Eu me chamo Fernanda e nasci na Região Nordeste do Brasil. Meu pai trabalha em refrigeração, mas no momento está encostado porque sofreu um acidente. E minha mãe é dona de casa. Também tenho um irmão mais novo. Eu me lembro quando eu era pequena, eu era bastante amada pelos meus pais, mas quando eu era pequena meu pai bebia... Ele deixou de beber quando eu tinha uns dez anos, onze anos de idade. Quando ele bebia ele agredia minha mãe e passava dois, três dias para poder chegar em casa. Mas ele foi um bom pai. Fora isso. Eu me lembro que nós íamos à praia todos juntos. Na praia a gente brincava bastante, gostava de brincar de boneca. A minha mãe me prendia muito, mas eu era meio que acostumada, porque eu tinha meu irmão e sempre fomos bem unidos. Aí a gente brincava bastante.
Minha mãe ganhou uma casa pela Prefeitura, aí saímos do aluguel. E lá foram morar várias famílias de bairros diferentes. E tinha pessoas que não educavam os filhos, deixava os filhos soltos, e minha mãe já dava outra educação à mim e à meu irmão. E fomos ficando... Moramos bastante tempo lá, eu fui ficando adolescente, meu irmão também, aí os outros também foram ficando adolescentes, começaram a ficar usuário. Daí minha mãe decidiu vender e morar de aluguel para poder tirar meu irmão daquele ambiente, porque os adolescentes, meus colegas, estavam procurando, a maioria, o caminho errado. E a maioria das meninas estavam saindo de casa cedo, engravidando, a minha mãe ficou com medo que acontecesse a mesma coisa.
Eu ficava na casa dos meus avós, mas era sempre com minha mãe. Minha mãe nunca deixou eu dormir fora... Na casa dos meus avós, porque quando ela ia para lá era porque ela estava sem condições de pagar o aluguel no momento. E eu era bastante apegada a eles, muito. Eles me davam muito carinho. Eu me sentia muito amada por eles. Apesar que eles eram meus avós adotivos. Porque a minha mãe foi adotada por eles. Mas eu me sentia mais...
Continuar leituraEu me chamo Fernanda e nasci na Região Nordeste do Brasil. Meu pai trabalha em refrigeração, mas no momento está encostado porque sofreu um acidente. E minha mãe é dona de casa. Também tenho um irmão mais novo. Eu me lembro quando eu era pequena, eu era bastante amada pelos meus pais, mas quando eu era pequena meu pai bebia... Ele deixou de beber quando eu tinha uns dez anos, onze anos de idade. Quando ele bebia ele agredia minha mãe e passava dois, três dias para poder chegar em casa. Mas ele foi um bom pai. Fora isso. Eu me lembro que nós íamos à praia todos juntos. Na praia a gente brincava bastante, gostava de brincar de boneca. A minha mãe me prendia muito, mas eu era meio que acostumada, porque eu tinha meu irmão e sempre fomos bem unidos. Aí a gente brincava bastante.
Minha mãe ganhou uma casa pela Prefeitura, aí saímos do aluguel. E lá foram morar várias famílias de bairros diferentes. E tinha pessoas que não educavam os filhos, deixava os filhos soltos, e minha mãe já dava outra educação à mim e à meu irmão. E fomos ficando... Moramos bastante tempo lá, eu fui ficando adolescente, meu irmão também, aí os outros também foram ficando adolescentes, começaram a ficar usuário. Daí minha mãe decidiu vender e morar de aluguel para poder tirar meu irmão daquele ambiente, porque os adolescentes, meus colegas, estavam procurando, a maioria, o caminho errado. E a maioria das meninas estavam saindo de casa cedo, engravidando, a minha mãe ficou com medo que acontecesse a mesma coisa.
Eu ficava na casa dos meus avós, mas era sempre com minha mãe. Minha mãe nunca deixou eu dormir fora... Na casa dos meus avós, porque quando ela ia para lá era porque ela estava sem condições de pagar o aluguel no momento. E eu era bastante apegada a eles, muito. Eles me davam muito carinho. Eu me sentia muito amada por eles. Apesar que eles eram meus avós adotivos. Porque a minha mãe foi adotada por eles. Mas eu me sentia mais acolhida por eles do que pela parte dos meus avós legítimos. A casa deles era simples, mas era uma casa que todo mundo que entrava se sentia bem. A pessoa entrava e via felicidade nela.
Minha mãe não era muito brava comigo. Era rígida. E até hoje ela cobra muitas coisas. Ela cobrava estudo, cobrava que eu não me influenciasse com outras amizades, cobrava a hora de acordar, a hora de dormir, a hora para fazer as coisas, mas ela era bastante compreensiva também.
Estudei numa escola até a sétima série... Até a sexta. Depois eu me transferi para outra escola, porque a minha prima começou a estudar lá também. Eu comecei a… Foi na sétima série, eu comecei a me influenciar muito… Igual minha mãe disse: “Não, ela está com a prima dela”, eu ia para casa do meu avô e minha mãe me pegava no final da tarde. Só que eu comecei a me relaxar nos estudos, a conversar mais, porque eu tinha mais intimidade com ela, cheguei até a gazear a aula para ficar conversando. Minha mãe viu que isso estava errado e me transferiu.
Minha mãe me transferiu para uma escola perto de onde eu morava, e eu não me senti bem na escola, não me sentia bem de jeito nenhum, aí minha mãe pegou e me transferiu pra outra escola, que fica aqui próximo de onde eu moro, eu estudei a sétima e a oitava. Depois da oitava série, quando eu já estava cursando a oitava, eu tinha arranjado namorado. Comecei a namorar, ia completar treze anos. Meu pai não queria, mas terminou aceitando. O namoro sempre foi um namoro vai e volta. Acabamos o namoro várias vezes e quando acabou o namoro eu tinha uns quinze anos por aí, minha mãe disse que não aceitava a gente voltar mais. Eu comecei a namorar escondido, minha mãe não queria mais saber de namoro. Quando eu completei dezesseis anos, meu pai pegou e disse: “Ah, se for para estar namorando escondido, é melhor estar namorando em casa”, pegou e aceitou. Quando eu terminei a oitava série estava terminando e tinha reatado o namoro, eu tive que mudar para outra escola, porque o município só fornece até a oitava. Eu tive que me transferir para uma escola do Estado para cursar o primeiro ano. Eu já estava com uns dezesseis anos, eu casei com ele, ele já tinha 21 anos. Passou uns meses depois que eu tinha casado, engravidei, passava muito mal, chegava até a quase desmaiar no meio da rua, ficava muito tonta, aí não ia pra escola.
O meu relacionamento com meu namorado era um pouco conturbado. Porque acabava e voltava várias vezes. Depois que eu tinha casado com ele foi que eu descobri. Eu descobri que ele tinha trinta e sete para trinta e oito anos na época, já tinha três filhas e eu estava gestante, já estava pertinho de nascer o nenê. Quando eu casei com dez dias o nenê nasceu. E a família dele escondeu isso de mim, e ele também, e eu descobri sozinha. Eu me decepcionei bastante, porque na minha opinião se ele tivesse chegado e dissesse: “Olhe, eu me relacionei com uma pessoa, essa pessoa está grávida, se você gostar de mim a gente continua namorando...” Eu gostava dele bastante, então eu ia aceitar. Ia ficar magoada? Ia. Mas eu realmente gostando dele ia continuar. Mas ele não contou… Ele não se abriu para conversar, então quando eu descobri foi um baque, eu fiquei bastante pra baixo, bastante triste.
Aí eu me separei dele, ele ficou insistindo: “Não, mas foi antes da gente casar, eu não estava com você”, e pegou e explicou, porque ele disse que se ele tivesse contado… Ele disse que tinha medo de eu acabar o relacionamento, e eu não iria querer casar com ele e viver com ele. Ele disse que foi esse o motivo.
Depois que eu me casei eu mudei para minha casa. No início do meu casamento eu fui morar... Eu morei uns dois meses com minha mãe, foi uns dois meses, e me mudei, fui morar com ele. Só que houve alguns atritos em relação a mentiras dele e da família dele, eu voltei para casa da minha mãe. Eu demorei uns seis meses, sete com ele, aí descobri que estava grávida, e eu estava na casa da minha mãe, aí voltei a me relacionar com ele. E quando eu descobri que estava grávida eu fiquei bastante feliz, porque eu gostava dele e me senti bastante feliz por estar grávida da minha filha.
Depois que eu ganhei eu estava morando com ele. Tinha voltado e estava morando com ele, e depois que ela nasceu eu cheguei a me separar, acho que umas duas vezes dele. Vai fazer um ano, um ano e meio por aí que estamos casados, morando junto mesmo, sem separar e sem ter confusão.
Depois que eu tive minha filha eu me tornei uma pessoa mais responsável e mais compromissada. Senti vontade de mudar para melhor, porque quando eu a tive, que eu me separei umas duas vezes dele, eu chegava a deixar minha filha com minha mãe, saía para festa com minhas primas, ficava o dia com ela e saía de vez em quando e minha mãe não concordava com isso. Eu tomava conta dela direitinho, mas vez em quando eu queria sair.
Eu fiquei sabendo do ViraVida porque minha mãe foi no Conselho Tutelar, porque na época eu não estava com um relacionamento estável com meu marido, atual marido, e minha mãe pegou, foi lá e conversou com a conselheira tutelar, porque de vez em quando eu estava deixando minha filha para sair e não estava certo isso. Minha mãe pegou e conversou com ela, a conselheira me chamou, conversou comigo e perguntou se eu queria me inscrever, eu disse que queria porque eu já tinha experimentado droga e tinha... Lá está constando que é abandono de incapaz, no caso é minha filha de menor que tinha um ano, quase dois aninhos.
Eu cheguei a fazer trocas de relações sexuais umas duas vezes, por revolta. Foi horrível. Foi umas duas vezes porque eu saía com as minhas primas e minhas amigas também ficavam falando na minha cabeça que eu era muito besta, que não sei o quê, que eu ficava me guardando para uma pessoa que estava nem aí para mim. Só foi mais por isso mesmo. Para falar a verdade era só meu corpo lá e minha mente em outro lugar, porque eu não queria estar, mas ao mesmo tempo eu estava.
Comecei a participar do ViraVida porque a minha mãe tinha me dado vários conselhos anteriores e eu não segui nenhum deles e com o passar do tempo tudo que ela falou, aconteceu. Ela dizia: “Não faça isso que você vai quebrar a cara”, quando chegava mais na frente eu quebrava minha cara. Não segui os conselhos da minha mãe, parei os estudos, casei cedo, quando minha mãe dizia para fazer uma coisa, às vezes eu fazia o contrário. Então eu pensei “a minha mãe está me dando esse conselho, é porque... Dessa vez eu vou escutar ela”.
A minha filha me fez continuar indo ao projeto. Força de vontade de crescer e de dar o melhor à ela, para que ela não venha fazer o que eu fiz, não venha passar pelo que eu passei. Eu quero proporcionar a ela uma escola, uma vida melhor, para que ela venha a se espelhar em mim e fazer o correto. Para quando eu vier a conversar com ela, ela saber me escutar e ter confiança em mim.
Antes de começar o projeto eu era bastante pra baixo, sem expectativa, eu não estava estudando, voltei a estudar quando comecei o projeto e já estou pertinho de terminar.
Eu gostei de todas as atividades no projeto. Os professores foram maravilhosos, e os psicólogos, todos eles, conversavam bastante com a gente e eu sentia bastante confortável, bastante aceita.
O pessoal que fez o curso comigo, várias pessoas comentam, vários colegas meus comentam que entrou no curso como eu, uns entraram apenas pensando na Bolsa, outros entraram pensando em mudar. E conversando a gente vê que o importante do projeto não é a Bolsa em si, mas sim os valores que são passados, porque ficam guardados na nossa mente e eu tenho certeza que o tempo vai passar, mas o que escutamos, o que aprendemos, vai ficar guardado.
Eu fiz o curso de recepcionista, de vendas e de Auxiliar Administrativo. Eu gostei muito da área de vendas e de recepção, porque antes desse curso eu não era uma pessoa muito comunicativa, eu conversava mais com pessoas mais próximas de mim. Depois do curso eu me tornei uma pessoa mais comunicativa e eu me interessei bastante, me identifiquei muito.
Hoje minha diversão mudou, eu gosto de sair muito com a minha filha. Sempre que posso vou à praia com ela e meu marido, logo cedinho para voltar cedo, porque ela é pequenininha ainda. E vou à igreja com ela, saio com minha mãe e ela, porque meu marido não tem muito tempo porque ele trabalha. Então quem passa mais tempo com ela sou eu e minha mãe, mas depois do curso eu não fico muito tempo com ela, porque eu tenho que sair, ela fica um pouco mais tempo com a minha mãe do que comigo e meu marido.
O que aconteceu de mudança comigo é que hoje eu sou uma pessoa mais motivada, uma pessoa que está com a mente mais aberta para entender várias coisas, muitas coisas que se passam na sociedade, na minha vida, aprendi a refletir sobre mim mesma, e tenho metas e objetivos na minha vida, como trabalhar, porque eu já consegui o primeiro emprego através dos cursos que eu fiz e também da área de empregabilidade do SESI, do curso que eu fiz. A moça que fica na área de empregabilidade conseguiu uma entrevista para nós que fizemos o curso, e eu passei na entrevista e consegui o emprego agora. E foi uma das metas que eu já tinha planejado. E depois desse emprego… Se um dia eu sair desse emprego eu não vou parar, eu vou arranjar outro e proporcionar um futuro melhor para minha filha. Eu ainda não sei especificamente com o que eu vou trabalhar, mas é como embaladora ou no caixa.
Depois que entrei no projeto eu voltei a estudar e foi ótimo. Eu passei cinco anos sem estudar, quando eu voltei a estudar foi tudo de novo. Me sentia muito feliz ao ir à escola.
Meu sonho é continuar trabalhando, proporcionar um futuro melhor pra minha filha e ter minha casa própria.
"Nesta entrevista foram utilizados nomes fantasia para preservar a integridade da imagem dos entrevistados. A entrevista na íntegra bem como a identidade dos entrevistados tem veiculação restrita e qualquer uso deve respeitar a confidencialidade destas informações."
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