Projeto Memória Petrobras
Depoimento de Roberto Anderson
Entrevistado por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB614
Transcrito por Écio Gonçalves da Rocha
P – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P – Eu gostaria de começar essa entrevista pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Roberto Anderson de Miranda Magalhães. Eu nasci em São Paulo. E, data de nascimento?
P – Data de nascimento.
R – 15 de janeiro de 54.
P – Roberto, eu queria que você contasse pra gente, assim, de uma maneira mais rápida, sua trajetória na área cultural. Como é que você chegou a ir trabalhar?
R – Bom, eu sou Arquiteto, e já havia trabalhado antes. Desde a época de faculdade eu já vinha me interessando pela área de patrimônio e urbanismo. Eu sempre trabalhei com as duas áreas, de patrimônio e urbanismo. E já havia trabalhado antes com essa área de patrimônio, na Uepac (?). Saí. Trabalhei um período na Prefeitura, cuidando do Centro do Rio. Nessa época do Centro eu criei um trabalho chamado Fim de Semana no Centro. Era um projeto muito interessante. Durou um tempo, duas gestões de governo. E depois eu fui de novo pra Uepac (?), que é um órgão de preservação do patrimônio aqui do Estado do Rio, onde eu retomei um trabalho que já havia sido iniciado na Secretaria de Cultura, que é o Distrito Cultural da Lapa. Então a nossa idéia é dar seqüência a um projeto que tava formatado, mas não tava definido ainda de onde viriam os recursos, etc. Então nós conseguimos chegar até a Petrobras e fazer todo os ________, e deu tudo muito certo. E pra nossa felicidade o projeto ta andando.
P – Você fala um pouco primeiro como é que é o projeto, como é que ele ta formatado. É um conjunto todo ou só, conta um pouco pra quem não conhece o projeto.
R – O projeto se chama então Distrito Cultural da Lapa. O Distrito nasceu do seguinte. O...
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Depoimento de Roberto Anderson
Entrevistado por Márcia de Paiva
Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2004
Realização Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB614
Transcrito por Écio Gonçalves da Rocha
P – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P – Eu gostaria de começar essa entrevista pedindo que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Roberto Anderson de Miranda Magalhães. Eu nasci em São Paulo. E, data de nascimento?
P – Data de nascimento.
R – 15 de janeiro de 54.
P – Roberto, eu queria que você contasse pra gente, assim, de uma maneira mais rápida, sua trajetória na área cultural. Como é que você chegou a ir trabalhar?
R – Bom, eu sou Arquiteto, e já havia trabalhado antes. Desde a época de faculdade eu já vinha me interessando pela área de patrimônio e urbanismo. Eu sempre trabalhei com as duas áreas, de patrimônio e urbanismo. E já havia trabalhado antes com essa área de patrimônio, na Uepac (?). Saí. Trabalhei um período na Prefeitura, cuidando do Centro do Rio. Nessa época do Centro eu criei um trabalho chamado Fim de Semana no Centro. Era um projeto muito interessante. Durou um tempo, duas gestões de governo. E depois eu fui de novo pra Uepac (?), que é um órgão de preservação do patrimônio aqui do Estado do Rio, onde eu retomei um trabalho que já havia sido iniciado na Secretaria de Cultura, que é o Distrito Cultural da Lapa. Então a nossa idéia é dar seqüência a um projeto que tava formatado, mas não tava definido ainda de onde viriam os recursos, etc. Então nós conseguimos chegar até a Petrobras e fazer todo os ________, e deu tudo muito certo. E pra nossa felicidade o projeto ta andando.
P – Você fala um pouco primeiro como é que é o projeto, como é que ele ta formatado. É um conjunto todo ou só, conta um pouco pra quem não conhece o projeto.
R – O projeto se chama então Distrito Cultural da Lapa. O Distrito nasceu do seguinte. O Governo do Estado, que herdou todo o patrimônio imobiliário da antiga Guanabara, ele é proprietário de uma série de imóveis na área do Centro, e principalmente na área da Lapa, em função dos vários planos urbanísticos, viários que geraram desapropriações de sobrados, desapropriações de imóveis. Então, muitos desses sobrados estavam, até a década de 80, não tinham um uso definido e nessa época, era o Governo Brizola, se não me engano, houve uma primeira iniciativa de destinar parte desses imóveis, principalmente os que estavam na Lapa, a atividades culturais. Então foram pra lá o Grupo Umbú (?), o Ta na Rua, o Augusto Boal, a Federação de Blocos Afros, Casa Brasil Nigéria, estão todos instalados em alguns sobrados. Mas isso ainda não contemplava todo o universo de imóveis do Governo do Estado nessa área. Então foi criado por decreto uma figura chamada Distrito Cultural da Lapa que engloba todos esses imóveis públicos desde a Igreja Nossa Senhora da Lapa, do Distrito da Lapa, ________ Lapa, até o fim da Lavradinho. Todos os imóveis que são públicos passam a ter uma destinação prioritária a atividades culturais. E o Estado teria que buscar meios de recuperar esses imóveis. Muitos deles estavam em péssimo estado de conservação. Então, esse é a figura legal do Distrito. Mas a formatação de como, porque uma coisa é você entregar a uma entidade cultural, que ás vezes não tem capacidade e recursos pra levantar o prédio em si. Pode tocar a sua atividade, mas o prédio já é uma obra mais cara. Então a nossa função foi começar a pensar como se poderia buscar uma outra formatação do projeto que fosse mais ampla e que o Estado tivesse uma intervenção mais ativa no sentido de recuperar os imóveis e buscar outras atividades. Não só aquelas que já estavam, mas criar outras atividades. Então existe uma idéia de criar um Centro de Documentação da Lapa, criar uma página na Internet do Distrito Cultural da Lapa, criar uma série de quiosques eletrônicos que conectem todos os Centros Culturais, todas as Casas de Cultura da Lapa de forma que você possa, em cada uma dessas, acessar a programação de todas elas, saber o que está acontecendo. E, principalmente, recuperar os imóveis.
P – Criando uma identidade mesmo dentro desse espaço?
R – Exatamente. Que é uma área rica culturalmente, uma área que durante um certo tempo ficou um pouco embaixo, mas eu acho que pela força das entidades culturais que estão ali, ela foi renascendo. Hoje em dia a Lapa é uma efervescência muito grande. Mas a gente sempre tem que olhar no ponto de vista que não basta essa efervescência. Tem que ter suporte físico. E suporte físico são as edificações têm que estar mantidas, têm que estar dando, inclusive, segurança aos usuários. Então, nós procuramos a Petrobras com uma proposta. Levamos num primeiro momento uma série de possibilidades de intervenção pra Petrobras. E foi muito boa a acolhida. Nos parece que a intenção é que haja um investimento a longo prazo, em várias fases. Então nós formatamos uma primeira fase inicial que consta de quatro projetos que já estão em curso. São três ligados a edificações e um ligado à memória mais documental. Então, nesse caso, nós já iniciamos a obra.
P – Peraí. É memória documental ligada...
R – a uma das entidades que funciona lá, que é o Museu da Imagem e do Som.
P – Ta.
R – Então, nós iniciamos a obra em três imóveis que são o Museu da Imagem e do Som, cuja sede é na Lapa. Que tem um acervo fantástico, mas que não tinha condições nem materiais, nem de digitalização desse acervo, que dessem um fácil acesso a todo mundo pra que pesquisassem esse acervo. E então, no caso do Museu da Imagem e do Som, o nosso projeto com a Petrobras inclui a recuperação do imóvel, toda a fachada, todo o telhado, as fachadas laterais e criação de uma recepção no térreo para que as pessoas possam ser atendidas, saber pra onde vão, chegarem a terem, talvez, acesso a computadores, saberem o que querem pesquisas etc. E, ainda no MIS, o outro projeto é a digitalização de grande parte do acervo de partituras. Tem um acervo imenso de partituras. E que esse então é muito mais difícil de acessar se ele não tiver digitalizado porque são papéis frágeis etc. Então esse também é o valor da obra do MIS, em torno de 400 mil. E o valor da digitalização do acervo está em torno R$ 380,00. E tudo isso já está andando. E as outras duas obras é interessante porque há uma, ta bem contrabalanceado porque de um lado temos o MIS, que é um órgão oficial, e do outro lado são duas entidades ligadas ao movimento negro, que é a Federação de Blocos Afros e Afoxés do Estado do Rio de Janeiro, e a Casa Brasil Nigéria. Então, em todos esses dois, o projeto contempla a recuperação da fachada, do telhado. E, no caso da Federação, nem telhado eles tinham. Eles tinham um telhado improvisado, que não era o telhado original. Então a gente vai refazer todo o telhado. Aí, obviamente, sempre obra é obra. Nunca, quando se começa uma obra você descobre...
P – Mexe aqui?
R – É. Você descobre mil outros problemas. Então a gente encontrou um problema sério que era, a laje deles, do piso, entre o primeiro e o segundo andar, entre o térreo e o primeiro andar, tava completamente comprometida. Era um risco realmente, que eles nem percebiam que estavam correndo esse risco de desabamento mesmo. Foi muita sorte não ter acontecido nada.
P – E esse casarão, você sabe mais ou menos precisar a data?
R – Todos esses, os dois sobrados fazem parte de um conjunto muito bonito onde estão o Ta na Rua, o Boal, o Grupo Omú (?) e essas duas entidades. Eles todos formam uma fachada contínua. Quando todos forem recuperados você vai ter a noção de um grande casarão muito imponente. E eles são ecléticos, eles são do século 19. É difícil precisar. A gente, quando trabalha nisso, às vezes não, na falta de um documento preciso você situa em função do estilo do imóvel. Ele é um estilo eclético com influência neoclássica. Então a gente situa aí no final do século 19. Pode ser 1890, 1880 por aí.
P – E aí você estava falando que estava com um problema na laje.
R – Tava com um problema na laje. Ela teve simplesmente que ser demolida.
P – Imagina.
R – Então a gente vai ter que reconstruir toda a laje, vamos construir um novo telhado. E, quando finalmente estiver pronta, o prédio vai estar em condições de uso com segurança. E no caso da Brasil Nigéria, que tinha um telhado escorado, eles tinham um telhado original, mas ele já estava tão comprometido que tinha uma escora. Aí, quando a gente entrou, realmente. Nos dois casos. Também no caso da Brasil Nigéria a sensação que a gente teve é que eles tiveram muita sorte de não ter tido um desabamento. Já tava por um triz mesmo.
P – Imagina.
R – Então a intervenção foi providencial. E taí em curso, as duas obras estão em curso. Então, no final, a gente espera entregar tudo pronto. Mas é nosso interesse, e agora nós já estamos com outros projetos na Petrobras para dar seqüência ao Distrito Cultural da Lapa, que seria então a segunda fase do projeto.
P – E aí você pode falar um pouquinho?
R – Posso, claro. Então, a segunda fase a nossa intenção é recuperar os vizinhos, que são a do Boal, Ta na Rua etc. Trabalhar um monumento que tem na rua, que é muito bonito, que é o Lampadário da Lapa, que é um monumento. Que é um Lampadário que ta sem lâmpadas, sem luminárias.
P – Como em vários pontos da cidade?
R – É. Então, a gente quer recuperar ele na sua forma original. Inclusive em pesquisas a gente descobriu que ele é muito interessante, ele remete aos descobrimentos portugueses. Então, o tema são as caravelas, os monstros marinhos, as ondas, mar, essa coisa toda. E são vários anéis sobrepostos. E houve um determinado momento em que isto foi desmontado e foi remontado na ordem errada.
P – Inversa?
R – É. Então a gente, quando restaurar, pretende botar na forma, que aí vai se ter uma leitura mais clara do quê que se trata.
P – Legal.
R – Isso. E também contemplar o prédio que a gente quer construir o Centro de Documentação da Lapa, que seria um centro de referência sobre a história da Lapa. A idéia, quer dizer, vai ser a história da Lapa mas também a história dos centros de uma certa forma. Mas mais centrada na Lapa. Toda a área, essa história urbanística é uma história cultural. A Lapa dos boêmios, a música, o samba, tudo isso. Então a idéia é que seja, o espaço não seria tão grande. Mas com recursos audiovisuais etc, você ter acesso a uma série de informações, poder ter projeção de filmes, de vídeos etc. Então esse seria um pouco a âncora do projeto do Distrito Cultural da Lapa. Essa seria a segunda fase. E temos já definido o que seria a nossa terceira fase também.
P – Ah, é? Então conta aí a terceira. Essa ainda ta no papel?
R – Ta no papel.
P – Mas já ta em projeto.
R - Mas já ta, já é de conhecimento dos órgãos que analisam dentro da Petrobras e também eles já sinalizaram com muitas simpatia que têm interesse nisso.
P – Ali no Centro também?
R – No Centro da Lapa. É que é um casarão muito bonito, que é o antigo Hotel Bragança. Aquele prédio das duas torrinhas ao lado da Cecília Meirelles. Ele tem uma história bonita. Ele já foi hotel, depois ele foi...
P – É aquele que ta quase caindo, né?
R – Exatamente. Ele ta invadido por muitas famílias, dezenas de famílias.
P – É lindíssimo. Ainda tem? A impressão que dá é que ele ta quase vazio.
R – Não, ele não ta vazio não. Infelizmente, pra risco dessas pessoas, ele ta cheio de gente.
P – Ele é lindíssimo.
R – E tem gente morando debaixo das telhas. Pessoas que conseguiram criar uma ventilaçãozinha e estão morando ali embaixo das telhas. E o risco de desabamento é muito grande. A gente tem sempre uma preocupação que com aquilo possa ocorrer um problema maior. E ele já foi casa dos estudantes, durante muito tempo. Recebeu, depois de ser hotel ele foi casa dos estudantes. Então, tem muita história. Muita gente, inclusive o próprio Santa Rosa se hospedou lá quando era estudante aqui da Petrobras. Então esse a gente quer criar um grande centro de artes. A idéia é criar ateliês, que os artistas fiquem com residências provisórias. Possam criar e depois expor. E haver um rodízio de artistas e tal. Mas esse, por isso a gente colocou ele numa terceira fase, porque ele é um imóvel privado. Então nós precisamos resolver o problema da propriedade, o problema da locação desses moradores. E aí sim poder investir no imóvel. Isso tudo ainda é um pouco demorado. E o outro projeto também é ali na Lapa. É um terreno que é do Estado, que não tem edificação. A edificação que havia ruiu e não tem vestígios, não tem nada. É apenas uma garagem. E a nossa intenção é criar uma escola de formação para restauro para que jovens entrem nessa área. Porque é uma área que aqui no Rio avançou muito. A gente passou a cuidar muito do patrimônio. E, no entanto, a gente depende muito de uma mão-de-obra de pessoas de idade, já muito antigas. Os antigos artesãos que não têm, que às vezes joga gente no ofício e passa seu conhecimento pra outros, mas não tem um lugar onde isso esteja sistematizado. Essa passagem de conhecimento artesanal, de como trabalhar com o gesso, como trabalhar a madeira, aquelas volutas, aquela coisa do restauro de ladrilho, a pintura, tudo isso que é uma coisa muito delicada e importantíssimas. Sem isso não adianta a gente conhecer de restauração, fazer cursos, se não tiver o artesão que vai lá na hora e vai efetivamente por a mão na massa. E a gente acha que, se isso for localizado na Lapa, é perfeito porque ta no meio da área de concentração desse patrimônio e no meio de um lugar onde a gente vê muitos adolescentes em situação problemática, de risco e tal. Isso seria uma forma de tentar atraí-los pra um projeto educacional. Então são esses dois que seriam o coroamento do projeto do Distrito Cultural da Lapa.
P – Ta bom. Roberto, você que trabalha patrimônio, quais são as maiores dificuldades que você encontra de trabalhar com isso aqui no Brasil?
R – Olha, num determinado momento,
P – A incompreensão?
R – que ainda bem que está começando a passar, era a incompreensão. O proprietário, havia muito essa noção de que é uma propriedade privada e que eu sou dono daquilo e que eu posso dispor do meu patrimônio como eu quiser e que ninguém teria nada a dizer com isso. Essa é uma mentalidade que pouco a pouco ta desaparecendo até porque se percebe que um bem restaurado, um bem mantido em boas condições, ele agrega valor à atividade que se exerce naquele local. Seja um restaurante, seja uma loja, etc. Então, de uma certa forma, essa incompreensão ta sendo mais ou menos vencida. São outras gerações que estão entrando também aí e que já vêm com uma visão mais arejada disso. Mas, fora isso, é sempre a questão do financiamento. Recurso. Esse é que é o grande problema. Muitas vezes a gente encontra, aqui no Centro do Rio isso é muito comum. Eu trabalhei num projeto que a gente tentou levantar a situação dos imóveis nessa situação de risco de desabamento aqui no Centro. E o que a gente percebia é que muitas vezes eram imóveis que eram herdados por parentes de algum português, espanhol, que às vezes já tinha voltado pra sua terra. Os herdeiros eram empobrecidos. Não tinham condição de cuidar daquele capital, daquele patrimônio. Ou às vezes nem o proprietário não se encontrava mais por aqui.
P – É abandonado?
R – Tinha sido completamente abandonado. Então, quer dizer, muitos imóveis não se sabe quem é o proprietário e aqueles que se sabe às vezes são famílias que não têm mais condições de mantê-lo. E falta. A legislação, até ela é bastante avançada nesse sentido. Ela prevê que nesse caso, tanto a legislação municipal quanto estadual quanto federal, ela prevê que no caso de incapacidade do proprietário de cuidar do imóvel, o Poder Público seria responsável por adjudicar a si essa tarefa de recuperar o imóvel e depois, um dia, cobrar desse proprietário. Mas aí o Poder Público ainda não tem condições ou vontade política de fazer isso. Então a gente depende muito de estar buscando esses patrocínios, financiamentos etc. No caso dos municípios, no Município do Rio, por exemplo, já existe um incentivo fiscal. Então isso já resolve bem a situação de quem tem uma atividade real, ou mora, ou tem um comércio. Ele vai ter um ganho com a isenção de IPTU, o que interessa e que faz ele se interessar em recuperar o imóvel. Mas aqueles imóveis que estão abandonados, esses realmente são muito difíceis. A gente tem que, e o Poder Público tem que agir, não pode ficar querendo. E nós que trabalhamos com isso temos uma certa angústia de ver aquilo se deteriorando, como esse caso que a gente tava falando das duas torrinhas, do prédio do Hotel Bragança. Um prédio maravilhoso, um prédio que, enquanto ele não for recuperado, você não vai ter a sensação de que a Lapa ta recuperada. Ele vai ser sempre uma marca muito forte na Lapa.
P – Ele ta num ponto estratégico, ele é muito visível.
R – Isso. Então a gente tem que recuperá-lo.
P – Qual é o projeto dos seus sonhos?
R – Projeto dos sonhos?
P – Vamos ficar aqui pelo Rio pra ser mais _____, pra não viajar muito.
R – Não. Eu adoro a história do Rio de Janeiro, eu trabalho com isso, eu dou aula sobre a história do Rio. E eu acho que o que eu gostaria muito de ver é essa cidade dando, tendo esse patrimônio vivo. Não de uma forma artificial. Que às vezes é muito comum a gente ver em projetos de recuperação em que se artificializa. Fica tudo muito limpo, exageradamente limpo. O comércio que se instala é um comércio sofisticado, que atrai o turista e tal. Mas a gente sente que não são espaços vivos. No caso do Rio a gente tem chance, porque isso não ocorre, e a gente tem uma chance de que, na medida em que cada vez mais as pessoas compreendam o valor desse patrimônio. A gente já passou uma fase muito difícil nos anos 70, em que esse patrimônio tava sendo demolido pra se edificar prédios altos, escritórios etc. Isso, graças a Deus, é passado. Mas a gente tem o desafio de transformar a proteção legal, que ela existe, numa proteção efetiva. Porque só a legal não basta.
P – Então ta. Eu queria agradecer a sua participação. Você quer falar mais alguma coisa? Gostaria de deixar registrado alguma coisa a mais?
R – Claro. Eu gostaria muito de agradecer à Petrobras, que é onde eu estou e que deu força. Foi muito bom ter tido essa aceitação do projeto. Foi tudo muito fácil. Obviamente, profissional. Que a gente teve que fornecer as informações necessárias, e que é normal. Mas que, ser uma empresa como essa, e eu sei que existem outras, mas no caso é muito importante que a Petrobras tenha esse papel. É muito difícil a gente fazer esse trabalho que a gente ta fazendo.
P – E o Rio agradece também. Obrigada pela sua participação.
R – Obrigado a você.
(Fim do Cd ______________).
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