Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Sebastião Rios
Entrevistado por Ana Maria Bonjour
Rio de Janeiro, 11/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB615
Transcrito por Thiago de Sá
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Queria começar com você dizendo seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Sou Sebastião Rios Correia Junior, eu nasci em Brasília, no dia 20 de maio de 1963.
P/1 – Você pode contar para a gente de uma forma sucinta como foi sua trajetória, seu ingresso na vida cultural, na área cultural.
R – Bom, eu fazia graduação em História, entrei em 1982 no curso de História da Universidade de Brasília e da metade do curso pra frente eu fui me interessando pela área de cultura, então sempre estudei muito literatura, música, e depois fiz pós-graduação na área estudando literatura brasileira e sempre trabalhei com crítica, com história da arte e da cultura brasileira e o meu envolvimento com a parte de produção é mais recente, eu basicamente estou iniciando com esse projeto aprovado agora pelo Programa Petrobras Cultural 2004 que é a produção de um disco, CD do Reinado do Rosário.
P/1 – Fala um pouco desse projeto pra gente, como que é?
R – Esse projeto é o registro em áudio das músicas da festa do Reinado do Rosário. A festa do Reinado do Rosário também é conhecido como Congado, são quase sinônimos, o Reinado é uma coisa um pouco mais ampla que o Congado. Então é uma festa tradicional e esse projeto especificamente trabalha com o município de Itapecerica, lá a irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é de 1818, então a festa já existia desde então, um dos fundamentos dessa irmandade era cuidar da festa, então ela já existia em 1818, e o projeto então é isso, é registrar as músicas, os cantos, melodias, vários ritmos dessa festa e é uma festa que tem uma influência muito grande da população descendente de escravos...
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Depoimento de Sebastião Rios
Entrevistado por Ana Maria Bonjour
Rio de Janeiro, 11/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB615
Transcrito por Thiago de Sá
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Queria começar com você dizendo seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Sou Sebastião Rios Correia Junior, eu nasci em Brasília, no dia 20 de maio de 1963.
P/1 – Você pode contar para a gente de uma forma sucinta como foi sua trajetória, seu ingresso na vida cultural, na área cultural.
R – Bom, eu fazia graduação em História, entrei em 1982 no curso de História da Universidade de Brasília e da metade do curso pra frente eu fui me interessando pela área de cultura, então sempre estudei muito literatura, música, e depois fiz pós-graduação na área estudando literatura brasileira e sempre trabalhei com crítica, com história da arte e da cultura brasileira e o meu envolvimento com a parte de produção é mais recente, eu basicamente estou iniciando com esse projeto aprovado agora pelo Programa Petrobras Cultural 2004 que é a produção de um disco, CD do Reinado do Rosário.
P/1 – Fala um pouco desse projeto pra gente, como que é?
R – Esse projeto é o registro em áudio das músicas da festa do Reinado do Rosário. A festa do Reinado do Rosário também é conhecido como Congado, são quase sinônimos, o Reinado é uma coisa um pouco mais ampla que o Congado. Então é uma festa tradicional e esse projeto especificamente trabalha com o município de Itapecerica, lá a irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é de 1818, então a festa já existia desde então, um dos fundamentos dessa irmandade era cuidar da festa, então ela já existia em 1818, e o projeto então é isso, é registrar as músicas, os cantos, melodias, vários ritmos dessa festa e é uma festa que tem uma influência muito grande da população descendente de escravos africanos do município, é um município antigo de Minas Gerais, um dos dez mais antigos e de origem com a produção mineradora, então o projeto é isso, é fazer o registro com depoimentos, com registro fotográfico e isso vai gerar um produto que é um CD duplo com as músicas, acompanhado do encarte com as letras e mais um livreto com depoimentos e com a história da festa e uma contextualização disso.
P/1 – Fala um pouquinho como que é a festa pra gente.
R – Bom, é uma festa de coroação, a coroa tem uma simbologia muito forte, já tinha na África, no reino do Congo, em Angola, os rituais de sagração, coroação de reis e dentro do espaço das irmandades Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos esses escravos ou às vezes não escravos, mas negros, faziam seus rituais de coroação e geralmente ligado a um santo padroeiro, normalmente Nossa Senhora do Rosário que é mais preponderante, depois São Benedito, Santa Efigênia e também Nossa Senhora das Mercês, então eles fazem uma reprodução de rituais que se encontram em Portugal, mas que também são encontráveis na África, é a cerimônia política e religiosa e evidentemente que a própria figura do rei, da realeza, da coroa, do cetro, como toda monarquia, mistura esses dois elementos do político com o religioso, quer dizer, o rei é também o sacerdote, tem esse poder de contato com o mundo que não é o mundo físico, com o mundo dos espíritos que na cultura (bacongo?), banto, ele atua muito proximamente ao nosso mundo. Essas festas reproduzem esses rituais de coroação, esses escravos ou às vezes negros forros, eles eram buscados por uma guarda em sua casa, faziam um cortejo pela rua levando suas coroas, depois eles eram coroados numa cerimônia, geralmente na Igreja Nossa Senhora do Rosário, e voltavam pra suas casas, acontecia toda uma festa. Então essa festa entra, o que seria especificamente, ela tem um núcleo central que é sexta-feira, sábado e domingo, são três dias de festas, e esses ternos, essas guardas vão tocando, têm uma parte percursiva muito forte e os capitães que comandam esse grupo vão improvisando festas, cantando a sua devoção a esses santos católicos e com rituais, com gestos que vêm de uma cultura, em geral, banto. Então a festa é isso, são esses cortejos pela rua, esse ritual de coroação, daí a idéia do reinado e como geralmente o rei é chamado o Rei do Congo ou Rei Congo, também tem o nome de Congado. Então é esse desfile, esse cortejo na rua, com muita música, muita dança e os capitães improvisando versos, porque não tem uma estrutura rígida e fixa, se acontece algum evento na festa, o capitão vai fazer um verso referindo aquilo que acontece no momento, tem um pouco da estrutura do repente e a festa é isso, o que nós estamos registrando é isso.
P/1 – E como foi essa idéia de fazer esse registro? O que ele traz pra comunidade?
R – Primeiro, essa idéia já vinha de algum tempo, é uma festa muito bonita, muito tradicional, que eu já conheço há algum tempo, então Itapecerica é a cidade dos meus pais, que eu freqüento desde menino – isso é uma coisa muito minha – também Folias de Reis que eu conheci quando menino, na fazenda, então já de algum tempo eu tenho meu interesse voltado pra essa área de patrimônio e material, de fazer o registro disso, fazer o estudo e de divulgar. Essas festas são uma coisa que, pra mim, muito presente e também a minha formação de historiador, a gente trabalha com memória, com identidade, a vontade de preservar isso e de valorizar as pessoas que fazem isso, porque a festa é uma festa de descendentes de ex-escravos e tem uma coisa assim que nem todas as pessoas da cidade fazem gosto na festa, assim como boa parte da população urbana não conhece, não sabe o que é. Então fazer esse registro é uma forma de preservar, é uma forma de divulgar, isso evidentemente, pra mim, pessoalmente, é uma satisfação, é um prazer, é uma contribuição importante que a gente pode dar, mas também tem o lado dos realizadores da festa que a partir do momento que eles conseguem fazer um registro disso, que eles conseguem participar de uma seleção acirrada como é a seleção Petrobras Cultural e estar entre um dos 150 projetos contemplados, isso tem um impacto muito positivo dentro da cidade, quer dizer, a festa de negros – hoje ela é muito mestiça, originalmente era uma festa de negros – mas de qualquer jeito, uma festa da cultura popular, do universo da oralidade que vai um pouco à margem da educação formal, isso tem um impacto muito interessante na cidade que aquelas pessoas que costumavam olhar meio de rabo de olho pra festa, a partir do momento que professores da universidade, que agentes culturais do Ministério da Cultura, de um programa importante como esse da Petrobras Cultural valorizam isso, eles começam a pensar: “Opa, tem alguma coisa aí que nós não estamos vendo, mas que outras pessoas valorizam.” Então isso é bacana e muito interessante e, óbvio, o projeto em si também gera um produto que a Associação do Reinado do Rosário, que é uma entidade civil sem fins lucrativos, vai receber, poderá vender, poderá com isso capitalizar e continuar sua promoção da festa, tem um pouco de empoderamento, quer dizer, é uma possibilidade dessa associação também se divulgar, se fortalecer, fortalecer seu papel de representante dessa comunidade. É um projeto muito bonito que dá muito gosto de fazer, dá muito trabalho também mas...
P/1 – ______, você falou agora, quais são as maiores dificuldades que existe hoje, em trabalhar hoje no Brasil na área cultural?
R – Bom, a gente tem um espaço em que produzir as coisas até já não é tão complicado, a tecnologia digital barateia muito esse tipo de produção, não que seja muito barato, não é, mas assim, de qualquer jeito, hoje você fazer um filme, fazer um CD, fazer uma coisa bem feita, já não é tão caro. Os equipamentos são cada vez menores, mais fáceis de transportar, por exemplo, um registro desse, a gente fez com uma equipe – a equipe de gravação devia ter umas 8 pessoas – é uma equipe relativamente pequena. O problema disso é a distribuição, quer dizer, é a rádio veicular, uma rádio comercial que aí envolve outros interesses, a veiculação disso, a presença disso na mídia, na televisão ou mesmo no circuito dos teatros, tirar um grupo desse, porque eles não são músicos, o que eles fazem é uma função religiosa, então seria interessante que isso fosse parar no Centro Cultural do Banco do Brasil, rodasse Rio de Janeiro, São Paulo ou em circuitos universitários, e hoje existe muita coisa nesse sentido, mas ainda isso não entra ou não entrou até hoje na mídia radiofônica, televisiva. A gente espera que, com um projeto dessa natureza, a gente consiga ampliar o espaço de divulgação disso, mas isso mexe com um problema que é muito maior que esse projeto que é a democratização e o controle social sobre os meios de comunicação, é um vespeiro. Esse, hoje, me parece que é um gargalo pro nosso patrimônio material, pra veiculação dessas festas mas, de qualquer forma, eu acho que o próprio conceito de patrimônio material e o próprio decreto que permite o registro de festas, de conhecimentos, de saberes, de cantos, abre um espaço pra isso, no momento ainda um espaço restrito mas a TV nacional tem feito documentários, eu acho que os ventos estão soprando a favor no momento.
P/1 – Você acha que aconteceu uma mudança nos últimos anos nessa área?
R – Ah, eu acho, eu acho não, isso é fato até como uma resposta à globalização que tem uma tendência extremamente homogeinizadora em termos de cultura, as pessoas, o mundo, as cidades vão ficando todas muito iguaizinhas e há uma tendência, as pessoas recuperarem a sua memória, a sua identidade, o que é específico, então o final da década de 90 e o início dos anos 2000 tem uma cultura que tem favorecido o registro e a divulgação do patrimônio material. E aí ressurgiram artistas que estavam esquecidos, ali do Itamaracá, em Pernambuco, um cantor, compositor e fabricante de instrumento que é coisa muito típica quando a gente trabalha cultura popular, porque às vezes o cara que é músico ele também fabrica o instrumento. O Zé Coco do Riachão, nomes que ninguém conhecia começaram a ser veiculados, então eu acho que esse é um momento muito importante e coincide com toda essa criação do Departamento de Patrimônio e Material pelo (IFAM?) e esse trabalho que tem sido realizado e a própria Petrobras, é a primeira vez que eu tenho conhecimento que uma empresa desse porte, que tem uma linha de patrocínio cultural, apresenta rubrica “Patrimônio e Material”, pra gente que trabalha nessa área, com certeza um alento.
P/1 – Uma grande transformação.
R – Isso, uma grande transformação e extremamente positiva.
P/1 – E o outro lado, a população, como você acha que está sendo a receptividade desse?
R – Bom, os reinadeiros, aqueles que fazem a Festa do Reinado, evidentemente o meu papel é duplo nesse projeto porque eu sou o coordenador, eu sou um pesquisador da área mas eu também sou o procurador da Associação do Reinado do Rosário de Itapecerica, Minas Gerais. Então, em 2002, quando eu tive conhecimento pelo Correio Brasiliense do Programa Cultural Petrobras, que tinha na área de música um interesse naquele acervo vivo, eu fiz a proposta pra eles e eles acharam excelente, toparam, deram todo o apoio e tiveram todo o interesse em trabalhar no registro, porque o nosso registro foi feito durante a festa, os grupos tinham que sair da festa, deixar sua função de levar seus reis, suas rainhas, mordomos, Princesa Isabel, pra vir para um estúdio que foi montado e fazer o trabalho de gravação com a maior boa vontade e sabendo muito bem a importância disso, a importância do registro que eles têm pra eles, que receberam todo o material, a gente vai editar um CD que tem dois CD’s de 72 minutos, nós temos dezoito horas de gravação, essas dezoito horas vão ficar com a Associação e eles têm muita consciência da importância disso, eles já têm um processo, não muito avançado, mas já começado de recolhimento de rezas, de objetos de culto, e sabem que este momento dessa gravação é um passo no registro do Reinado do Rosário, do Congado como bem cultural de natureza e material. Então a receptividade da parte deles é muito grande e isso envolveu muito diretamente a comunidade, não é algo que eu tenha visto e tenha proposto e eles simplesmente resolveram topar fazer, não, eles estão no barco, estamos juntos e é algo que tem gerado muito orgulho e muita satisfação da parte das pessoas e a gente vê esse projeto nesse momento como um passo, e nós queremos dar outros, criar o museu do Reinado e divulgar a festa, então é muito bonito isso porque você associa saberes muito distintos, um saber acadêmico, um saber que foi forjado na Universidade, tem essa tendência mais universalista e um saber que é local, que não é letrado, tem muitos capitães do Reinado, muitos não, mas alguns capitães que não são sequer alfabetizados, mas eles trazem uma tradição milenar, secular, e a gente às vezes pensa: “Vou lá, vou conversar com o cara de umas coisas que são muito distantes do universo dele, ele não vai entender”. Talvez ele não perceba todas as conexões disso, mas é uma parceria que é muito interessante, eles sabem que o que está sendo feito é o registro da festa, é a memória, e que isso é um material importante pra a educação de novos reinadeiros, novas gerações, isso é um material que fica disponível pra bailarinos, para músicos, para poetas e tem um impacto na comunidade muito interessante, e a gente percebe isso ao ver que eles se mobilizam pelo projeto, não é algo que foi proposto e aceito, é algo que foi incorporado, assumido e é uma parceria muito interessante porque junta saberes diversos, mas complementares.
P/1 – Você falou da valorização da cultura nacional no âmbito até do patrocínio, mas na sociedade, no Brasil, como é essa recepção? Você acha que tem mudado, está mais aberta?
R – Eu já fiz algumas brincadeiras com o processo, que a gente já tem muitas músicas gravadas e, de vez em quando, eu junto alguns amigos, estudantes e tal, sem que eles saibam, eu boto meu CDzinho que está gravado e começo a tocar os sons do Reinado do Rosário, do Congado. As reações são as mais diferentes possíveis, tem gente que com meia hora pede pelo amor de Deus para tirar aquilo porque quer escutar seu Ivan Lins e seu Chico Buarque, tem outras pessoas que, de repente, estão ali sem saber por que estão dançando, estão balanceando, que é um termo que eles usam: “Eu já estou balanceando.”. O que eu percebo é que, de um modo geral, as pessoas só podem gostar daquilo que conhecem. “E a sociedade, como é que faz?”, “Olha, eu não sei, eles não conhecem.”. De um modo geral, a rádio, a televisão não veicula esse tipo de manifestação, eu espero que essa abertura se fortaleça, eu vejo ela como uma coisa que o Estado tenha induzido, mas isso é uma função do Estado mesmo, o mercado ele vai atrás de lucro, ele vai veicular aquilo que a maioria das pessoas querem ouvir e que lhe dá retorno, até aí está tudo certo, tudo bem, e eu acho que o Estado cumpre essa função de veicular coisas que tenham um fundamento histórico mais preciso, eu tenho impressão que o produto que a gente está fazendo não vai virar um hit, não vai virar um mega sucesso, mas eu também tenho impressão que ele tem espaço de penetração e que de um modo geral existe uma abertura, e a gente vê isso, esse último prêmio TIM, óbvio com o apoio da Maria Bethânia, foi dado pra uma senhora do recôncavo baiano, Dona (Edith?) do Prato, uma música bastante tradicional, então eu vejo um crescimento dessa música tradicional e o que é mais alvissareiro, uma penetração disso muito forte junto ao público jovem. Meninos buscando sons de quem tem 80 anos de idade cantando as coisas do bisavô, então eu tenho esse sentimento, eu não tenho como quantificar isso, mas eu tenho um sentimento de que há uma abertura na sociedade e há uma abertura na juventude pra essa busca das nossas festas, das nossas manifestações e essa muito especificamente é interessante também no sentido de que a cultura negra no Brasil é muito identificada com os povos Iorubá, ____, _____, _____, o terreiro de candomblé, os orixás. A festa do Reinado do Rosário, o Congado vem de uma outra tradição que é Congo, _______, que é Banto, e essa por incrível que pareça mais presente e menos conhecida, isso aí também pra mim é algo que eu acho que as pessoas têm vontade de saber mais, eu sou um otimista!
P/1 – Certo, com certeza! O que significou pro seu projeto o patrocínio da Petrobras?
R – Significa muitas coisas, primeiro, sem dinheiro a gente não faz nada, a partir do momento que a gente tem esse resguardo material, essa estrutura, isso viabiliza materialmente o projeto, pra começo de conversa isso é o básico, agora, tem muito mais coisa aí, isso é um título, você se apresentar como: “Eu sou o coordenador de um projeto que foi aprovado pela seleção Petrobras Cultural”, quer dizer que o projeto teve uma chancela de competência, de seriedade, de clareza de objetivos, então é um projeto bem feito, bem realizado, pra quem elaborou o projeto e submeteu, evidentemente vale como um prêmio, pra a Associação Reinado do Rosário, isso implica colocá-los num espaço até um pouco tempo inimaginável, a gente abre a página da Petrobras, as fotos do Reinado do Rosário estão lá, a rádio Itatiaia em Minas está veiculando a festa do Reinado do Rosário, isso aí é ganhar o mundo, e pode vir a ser mesmo ganhar o mundo porque a partir desse primeiro movimento nós inscrevemos o projeto no Espaço Brasil, no ano do Brasil na França, quer dizer, estamos concorrendo pra ser um dos representantes do estado de Minas Gerais no espaço que o Estado tem em Paris. O patrocínio Petrobras não é só dinheiro, quer dizer que entre os três mil projetos inscritos, 2.200 pré-selecionados, o comitê que fez esse julgamento considerou esse projeto bom, factível e isso, evidentemente, tem um peso, abre muitas portas. Óbvio, muitos projetos bons não foram selecionados, pelo fato de não ser selecionados não implica desdouro nem demérito, mas ser selecionado tem esse valor agregado.
P/1 – Com certeza, uma seleção árdua, né?
R – É uma seleção muito competitiva.
P/1 – E qual é a importância da Petrobras no Brasil hoje como patrocinadora cultural?
R – Olha, se outras empresas tivessem esse papel da Petrobras eu acho que a gente, pelo menos quadruplicava o volume de dinheiro investido em cultura, e cultura é um excelente investimento, isso tem retorno. Tem retorno em termos práticos, pragmáticos, financeiros como produto vendável no mercado também tem um retorno que é mais sutil, que é o retorno da auto-estima, que é o retorno da identidade, que é o retorno da nossa capacidade de fazer coisas bonitas e ganhar o mundo. Em termos de orçamento que a Petrobras investe em cultura, o Ministério da Cultura não tem, do orçamento do Governo Federal, não vou citar números, mas é imensamente maior esses 60 milhões que a Petrobras colocou no ano de 2003 na área de cultura, então isso tem um impacto muito grande a ponto de boa parte dos produtores culturais no Brasil inteiro estarem de olho na divulgação da seleção Petrobras Cultural. Foi até uma coisa que o Ministro Gilberto Gil falou aqui, na cerimônia de lançamento, a Petrobras tem o potencial catalisador, isso pode trazer Caixa Econômica Federal, Correios e mesmo as empresas privadas pra um papel mais ativo na área do patrocínio cultural. A importância da Petrobras hoje no país, hoje não, já de muito tempo, na cultura e também no esporte, é algo assim de imenso valor e com certeza de grande retorno para o país e pra a empresa também.
P/1 – Um pequeno país, né?
R – É, um pequeno país!
P/1 – Você tem alguma sugestão para a Petrobras na questão de patrocínio?
R – Olha, o que eu vi da área de música, da área de patrimônio e material me pareceu que os critérios eram muito pertinentes, de diversidade de manifestações, de diversidade regional, agora parece que a mesma coisa não aconteceu na área de cinema, a área de cinema continuou muito concentrada, isso foi um, quando foi feito o lançamento, eu tenho amigos e colegas na área que se queixaram disso e eu acho que tinham alguma razão, acho que esse mesmo critério da diversidade regional, de manifestações, pode ser levado mais em conta na área de cinema – que é a produção mais cara – e talvez nesses produtos culturais, o de mercado mais amplo também, tanto é mais caro como também é o mais rentável pras boas produções, ou para aquelas que conseguem uma veiculação. Então isso me parece que é uma coisa que realmente pode ser ajustada mas, da área de patrimônio e material, da área de música, os critérios apresentados me pareceram muito pertinentes, a valorização do que não está na mídia, do que não está no mercado e do que tem importância para a identidade do país, pra nossa formação enquanto nação. Para uma empresa que está no mercado, mas que é uma empresa estatal, essa preocupação me parece muito válida, muito apropriada, com relação a isso, só os parabéns, bater palmas de pé e que continue assim.
P/1 – O que você achou de ter participado do Projeto Memória Petrobras?
R – Eu acho importante porque está pegando depoimento da outra ponta, das pessoas que recebem o patrocínio, que estão fazendo os projetos e que estão deixando um depoimento sobre a importância desse patrocínio, então eu acho que é uma iniciativa muito bem-vinda, a gente precisa sempre pensar o que faz, corrigir os rumos, eu acho que é uma iniciativa bem-vinda e muito apropriada. E fico também muito feliz em, entre os muitos patrocinados da Petrobras, ter sido um dos convidados, não sei se o programa vai convidar todos, e vai registrar o depoimento de todos – é uma tarefa hercúlea e muito grande – mas é também um espaço que a gente tem pra divulgação do que está fazendo, enfim, um depoimento de quem está na área de produção cultural, acho muito bacana.
P/1 – Está bom, eu queria agradecer, Sebastião, a contribuição, e é só.
R – Por isso muito obrigado também e parabéns pra vocês.
P/1 – Obrigada.
(fim da entrevista_______).
Bacongo
IFAM
Edith
Projeto Memória dos Trabalhadores Petrobras
Depoimento de Álvaro (Luis?) Caetano
Entrevistado por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 11/11/2004
Realização Museu da Pessoa
Depoimento MPET_CBPAT 05
Transcrito por Thiago de Sá
R – Você vai perguntar, né?
P/1 – Eu faço umas perguntinhas e a gente vai e conversa, é muito simples, não tem...
R – Sem problema.
P/1 – Está bom?
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Eu gostaria de começar então a entrevista, pedindo que o senhor diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Álvaro (Luis?) Caetano, nascido em 15/9/49, 55 anos em Mangueira, Rio de Janeiro.
P/1 – Senhor Álvaro, o senhor pode contar um pouco da sua trajetória? Como é que o senhor chegou, o que o senhor faz hoje?
R – Como eu já disse, eu nasci em Mangueira e vivi toda minha vida, nasci e me criei em Mangueira, me casei em Mangueira, meus filhos nasceram em Mangueira, meus pais nasceram em Mangueira e como toda pessoa que nasce mangueirense nasce com o samba no sangue, comigo não foi diferente, eu vivia minha vida toda próximo a Estação Primeira de Mangueira, desde os tempos de criança tomando conta de carro na porta dos ensaios, e hoje eu exerço a função de presidente da Estação Primeira de Mangueira.
P/1 – O senhor pode falar um pouco o que é ser presidente da Mangueira que tem todo esse carisma pro Brasil inteiro, não só pro Rio?
R – Realmente é uma situação especial, um orgulho muito grande, nós que amamos a Estação Primeira de Mangueira, que aprendemos a conviver com essa emoção enorme que é a emoção do Carnaval, que é a emoção do desfile das escolas de samba e chegar a posição de presidente é realmente uma emoção muito grande. Agora, a Mangueira é uma escola de samba que, no decorrer do tempo, se transformou também numa escola de vida, nós desenvolvemos muitos projetos sociais na Mangueira, projetos esses que têm, com certeza, dado uma oportunidade de vida melhor pras pessoas da comunidade da Mangueira e a gente tem um orgulho muito grande de participar disso diretamente enquanto presidente da escola e isso nos deixa muito felizes porque a Mangueira, hoje, é considerada mundialmente como o projeto social mais importante dos países em desenvolvimento, isso reconhecido pela Unesco, reconhecido por entidades de todo o mundo e...
P/1 – Pode falar então um pouquinho desse projeto social que vocês estão desenvolvendo? Qual é o nome?
R – Veja só, a Mangueira tem um projeto social que está completando agora 18 anos que é o Projeto Olímpico da Mangueira, um projeto que culminou agora na Olimpíada de Atenas com quatro atletas que iniciaram no projeto da Mangueira participando da Olimpíada. Nós temos um projeto profissionalizante na quadra da Mangueira, aliás, a quadra da Mangueira, o nome da quadra é Centro Cultural Mangueira Petrobras, é uma parceria da Mangueira com a Petrobras que nos dá a possibilidade de desenvolver, desenvolvemos 26 cursos profissionalizantes.
P/1 – Nesse centro cultural?
R – Nesse centro cultural, onde nós realizamos também os nossos ensaios. Durante a semana e no período de recesso do Carnaval ela se transforma numa grande sala de aula, num centro cultural onde esses projetos são desenvolvidos, são projetos de uma ocupação imediata das pessoas que fazem esses cursos, nós temos lá curso de manicure, de esteticista, de cabeleireiro, curso de inglês, curso de espanhol, curso de telemarketing, curso de informática, esses cursos proporcionam às pessoas da comunidade da Mangueira uma possibilidade de uma complementação financeira, haja visto, por exemplo, a pessoa que se forma lá em manicure, já no dia seguinte bota lá uma plaquinha “Faz-se Unha” e tal e já tem um complemento na sua renda, a finalidade maior desse projeto é a ocupação do jovem, é a ocupação do adolescente, dar a ele uma perspectiva melhor de vida, quer dizer, ocupá-lo pra que ele não fique ocioso e, com isso, descambe pra caminhos que não são caminhos que devem ser seguidos, a Mangueira já 18 anos desenvolve esse projeto, sente-se orgulhosa de fazer isso e com certeza nós temos convicção que nós estamos fazendo a nossa parte – apesar de ser pequena – nós estamos fazendo a nossa parte pra um futuro melhor.
P/1 – Quais são as dificuldades que o senhor encontra nesse trabalho?
R – Olha, as dificuldades que nós encontramos, como todos em comunidade carente, são os recursos pra que isso seja feito. A Mangueira, graças a Deus, a gente tem muitos parceiros, muitos padrinhos, muitos patrocinadores mas mesmo assim a gente encontra dificuldade porque, veja bem, deixa eu te dar mais ou menos uma explicação do que ocorre: nós trazemos a criança no horário em que ela não está na escola, nós trazemos pro projeto social da Mangueira, aliás, uma das condições pra participar do projeto social da Mangueira é estar estudando, então nós temos que arranjar uma forma de trazer essa criança pro nosso projeto e que ela sinta a vontade, sinta prazer e que seus responsáveis também assumam a responsabilidade de mandá-los pro nosso projeto, então a dificuldade que nós encontramos é porque você sabe que nessas comunidades carentes as pessoas têm uma possibilidade, infelizmente, de seguir outros caminhos que num primeiro momento dá a impressão que é um caminho promissor mas que normalmente leva à pouco tempo de vida, leva à destruição. Então nós temos que fazer o máximo possível pra que essas crianças venham, nós temos que convencê-lo a participar e temos que convencer os seus pais a trazê-los, a fazê-los vir para o nosso curso, além de oferecer essa gama de possibilidades de estudo e de formação profissional, nós oferecemos, por exemplo, cestas básicas pra essas famílias, porque veja só, uma criança, pra receber a cesta básica, ela tem que ter um número X de freqüência no projeto, então o pai, a mãe, ele sente necessidade de obrigar o seu filho a ir para aquele projeto num primeiro momento até pra que ele tenha possibilidade de, ao final do mês, estar recebendo aquela complementação alimentar que é a cesta básica. Então nós temos muita dificuldade nisso mas, felizmente, a Mangueira tem conseguido ultrapassar esses obstáculos, essas dificuldades, o nosso projeto hoje é um projeto que tem, aproximadamente, 35 mil m² de área construída, envolve em torno de 10 mil pessoas entre crianças, adolescentes, adultos, idosos, é um projeto que, pra você ter uma idéia, ele vai na parte de educação, por exemplo, do CA, do Curso de Alfabetização à faculdade, a Mangueira tem uma faculdade administrada pela Estação Primeira de Mangueira, é uma faculdade de informática e de pedagogia, o posto de saúde que atende à comunidade da Mangueira é um posto de saúde da Estação Primeira de Mangueira em parceria com os órgãos públicos, a Estação Primeira de Mangueira agora recentemente construiu dentro da comunidade, dentro da favela, dois mini-postos de saúde que são administrados e bancados pela Estação Primeira de Mangueira pra atender essa população, a gente tem feito o máximo pra alcançar o objetivo de dar àquela comunidade uma perspectiva e uma possibilidade de vida melhor. Lógico que eu já estou com 55 anos, sou nascido e criado em Mangueira, meus pais são nascidos em Mangueira, meus filhos são nascidos em Mangueira, a gente conhece um pouco das dificuldades daquelas pessoas e, conhecendo essas dificuldades, a gente procura fazer o máximo possível pra minorar um pouco esses problemas.
P/1 – E o retorno... então, peraí, só pra gente voltar, a partir do centro cultural é que esses projetos todos profissionalizantes, ligados ao esporte, é que eles se irradiam...
R – Não, não, não.
P/1 - ...eles estão centrados no centro, como é que funciona?
R – Não, o Centro Cultural Mangueira/Petrobras é onde se desenvolvem os cursos profissionalizantes.
P/1 – Só os profissionalizantes?
R – Os cursos voltados pra área de esporte, quer dizer, o nosso projeto olímpico é um projeto que já tem 18 anos e que é uma parceria com uma outra empresa, mas o Centro Cultural Mangueira/Petrobras é na nossa quadra de ensaios que durante o ano se transforma numa grande sala de aula pros cursos profissionalizantes e alguns outros não-profissionalizantes, como por exemplo, de educação, não é o caso de espanhol e inglês que nós ministramos esses cursos lá, mas o principal desse centro cultural é justamente a parte profissionalizante e a parte cultural. Lá nós preparamos nossos futuros ritmistas, nossas futuras passistas, o pessoal envolvido com escola de samba.
P/1 – Tem aula de dança também?
R – Aula de dança, algumas pessoas, inclusive hoje, já temos a satisfação de ter algumas pessoas que iniciaram conosco, já estão trabalhando profissionalmente na cultura, na dança, outros de ritmistas, trabalhando já com percursão em casas de espetáculos do Rio de Janeiro e até fora do Rio de Janeiro e do Brasil.
P/1 – E vocês já estão vendo até um retorno.
R – Ah, sim, o retorno nós já temos, esse projeto é um projeto que tem 18 anos, e esse projeto olímpico que tem 18 anos e o projeto do Centro Cultural Mangueira/BR já tem cinco anos, cinco pra seis anos, então nós já temos retorno, nós temos satisfação, uma alegria muito grande de ter, por exemplo, o reconhecimento do Juiz da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro que atestou que a comunidade da Mangueira é a comunidade com o menor índice de menores infratores e o maior índice de menores na escola, nós temos o reconhecimento do delegado da 17ª Delegacia dizendo que no Morro de Mangueira, as crianças do Morro de Mangueira são mais distantes do tráfico que as crianças de outras comunidade, nós temos a satisfação, por exemplo, de ter atestados e vermos agora já se formando pessoas na informática numa faculdade administrada pela Estação Primeira de Mangueira, nós temos um curso chamado (Camp?) Mangueira que coloca o jovem no mercado de trabalho, mesmo que modestamente como office-boy ou como auxiliar de escritório, mas nós já temos mais de 2000 pessoas trabalhando, quer dizer, e com isso ficando distante daquela possibilidade de seguir por um caminho mais difícil.
P/1 – A escola de samba assumiu um lado de responsabilidade social também, né?
R – Exatamente.
P/1 – Isso é um lado naturalmente que foi acontecendo, essa preocupação?
R – É, isso foi acontecendo, eu acho que no caso específico da Mangueira isso deve-se ao fato de os presidentes, a Mangueira é uma escola de samba altamente democrática, nós temos eleição de três em três anos pra presidente da escola, qualquer associado com mais de cinco anos de sócio e com mais de 35 de idade pode se candidatar a presidente, mas felizmente, talvez a maioria dos presidentes da Mangueira, principalmente nos últimos anos, são pessoas da comunidade da Mangueira, nascida e criada na Mangueira, conseqüentemente essas pessoas conhecem os problemas da Mangueira e a partir de um determinado momento resolveu pegar a Estação Primeira como porta-voz dessa comunidade e, de alguma forma, trazer projetos e trazer esse trabalho pra melhorar um pouco a vida dessas pessoas. Isso começou em 1987 com Carlos Dória, que era presidente na época, e se estende até hoje graças a Deus com sucesso, o nosso projeto é um projeto – como eu já disse – é um projeto reconhecido, é um projeto que tem um parceiro há 18 anos, o mesmo parceiro e, com certeza, vai nos dar muita alegria, satisfação e, principalmente, a certeza que nós temos que nós temos problemas na nossa comunidade, mas com certeza bem menores que nas outras comunidades carentes.
P/1 – E esses problemas, vocês estão também tentando conciliar?
R – Com certeza!
P/1 – Vocês têm algum outro projeto novo?
R – A cada dia que passa nós procuramos de alguma forma trazer o jovem, trazer a criança, trazer o adolescente, pros projetos da Mangueira. É lógico que o sucesso desses projetos mexe com o brio, mexe com a vontade dos outros participarem, nós temos agora na Olimpíada, nós tivemos uma atleta que foi titular da Seleção Brasileira de Basquete, quer dizer, um pessoa do projeto da Mangueira, isso é uma coisa que chama as outras pessoas pra participar. Tivemos no revezamento 4x100m, um dos corredores iniciou o trabalho na Mangueira.
P/1 – Isso atrai, né?
R – Exatamente! Isso atrai e como se não bastasse isso, na verdade, o projeto da Mangueira em si, ele já atingiu uma situação que hoje os próprios pais, os próprios responsáveis se encarregam de encaminhar os seus filhos pro projeto porque essas pessoas, os pais, os responsáveis, também já foram participantes do projeto da Mangueira. Na verdade, hoje, a gente tem pessoas que iniciou no projeto da Mangueira com dez, 12 anos e eles estão com 28, 30 anos, então, já encaminha os seus filhos pra participar desse projeto, é um projeto que cresce a cada dia, a cada mês, é um projeto que tem – como eu já disse – um apoio muito grande dos parceiros e, com certeza, esse projeto vai continuar fazendo sucesso por aí.
P/1 – E do apoio da Petrobras, o que o senhor acha?
R – O apoio da Petrobras é fundamental pra esse projeto da Mangueira, como eu lhe falei, o nosso projeto começou na Vila Olímpica da Mangueira, o Projeto Olímpico e, posteriormente nós trouxemos três centros para a quadra de ensaio da Mangueira, que se chama Centro Cultural Mangueira Petrobras, e desde que nós trouxemos esse projeto para cá a Petrobras é nossa parceira através da BR, nós já temos alcançado muito sucesso com esses projetos, hoje nós temos em nossa quadra 26 cursos profissionalizantes, esses cursos já com pessoas formadas, com pessoas inclusive já desenvolvendo o trabalho, a profissão pela qual se formou...
P/1 – Eles ganham certificado?
R – Ganham certificado, tem vários cursos, nós fizemos agora um curso de arraes, que é o piloto, o mestre de embarcação, e esse curso é ministrado na Mangueira, eles fazem prova na Marinha, tem lá uma turma de uns 80, todos já com a carteirinha da Marinha, aptos a navegar pela baía, e agora vai ter uma prova para bombeiro do Estado do Rio de Janeiro, o ano passado, até foi o que nos fez iniciar esse curso, o ano passado o bombeiro não conseguiu preencher o número de vagas porque não havia pessoas capacitadas, hoje só a Estação Primeira de Mangueira está mandando em torno de 80 pessoas capacitadas a prestar esse concurso pro Corpo de Bombeiro. Isso é uma perspectiva de emprego...
P/1 – E como vocês montam esses cursos, é pela sugestão da própria comunidade?
R – Sugestão da comunidade, hoje a gente vai pela sugestão da comunidade, a gente vai pela possibilidade de colocação no mercado de trabalho e principal, nós procuramos fazer curso em que a pessoa tenha possibilidade, os adultos, os mais velhos, tenha a possibilidade de mais rapidamente possível ter uma complementação dos seus ganhos, então esses cursos de cabeleireiro, de esteticista, de manicure, esses cursos são importantíssimos, outra coisa que nós colocamos muito fortemente são os cursos voltados para as artes e essas pessoas são utilizadas profissionalmente no próprio barracão da Mangueira quando se aproxima o Carnaval trabalhando, confeccionando as alegorias, confeccionando as fantasias, na própria quadra da Mangueira nós temos uma escola de samba mirim que se chama Mangueira do Amanhã, se você for lá agora você vai ver, as pessoas estão fazendo as fantasias da Mangueira do Amanhã dentro da quadra da Mangueira, ou seja, no Centro Cultural Mangueira Petrobras.
P/1 – Que barato!
R – É isso aí, é assim que funciona.
P/1 – Você teria alguma sugestão pra Petrobras, pra essa área de patrocínio?
R – A Petrobras tem sido uma parceira maravilhosa pra Mangueira. Agora nós estamos fazendo o enredo sobre a energia, a Petrobras é nossa parceira nesse enredo, está nos apoiando muito, com certeza a Mangueira fará um grande Carnaval em 2005 com o apoio da Petrobras, e como já disse o Presidente José Eduardo Dutra no dia em que foi à quadra da Mangueira, nós estamos nessa parceria no nosso Centro Cultural Mangueira Petrobras, estamos na parceria do enredo, mas com certeza faremos muito mais parceria, a Petrobras é a maior empresa brasileira e logicamente que ela vai estar sempre junto da maior escola de samba do Rio de Janeiro e é um orgulho muito grande para nós termos a Petrobras como nossa parceira, com certeza outros projetos surgirão, nós faremos muita coisa juntos. O pensamento da Mangueira, a vontade da Mangueira é paralelo com o pensamento da Petrobras, com a vontade da Petrobras.
P/1 – Álvaro, você gostaria de falar mais alguma coisa, deixar registrado mais alguma coisa?
R – Não, gostaria de deixar registrado que a Mangueira tem uma satisfação muito grande, uma alegria muito grande de estar participando desse vídeo que vocês estão fazendo sobre a memória da Petrobras, a Mangueira é uma escola de samba que tem participado muito próximo da Petrobras em vários eventos, nós temos feito shows com a Petrobras, nós temos ido ao Clube da Petrobras com as nossas crianças, fazendo inclusive recreação, a Mangueira, a quadra da Mangueira na verdade ela é um apêndice da Petrobras, o Centro Cultural Mangueira Petrobras só existe e só funciona porque tem o apoio irrestrito da Petrobras, nós estamos muito felizes e muito satisfeitos e muito orgulhosos de ter a Petrobras como parceira, eu queria em meu nome pessoal e em nome da Estação Primeira de Mangueira, em nome de toda a diretoria, em nome da comunidade da Mangueira, agradecer a Petrobras por esse carinho que tem tido conosco e dizer que é Mangueira Petrobras até morrer.
P/1 – Bonitinho, antes de terminar eu queria perguntar, tem algum projeto dos seus sonhos que você gostaria ainda de ver realizado?
R – Tem, tem.
P/1 – Pode contar?
R – Olha, vou contar uma história pra vocês. O hino da Mangueira, todos os eventos da Mangueira quando iniciam, eles se iniciam cantando um samba que é assim: “Mangueira teu cenário é uma beleza/ que a natureza criou/ o morro com seus barracões de zinco/ quando amanhece, que esplendor!”. Eu, desde criança, quando tomava conta de carro na porta dos ensaios da Mangueira, que eu ouço cantar esse samba “Mangueira seu cenário é uma beleza”. Já não existe mais nas comunidades carentes barracões de zinco, hoje todas as comunidades carentes elas são totalmente construídas de alvenaria, mas se você prestar atenção, se não prestou atenção até hoje então presta atenção a partir de hoje, todas as casas elas são, pelo lado de fora elas não têm embolso, estão só nos tijolos, então não tem o acabamento exterior, o pouco recurso que a pessoa tem, ela procura dar um pouco de conforto internamente na sua casa, então eu já observo isso há muito tempo e esse cenário que o poeta dizia que era uma beleza, na verdade ele ainda não é uma beleza, mas o dia, e a partir da Mangueira, o dia que nós conseguirmos pegar essa comunidade da Mangueira dar condição para que essa comunidade embolse as suas casas pelo lado de fora e pinte as suas casas de preferência de verde e rosa, com certeza o morro de Mangueira vai ser o tal cenário que era uma beleza que o poeta sonhou algum tempo atrás. O meu sonho é um dia pintar o morro de Mangueira de verde e rosa, não necessariamente de verde, de rosa, mas de uma forma que ele lembre o verde e rosa da Mangueira e que ele passe a ser o grande cenário da quadra da Mangueira que é no pé do morro. Esse é um sonho, que já não é só um sonho, ele já está no papel, ele já é um projeto, e algumas pessoas inclusive da Petrobras já têm conhecimento desse projeto, quem sabe a gente consiga realizar isso.
P/1 – Mais um de valorização, né? Valorização pessoal.
R – Exatamente, a valorização do ser humano, é um projeto de cidadania, e eu estou falando da Mangueira, mas isso da minha cabeça, não sei se eu sou visionário, mas na minha cabeça se nós pegarmos a cidade do Rio de Janeiro, que é a cidade mais bonita do mundo, e se nós fizermos isso nas comunidades que hoje são simplesmente casas com tijolos aparentes, o Rio de Janeiro vai ficar muito mais bonito. Você já imaginou se você passar pelo morro de Mangueira e todas aquelas casas estiverem embolsadas e pintadas externamente? Não é um projeto caro, porque eu tenho certeza e convicção absoluta que a hora que nós tivermos o material pro embolso e a tinta pra pintura, a própria comunidade em mutirão realiza esse projeto, porque todo mundo quer isso, quando as pessoas souberam dessa minha vontade, desse meu desejo, elas começaram a me cobrar, até hoje eu encontro pessoas na Mangueira que dizem assim: “Quando é que nós vamos pintar as casas?”. Então eu acho que isso é uma coisa totalmente possível de ser feita, é um sonho que pode ser até que não aconteça nesse período em que eu sou o presidente da escola, mas é um sonho que com certeza eu vou ver realizado.
P/1 – Você vai ver realizado, o que você está realizando já é tão bonito também.
R – É isso aí, vai ser, com certeza vai ser, nós vamos chegar lá.
P/1 – Álvaro, queria agradecer sua participação, muito obrigada, e que o projeto continue cada vez mais bacana como você tem feito.
R – Eu é que agradeço, muito obrigada e um abraço.
P/1 – Obrigada.
(fim da fita__________).
Luis
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