Roberto Aparecido Gamba, eu nasci em Florida Paulista, Estado de São Paulo, em 28 de maio de 1956.
Entrei na Petrobras em primeiro de junho de 1977, na subsidiária Braspetro, Petrobras Internacional, através do processo de recrutamento e seleção que era utilizado na época de formação da subsidiária. Comecei na área administrativa como escriturário.
Fiquei nessa função por um curto período, passando depois pra área de engenharia de reservatório, como técnico auxiliar, na ajuda de simulação de reservatórios. Posteriormente, passei para a área de operacional, em 1985.
Normalmente, quando você é muito jovem, tem uma série de idéias na cabeça, mas nem sempre tem tudo muito claro. E, obviamente, quando você dá um passo desses, meio no escuro, pode ter bons resultados, você acaba descobrindo coisas que até então não teria coragem de fazer. Foi surpreendente, gostei muito. Era a parte técnica, porém de escritório. Melhorou muito quando eu saí da cadeira do escritório para trabalhar na área operacional.
Eu era muito novo, ainda estava no início de faculdade, em Tecnologia de Processamento, na Faculdade do Estado da Guanabara, em frente ao Canecão, no Rio de Janeiro. Era um curso pioneiro no ramo da informática, em função do ramo de engenharia de reservatórios, que utilizava computador naquela época era para este tipo de trabalho.
Foram às operações da antiga Braspetro no Iêmen. No Iêmen comunista, claro. Você tinha o Iêmen do Norte, que era separado, e o Iêmen do Sul, para onde nós fomos. Se eu não me engano, a minha primeira missão foi em abril de 1985 para cuidar da nossa warehouse, onde se guardam todos os materiais de poços, desde brocas à material de lama, revestimentos etc. Era no meio de um deserto na parte sul do Iêmen. Eram missões que revezávamos com amigos; foi onde tudo começou, na verdade. Eu creio que durou por dois, quase três anos. Não me lembro bem, porque mesmo após o término dos dois...
Continuar leituraRoberto Aparecido Gamba, eu nasci em Florida Paulista, Estado de São Paulo, em 28 de maio de 1956.
Entrei na Petrobras em primeiro de junho de 1977, na subsidiária Braspetro, Petrobras Internacional, através do processo de recrutamento e seleção que era utilizado na época de formação da subsidiária. Comecei na área administrativa como escriturário.
Fiquei nessa função por um curto período, passando depois pra área de engenharia de reservatório, como técnico auxiliar, na ajuda de simulação de reservatórios. Posteriormente, passei para a área de operacional, em 1985.
Normalmente, quando você é muito jovem, tem uma série de idéias na cabeça, mas nem sempre tem tudo muito claro. E, obviamente, quando você dá um passo desses, meio no escuro, pode ter bons resultados, você acaba descobrindo coisas que até então não teria coragem de fazer. Foi surpreendente, gostei muito. Era a parte técnica, porém de escritório. Melhorou muito quando eu saí da cadeira do escritório para trabalhar na área operacional.
Eu era muito novo, ainda estava no início de faculdade, em Tecnologia de Processamento, na Faculdade do Estado da Guanabara, em frente ao Canecão, no Rio de Janeiro. Era um curso pioneiro no ramo da informática, em função do ramo de engenharia de reservatórios, que utilizava computador naquela época era para este tipo de trabalho.
Foram às operações da antiga Braspetro no Iêmen. No Iêmen comunista, claro. Você tinha o Iêmen do Norte, que era separado, e o Iêmen do Sul, para onde nós fomos. Se eu não me engano, a minha primeira missão foi em abril de 1985 para cuidar da nossa warehouse, onde se guardam todos os materiais de poços, desde brocas à material de lama, revestimentos etc. Era no meio de um deserto na parte sul do Iêmen. Eram missões que revezávamos com amigos; foi onde tudo começou, na verdade. Eu creio que durou por dois, quase três anos. Não me lembro bem, porque mesmo após o término dos dois poços, sempre há um processo de fechamento da sucursal. Eu creio que desde o início das operações de exploração sísmicas até o término, deve ter durado cerca de quatro anos, se não me falha a memória. O contrato era para dois poços exploratórios.
Para nós, foi um tanto mais fácil, eu creio, do que para as pessoas que moravam na capital. Quando você chega a um país desses e convive com os locais, acho que há um choque maior. Mas no meu caso específico, não. Eu parti pro deserto onde nós tínhamos a nossa base montada. Eu fui cuidar dessa base de apoio às operações de poços. Na verdade, eu convivi com poucas pessoas do país, às vezes com alguns expatriados. Então, existe um aprendizado muito grande com eles. Você começa a notar certos hábitos, certas diferenças. Lógico, que era bem mais suave e bem mais calmo do que para as pessoas que moraram na em Áden. Na época, a capital do Iêmen era Áden. Mas foi interessante, foi um choque de cultura grande. Primeiro, porque nós somos cristãos, fazemos parte do cristianismo, e você chega num país islâmico, cuja religião é totalmente diferente da nossa. Você tem um grande impacto no início, mas depois passa a entender, aprende a conviver, o que se torna realmente fácil.
Eu não tive grandes dificuldades. É claro, tinha problemas de guerras e outras coisas, mas em nível profissional, com as pessoas, não. Normalmente eram pessoas dóceis e se adequavam também ao nosso escopo de trabalho, ao nosso modelo de profissionalismo. Mas você tem hábitos alimentares diferentes, mas sempre têm aquele jeito de você se adequar, para ambas as partes. Então, não encontrei maiores dificuldades, mesmo porque o nosso objetivo lá era um trabalho de prospecção, tinha que dar tudo certo nos poços que nós tínhamos perfurado. Havia prazos, limites. Você faz parte de uma equipe que conduz isso tudo. Tem que estar, realmente, muito atento. Foi bom. O início foi bom, muito calmo, eu gostei muito, repetiria tudo novamente, claro.
Na verdade, nós pegamos a guerra civil, durante a nossa operação. Quem pegou o pior foi quem lá estava. Eu estava de folga no Brasil. Nós pegamos o pós-guerra quando retornamos pra ver nossas instalações, como estavam nossas unidades e, realmente, nós pegamos o país numa situação muito difícil. A capital ainda estava um pouco agitada, as pessoas sepultando corpos, os hotéis ainda todos sem luz. A cidade tinha um cheiro muito forte de corpos em decomposição, parecia que aquele cheiro estava na cidade toda. Ainda fiquei um período na capital, antes de voltar pro deserto pra ver como se encontravam todos os nossos materiais e equipamentos. Foi muito interessante, porque maioria não tinha coragem de comer carne. Então, passamos vários dias lá, comendo arroz branco e ovo frito, porque tudo que tivesse relação com a carne, as pessoas ficavam com certo... A cidade estava um pouco mal cheirosa, digamos assim.
Ver aquela situação, as casas arrebentadas, as pessoas feridas, soldados ainda enfaixados andando pelas ruas... Um pós-guerra é sempre muito traumático. Mas isso fez parte, logicamente, da nossa operação lá. Em seguida, eu tive que ir pro deserto pra ver como se encontravam nossos equipamentos, as nossas áreas. Pra nossa surpresa, estava tudo em perfeitas condições, não aconteceu nada, porque a guerra foi realmente na capital. Foi um problema do próprio partido comunista, quando o vice-presidente quis tomar o poder. Foi um conflito interno, do mesmo partido, do próprio governo, apenas uma disputa de poder. Obviamente, tiveram pessoas que saíram de lá em situações bem diferentes, ou seja, bem confusas, tentando ir pra navios russos, ingleses. Mas eu tive sorte de estar fora, quando retornei tudo tinha acabado.
Na Líbia, nós tínhamos dois projetos paralelos, um deles era a parte de óleo, nós tínhamos uma sonda que prestava serviços de perfuração pras empresas estrangeiras que lá estavam. Era a bandeira da Brasoil, subsidiária da Braspetro. Nessa mesma época, iniciou-se um projeto da Petrobras de perfuração de poços de água. Mas eu fui da parte da sonda de perfuração de poços de petróleo. Também foi uma vasta experiência, um conhecimento muito grande, diferente do Iêmen. A Líbia é no norte da África, muito próximo da Europa. O Iêmen é Oriente Médio, um pouco mais distante. A Líbia foi um pouco mais fácil pela própria condição do país.
Eu fiquei na cidade de Trípole. A nossa sonda rodou em vários lugares, desde Marzuq até o sul, quase divisa com o Sebha. A sonda andou em vários pontos do Saara. Ali eu fazia parte de apoio da capital, não ficava na sonda, diretamente na boca do poço, como chamam. Eu tive um contato maior com a cultura local, pelo fato estar numa capital convivendo com os líbios. É também um povo bom de lidar, claro, com certas particularidades, mas já diferia do iemenita. Digamos que o iemenita era um pouco mais dócil, e o líbio não chegava a ser prepotente, mas era bem diferente; eu creio que por condições financeiras e de proximidade com o ocidente.
Na Líbia, no início, foi um pouco difícil. Foi logo depois daquela fase em que os Estados Unidos tinham conseguido o embargo comercial através da ONU. E, realmente, tínhamos uma operação que não era muito fácil, porque não era tudo que se podia encontrar no país, nem tudo se podia importar, tinha sérias restrições. Mas os anos todos foram bem proveitosos, contribuíram muito pra nossa experiência na Petrobras e como prestadores de serviços, que foi o que fizemos lá. Foi incrível, foi inexplicável.
A Brasoil era uma empresa de operações, ou seja, em um projeto, há a parte de exploração, pra isso acontecer, alguém tem executar o serviço. Então, a Brasoil detinha sondas de perfuração pra fazer o poço. A atividade da Brasoil era diferenciada, era operacional. É diferente de uma área de exploração. Se for determinado furar um poço, por exemplo. A Brasoil perfurava, ela detinha os equipamentos de perfuração. Essa é a diferença da exploração pra produção. Estávamos aptos a fazer qualquer tipo de coisa, tanto para a Petrobras, como para as demais empresas.
Fazíamos parte de uma equipe que prestava serviços. E é uma escola muito grande, porque você lida com pessoas diferentes, com idéias diferentes, com exigências diferentes. Você passa a adquirir uma qualidade acima do mercado, porque tem vários clientes exigentes. Você começa a aprender. Se você trabalhar pra uma empresa como a Chevron, pra uma empresa como a British Petroleum, como pra própria Petrobras, você passa a prestar serviços para diferentes exploradores de petróleo. Isso te dá um padrão de qualidade muito grande no mercado internacional. Esse é o know-how, inclusive, porque a Brasoil trouxe quando retornou ao Brasil e devolveu as unidades pra Petrobras. Foi uma grande escola, um bom aprendizado de qualidade.
Atualmente, nós temos sondas iranianas perfurando pra Petrobras no Golfo Pérsico, como temos outras sondas perfurando na Bacia de Campos. A Petrobras teve essa experiência, ela também teve sua equipe de operação prestando serviços a terceiros. Porque a Petrobras tem isso hoje em grande quantidade. Existem empresas na Bacia [de Campos] que prestam serviços pra Petrobras. A Petrobras ainda tem esses dois ramos, tem suas próprias sondas. Atualmente, todas prestam serviços pra ela mesma, mas já houve épocas, na Braspetro e da Brasoil, que ela utilizava as suas próprias sondas lá fora pra serviços de operação. Digamos que um projeto num país vai custar “X”, e você pega a sua própria sonda. De certa forma, você tem o retorno do próprio dinheiro que está investindo através da sua sonda. É a minha maneira de ver, creio que na empresa seja isso aí também.
Depois eu voltei pra base aqui no Rio de Janeiro, na qual eu continuava prestando apoio para serviços em demais países. Posteriormente, fomos pra Angola. Em Angola também tínhamos sondas que prestavam serviços.
Quando eu saí do projeto Líbia, eu voltei pra base, passei um período no escritório, apenas atendendo às necessidades eventuais de trabalho: inventários, implantações de alguns softwares ou coisa parecida. Nesse período, eu fui pra Brasoil Angola, parte operacional. Nessa época nós tínhamos a P-11, uma sonda jack up, e a P-16, uma semi-submersível. As jack up são aquelas sondas com pernas fixas, que vão até o fundo do mar. As semi-submersível é aquela que flutua, normalmente, ela é ancorada. Hoje as mais modernas são aquelas plataformas que têm posicionamento dinâmico. Esse projeto de Angola foi bem extenso, porque fizemos alguns trabalhos extras. Fomos pra Namíbia, dali descemos pra Mar Del Plata, e retornamos novamente pra Angola. Isso aí durou um bom período também, em todas as atividades.
Angola foi bem mais divertido, porque estávamos lidando com um povo colonizado como o nosso. O angolano fala o português, a mesma língua, embora eles tenham um português mais carregado, como o de Portugal. É um povo muito amável, muito doce, muito agradável. Foi muito mais fácil lidar, trabalhar com isso tudo. Continuamos a ter aprendizado também, porque você sempre está aprendendo coisas novas. Lidávamos também com empresas, prestamos serviços às empresas estrangeiras. Mas com povo é bem mais fácil de lidar. Foi muito bom, não tivemos maiores problemas. Houve dificuldades sim, porque o país ainda estava em guerra. Era o governo atual contra a oposição, que queria o poder, demarcando território, um mandava no outro; um mandava na parte de diamantes, então, havia restrições nesses lugares. Dependendo do lugar, você não podia passar de carro, se você estava na capital Luanda, não podia sair tarde do acampamento, e coisas parecidas. Eram dificuldades de logística, pela situação do país. Mas aos poucos a situação do país foi melhorando e as nossas operações também. Em seguida fomos pra Namíbia, e de lá a Mar Del Plata, na Argentina. Quando voltamos já estava bem mais fácil de lidar com isso tudo.
Normalmente, você recebe toda informação a respeito do país para onde está indo, o que pode e o que não pode, o que se deve e o que não se deve fazer. Isso é uma política que a Petrobras, a Braspetro, sempre tiveram. Normalmente, antes, se estuda um pouco sobre o país pra saber onde você está indo e com quem está lidando, principalmente quando se trata de países islâmicos. Fui ao Iêmen, que é um país islâmico, e a Líbia. A Líbia é um pouco mais aberta que o Iêmen, por questões políticas do país. Mas a gente sempre teve algumas recomendações pra esse tipo de país.
Eu acho que isso [preocupação da família] é pra vida de qualquer pessoa que trabalha em regime de embarque. Tanto faz ficar oito dias no mar ou quarenta e dois em terra; você está sempre na área operacional. Nunca pode contar com data certa de natal, aniversário, batizado ou festa. Às vezes você está, às vezes não. Eu creio que isso começa a fazer parte da sua vida e a sua família, de certa forma, passa a ser conivente com você nisso tudo, senão não haveria operação. Alguém tem que fazer, alguém tem que se adaptar. Não é fácil. Há casos de amigos em que a família se desmontou, mas normalmente você tem que tentar conciliar isso da melhor maneira possível. E dá para se conciliar.
Nós temos uma grande vantagem, nós somos brasileiros. Queria ou não, ser brasileiro nesses países ainda é uma grande coisa, porque eles realmente vêem o Brasil como uma espécie de mito, principalmente pelo futebol. Era comum chegar a uma alfândega, no Iêmen ou na Líbia, por exemplo, o cara te atendendo, revistando a sua bagagem, usando uma camisa da seleção brasileira. Isso te dá um conforto. De certa forma, ser brasileiro nessas horas ajuda.
A vida profissional que você tem lá fora, esse lado profissional que a empresa lhe dá, indiretamente favorece outras coisas, um conhecimento do mundo. Quando você está voltando de férias, necessariamente, não é obrigado a chegar ao Brasil no dia seguinte, e você tem “n” opções. Então, através do meu trabalho – tenho orgulho em dizer “a minha empresa”, porque hoje eu não me considero empregado, me considero empresa, se estou num país desses, eu sou empresa – eu tive “n” momentos que estão na minha memória, que ela me proporcionou. Quem vai visitar Djibouti, na ponta do leste da África? Quem vai fazer uma conexão em Adis-Abeba, mudar de vôo em Adis-Abeba? Quem esteve num aeroporto em Beirute na época da guerra, vendo um bombardeio no meio da pista e correu para pegar um avião? São fatos vivenciados que a empresa proporcionou. Não fazia parte do meu currículo, digamos assim, mas eu pude vivenciar isso tudo. Realmente, se resumir tudo, tem essa experiência: desde a guerra do Iêmen, as sanções econômicas da Líbia, a estada em Angola depois de uma guerra civil de muitos anos, as passagens pelas águas de Mar Del Plata, de Cayo Coco, da América Central e até chegar à civilização mais antiga do mundo. Tudo com o profissionalismo da Petróleo Brasileiro SA, Petrobras. Essa é minha vida.
Depois de Angola, retornei pra nossa base no Brasil, aqui na sede. A nossa Brasoil também foi montada na Bolívia, nosso famoso campo de gás, hoje polêmico. Houve também um contrato exploratório em Cuba, em Cayo Coco. Foram missões isoladas. Claro, que com muito mais facilidade por lidar com a América Latina. De um modo geral, o idioma, os hábitos e os costumes ajudam. Você pode se policiar um pouco menos do que em uma cultura islâmica. Mas foi realmente fantástico ter esse trabalho na Bolívia também, levamos uma sonda de terra lá pra furar poços.
Em Cuba também fizemos um trabalho fantástico em uma ilha. Essa ilha foi toda preparada. O Demarco, que vai depor aqui, pode falar desse trabalho em Cuba. Retiramos toda a flora e fauna de uma ilha, fizemos o poço, depois restauramos tudo pro governo de Cuba novamente, essa foi à condição. Por isso, foi um trabalho fantástico, alguns amigos meus participaram muito mais. A minha parte sempre foi de materiais e logística, não estava muito ligado à parte estratégica do projeto.
O cubano é um povo bom, sofrido, por questões que não vem ao caso, por uma questão política do país, não é um mérito ou questão profissional meu ou da Petrobras. E é um povo latino como nós, um povo muito amável. O país é muito bonito e tem uma cultura muito rica. Havana é uma cidade muito interessante.
IMAGEM DA PETROBRAS
Valeu Faria tudo novamente, iria novamente a Cuba, iria pra esses países fazer o mesmo trabalho, porque é um aprendizado constante, com o decorrer do tempo, nessa convivência. Eu faço 30 anos de Petrobras em junho, isso significa uma vida profissional, uma vida de fatos ocorridos que você traz na sua bagagem. Isso é Petrobras. No meu ponto de vista, é uma carreira que não teria em outra empresa do ramo de petróleo. Em se tratando de petróleo no Brasil é Petrobras. Muito válido. Todos os países em que eu pude passar e até mesmo os países onde fiz conexões, porque às vezes você tem que mudar de avião. Foi extraordinariamente bom. É um privilégio fazer parte deste memorial que vocês estão montando pra Petrobras. Eu vou fazer faço 51 anos, sendo que 30 são da Petrobras. Você imagina um jovem com 21 anos entrando pra uma empresa com esse porte e com a garra que se tem? Só tem aproveitamento. O que é a Petrobras? Hoje, a maior parte da minha vida é a Petrobras, dos 51, 30 são dela, então, ela está comigo. Ela é parte integrante da minha vida, sem comentários. Como disse o Virgílio: “É petróleo na veia”.
Isso não tem preço porque vai pra sua memória, como o trabalho que vocês estão fazendo. E o que você põe na memória, jamais lhe tiram. Talvez tenham coisas, particularidades, que você nunca vai conseguir ler através de jornais ou livro, e que você pode presenciar quando está num país diferenciado do nosso. Então, são pequenos detalhes de cultura que eles têm, que você percebe num empregado que está trabalhando contigo, um empregado local. Daquele convívio, você tira um aprendizado muito grande, e começa a fazer comparações para assimilar. Como eu disse, é um conhecimento que você jamais vai perder. Ninguém vai lhe tirar isso. Eu acho que é um privilégio ter esse tipo de oportunidade.
A nossa Brasoil terminou – a nossa prestadora de serviços lá fora. A empresa resolveu terminar este tipo de serviço, todas as unidades retornaram ao país, até mesmo por questões de obsolescência, foram vendidas. Quando voltei ao Brasil, a nossa querida Braspetro foi extinta. Com a lei 2004, foi quebrado o monopólio, então, não havia mais necessidade de ter a Braspetro, que foi a mentora disso tudo, da Brasoil, Foi uma empresa criada pelo fato da lei 2004 não dar permissão a Petrobras atuar no exterior. Então, essa era a finalidade da Braspetro, que fazia parte da Petrobras Internacional. Uma vez que esse monopólio foi quebrado, a Petrobras era uma empresa livre para isso, não havendo necessidade de duas empresas para a mesma finalidade. Em primeiro de outubro de 2002, se não me falha a memória, a Braspetro foi extinta. Todos os empregados da Braspetro eram da Petróleo Brasileiro S.A. Eu estava, por incrível que pareça, cedido em Macaé, treinando uma equipe de materiais para P-16, que nós havíamos devolvido pra Petrobras, a qual eu pertenço até hoje. No início do ano passado, por uma questão desse projeto da Petrobras no Irã, eles estavam montando uma equipe de pessoas com experiência em países islâmicos, e eu tive o privilégio, novamente, de ser convidado pra fazer parte da Petrobras Midle East Irã. Fui cedido pelo E&P/SERV/US de Macaé, estava lá desde 2000, quando nós trouxemos a unidade. Agora em 2006, voltei novamente para o exterior, para dar apoio ao projeto do Irã.
Digamos que a Braspetro era compacta, era uma empresa que cuidava exclusivamente dessa atividade, era uma empresa mínima, pequena. Hoje a área de negócios é uma área dentro da Petrobras, uma empresa de grande porte. Como eu voltei pra esse projeto, não teria como fazer uma avaliação mais ampla disso tudo. Mas pelo fato de se ter trazido a filosofia, as pessoas e a memória da Braspetro, eu creio que a Área Internacional deva ter a mesma intensidade e permanecer da mesma forma, cada vez melhor, com certeza.
Eu sempre tive muito orgulho da minha falecida Braspetro, porque, como se diz, você começa a sentir no seu sangue. A empresa começa a fazer parte da sua vida profissional. Quando você consegue conciliar boa parte da sua vida profissional, o resultado é espetacular. Então, eu fiquei muito contente também em fazer parte da Petróleo Brasileiro S.A., mas indiretamente eu já era pertencia à empresa. Ao mesmo tempo em que eu fiquei contente, orgulhoso de fazer parte da Petróleo Brasileiro SA, eu fiquei saudoso da Braspetro. Mas tudo bem.
Pra mim, de todos os países, o Irã é o mais extraordinário. É extraordinário lidar com um povo totalmente diferente do resto do mundo, a gente não faz idéia. Como é Oriente Médio você pensa que é tudo a mesma coisa. Não é. Lógico, tem o lado da religião, da teocracia, que é o que manda, determina o país, mas o povo que está ali, a cultura, a civilização é outra. Você lida com o povo persa. Estamos com as nossas operações montadas na Ilha de Kish, na entrada do Golfo. Essa ilha pertence ao Irã. É uma operação difícil, a logística é complicada, porque já começou o embargo. No dia primeiro de janeiro desse ano [2007] tiraram os helicópteros de fabricação americana. Isso dificulta, porque não tem mais troca de turma com helicóptero, com maior segurança, tem que ter barcos alugados. Nós estamos com barcos alugados chamados catamarães. É uma operação de logística difícil, tem que saber lidar, ter um certo tato. Mas é claro que, nesses anos todos, eu aprendi a lidar com situações como essa. É muito mais difícil do que lidar na Bacia de Campos, onde tem a Petrobras, com uma tremenda estrutura montada para lhe apoiar 24 horas por dia. Quando você chega a um país desses, você está praticamente sozinho em determinados pontos estratégicos e você tem que dar o recado e fazer acontecer. O Irã é realmente fascinante, como tudo: como cultura, como país. Lógico, a operação nem sempre é muito fácil, porque às vezes, o que pra nós é urgente, pra eles nem sempre é. Eles têm outras prioridades e, uma vez que você está no país deles, tem que fazer as coisas acontecerem. Você tem que ver a particularidade deles, os limites e outras coisas. Mas de todos, o Irã é a maior escola.
A gente está tendo uma operação bem diferenciada das demais e, lógico, estamos próximos de um poço de história. Então, você sempre tenta conciliar quando está num país desses, mas as nossas operações estão sendo também uma escola de primeira grandeza. Nós temos dois poços exploratórios, um já quase pela metade. Depois disso teremos mais um. Foi um contrato de risco, que nós esperamos alcançar resultados. Esse resultado significa encontrar um bom óleo ou, quem sabe, um bom gás, se for de interesse comercial. Estamos no primeiro poço, creio que teremos mais um ano, pelo menos, até terminar o segundo. Depois a empresa deve decidir o que fará, se continuará ou não.
O poço exploratório é um poço surpresa, que você parte para “os finalmentes” pra saber o que está acontecendo. Eu sempre estive muito perto da operação da empresa lá fora, como parte da área de exploração da Petrobras ou da Braspetro, como queira chamar, e também da parte de operacional, prestando serviços pra outras empresas e pra nossa própria empresa. Eu confesso que devido às dificuldades operacionais, acho que a compensação deve ser grande. Tomara”. Eu não gostaria de ver esse depoimento mais tarde se não encontrarem bons resultados, eu quero imensamente suceda um bom óleo lá. No Golfo Pérsico, tem as riquezas do Iêmen, da Arábia Saudita, do Iraque, do Irã. Praticamente, nesse miolo, você tem a maior parte de reservas. Como o Brasil está pros 12% da água potável do mundo, o Oriente Médio está para o petróleo. Realmente, o eldorado ainda é naquela região, nas águas do Golfo.
Minha avaliação de agora é boa. Eu espero que daqui a algum tempo possa ser melhor ainda, como disse, uma vez que você traz toda essa bagagem de conhecimento para a Petrobras, uma empresa, principalmente, de exploração e serviços no território brasileiro. Então, agora ela pode agir dessa maneira como está agindo, e como a Braspetro agiu nesses anos todos desde a sua criação, desde a sua fundação.
Hoje você está na era da informática. Então, por exemplo, no Iêmen nós utilizávamos telex. Às vezes, eu ia pra um posto telefônico e ficava ali horas esperando a minha vez pra conseguir me comunicar até mesmo com a minha família no Brasil. E usávamos o rádio, tanto na capital, onde era a nossa sede, como com a sonda, onde ocorriam as atividades do poço. Hoje, por exemplo, tem a internet, você está na era digital. Toda essa facilidade de comunicação veio ajudar as nossas operações, até mesmo as viagens se tornaram mais fáceis, menos complicadas do que antigamente. No início era tudo difícil, porque você não tinha essa facilidade de comunicação. Hoje você estala seu dedo aqui e eu escuto lá no Irã pelo nosso sistema. Nós temos ramais internos de empresa, então, se você discar o número 14752, fala comigo do Irã por uma extensão da Petrobras. Com o decorrer dos anos, toda essa experiência adquirida pelas pessoas, por engenheiros, geólogos, administradores, economistas, foram cada vez mais caminhando para especialidades, digamos assim. Hoje está um tanto mais fácil de operar pelo mundo afora. No início foi um bocado mais difícil. E é aí que entra a velha saudade da empresa que nasceu na “Petróleo”.
Quando eu entrei pra empresa, ela estava em fase de estimular esse lado, pelo fato de utilizarmos uns poucos computadores que existiam no Brasil. Foi quando eu fiz tecnologia em processamento de dados. Na verdade, é um curso técnico. Eu vi que era o boom do momento, como hoje é meio-ambiente e segurança no trabalho.
Então de lá para cá, tudo evolui. È só comparar uma viagem pro exterior em 1985 e hoje para um país desses; é muito mais fácil de fazer isso tudo. A informática também contribuiu para isso, sem sombra de dúvida. Tudo evoluiu num conjunto, num contexto. E, paralelo a isso, tem a experiência das pessoas, que vão amadurecendo na sua vida profissional. E isso é bom, dá pra fazer tudo de novo.
Eu espero que vocês consigam botar boas informações no Memória Petrobras, que vai ser um acervo muito grande pra todos nós, principalmente, e pras gerações futuras, porque a Petrobras é uma empresa de energia. Tem a geração nova que está trabalhando pra ela, ou por ela, que vai ter uma fonte de informação disso tudo que valeu na nossa experiência. Somos os pioneiros, mas temos que deixar informações que possam ser proveitosas, que possam servir pra alguma coisa. O que eu tenho a dizer é somente que tenho muito orgulho dessa empresa, tanto é que eu não me sinto empregado, me considero empresa.
Eu fico com muito orgulho. Eu gostei muito de ter participado disso. Eu não sei se eu pude contribuir com alguma informação. Vocês estão lidando com pessoas de várias gamas da empresa, entrevistando geólogos, engenheiros, economistas e cada um na sua área vivenciou momentos diferentes. Dentro da minha área operacional, a parte de materiais e logística, o que eu pude vivenciar foi isso que tentei passar. Não sei nem se consegui passar alguma coisa.
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