Aos 6 anos cruzava um longo caminho de casa, na maioria sozinha ou com algum irmão ou colegas, passando rente ao muro do Cemitério de Santo Amaro, em Recife, alegre e confiante, em direção à Escola Municipal Emídio Dantas Barreto, que até hoje fica em frente ao portão principal do cemitério, na Avenida da Saudade. Lembro do cheiro do mingau quentinho servido na merenda, assim como do trajeto alterado para dentro do cemitério entre árvores, túmulos e catacumbas para colher frutas como jambos roxos, mangas e sapotis, todos incrivelmente doces e suculentos.
Logo em seguida, já morando numa área de quartinhos, conhecido como Vila das Meninas, na Rua Marquês de Baipendi, área pobre do Arruda, implorava para meus irmãos mais velhos me ensinarem a ler e escrever, pois eu estava com caxumba e não podia ir à escola. Nisso, em junho de 1977, aos 7 anos, estava lavando o banheiro da casa de um conhecido de minha mãe Mariza, quando fui chamada para ir passar uma temporada na casa daqueles que se tornariam meus pais adotivos Romualdo e Daurinha com o intuito de brincar com a filha, também adotada, enquanto eles viajavam pela Europa.
Ao voltarem, na enorme biblioteca do escritório da casa, o casal me perguntou se eu gostaria de ficar com eles e de os chamar de pais. Olhei para aqueles livros e me imaginei conseguindo ler todo aquele acervo, construí em breves instantes uma imagem de futuro e aceitei o convite. Logo em seguida, Daurinha, com paciência, me ensinou a ler as primeiras letras, fonemas e palavras e depois me matriculou na escola Santa Bárbara, que ficava na esquina da Avenida José Augusto Moreira, em Olinda. Alfabetizada, fiquei encantada pelos estudos e com aquela oportunidade de vida que me surgia. Deixava qualquer brincadeira ou brinquedos para ir ler tudo o que aparecia na minha frente. Comia livros e aprendizado, assim como as deliciosas e fartas comidas servidas naquela casa.
Por gostar de escrever, formei-me em jornalismo,...
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Aos 6 anos cruzava um longo caminho de casa, na maioria sozinha ou com algum irmão ou colegas, passando rente ao muro do Cemitério de Santo Amaro, em Recife, alegre e confiante, em direção à Escola Municipal Emídio Dantas Barreto, que até hoje fica em frente ao portão principal do cemitério, na Avenida da Saudade. Lembro do cheiro do mingau quentinho servido na merenda, assim como do trajeto alterado para dentro do cemitério entre árvores, túmulos e catacumbas para colher frutas como jambos roxos, mangas e sapotis, todos incrivelmente doces e suculentos.
Logo em seguida, já morando numa área de quartinhos, conhecido como Vila das Meninas, na Rua Marquês de Baipendi, área pobre do Arruda, implorava para meus irmãos mais velhos me ensinarem a ler e escrever, pois eu estava com caxumba e não podia ir à escola. Nisso, em junho de 1977, aos 7 anos, estava lavando o banheiro da casa de um conhecido de minha mãe Mariza, quando fui chamada para ir passar uma temporada na casa daqueles que se tornariam meus pais adotivos Romualdo e Daurinha com o intuito de brincar com a filha, também adotada, enquanto eles viajavam pela Europa.
Ao voltarem, na enorme biblioteca do escritório da casa, o casal me perguntou se eu gostaria de ficar com eles e de os chamar de pais. Olhei para aqueles livros e me imaginei conseguindo ler todo aquele acervo, construí em breves instantes uma imagem de futuro e aceitei o convite. Logo em seguida, Daurinha, com paciência, me ensinou a ler as primeiras letras, fonemas e palavras e depois me matriculou na escola Santa Bárbara, que ficava na esquina da Avenida José Augusto Moreira, em Olinda. Alfabetizada, fiquei encantada pelos estudos e com aquela oportunidade de vida que me surgia. Deixava qualquer brincadeira ou brinquedos para ir ler tudo o que aparecia na minha frente. Comia livros e aprendizado, assim como as deliciosas e fartas comidas servidas naquela casa.
Por gostar de escrever, formei-me em jornalismo, depois vieram a especialização, o mestrado e a vida como docente universitária, papel que atualmente exerço na Universidade do Estado da Bahia. Mais recentemente, obtive o título de Doutora em Comunicação, Cultura e Artes em Portugal. Assim, a descoberta pelos livros, pela cultura e pela educação me constituíram na pessoa que sou e me salvou de não ser mais uma menina pobre numa favela sem oportunidades, a não ser produzir mais uma geração de crianças empobrecidas. Essa lição levo para sala de aula estimulando alunos do Recôncavo Baiano a encontrar no saber a transformação.
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