IDENTIFICAÇÃO
Meu nome completo é Sergio Augusto Fazzio. Nasci em Botucatu, Estado de São Paulo, em 15 de outubro de 1951. Sou formado em Engenharia Mecânica.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Na verdade, eu não escolhi as coisas, no fim chegaram onde eu queria, mas por meios completamente aleatórios. Meu pai era professor da área de ciências médicas em Botucatu. No científico, se dividia as pessoas que iam pra área de ciências médicas e as que iam pra ciências exatas, como queria ser aluno do meu pai fui para área de ciências médicas. Terminei o científico e fui pra São Paulo fazer vestibular de medicina, mas na realidade não queria muito ser médico, queria ser estudante de medicina, porque eu achava bonito aqueles estudantes de branco. Fui pra São Paulo junto com um amigo que ia fazer o cursinho Anglo para Engenharia, a gente morava no mesmo quarto de uma pensão; ele estudava, eu estudava, mas via que as matérias eram meio parecidas, menos o desenho e a parte de geometria. Os exames vestibulares em São Paulo eram unificados, todos no mesmo dia: tinha o Cecem que fazia os vestibulares para Medicina e a Mapofei que fazia para as faculdades de Engenharia; nesse ano não ia cair no mesmo dia e aboliram o exame de desenho do vestibular de Engenharia, falei: “Eu vou fazer também o vestibular de Engenharia, por que não?” Cheguei em casa e contei pro meu pai, que falou: “De jeito nenhum, você estudou para medicina, não tem vocação pra engenharia” “Mas eu vou fazer.” Passei em Engenharia e não passei em Medicina, passei numa faculdade federal, uma faculdade boa, conceituada, e meu pai acabou aceitando. Era uma faculdade nova em Guaratinguetá que aproveitava o corpo docente do ITA, em São José dos Campos, porém era uma faculdade que só tinha Engenharia com a modalidade mecânica, então acabei fazendo esta. Nunca tinha aberto um motor de carro, não gostava nada de mecânica, mas fui bem, tinha engenharia dos materiais, mecânica...
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Meu nome completo é Sergio Augusto Fazzio. Nasci em Botucatu, Estado de São Paulo, em 15 de outubro de 1951. Sou formado em Engenharia Mecânica.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Na verdade, eu não escolhi as coisas, no fim chegaram onde eu queria, mas por meios completamente aleatórios. Meu pai era professor da área de ciências médicas em Botucatu. No científico, se dividia as pessoas que iam pra área de ciências médicas e as que iam pra ciências exatas, como queria ser aluno do meu pai fui para área de ciências médicas. Terminei o científico e fui pra São Paulo fazer vestibular de medicina, mas na realidade não queria muito ser médico, queria ser estudante de medicina, porque eu achava bonito aqueles estudantes de branco. Fui pra São Paulo junto com um amigo que ia fazer o cursinho Anglo para Engenharia, a gente morava no mesmo quarto de uma pensão; ele estudava, eu estudava, mas via que as matérias eram meio parecidas, menos o desenho e a parte de geometria. Os exames vestibulares em São Paulo eram unificados, todos no mesmo dia: tinha o Cecem que fazia os vestibulares para Medicina e a Mapofei que fazia para as faculdades de Engenharia; nesse ano não ia cair no mesmo dia e aboliram o exame de desenho do vestibular de Engenharia, falei: “Eu vou fazer também o vestibular de Engenharia, por que não?” Cheguei em casa e contei pro meu pai, que falou: “De jeito nenhum, você estudou para medicina, não tem vocação pra engenharia” “Mas eu vou fazer.” Passei em Engenharia e não passei em Medicina, passei numa faculdade federal, uma faculdade boa, conceituada, e meu pai acabou aceitando. Era uma faculdade nova em Guaratinguetá que aproveitava o corpo docente do ITA, em São José dos Campos, porém era uma faculdade que só tinha Engenharia com a modalidade mecânica, então acabei fazendo esta. Nunca tinha aberto um motor de carro, não gostava nada de mecânica, mas fui bem, tinha engenharia dos materiais, mecânica dos fluidos. Dentro da Engenharia Mecânica existem três áreas: a parte de manutenção, que é a do pessoal que trabalha no chão da fábrica; a parte de projeto que usava muito desenho – eu não tinha uma base boa de desenho; e a parte de produção que era a mais econômica da Engenharia, que depois acabou virando Engenharia de Produção; gostei dessa área.
INGRESSO NA PETROBRAS
Quando me formei, apareceu esse concurso da Petrobras para a área comercial que admitia qualquer especialidade de Engenharia, e era justamente a área que eu gostava: economia. Pra mim, se ajustou como uma luva e, além disso, a maioria das vagas era no Rio de Janeiro, e eu queria vir pro Rio de Janeiro. Fui caindo no que eu gostava por linhas completamente tortas. Hoje, se eu fosse fazer vestibular, talvez fizesse para Economia ou Administração.
IMAGEM PETROBRAS
O que eu sabia sobre a Petrobras antes de entrar na Petrobras? Eu conhecia a marca, sabia o que fazia, mas não tinha muita idéia, era uma coisa mais nacionalista; eu só consegui entender a Petrobras direito de cinco a dez anos depois, quando já trabalhava lá, porque é um negócio muito grande. Hoje, eu tento fazer com que os novos que entram consigam ganhar esse tempo que eu demorei a entender. Eu faço tutoria dos novos funcionários, dou aulas nos cursos de formação da Petrobras.
INGRESSO NA PETROBRAS
Eu entrei na Petrobras em 1976, por meio de um concurso. O pessoal de nível superior entra na Petrobras fazendo um curso de formação, o que eu fiz chamava Cisup, Curso de Importação e Suprimento de Petróleo, depois esse curso passou a se chamar Cosup, Comercialização e Suprimento, agora, ele se chama Colog, Comercialização e Logística. O mesmo curso foi mudando de nome. Fiz o segundo Cisup, em 1977. As 25 vagas eram só para engenheiros. Destas 25 vagas, três eram para São Paulo e as outras 22 do Rio de Janeiro. Embora eu seja paulista, não paulistano, não queria morar em São Paulo, queria vir pro Rio de Janeiro, mas tinha um coordenador do curso que achava que eu tinha que ir pra São Paulo: “Você é paulista, solteiro, não tem sentido um carioca ir pra São Paulo e você que é paulista ir pro Rio.” “Mas eu quero ficar no Rio.” Sempre valia a classificação, quem chegava primeiro escolhia, mas nesse ano começou a ter um casamento entre os gerentes, que davam aulas, e os alunos. Eu não conseguia casar com nenhum dos gerentes porque já estava pré-determinado que iria para São Paulo, tive que bolar uma estratégia pra permanecer no Rio: o Decom [Departamento Comercial], que absorvia os funcionários desse concurso tinha vários atrativos: área de comércio externo com possibilidades de trabalhar em escritórios no exterior; área de mercado interno, que tratava de quase todo faturamento da Petrobras, gasolina, diesel etc., e tinham áreas mais anexas, como cuidar das medições e perdas que acontecem nas movimentações; ninguém queria ir para essa área por dois motivos: primeiro porque era uma área muito pouco valorizada; segundo porque tinha um gerente que era considerado muito rígido, de temperamento difícil. Nos cursos anteriores, quem ia pra lá era por falta de opção, fui falar com esse gerente, que falou: “Você vai ficar comigo de qualquer jeito.” Acho que foi a primeira vez que alguém foi pedir para ir pra lá. Eu falei: “Doutor Manyr Japor, eu sou engenheiro mecânico”, falei que gostava de mecânica, instrumentos de medição. Fiquei três anos nessa gerência, me chamavam de menino do Japor, porque mesmo sendo recente, quando saía um chefe de setor, eu era o substituto e ele me levava com ele em todas as viagens de inspeções de instrumentos. Ele fez com que eu ficasse no Rio de qualquer jeito e acabou indo um carioca para São Paulo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Essa parte do Decom se chamava Divisão de Movimentações, Dimov, foi um bom começo para a minha carreira porque viajei pelo Brasil e conheci a Petrobras inteira, todas as refinarias, todos os terminais, conheci as pessoas, o que é muito importante. Em 1979, estava começando o Pró-álcool, surgiam os primeiros carros a álcool, e foi decidido na Petrobras criar um setor para cuidar de álcool dentro da Divisão de Combustíveis, que era a mais importante no mercado interno, a Dicomb; o gerente era o Doutor Santa Rosa. Para criar este setor o superintendente pinçou um funcionário de cada outra divisão para não desfalcar outras áreas, e me tirou do Japor. Foi a primeira e a única mudança na minha carreira. Desde 1979, eu fiquei na Divisão de Combustível; foram passando as pessoas, essa Divisão se dividiu em várias, hoje existe uma gerência para cada tipo de produto. A Dimov cuidava da comercialização e do suprimento, tinha quatro setores: o setor de Álcool, que logo se transformou em outra Divisão; o setor de Estudos e Análises; o setor de Suprimentos por Navios, suprimento por cabotagem que abastecia o Norte e Nordeste, e outro que é o suprimento do resto das refinarias. Comecei em estudos e análises, trabalhei na área de programação de navios e depois fiquei na parte de comercialização propriamente dita, lidando com os clientes em contato direto com as distribuidoras etc.
Eu que estou na área há muito tempo, tenho contato com todas as distribuidoras. Antigamente, havia reuniões mensais de abastecimento no CNP [Conselho Nacional de Petróleo] em Brasília, ia a Petrobras e todas as distribuidoras, Shell, Texaco, Ipiranga, onde se determinavam as transferências e as cotas. Algumas dessas reuniões eram mais festivas, o CNP fazia em outro local: Salvador, Manaus, Curitiba, e tirávamos aquelas fotos em que ficavam todos juntos, 40 ou 50 pessoas; uma vez achei uma foto dessas, fui vendo uma por uma dessas 50 pessoas, nenhuma está mais trabalhando no suprimento, nem na Petrobras, nem na Shell, nem na Esso; de todos aqueles, eu sou o único que continua nessa área. Eu atribuo esse fato, de ter permanecido na área, a uma questão de perfil, de aptidão, opção. Eu nunca visualizei uma carreira gerencial, sempre quis uma carreira de especialização, porque não gosto de gerenciar pessoas, não gosto de pedir para uma pessoa fazer um trabalho e eu ver, gosto de eu fazer o trabalho. Embora, na Petrobras, a carreira técnica especialista tenha surgido só no final da década de 90, eu não tinha pretensão de assumir uma gerência, nenhum gerente fica na mesma área mais do que quatro, cinco anos; um gerente fica que nem um navegador por várias áreas, sai da área comercial e vai para outra área, a função dele é mais de recursos humanos do que técnico, é fazer com que as pessoas atinjam o objetivo, e o técnico não, ele faz. Passaram, por mim, nesses 20 e tantos anos, mais de dez gerentes, e para cada um que entra, eu tenho que contar histórias, explicar tudo. Eu me sinto meio o “dono da pensão”.
ÁREA COMERCIAL
Quando saí da área de movimentações, fui para essa área que considero a mais importante, é a atividade fim da empresa e que tem o contato com os clientes. As vendas de gasolina e diesel, essa área em que atuo, correspondem a 80, 85% do faturamento da Petrobras; sempre digo para as pessoas que entram que a gente tem uma posição privilegiada. Digo pras pessoas: “Trabalhar na área comercial, na nossa gerência, não pode ser uma pessoa que simplesmente fale: vou trabalhar, fiz minha tarefa, vou para casa.” Você tem que estar “antenado” a tudo no mundo, porque a Petrobras é como um grande transatlântico: tem toda área de petroquímica, gás, mas se ela não trabalha bem não adianta porque é a área que comercializa, eu sinto que é como o Titanic que vai desbravando os mares, quem está vendo primeiro o mercado é essa área, a obrigação de quem está lá é orientar os que estão no comandando, porque é quem está vendo de perto o mercado, tem contato com o cliente e sabe onde estão os obstáculos à frente.
DIVISÃO DE MOVIMENTAÇÃO
A Divisão de Movimentação funcionava assim: na comercialização dos produtos da Petrobras, que são líquidos, são feitas duas medições: uma pela Petrobras, ao sair das refinarias, e outra ao final pelo recebedor da carga; tudo é faturado em litros. As medições, muitas vezes, não batem já que na movimentação existe uma perda natural por se tratar de um produto volátil. Quando isso acontece, tem que ser averiguado porque se dá uma diferença acima do que, teoricamente, é admissível pode ter havido um erro na medição da Petrobras, na do cliente ou pode ter havido perda no meio do caminho. Toda viagem tinha uma investigação. Outros produtos que são medidos em massa dependem também da medição da temperatura e da densidade; como você vai medir o peso do óleo combustível, você não tem uma balança pra por dentro do navio, então é medido o volume, a densidade e a temperatura, com isso se determina a massa que foi transportada, não pode ter tido erro na medição. Ainda existe essa Divisão, mas não é mais da área Comercial, fica na Logística, que é o CMAP, é uma área cheia de polêmicas com o cliente, talvez seja a área de maior atrito com o cliente porque sempre dá diferença, e essa investigação nem sempre é rápida, demora pra chegar a uma conclusão e enquanto não houver clareza sobre o porquê da diferença de medição não há acerto de parte à parte, vale o que a Petrobras faturou, até que se constate que houve realmente um erro na medição da Petrobras, ou houve uma perda no caminho.
DIVISÃO DE SUPRIMENTOS
A Divisão de Combustíveis passou a se chamar Divisão de Suprimentos, Disup, foi agregada à ela a alocação de petróleo cru, explorado na Bacia de Campos, nas refinarias. Quando houve a reestruturação do Abastecimento, esta Divisão foi dividida em dois departamentos: Logística e Comercialização. Na comercialização, hoje, existe uma gerência para cada produto; a parte de logística também se expandiu muito.
DEPARTAMENTO COMERCIAL
O Departamento Comercial era o que hoje é comercialização e logística. Não existia Marketing no Decom, porque era um monopólio. A função da Petrobras era abastecer o país com o menor custo para sociedade, existiam oito distribuidoras que formavam um cartel: a BR, Esso, Shell, Texaco, Ipiranga, Atlantic, Hudson e uma empresa pequena em São Paulo, a Companhia São Paulo. A Petrobras exercia o monopólio da União, não negociava com cada cliente, as distribuidoras faziam o pedido para a ANP [Agência Nacional de Petróleo], que publicava no Diário Oficial quanto a Petrobras tinha que fornecer para cada uma. Não havia uma coisa comercial de tentar ganhar cliente, era a execução de uma função que a ANP determinava: que se abastecesse o país através daquelas empresas. O Decom fazia suprimento, comercialização mesmo era só o contato com as distribuidoras seguindo as determinações de quantidade dadas pela ANP.
Com a queda do monopólio, houve uma separação: uma parte é logística e outra parte é comercialização, passaram a ter os contratos, a parte de movimentação ficou na logística, e a área de comercialização ficou no marketing, coisa de empresa de mercado aberto. Começou a haver competição, a Petrobras passou a ter concorrência porque qualquer um podia importar, as petroquímicas podiam vender gasolina, não só a Petrobras. Tivemos que começar a concorrer no mercado, e por isso foi criado uma área mais de marketing comercial, não sigo uma determinação, negocio com os clientes.
RELAÇÃO COM AS DISTRIBUIDORAS
Antigamente, era tudo regulamentado, não havia competição em nada, existia o monopólio, o governo determinava o preço, forçava para que ficasse baixo para não afetar a inflação. As distribuidoras, multinacionais poderosas, tinham um lobby junto ao Governo e na hora de dividir esse bolo, que era o preço que o governo permitia, elas pegavam uma fatia muito grande em relação ao custo que tem. O investimento de uma distribuidora é muito pouco especializado, são alguns tanques, uma plataforma de carregar caminhão que se interliga na refinaria; os funcionários também não precisam ser muito especializados. Elas trabalham com horário administrativo, de segunda a sábado, a Petrobras não, são unidades de refino, investimentos caríssimos, trabalhando 24 horas por dia, não se pára sábado e domingo, e os funcionários das refinarias, os operadores são especializados. A Petrobras tem um investimento muito maior e na hora de dividir o bolo as distribuidoras ficavam com mais. Isso criou uma animosidade entre a Petrobras e o cliente, todo mundo falava: “A Petrobras parece que não gosta dos clientes dela”, é porque disputavam o mesmo bolo, se a distribuidora ganhava mais a Petrobras ganhava menos. Na época do monopólio, víamos a distribuidora como um adversário até porque o Governo determinava o preço, mas não determinava se eu tinha que levar pro cliente, se ele vinha buscar na refinaria, quem ficava com o estoque etc. não determinava em que modalidade isso ia ser feito, até onde ia a responsabilidade da Petrobras e até onde ia a responsabilidade da distribuidora? A distribuidora queria jogar toda a responsabilidade pra Petrobras e a Petrobras queria jogar toda a responsabilidade pra distribuidora porque tinha um preço determinado. Até a abertura do mercado havia quase uma disputa entre a Petrobras e o cliente, mas as distribuidoras estavam muito tranqüilas porque tinham praticamente um cartel e um lobby forte. O Governo não podia forçar para que as distribuidoras trabalhassem com margem negativa, então todo o sacrifício vinha em cima da Petrobras. Foi criada uma conta chamada FUP, que o Governo falava: “Um dia eu te pago. Olha, não dá pra aumentar o preço, você vai computando aí e um dia eu vou te pagar isso.”. Essa conta foi aumentando, e o Governo devendo pra Petrobras. Naquela época, a gente entrava na Petrobras, era que nem funcionário público, aqueles móveis velhos e antigos, não havia nada de moderno dentro da Petrobras, não tinha dinheiro, mas, por outro lado, não tinha concorrência tinha o mercado garantido, mas não tinha a remuneração compatível pra poder aumentar a exploração de petróleo e se modernizar. O Governo Itamar colocou um diretor no DNC [Departamento Nacional de Combustíveis] que tinha uma idéia de quebrar esse cartel, ele queria que começasse a ter competição entre as distribuidoras pra que abaixasse a margem, era pré-requisito para liberar o preço completamente e entrar no mercado aberto. No mercado livre, cada um faz seu preço, se todo mundo combina, o preço vai lá em cima, para o preço ser livre precisa haver competição, e não tinha competição entre as distribuidoras. Era muito difícil abrir uma distribuidora, ele de certa forma alimentado, principalmente, pelo pessoal da Aepet [Associação dos Engenheiros da Petrobras] começou a entender o negócio e facilitou o registro de novas distribuidoras. Porém, para se montar uma distribuidora, precisava-se achar uma área do lado da refinaria, montar uma base de distribuição e se interligar à refinaria; essas distribuidoras tinham ali o papel autorizando, mas não achavam áreas próximas. Em Duque de Caxias já tinha as comunidades todas em volta, não havia mais área; em Cubatão também estava tudo tomado, Salvador tudo tomado. As distribuidoras tinham o papel, mas não encontravam uma área pare se estabelecerem nas adjacências da refinaria. Porém, já nessa época, estavam sendo construídos os polidutos que saem das refinarias da Petrobras. Existe o chamado Osbra, que vai de Campinas pra Brasília, passando por Ribeirão Preto, Uberaba, Uberlândia, Goiânia; tem outro que vai pro Sul, Curitiba, Guaramirim, Itajaí e Florianópolis; e tem outro na Bahia, que sai em Y de Salvador e abre pra Jequié e Itabuna. As distribuidoras pediram a Petrobras para, já que ia construir os dutos e terminais, fazer logo uma plataforma de caminhão nos próprios terminais da Petrobras, para a distribuidora não ter que construir uma base ao lado, e cobrar pra carregar os caminhões.
Na cúpula da Petrobras sempre houve uma polêmica se devia ter abertura do mercado; na verdade, o que aconteceu foi bom porque permitiu regulamentar o mercado, mas por outro lado, surgiram muitas distribuidoras antiéticas. Hoje, nós temos cerca de 160 distribuidoras, nessa época eram oito. Esso, Shell, Texaco, Ipiranga são distribuidoras que atuam no mundo inteiro, mas existem as distribuidoras regionais que atuam só em Santa Catarina, na Bahia, no Nordeste. Quando essas distribuidoras surgiram, havia um cartel e por isso conseguiram ganhar muito dinheiro, mas a margem foi chegando a um valor compatível com a atividade e permite que a Petrobras pratique preços próximos do mercado internacional. O que a gente faz é política comercial, tentamos separar quem é ético de quem não é. Uma vez almocei com um diretor antigo que disse: “Viu o que vocês fizeram? Agora está cheio de distribuidora, adulteração de produto, não sei o que...” “Mas isso foi um mal necessário porque se não tivesse acontecido isso o mercado não estaria aberto e a Petrobras não estaria com esse lucro de quase 30 bilhões.” Agora temos dentro da área comercial que fazer uma limpeza ética, temos que ter uma política comercial para que a gente consiga separar as distribuidoras que são éticas daquelas que não são, apesar de que a Petrobras não pode negar a venda pela dominância que ela tem no mercado, não pode chegar para uma distribuidora e falar que pra ela não vende, mas pode separar o tipo de contratação. Apesar de o mercado estar aberto, a Petrobras é, praticamente, a única ainda, não por lei, mas porque todo mundo escolhe comprar da Petrobras. Ela oferece o melhor preço e a melhor forma de entrega; continua sendo monopolista, mas não instituída e sim escolhida. Essa dominância impede que a gente trate as companhias de maneira diferente ou cobre preço diferente, a dominância é uma coisa boa, mas tem suas limitações. A Petrobras tem petróleo pra abastecer o país inteiro, temos refinarias suficientes, não tem porque vender pra fora e outra companhia de fora vir vender aqui dentro, quero esse mercado interno, porém sendo dominante, pelas leis do Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica], do direito concorrencial quem é dominante é cheio de limitações, não posso usar as mesmas técnicas do mercado aberto normal, do tipo das que os bancos usam: “Você é um cliente especial, de você eu cobro mais, de você eu cobro menos.” O que defendo é que a Petrobras tem que ter aquela política da mãe, todos os meus filhos são iguais, aquele que vai bem na escola ganha um presentinho a mais, aquele que repetiu de ano fica de castigo, mas não porque por definição essa distribuidora é minha preferida, é uma questão de bonificação pela performance: quais são as características que a gente aprecia numa distribuidora? Apreciamos a distribuidora que tem uma boa previsibilidade do que vai comprar, porque isso permite que eu reduza custos, se ela encomendou tanto e levou tudo, tem uma bonificação. Temos um programa que bonifica quem trata bem do produto, quem mantém a qualidade, quem tem boa gestão de segurança, meio ambiente; temos uma auditoria independente que avalia os clientes e por pontuação, ganham uma bonificação. Não interessa se ele é pequenininho ou grande, ganha a bonificação se tiver uma boa performance em SMS [Segurança Meio Ambiente e Saúde], e uma boa previsibilidade de venda.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
O que eu notei desde o tempo que entrei até agora é a questão do meio ambiente. Houve uma modificação substancial no tratamento da questão do meio ambiente. Antigamente, a Petrobras tinha a missão de abastecer o país com o menor custo, a responsabilidade social era não deixar faltar produto. Hoje, a responsabilidade social não é só abastecer. A qualidade dos produtos começou a ter uma importância maior, qualidade não só no ponto de vista das emissões para o meio ambiente como do desempenho dos motores. A questão do meio ambiente é fundamental, a missão da Petrobras, hoje, é ser sustentável. A função de uma empresa não é dar lucro para os acionistas, ela existe pra prestar um serviço à sociedade. A Petrobras quer ser sustentável, e para se atingir isso existem dois pilares: primeiro, é preciso ter lucro, sem ele não dá pra se sustentar; segundo, é preciso ter responsabilidade social, a empresa só se sustenta se a sociedade estiver aprovando o que ela faz.
Gastar com o de meio ambiente é fundamental pra sustentabilidade da empresa. As gerações estão cada vez mais conscientes da questão ecológica e mais de olho nas empresas que cuidam do meio ambiente, quem não cuidar não vai sobreviver. Esta questão tomou porte dentro da indústria de petróleo, ainda mais porque as empresas passaram a ter lucros vultosos e é imperdoável que empresas que vivem de explorar a biosfera contaminem o meio ambiente. Muitas companhias relutam de ficar no Brasil porque acham que aqui há risco, as estradas não são boas, pode tombar o caminhão, que a infraestrutura do Brasil não é muito garantida. A Esso saiu do Brasil, imagino até que por causa do risco ambiental que pode representar para a marca.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Sempre trabalhei na área de derivados, nunca na área da matéria-prima em si, nas épocas das crises não tinha muito contato com o mercado internacional, os preços eram tabelados pelo Governo e, de uma forma ou de outra, a Petrobras estava suprindo e fazendo aquela conta que um dia o Governo ia pagar. Hoje em dia, acompanho o mercado internacional de uma forma muito mais próxima, porque o preço que tenho nos contratos com os clientes é balizado semanalmente para checar se está alinhado com o mercado internacional, porque se eu cobrar acima logo chegam concorrentes com navios querendo invadir o meu mercado. Naquela época, eu recebia o produto pronto e vendia pelo preço que tinha que vender, estava mais preocupado com o suprimento do país, sabia das crises, mas ficava mais limitado na questão de não deixar faltar produto.
GREVE DE 1995
Alguns momentos afetaram gravemente o meu trabalho, como a greve de 1995, quando a Petrobras ficou um mês parada, só com a refinaria de Belo Horizonte funcionava. Foram momentos de grande estresse pra não deixar faltar produto. Criou-se um impasse entre os funcionários da Petrobras, não podíamos deixar faltar produto para o país, porque faltar combustível não é como faltar qualquer coisa: se faltar combustível, o país pára, é algo muito grave. Apesar de todo mundo falar que a gente estava furando greve, que a Petrobras só ia chegar a um acordo com os empregados quando a gente começasse a deixar faltar produto, isso seria uma coisa muito danosa para imagem da Petrobras, a responsabilidade bateu muito mais forte do que um acordo salarial. Tiveram momentos difíceis do suprimento em si, porque a infra-estrutura tem que ser feita antes do país começar a crescer, não adianta esperar começar a subir o consumo e falar: “Agora vou construir uma refinaria, vou construir um duto.”, isso demora de três a cinco anos, as coisas têm de ser feitas antes que aconteça um crescimento do país.
Durante a greve de 1995, no setor de Suprimento, tomamos medidas baseadas em importações de emergência e fizemos muito trabalho conjunto com as distribuidoras: caminhão levando de um lugar pra outro... A Petrobras entrega na porta das refinarias; essa logística de ferrovias e caminhões não é da Petrobras, é dos clientes, tivemos que nos unir com eles e conhecer suas flexibilidades. Estávamos tirando tudo de Minas Gerais, que era o único lugar funcionando, ou dos portos para abastecer outros lugares. Tínhamos que orientar os clientes sobre como abastecer os mercados deles, começamos a monitorar os estoques de todo mundo e quando acabou a greve era porque não dava mais mesmo, já tinha se esgotado todos os estoques no país.
ABERTURA DO MERCADO / CONTRATOS
Com a abertura do mercado começou a ter relacionamento com os clientes, não cumpríamos apenas o papel que a ANP determinava, a Petrobras passou a negociar direto com os clientes e só depois informar a ANP o que negociou. Tivemos que fazer os contratos e estabelecer como seria o relacionamento com os clientes dali pra frente. Já tínhamos a previsão de abertura do mercado em 2001, começamos isso um ano e meio antes. Foi um grande aprendizado, tivemos que negociar com todas as áreas porque o contrato embute todos os relacionamentos que a Petrobras possa ter com o cliente: financeiro, de qualidade, quantidade, preço, a parte jurídica, força maior, sigilo, confidencialidade, as movimentações e medições; é um trabalho muito extenso. Estamos renovando os contratos pela sexta vez, e cada vez damos uma aprimorada, é um modelo único, mas é negociado com cada distribuidora.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu trabalho como consultor sênior, que é uma pessoa que pode ser requisitada por qualquer área pra uma missão, é uma carreira de especialista. A carreira de especialista é conquistada na Petrobras, não é um cargo de confiança por indicação; é uma carreira que você vai adquirindo por pontuação. O consultor, em princípio, tem uma especialização a ser definida – eu sou consultor com especialização em produtos combustíveis claros, gasolina e diesel – ele tem que estar lotado em alguma gerência. Eu estou lotado na Gerência de Gasolina, mas presto consultoria para outras áreas e tenho missões: fui para a Bolívia fazer os contratos da Petrobras. É uma carreira em que você fica meio à disposição. Eu faço muita tutoria de novos funcionários, dou aula nos cursos de formação da Petrobras e participo nos problemas do dia-a-dia, mais concentradamente quando tem renovação dos contratos, algo que absorve mais meu tempo, porque negocio com todas as distribuidoras, vou junto com os gerentes, há uma negociação e redijo os contratos. Eu não tenho um trabalho de rotina, atendo a algumas demandas que chegam, e há os projetos e grupos de trabalho em que estou envolvido.
Quando a Petrobras comprou as refinarias na Bolívia, era preciso fazer os contratos com as distribuidoras de lá, fui eu e mais um colega fazer um modelo de contrato para ser submetido ao órgão regulador boliviano. Falei: “Bom, vou escrever o contrato em português.”, porque falar em castelhano a gente até fala, mas escrever em espanhol é difícil; fiquei lá por um mês e acabei fazendo o contrato todo em espanhol e entreguei para a secretária do Marcos João, o gerente de lá, que era boliviana: “Dá uma revisada pra ver se está certo.” “Está tudo certinho.” “Não é possível”. O computador corrigia quando estava errado, acabei escrevendo o contrato todo em espanhol, sem saber espanhol.
CONTRATOS DE VENDAS
A criação de modalidades de venda nos contratos gerou uma distensão no relacionamento com os clientes, hoje eu falo: “Se você quer desse jeito é esse preço, se você quer daquele jeito é outro preço.” Antigamente, só havia um preço; hoje, o preço está livre, se eu cobrar mais, o distribuidor repassa pro consumidor. Há uma relação de cordialidade muito maior e cada coisa está definida: se você quer nessa modalidade é esse preço, quer que eu leve lá na sua base é outro, quer que eu sustente estoque dentro da sua base é outro preço. Eu tenho um preço pra cada coisa e o cliente tem opção de escolher qual ele quer. Foi criada uma área de Marketing na Petrobras cujo trabalho melhorou muito a relação com os clientes, ficou uma empresa mais aberta, existem projetos que é olho no olho. Inclusive, tem um projeto que eu propus, mas que até hoje não foi feito, que seria único na Petrobras: os clientes não conversam só comigo na Petrobras, conversam com a área de movimentações, com a área financeira, de crédito, a área de logística, eles tem várias demandas. A Esso, por exemplo, fica lá perto do autódromo, a Shell é na Barra, temos clientes grandes, com sede em Minas Gerais e no Nordeste. Às vezes, eu vejo que eles vêm para uma reuniãozinha de uma ou duas horas para tratar do contrato, pegam o avião, depois voltam para lá, ou pegam um taxi e voltam lá pra perto do autódromo. Eu tenho uma proposta de fazer um escritório dentro da Petrobras pro cliente, funcionando assim: o cliente agenda antes, para ficar o dia inteiro, tem uma vaga na garagem para ele, ele vinha se instalar, ali era o escritório dele dentro da Petrobras durante um dia, a gente ia lá conversar com ele, chamava o cara da área financeira e ia conversar com ele, como um escritório mesmo, com equipamento, sofá, geladeira; um escritório para o cliente durante um dia pra ele resolver todos os problemas de uma vez só e evitar a gente ter que ir lá. Seria uma forma de agradar o cliente.
Houve uma flexibilização nos contratos, vamos atendendo a habitualidade do cliente, conhecemos cada um deles; ele não precisa nem pedir, eu já vou me preparando de acordo com o que normalmente ele compra. O acordo é o seguinte: se você não for comprar o que é habitual, me avisa; se eu não for conseguir entregar o que habitualmente entrego, te aviso com antecedência. Isso vem funcionando bem, não precisa todo mês ter reunião, já conhecemos a demanda e eles confiam no nosso trabalho, é uma relação muito mais tranqüila. Sinto nas reuniões que eles estão bastante satisfeitos.
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL / 2008
Na comercialização, o meu medo era que continuasse crescendo como estava porque a infra-estrutura estava tendendo a ficar saturada, as demandas estavam crescendo demais. Não temos diesel para abastecer o país todo, precisamos importar muito, uma queda da demanda do ponto de vista da área comercial vai até nos possibilitar dar um tempo pra incrementar a infra-estrutura, ter outra refinaria. Agora, a parte da gasolina é a mais preocupante. O diesel, entre todos os produtos, é o que mais vende no Brasil em volume de dinheiro, em segundo lugar são os automóveis, o terceiro é o açúcar cristal, a gasolina é o sétimo; qualquer coisinha em cima do diesel é muita coisa e a gente tem que importar, porque não temos ainda o suficiente. Vai ter uma refinaria no Nordeste e com ela vamos conseguir equilibrar a demanda; a gente importava o diesel e o vendia aqui mais barato para não afetar muito a inflação brasileira. O que me preocupa mais em termos de suprimento hoje é a gasolina que nós temos em excesso; quando se refina o petróleo tem que sair gasolina e tem que sair diesel, não dá pra pegar o petróleo e falar “Agora eu quero só fazer diesel.”, não dá Existe um excedente de gasolina no mundo todo, e nós temos aqui um concorrente que é o álcool hidratado por causa dos carros flex fuel. O álcool é mais barato do que a gasolina porque é menos tributado, é um favorecimento que o Governo faz pra incentivar o uso do biocombustível, ele acaba roubando muito o mercado de gasolina. A nossa gasolina ainda não tem qualidade que alcance os grandes mercados como os Estados Unidos e Europa; pela qualidade dela temos que botar em mercados como a África, Porto Rico, Costa Rica, América Central e no Irã. Temos um problema com esse excedente de gasolina: caindo a demanda mundial vai ser de difícil a colocação, concorrer com o álcool aqui dentro também é difícil, a questão tributária precisa ser resolvida de alguma forma. O álcool também não tem muito mercado lá fora, o que sai de gasolina da Petrobras e o que está previsto produzir de álcool não cabe dentro do Brasil, um dos dois vai ter que sair, ou vai ter que abaixar carga. Esse é o ponto que mais me preocupa atualmente com a crise, se tiver que abaixar carga por causa do álcool, por causa da gasolina, vou produzir menos diesel, menos gás de cozinha, menos QAV [Querosene de aviação].
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Uma das histórias interessantes foi quando queriam me mandar para São Paulo e eu queria ficar no Rio. Houve uma entrevista com o gerente de São Paulo pra ele escolher o funcionário que queria, havia esse procedimento da entrevista. Eu tive que ir a uma entrevista em que não queria ser escolhido, pensando: “Tomara que ele não me escolha”. Estava entrando, jovem, barbudão; era década de 1970. Eu me lembro que abotoei os botões todos errados, fui com aquela cara de otário; ele perguntava e eu falava: “Hã?”. Ele deve ter falado: “Mas como é que esse cara entrou na Petrobras?”. Acho que isso me ajudou a ficar no Rio.
SUSTENTABILIDADE
A Petrobras é uma empresa onde a gente tem que pensar a longo prazo, não é uma empresa que você pense no amanhã, no lucro desse ano; temos que pensar em ter sustentabilidade a longo prazo. Qual a estratégia para uma corrida que não tem fim? É essa estratégia que tem que estar na Petrobras, não adianta disparar agora e perder o fôlego ali na frente, também não adianta me poupar agora pra correr lá no fim; tenho que ter uma estratégia como se fosse entrar numa corrida que não tem fim, devagar e sempre, tendo os menores atritos possíveis pra ir embora. Nessa trajetória, a gente, às vezes, tem que se desviar de alguns obstáculos sem perder carga, temos que pensar não só nos clientes, mas também na sociedade, no meio ambiente, nas comunidades que abrigam nossas unidades, nos acionistas minoritários, temos que colaborar com o governo no controle da inflação, temos que tratar bem os clientes. Temos que ter a motivação da força de trabalho para empurrar a bolinha, a bolinha tem que estar redondinha e polida; e o caminho tem que estar sem atrito pra gente empurrar a bolinha e ela ir embora. A grande arte da Petrobras, e da área comercial, é justamente equilibrar a satisfação de todos esses stakeholders. Vai ter algumas coisas pelo caminho, mas tem que conseguir passar por aquilo sem perder carga, sem impactar, tem que pensar numa coisa de longo prazo e pensar que o objetivo maior é ser sustentável por um longo tempo. Para ser sustentável é preciso ter rentabilidade suficiente e ter responsabilidade social, não pode se descuidar desses dois pilares e enxergar que o objetivo não pode ser imediato. A Petrobras não pode se arriscar em prol de rentabilidade, tem que ir devagar e sempre, tendo em vista que uma empresa só existe porque a sociedade precisa dela, não existe pra dar lucro; a sociedade está de olho nas empresas, tem que ser correto, ético e tem que ter a responsabilidade social em primeiro plano.
MEMÓRIA PETROBRAS
A turma do Cisup de 1976 se reuniu numa churrascaria quando fizemos 30 anos do curso, muitos já não estavam, uns aposentados, outros foram para outras empresas. A Newcea perguntou pro Pimenta, um amigo nosso que saiu da Petrobras com dez anos e foi pra Dupont: “Pimenta, o que você esta fazendo, onde está trabalhando?” “Eu já estou aposentado, tenho um sítio perto de São Paulo. Já fiz minha parte, agora estou cuidado do meu sítio.” “Pimenta, mas porque você não dá aula?” “Dar aula? Mas esse negócio dá dinheiro?” “Não é isso Pimenta, você precisa passar seus conhecimentos pras novas gerações porque os seus conhecimentos não te pertencem, eles estão com você, você só pode se livrar pra poder se aposentar depois que passar o bastão pra nova geração. Você não tem o direito de levar seus conhecimentos juntos e acabar com eles, porque foi a sociedade que financiou seus conhecimentos. Você não fez curso e tudo? Não foi pago? Isso está no preço das coisas. A Petrobras não pagou pra você fazer curso? Tudo isso foi a sociedade que pagou, foram os consumidores que pagaram. Você pensa que foi você? Não foi você quem pagou. Você não tem o direito de pegar esse conhecimento e sumir com eles, você tem que primeiro passar pros outros e daí sim, você está liberado e pode se aposentar. Você tem que dar aula não é pra ganhar dinheiro, você tem que dar aula porque é uma obrigação sua, você não pode ficar com isso pra você, você não tem direito a isso, eles não te pertencem.” É assim que eu penso, pra me liberar, eu tenho que passar e essa iniciativa é muito boa, porque é uma forma da gente deixar pras outras gerações. Eu acho que é obrigação porque tudo que fiz, de certa forma, a sociedade arcou com isso.
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