra nada e sempre pegava a gente no pulo, no samba, tocando pandeiro lá na loja, ou pegando os pães no restaurante.Nós não podíamos pegar, nós não somos de lá. Aí, toda hora: “Vai lá pegar um cafezinho, pode pegar um pão, não tem problema, não, depois você volta.” Todas essas histórias, eu falei: “Nossa, velho!” Ele nunca reclamou, ele nunca deu uma bronca na gente.Nós subíamos com vergonha, uma vergonha! Eu olhava pra ele: “Tomaram café já? Já fizeram o seu pagodinho?”, brincava também bastante. Ele se aposentou também agora, meu ex-chefe.
P/1 – Quando você veio trabalhar aqui, você estudava e trabalhava ou você só trabalhava?
R – Não, trabalhava também na escola.
P/1 – Em que escola você estudava?
R – Na Castro Alves mesmo. Tem uma escola chamada Castro Alves.
P/2 – E você participava de algum grupo, alguma associação?
R – Não.
P/2 – E o que você lembra da adolescência?
R – Não entendi.
P/2 – Você frequentava algum lugar com amigos de adolescência?
R – De vez em quando, eu ficava na balada.
P/2 – Conta aí suas baladas.
R – Sempre com amigo meu, os que trabalhavam aqui, alguns que trabalham ainda. A gente vai junto sempre no pagode, sempre ia no pagode, no samba, uma balada que eu gostava de ir. Agora nem tanto, porque a idade chegou, estou ficando velho.
P/1 – O que você fazia na balada?
R – Curtia de tudo ali, rock, samba, tudo!
P/1 – Você gosta de samba?
R – Samba, pagode.
P/1 – O que você gosta de samba e pagode? Que música que você lembra, você lembra de alguma?
R – Naquela época lá, tinha.
P/1 – O que tinha?
R – Belo, até hoje tem o Belo também, Os Travessos também, mas eu gostava mais de Os Travessos.Essa foi o que me tocou, mesmo.
P/1 – Os Travessos qual é mesmo?
R – Gostava do Rodriguinho, até hoje eu tenho CD dele, eu só tenho Os Travessos. Tem o Belo, Sorriso Maroto também gosto, até hoje toca.
P/1 – E você paquerava muito?
R – Ah, sim, um pouquinho.
P/1 – Você já teve namorada?
R – Não, nunca tive namorada. Só fiquei, né?
P/2 – E você participava, fora a escola, na adolescência, você frequentava algum lugar? Algum grêmio?
R – Não.
P/1 – E na loja você está há quanto tempo?
R – Trabalho, seis anos que eu estou lá. Seis ou oito anos, acho que um pouco mais.
P/1 – E qual é o seu sonho? Você tem um sonho aqui na Colgate, de chegar em algum lugar, de fazer o quê?
R – Meu sonho é sempre crescer na companhia, o máximo.Sonho, não tenho muito sonho. O meu sonho é sempre crescer na companhia, é isso. Só isso.
P/1 – Você sabe que a Colgate está fazendo 90 anos?
R – Estou sabendo que a Colgate está fazendo 90 anos.
P/1 – O que você sabe da história da Colgate?
R – A história é muito antiga (risos), não lembro muitas coisas. Só fiquei sabendo na internet que a Colgate ia fazer 90 anos, eu não sei se já fez, eu acho que estava fazendo, ou já fez, não lembro muito essa história.
P/1 – Quer perguntar alguma coisa, Lila?
P/2 – O que te deixa feliz, na vida?
R – A família, o que me deixa sempre feliz é a família. Sempre me ajudando, minha mãe, por exemplo, sempre me ajudou, até hoje me ajuda bastante.Consegui trabalhar aqui com a causa dela também, tem uma história longa, aquela parte ali, aí eu conto depois, né?
P/1 – Conta agora. Temos bastante tempo aqui.
R – Como eu entrei aqui na companhia.
P/1 – Como foi?
R – Essa história é longa.
P/1 – Pode contar.
R – Vou começar bem pequeno. Vamos lá. Uns anos atrás, quando eu era pequenininho, muito pequeno, eu não sabia falar, você pode acreditar, quando eu nasci eu não sabia falar. Aí, nasceu minha irmã junto.Minha irmã sabia, daqui a três anos, quatro anos, ela já falava. Eu, naquela época, três, quatro anos não falava nada. Sempre ficava assim.Aprendi a falar com a minha irmã, eu aprendi a falar com seis anos, pode acreditar, é pura verdade. E eu estava imitando o que a minha irmã fazia, o que ela pedia.Minha mãe ficou meio preocupada comigo naquela época, quatro, cinco anos, não sabia falar nada, ficava meio mudo. Até hoje conto essa história. “Essa história é verdade?”Minha mãe fala assim: “Essa história é verdade, você aprendeu a falar com seis anos.” Até hoje eu falo pra ela que não é verdade não, mas ela fala que é verdade, sempre foi. Aí, eu estava sempre crescendo, crescendo, que a idade também começou, 15, 17 anos, eu não arrumava um emprego naquela época, não arrumava um emprego para nada. Aí, minha mãe me chamou e falou: “Quer trabalhar na Apae [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo]? É aqui perto.” Eu falei: “Tá bom.” Como eu não conseguia arrumar emprego, falei: “Vou lá.” Aí me chamaram para trabalhar lá, fiquei oito meses. Depois de lá, a Colgate me chamou, porque a Apae é junto da Colgate, tinha outras empresas também, me chamaram para trabalhar aqui. Eu era primeiro, eu: “Tá bom, vamos aqui, né?” Aqui falaram que era mais longe, porque eu moro em Interlagos. Aí me chamaram, e eu fiquei aqui oito meses, virei funcionário, sempre falaram que eu ia virar funcionário. De repente, me chamaram, meu gerente: “Wagner, como você está trabalhando bem, tem uma vaga aqui pra você.” Quando eu entrei na Colgate, eu vinha com roupa normal, esporte mesmo, camiseta, calça, não era funcionário. Vim sempre de calça, camiseta.Fiquei oito meses, oito, nove meses. Roupa esporte. Aí, quando eu virei funcionário, meu chefe falou assim: “Wagner, tá na hora de mudar essa roupa.Só sexta você pode vir esporte, mas de segunda a quinta, social, né?” “Tá bom.” Nesse dia, eu virei funcionário, fiquei tão contente, feliz. Minha família também ficou contente. Até hoje, está contente, bastante. Continuando, quando eu virei funcionário, quando fui comprar produto na loja, na internet, eu não tinha computador, naquela época, e tinha que fazer na internet. Chamei algumas pessoas para me ajudar, falei: “Me ajuda aqui na internet?” Como eles tinham computador, e naquela época eu não tinha, naquela época o meu trabalho era mais andando, algumas pessoas me ajudarambastante, tem umas pessoas.O que mais? Eu ganhava também bastantes brindes do Marketing, da Paula Tomazini. Ganhava bastante. Tinha época também, tinha uma moça que trabalhava aqui, a Ceci Moresco trabalhava aqui, eu ganhava bastante coisa pra ela, ela sempre me dava bastante, a Colgate ganhava, dava para os funcionários, ela me dava bastante.A gente entregava muitas cestas para o pessoal, eu também ganhava. Como eu não dirijo, eu falava: “Nossa, vou guardar como?” Tinha que chamar meu pai: “Pai, vem me buscar aqui um dia, um sábado, vou trazer muita coisa.” Trazia cesta, trazia um monte de coisa. Não posso me esquecer também de pessoas que me ajudaram bastante, como Marcilene, Paula Tomazini, sempre me ajudaram, sempre entendiam o meu lado. Um dia que eu trabalhei sozinho também, meus amigos foram embora, como não tinha vaga para o meu amigo, ele foi embora, e eu fiquei três, quatro meses trabalhando sozinho. É ruim trabalhar sozinho, muito ruim mesmo. O que eu não gostava mesmo, quando entregava o produto pras pessoas, demorava bastante.Nossa, essa parte que eu não gostava muito, mas o resto, sempre demorava, sempre vinha com caderninho na mão: “Tá precisando do quê?” Escrevia aqui para não perder,e tinha algumas pessoas também, algumas aposentaram. A Nídia Gomes também me ajuda bastante, até hoje me ajuda bastante. Que mais?
P/1 – E a sua mãe sempre te apoiou?
R – Até hoje, meu pai, ela sempre pergunta: “Como está lá na Colgate? Está bem?” “Eu tô bem, tô ótimo.”
P/2 – E como é a sua relação com a tua mãe, com o teu pai?
R – Bem. Muito unidos.
P/2 – Vocês conversam?
R – Nós conversamos bastante, eu, meu pai, minha mãe, conversamos bastante. De vez em quando, nós saímos junto com a família, passeamos também.
P/2 – Vocês gostam de passear por onde?
R – Sesc Interlagos, que tem perto de casa ali também. De vez em quando, nós vamos andando.Tem Ibirapuera também que nós vamos. Passeio com família do lado.
P/2 – E quando você não está trabalhando, você gosta de fazer o quê? Seu lazer?
R – Gosto de assistir um filme, ou ficar um pouco na internet também.
P/1 – O que você gosta de ver na internet?
R – Sempre gosto de ver novidades, filmes em lançamento, que está no cartaz, que está no cinema, que já saiu do cinema.
P/1 – Você assiste muito filme?
R – Pouquinho.
P/1 – Qual é o seu maior sonho?
R – Continuar trabalhando na Colgate sempre. Meu grande sonho.
P/1 – O que você achou de contar a sua história para os 90 anos da Colgate?
R – Achei bacana, muito legal, eu gostei bastante desse convite também. Adorei muito o convite, aceitei o convite mesmo e gostei muito, bastante. Eu espero que a minha história motive mais gente.
P/1 – Obrigada.
P/2 – Obrigada.
P/1 – Muito bonita a sua história.
Recolher