Projeto: Vidas, Vozes e Saberes em um Mundo em Chamas
Entrevista de Josefa Maria da Silva Santos (Zefa da Guia)
Entrevistada por Jonas Samaúma
Poço Redondo, 12/04/2025
Entrevista n.º: PCSH_1950
Realizada por Museu da Pessoa
Revisada por Ane Alves
R - Essa visita pra mim é uma honra. Cada dia receber a força de Deus e as pessoas que vêm nos conhecer. O Deus nosso Pai, amado pela tua graça e o teu poder, transforma o milagre nessas criaturas que vêm nessa longa viagem, sentindo a emoção de dificuldade, procurando o amor de Deus e as santas palavras. Porque o Senhor está conosco, mas está presente. Ajude todos vocês a ir ao encaminhamento de luta e batalha, porque Deus é o vencedor da graça e do poder. Ensina a nós viver amorosamente, com muita alegria e muita paz. Eu quero que Deus tome conta de todos nós e que todos nós, quando voltar, levarem o bom resultado, porque Deus, como Pai, Filho, Espírito e Santo, ajude toda irmã e irmão a ser comportado nesse momento dessa casa que vieram visitar com boas intenções.
Eu nasci em casa. Minha mãe tinha 50 anos, engravidou, e eu nasci como fosse um bebê, muito pequena, sem chorar, sem abrir os olhos, toda como fosse de sete meses. Mas era uma história que minha mãe sentiu que ali podia acontecer ou eu ficar paralisada ou que ficasse muito corrida em oração, em presença e em sabedoria e em inteligência. Porque eu nasci laçada, eu nasci empelicada dentro de um saco, um saquinho com uma bolsa. E minha mãe pensou muita coisa, o que era que podia fazer. E ela com três dias mandou me batizar em casa, porque ela não esperava. Porque eu nem chorava, só respirava e voltava. E ela pensou que eu ia morrer. E minha mãe ficou muito preocupada, e aí mandou me batizar em casa, batizaram. Com sete dias, eu chorei, me alimentei, e aí construí a ser uma pessoa pra viver. Mas não foi só isso. Minha mãe ficou preocupada, depois de tudo, quando passou, que eu estava bem… Caminhei com oito meses,...
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Entrevista de Josefa Maria da Silva Santos (Zefa da Guia)
Entrevistada por Jonas Samaúma
Poço Redondo, 12/04/2025
Entrevista n.º: PCSH_1950
Realizada por Museu da Pessoa
Revisada por Ane Alves
R - Essa visita pra mim é uma honra. Cada dia receber a força de Deus e as pessoas que vêm nos conhecer. O Deus nosso Pai, amado pela tua graça e o teu poder, transforma o milagre nessas criaturas que vêm nessa longa viagem, sentindo a emoção de dificuldade, procurando o amor de Deus e as santas palavras. Porque o Senhor está conosco, mas está presente. Ajude todos vocês a ir ao encaminhamento de luta e batalha, porque Deus é o vencedor da graça e do poder. Ensina a nós viver amorosamente, com muita alegria e muita paz. Eu quero que Deus tome conta de todos nós e que todos nós, quando voltar, levarem o bom resultado, porque Deus, como Pai, Filho, Espírito e Santo, ajude toda irmã e irmão a ser comportado nesse momento dessa casa que vieram visitar com boas intenções.
Eu nasci em casa. Minha mãe tinha 50 anos, engravidou, e eu nasci como fosse um bebê, muito pequena, sem chorar, sem abrir os olhos, toda como fosse de sete meses. Mas era uma história que minha mãe sentiu que ali podia acontecer ou eu ficar paralisada ou que ficasse muito corrida em oração, em presença e em sabedoria e em inteligência. Porque eu nasci laçada, eu nasci empelicada dentro de um saco, um saquinho com uma bolsa. E minha mãe pensou muita coisa, o que era que podia fazer. E ela com três dias mandou me batizar em casa, porque ela não esperava. Porque eu nem chorava, só respirava e voltava. E ela pensou que eu ia morrer. E minha mãe ficou muito preocupada, e aí mandou me batizar em casa, batizaram. Com sete dias, eu chorei, me alimentei, e aí construí a ser uma pessoa pra viver. Mas não foi só isso. Minha mãe ficou preocupada, depois de tudo, quando passou, que eu estava bem… Caminhei com oito meses, falei, dei muitas palavras que ela não entendeu, e ela ficou ansiosa, sem saber. Teve seis filhos comigo, foi sete. Nunca aqueles que nasceram charmosos, bonitos, tiveram essa explicação que eu dei para ela, como se fosse uma adivinhação. Aí, minha mãe ficou curiosa e cuidou de cuidar de mim, e eu cuidei também de crescer. Ela me botou na escola, eu não quis. E aí, apareceu uma voz, que eu não fosse estudar, porque o meu estudo era um dom que Deus ia me iluminar, clarear, e eu ia saber de alguma coisa sem ninguém me ensinar. Quando foi com sete anos, apareceu essa luz que brilhou. Aí, deu o nome, que era Rainha das Flores. Era mestre que eu podia aguardar e esperar que o ensinamento e o dom vinha para ela informar. Mas só que o que ela ensinasse, eu não falasse pra ninguém, ficasse comigo e guardasse. E eu fiquei. E desse dia pra cá, continuei reagindo, lutando, aprendendo, sem pessoa nenhuma me ensinar. Aí, fui logo aprendendo as orações. As orações, primeiro o Pai Nosso, depois o Creio em Deus Pai, os mandamentos da lei de Deus, Pecador me confessa a Deus, O ato condiciona o meu Senhor, o meu Jesus Cristo. E os mandamentos da lei de Deus. O ensinamento, normalmente, e outras orações, de livrança. Eu aprendi todas. Fiquei feliz. Agradecia a Deus. E não estudei. Não sei assinar o meu nome, mas o meu dom tá na mente e na cabeça. Ainda veio mais uma fala. Para eu não mentir, nem me engrandecer e nem dizer que era tudo na frente dos outros, para poder dizer que era uma coisa que eu podia saber. Resguardo de boca era saúde para o corpo. Eu aguardasse, que o que fosse o melhor vinha na minha cabeça e na minha mente e, para o resto da minha vida, eu jamais ia esquecer. Isso foi a minha fala do meu nascimento. E a minha mãe ficou curiosa e não acreditava. Ela chorava quando via eu dizer ao povo, “olha, vai acontecer isso, vai se dar um caos em lugar fulano, sicrano.” Aí, ela dizia: menina, como é que você sabe? Que logo, logo aparecia. Era informado que já tinha acontecido. Eu digo: que nada, mãe, a senhora não sabe, mas deixa eu falar. Aí, eu ficava e ela me aconselhando, falando comigo, que eu ia ser muito inteligente, mas eu tivesse cuidado porque não tinha primeiro seis segundos, tinha que ver, ouvir, escutar e reconhecer as nossas fraquezas. Tivesse cuidado. Porque eu ficava um pouco meio curiosa, e minha mãe sofrendo por essa parte. Aí, cuidei logo, com nove anos, fui uma moça muito charmosa, muito brincalhona. E continuei a lida, cuidando dos velhos, das pessoas, adolescentes, cuidando das crianças. E pulando, fazendo o que eu gostava e tendo muito apoio do povo que gostava de mim.
P/1 - Queria te perguntar. Você falou que com oito meses você começou a falar.
R - Falar e caminhar.
P/1 - Caminhar, né? E o que você falava? Era já adivinhação?
R - Não. Já era chamando mamãe, papai. E já falando alguma coisa que eles entendiam. Mas não era falar, contar história. Era chamar mamãe, papai. Caminhando e fazendo brincadeira comigo mesmo e com as outras crianças.
P/1 - E teve parteira? Quando você nasceu em casa, você nasceu com parteira ou só a sua mãe?
R - Não, eu nasci... Minha mãe, quando me pariu, ela estava só e Deus. Quando ela levantou… Que ela pariu sentada, de cócoras. Aí, quando acabou, que ela me limpou, aí cortou o cordão, ela mesma. Aí, meu pai chegou, quando ele chegou, aí disse: mulher, você já teve o menino? “Já.” Vou chamar minha mãe. Aí, foi, chamar a mãe de minha mãe, a minha avó. Quando chegou lá, ela veio. Quando chegou, aí cuidou de minha mãe, cuidou de mim. Todo mundo pobre da forma que era. E eu fui crescendo e com 12 anos e 6 meses, me casei. E antes de 12 anos, eu fui para a igreja com um rapaz chamado Antônio. Cheguei lá, não gostei dele, do momento. Aí, acabei o casamento na igreja.
P/1 - Conta essa história, como foi?
R - E porque a gente chamou as testemunhas, o noivado era muito importante, meu pai era uma pessoa que era como se fosse um fazendeiro. E aí, os cavaleiros vinham tudo, as testemunhas, e aí nós viajamos. Quando chegamos lá, que eu me arrumei, aí eu disse: eu não quero casar mais. Aí, saí da igreja, peguei meu animal e vim me embora. E acabou-se o casamento. E o noivo ficou triste. A minha sogra, que era para ser, chorou muito. Quando cheguei em casa, na casa do meu pai, ele não sabia. Aí, eu falei que não queria mais o casamento. De momento, chegou um rapaz chamado João, e aí assuntou, se eu quisesse casar com ele, naquela hora nós ia casar, que ia ser três dias de festa em Pedro Alexandre. Era no mês de dezembro, era festa lá de Nossa Senhora da Conceição. Aí, eu disse: olha, eu hoje, eu não caso com ninguém. Sabe por quê? Porque coisa oferecida, ou está podre ou está moída. Zefa da Guia, Zefa. Nesse tempo eu não morava na Guia. Zefa não quer mais hoje casar com ninguém. Aí, pronto, fui brincar, arrumei outro namorado, fiquei com ele um pouco. E nós ficamos à vontade.
P/1 - Mas o que aconteceu para você não querer casar ali naquela hora? Se já estava tudo preparado.
R - Foi Deus que botou na minha ideia, no meu pensamento, que não era aquele que era para mim. Porque o que Deus promete, não falta. Aquele eu tinha me estressado, tinha dado a palavra como queria casar com Ele, e no momento Deus me ajudou, que eu me arrependi, e a gente não casou.
P/1 - Dona Zefa, queria perguntar aquilo que você falou de que apareceu uma luz pra você. Como é que foi isso? Você lembra?
R - Uma luz. É um espírito de luz. É o encanto. As direitas. Que veio e falou comigo, que eu ficasse à vontade, que o que fosse possível e melhor, eu falasse e continuasse a ajudar o pobre, as pessoas que necessitavam, que ela ia ajudar. O nome era Rainha das Flores. Era um espírito de luz dos reinos encantado e das aldeias. Dos médios espirituais. E eu continuei a me firmar, não mentir, nem prometer e nem dizer coisas que eu não sei fazer. Tratei de fazer xarope, lambedor, rezar de dor de cabeça, dor de barriga, inveja, quebrante, olhado, admiração, dor de cabeça forte. Eu fiquei, e tudo isso continuei, e sempre realizando como fosse uma pessoa para não me engrandecer, que tudo bom chegava e Deus ajudava para eu vencer.
P/1 – Mestra, e aí você falou que aprendeu Pai Nosso, Creio em Deus Pai. Foi com esse espírito de luz?
R – Não. Eu aprendi no sonho. Ninguém sabe quem foi que ensinou. Sei que foi Dom de Deus.
P/1 - Sonhando.
R - Porque com a presença dos Espíritos de Luz, dos Reis Encantados, os médiuns espirituais veem a forma de obedecer, considerar, orientar-me, acreditar e seguir o espaço. Sem ganancia.
P1 – E aí, você logo que viu essa luz já começou a rezar as pessoas?
R – Eu demorei ainda um pouco. Fui primeiro me fortalecer, saber o que eu podia fazer. E ficar a tempo. Porque para o nego se preparar, não é de um dia para uma noite. O nego tem que ver e rever, saber como é que fica, e como é que está. Muita coisa tem que ser pensada. Porque a vida do espírito e a força do investimento, do aprender, não é se engrandecer, dizer que sabe de tudo. Porque tem como você se defender, tem como você reagir com fé em Deus e coragem, e lutar, e Deus ajudar e você vencer as batalhas. Não é mentindo que você chega aqui, uma pessoa na minha casa, na nossa casa, que eu não tenho casa. E eu chegar e dizer: “não, amanhã você vai ficar curado. Tenho certeza que você não vai ter nada. É isso, isso e aquilo que fizeram pra você. E você tem que me dar dinheiro.” Não é isso. Deus quer a caridade. Ele quer o amor. E Ele quer a força e a coragem. E uma energia positiva. Não é você de qualquer jeito, porque tem dinheiro, porque tem o que lhe oferecer. E você vai ficar com a cabeça lerda e querer abarcar. Não. Que quem sobe, desce. E quem desce, sobe.
P/1 - E a senhora nunca cobrou?
R - Não.
P/1 - Nunca. E nunca tentaram utilizar isso pra ganhar dinheiro?
R - Não.
P/1 - Jamais, né?
R - Eu hoje cobro consulta, porque é pra fazer o contar. O que você vem buscar, o que é que eu posso fazer pra realizar, a consulta e o remédio que você comprar. Aí, é cobrado. O remédio é R$50,00, porque vem de Salvador. E a consulta é R$150,00. E se tiver R$10,00 para eu rezar sem abrir a consulta, eu rezo e não custa nada. Porque a caridade é o perdão e a força de vontade, e fazer o bem sem olhar a quem. Não existe pessoa que chegue na nossa casa, que fique preocupado porque não tem dinheiro. Venha pra cá, que as palavras de Deus nós não podemos vender. Criança de 10 anos, abaixo, pode chegar de qualquer forma, serás atendido, serás bem com carinho, com firmeza. E ele volta pra casa bem. Não é porque eu vou rezar e na mesma hora, digo: você tem que me dar dinheiro porque senão seu filho não vai ser curado. Que história é essa? Jesus é criança, é um menino. Mas ele soube ser educado e realizado na pobreza. Cada um daqueles que acompanhar e que pensar em firmeza, em orientação. Converse com Deus em segredo. Porque tudo que nós fala, é escutado de outra forma. E em segredo, Jesus está guardando e tem a permissão de ajudar e você vai ser realizado o contexto da felicidade.
P/1 - E a senhora lembra… Porque você falou, “ó, teve tudo aquilo e teve aquele momento de refletir.” Mas você era criança ainda, né? Qual foi a primeira pessoa que você benzeu?
R - Ah, a gente não sabe nem informar. Porque era muita gente, e aí eu não tenho nem como lhe dizer. Não adianta eu chegar a puxar na memória o que eu não estou lembrando mais.
P/1 - Mas você tinha quantos anos, mais ou menos?
R - Uns 30 e tanto
P/1 - Ah, você começou a rezar só com 30 anos?
R - Eu? Não, eu comecei com 7 anos.
P/1 - 7 anos?
R - Eu digo a pessoa, primeira, que eu fiz e cuide. Era uma idade já avançada. E eu cuidei com 7 anos.
P/1 - Com 7 anos já?
R - 7 anos de idade.
P/1 - E na sua família tinha outro benzedor?
R - Não, só reza mesmo de ramo. Mas de espírito, de corrente, de mesa e de construir alguma firmeza, só foi eu mesmo.
P/1 - E como foi que a sua família lidou com isso? Quando você começou a rezar, assim, com sete anos, o que seu pai e sua mãe acharam?
R - Eles achavam que não era justo. Eles não queriam. Mas eu era obrigada, pelo espírito, pela força. Porque quando eu não cuidava, ficava doente. E ninguém quer ver seu filho doente. Ninguém quer ver o seu filho sofrendo. Mas vale você ter um filho, ele com a dor, com os avexãos, você pede que fosse você. Porque ao menos você sabe informar e dizer. E o seu filho, que não tem saber, ele vai dizer onde é que está doendo? A gente só tem que cuidar. E eu sempre fui essa, que, quando eu sofria, eu dizia o relato, o que era que estava acontecendo, o que era que eu estava vendo do meu lado, e o que era que eu estava ouvindo, escutando. Que era para eu continuar a fazer.
P/1 - Nos momentos que você benzia criança, você estava incorporada ou estava presente?
R – Não, não. Eu estava em mim mesmo. Com a radiação, sempre de um lado, mas eu estava em mim mesmo, entendeu? Porque você tendo um mestre só para radiar, é um presente você escrever e você saber de tudo. E quando você tem manifestado, que incorpora em você, aí você não está vendo nada do que está acontecendo. Os outros que vão lhe informar, o que foi que houve, o que foi que aconteceu. É assim.
P/1 - E a senhora sabia remédio também?
R - Sabia. Olha, toda doença tem cura. Agora precisa saber qual é o remédio que vai curar. Viu?
P/1 - E você aprendia o remédio… A planta te falava ou era o espírito?
R – Não, era o mestre, o médium que ensinava e a pessoa fazia. Banho, defumador, tudo é vindo pela forma do que você pegou na mão e sabe que você mereceu. Entendeu? Comecei a fazer parto com 11 anos.
P/1 - Você começou a fazer parto com 11 anos?
R - E casei com 12.
P/1 - Vou querer entrar nessas histórias também. Eu queria perguntar se você chegou a conhecer seus avós? Sua avó, seu avô?
R - Só uma. No dia que mãe completou, 30 dias que eu tinha nascido, o pai de meu pai faleceu. Ele era muito pobre, sofrido. E minha avó, a mãe de minha mãe, quando ela morreu, eu tinha feito um ano. E o meu avô já tinha muito tempo, já tinha uns três anos, quando eu nasci, que ele tinha falecido. Agora, a minha avó, a mãe de meu pai, era parteira. Chamava-se Maria Antônia. Aí, ela com bastãozinho, sempre caminhando, pegava menino. Era. A minha avó era parteira, minha mãe parteira e eu parteira. Mas só que eles nunca me ensinaram nada e nem sabiam que eu já tinha pegado menino. Que eu guardei e nunca falei. Quando eu falei, eu já estava casada. Que eu era parteira.
P/1 – É mesmo? Então, como foi isso, que você pegou menino sem eles saberem?
R - Foi. Minhas coisas eram… Ainda hoje. Quer dizer, que vocês estão aqui, aí chega uma pessoa e dizer. “Ah, os meninos vieram aqui fazer uma entrevista comigo e porque foi isso e aquilo.” Não. Deus vai mostrar o dia e o povo vai saber como foi que aconteceu. Entendeu?
P/1 - Mas como é que aconteceu? Você pode contar, assim, o seu primeiro parto, quem te chamou, se foi o proprio…
R – Não, nenhuma pessoa me chamou. Eu estava passeando nessa casa. A parteira chegou e a mulher estava pra receber o filho. E aí, todas as duas bebiam cachaça, o litr sempre vivia ali. Começaram a beber, a parteira se embebedou, foi dormir. E a mulher ficou quente, com dor. E aí, eu... Quando ela viu mesmo que o menino ia nascer… Aí, eu entrei, peguei. Ela me ensinou como eu cortava o umbigo. Eu cortei o cordãozinho. Quando eu acabei. Ela me ensinou como amarrava. Eu amarrei. Acabei, enterrei a placenta, botei o menino… Dei banho e botei em cima da cama. Tudo é obra de Deus. E aí, achei bonito, achei bom e construí com a fé e a coragem. Fiz parto de mulher que pariu três de uma barriga. Fiz de Comadre Nalva, ali, pariu 24. A maioria, foi quase tudo de poupança e de pé. E todos, não morreu nenhum. E Comadre Maria que pariu 20, duas barrigas de gêmeas. Tudo foi eu que peguei. Deus que me deu a força e eu recebi nos braços.
P/1 - E aí, você já estava com esses dons, assim, criança, mas você ainda brincava com as outras crianças? Como era a sua vida de criança?
R - A minha vida de criança era bater, nunca fui menina para acolher. Entendeu como é? Na hora que eles erravam, eu tinha que dar exemplo. Porque reio não é santo, mas obra milagre. Se um menino chega aqui querendo entrar, não é chamado, ele tem que ir embora, e voltar. Basta eu olhar. “Olha, seu canto é outro. Vai embora!” Que eu me criei dessa forma. Minha mãe não criou filho para ele dominar ela e nem contar história sem ela autorizar. Tinha hora de chegar pessoa, minha mãe era costureira. Os meninos, chegava nós todos. Só bastava olhar nós. Ela ficava conversando com a pessoa que vinha trazer a costura para ela costurar. Nós não ficava conversando para atrapalhar eles. Não era dessa forma. E eu criei 23 dessa forma. Não precisava eles quererem me ouvir. Bastava eu olhar. Eles já sabiam que tinha que sair. Uma légua e dois quilômetros, onde eu nasci. De lá vim pra outra comunidade, e aí continuei a ser essa que sou hoje.
P/1 - E como era o dia-a-dia? Você ia pra roça com a família?
R - Ah, nós plantava milho, nós catava algodão, colhia feijão de corda. E tudo isso nós trabalhava. E ia para a serra, que lá era serra, lá plantava feijão andu, plantava abobora, plantava mandioca. Tinha casa de farinha aqui na nossa comunidade. A gente vinha lá pra cá com mandioca no balaio, na cabeça, botava aqui, raspava e ralava no rodete. Quando acabar, botava na prensa, imprensava. Quando acabar, peneirava e botava no forno e mexia. Tudo isso foi serviço nosso. Catar coco na serra, licuri, daquele miudinho, quebrar, fazer rosário pra ir vender, pra poder comprar um litro de feijão ou um litro de farinha. Nesse tempo era litro. Hoje é quilo. E a gente viveu desse jeito. Eu como parteira, ajudando as mulheres e passando uma fome. Sete anos de fome não é dois dias, não. Sabe? Que minha mãe sofreu muito, até mucunã ela pisava, quebrava, tirava a bolinha dentro, pisava, cabanavava água, em sete águas, para comer. Pro modo não morrer envenenada. E todo mundo tá vivo, todo mundo se criou, todo mundo viveu e teve paz. E não era com conversa e nem com participação, do nego ajudar. “Hoje, você me ajuda…” Primeiramente Deus, você me ajuda, essa me ajuda, outra... E isso! Nós vivemos assim. Agora, no outro tempo, você não comia nem um pedaço de mandioca, porque não tinha como comer, porque ninguém tinha para oferecer. E estamos aqui. Criei 23 filhos, no maior sofrimento e dor. E não me arrependi do que eu sou. Nunca eu vou trabalhar na medida de querer me engrandecer e crescer sem Deus querer. E tudo Deus dá. A gente fica satisfeito com o pouco, que mais na frente fica muito. Às vezes, quem quer demais se arrebenta. Tem que ter cuidado, porque hoje sabe que riqueza não vem para todos. Só vem se nós procurar. E vacilar e não fazer as coisas certas. Vocês estão aqui dando essa proposta de um trabalho, porque vocês conhecem, vocês sabem. E eu vou chegar e vou dizer: não, você tem que deixar, tem que fazer, tem que acontecer. Não. Você está na medida do possível, vindo de lá pra cá, conhecer uma caduca velha que nem eu, e ficando recebendo as palavras e ouvindo, e gravando, e levando para informar a quem não sabe. Isso é que a gente tem na cabeça. Vocês são jovens, é umas crianças. Que hoje tenho 80 anos, mas a luta foi pesada.
P/1 - Como é que era essa luta? Você falou que ia na roça...
R - A luta era trabalhar, passar fome, sofrer e, às vezes, até receber algumas informações que a gente não podia fazer e tinha que fazer. É luta. Viu? E isso, hoje, ninguém sofre. Hoje tem o governo, hoje tem as comunidades, geralmente, cada sua mãe tem seu bolsa família. Cada sua criança, quando nasce, tem o salário maternidade para ajudar aquela mãe, para fazer algum meio de viver. E quem é estragado, que não sabe, nem conhece, acaba de um dia pra uma noite. Mas quem tem o limite de conhecer e saber que ali não é o direito da pessoa, é uma ajuda que Deus encaixou para alguém que está no poder ajudar aquele que está aqui sofrendo, como poder viver. Eu acho que isso aí é muito importante. Mas no outro tempo, que não tinha nem uma esteira, nem um lençol para você se cobrir, vivia da maneira que Deus quer. E a gente vivia. Nunca você deve, nós, desejar o que já foi. Porque hoje todo mundo tá de mão aberta para receber. E de primeiro tinha que fechar, doer as juntas e cheia de calo, cheia de tudo que você poderia dizer que trabalhava. Olha, eu arrancava toco, eu cortava lenha, madeira, pra fazer roça. Eu cavava barro, limpava tanque, caminhar com “banguê” pra despejar a terra no paredão, dormir no mato, quando ia trabalhar, que não tinha lugar, debaixo de um pé de pau, fazendo café numa cuia, porque não tinha uma panela e não tinha uma chaleira. E, hoje, todo mundo tá cheio de alumínio, cheio de geladeira, cheio de fogão de qualidade. E, de primeira, era um fogo de lenha, com as trempas, era o pote de barro. Era uma cama chamada, tarimba, que não tinha cama como tem hoje. E nós vivemos e estamos aqui contando a história. E eu cantei a música em Brasília, quando tinha o pote de barro, o fogo de trempe, a esteira de piripiri, a cama chamada tarimba. E candeeiro com pavio, uma vela de cera, pra você iluminar a pessoa, porque era parteira. Tinha que iluminar aquela mulher que ia parir, com aquela vela de cera, para acender, pra poder clarear. Hoje tem energia, hoje tem tudo, que você se admira do tempo passado para o de hoje, que renasceu para todos. Isso só tem a agradecer a Deus e o povo e os homens, porque Deus deixou tudo. Agora precisa da gente escolher o que quer fazer, o que pode resolver. Porque minha mãe dizia, que no fim das eras, que era de botar um filho para estudar, botasse para ser ferreiro, que as correntes não ia dar pra amarrar os que iam enlouquecer. Olha aí! Você chega numa comunidade, fulano botou uma corda e se enforcou. Fulano, se matou. Sicrano, matou o pai. O pai matou o filho. Que união é essa? Que tempo nós estamos? Não é porque o mundo está pequeno e o povo está demais? Precisamos saber. “Ah, fulano está com depressão.” “Fulano está com nervo abalado.” “Fulano está com ansiedade.” Não é não. A ansiedade é o telefone no dedo e a televisão passando filme, passando coisa que você não pode ouvir e nem pode escutar para guardar na sua cabeça. Aquilo vira uma coisa, quando der fé, você já está com os nervos abalados e fica preocupada. Ou se mata, ou se não, vai ficar parado, sem respirar, e o povo ajudando pra você sair daquele barco. Tudo isso está vindo e ninguém sabe o porquê. O problema é a gente ver e rever, e ver as coisas como acontecem e o que é que vai acontecer. E a gente vai parar, sentir, olhar e conversar com o povo. Tome cuidado, porque o barco, ele pode virar. E a gente conseguindo, sem ter, escutar, e sem avaliar, é muito melhor, do que a gente está fazendo coisas que não deveria e fazendo papel com ansiedade e dizendo que tem amor e vai perder sua vida, porque acha que não pode viver mais.
P/1 - Mestra, muito forte. Aí, você estava contando que casou com 12 anos, né?
R - Como?
P/1 - Você falou que casou com 12 anos.
R - Doze anos, três vezes.
P/1 - Como foi essa história?
R – Ah, porque gostei do meu velho, meu namorado, se unimos, conversamos e marcamos um casamento e se casamos na igreja.
P/1 - Mas como a senhora conheceu ele?
R – Aí, ele veio de São Paulo, passou na minha casa e eu conquistei ele. E ele caiu na real. E nós casamos. Porque eu era conversadeira, sempre me informava, perguntava quem era, de onde veio, porque chegou, ia ficar ou ia-se embora? O que queria que ia visitar nossa casa? Tinha que conversar.
P/1 - Mas você já tinha visto espiritualmente? Porque você disse que viu de Deus que o outro não era. E esse você teve uma visão que era?
R - O outro, quando eu noivei, já não senti que ele era bom. Aí, depois, nós vemos, se ajeitamos, foi para a igreja, e lá não deu certo. Quando eu saí da igreja, eu tive um ensinamento, de eu me deitar, com a cabeça virada para os pés, e rezar a Salve Rainha. Até onde nos amostras. E aí, me deitei, rezei, cobri a cabeça. Quando foi de noite, sonhei com essa pessoa, um rapaz apareceu, da cabeça redonda, cabelo ruim, feio, assim, não sei de que jeito. Aí, me acordei. Eu disse: esse é o meu noivo e namorado. Então, me entendi. Com uns 30 dias ele apareceu. Era a mesma figura, a mesma pessoa que eu vi no sonho, era ele que chegou. Aí, começamos, noivamos. Casamos em 1962. No dia 14 de outubro do ano de 1962. Hoje está com 62 anos de nós casados. E nunca tivemos teima um com o outro. Porque teima houve, mas dois não briga se um não quer. Nem pra mim. Quando ele falava: vou sair de dentro de casa. Ia pro terreiro. E aí, falavam que eu tinha que falar. Porque bater não ia bater, porque eu corria. E ele nunca teve problema de decepcionar. E nem o meu sogro com 100 anos, minha sogra com 100, e eu casei… Depois, meu sogro morreu com 120, minha sogra com 114. Nunca encontrei pessoas pra me dar um conselho fora a minha sogra. Um dia, ela vinha de lá pra cá, com um bastão na mão, e chegou no terreiro e disse: Zepa. Eu, “bença Tia Maria!” “Deus abençoe! Está com a barriga cheia?” Eu digo: por quê? Diz: porque de minha casa eu só vejo você enchendo a barriga. Eu disse: não, não sei. Diz: por que você chama tanto nome com tanto apelido e feio, minha filha? Deixe isso, porque isso prejudica, isso não é jeito de você como dona de casa está falando tanta loucura e chamando para o inimigo. Deus se chama por ele. Ele não chega na hora certa. E o inimigo, ele tem o laço, para modo o complicado lhe fazer o mal. Não faça isso mais não! Eu disse: pode ir embora. Ela foi para casa. Até hoje, lhe digo e Deus sabe, quando eu tomei… Eu lembro, minha sogra, ela nunca chamou, nem diabo na casa dela, não. Era uma pessoa muito consciente e católica.
P/1 - E ela respeitava que você rezava?
R - Com certeza. Porque ela era uma pessoa que teve doze filhos, morreu seis, criou seis. Seis menino homem e seis menina mulher. Só se criou de homem, esse que eu me casei. Quando ela morreu e o meu sogro, eu disse: agradeço a Deus, e a força que Deus me deu, e o caminho que me iluminou para eu viver. Que a senhora teve esse filho e Deus me deu. Para quê? Para eu respeitar, considerar e amar. E nunca a senhora tem um tombo, nem vai desequilibrar a falta de eu cuidar dele e ter uma palavra para perdoar. Vá com Deus! Porque só Deus mostrou o que a senhora fez, que teve esse filho para mim. Muito obrigado, Jesus. Jesus, muito obrigado! O povo ficou, todos que estavam no velório. “Mulher, como a senhora inventou e falou essas coisas?” Digo: porque tocou no meu coração. Eu só tenho a agradecer e dizer que ela foi uma mãe, não só dele, minha também. Porque uma sogra boa, é uma mãe. E uma nora é uma filha. Agora, a ruim, é aquele nome que a gente não diz.
P/1 - E a senhora trabalhava de quê, depois que casou?
R - Roça. Alugado. Trabalhava na roça dos outros. Eu ia para Coronel João Sá, Morada Nova, Serra Verde, Santa Bárbara. Era tudo comunidade. A Lagoa dos Porcos. Ali, tudo foi nós que... Lagoa de Dentro, ali, Pedra da Igreja. Tudo ali nós trabalhamos alugado. Eu, com uma criança, mãe de filha, e minha mãe tomava de conta. E eu ganhava pra trabalhar, pra sobreviver, e aprender as coisas boas pra viver.
P/1 - E era roça de que, nessa época, era de cana, de feijão, de café...
R - A roça de quem?
P/1 - A roça de que era?
R - A roça era dos fazendeiros. E do povo que queria, o trabalhador. Aqui não tinha, aí nós ia pra lá. Eu e meu marido.
P/1 - E nesse tempo você continuava rezando?
R - Continuava rezando, aonde chegava. E pegando menino.
P/1 - E pegando menino.
R - Quando foi um dia, chegou o dono da fazenda, chamava-se Horácio Góes. Aí, ele chegou, aí conversou comigo. “De onde a senhora é? Eu disse: só de Pedro Alexandre. Disse: porque você está aqui trabalhando? Eu digo: porque não tenho do que viver. Ele disse: fique ciente, que você só trabalhou aqui até hoje. Vá para casa! Porque você não é mulher de trabalhar alugado. Você é mulher de você pagar. Pegue um milho, nessas ruas, que estão quebrando, estão deixando, você quebre, debulhe, venda e vá se embora. E não venha mais e nem vá para ninguém trabalhar. Que você, como a criança que é hoje, vai viver e vai saber o quanto você não vai merecer trabalhar alugado a ninguém. Aí, eu quebrei o milho, ainda debulhei quatro sacos. Vendi, peguei as coisas, arrumamos e viemos embora. Quando cheguei aqui, continuei a trabalhar, a rezar. Apareceu de tudo quanto era bom e nunca mais fui alugado. Era um médium, ele era espírita. Ele era índio, e reconheceu.
P/1 - Ele era índio, o que te falou isso?
R - Reconheceu das minhas correntes e dos meus espíritos.
P/1 - Mas aí, você disse que nunca mais trabalhou alugado. Você foi trabalhar de que, então?
R - Cuidei de trabalhar rezando no povo. E aparecendo serviço pra mim, no nosso trabalho, que era roça nossa mesmo, plantando feijão, plantando milho, plantando algodão caroço e feijão de corda. E vivendo sem trabalhar alugado, porque tinha de sobra. Eu nunca fiz roça pequena, era quatro tarefas, era cinco. E dava certo tudo. Meu marido toda a vida foi trabalhador, eu também. Os meus filhos que eu criava. Criei dezoito filhos dos outros. E aí, continuamos a trabalhar, e aí não fui mais para alugado.
P/1 - E você, nessa época, via outros espíritos, além dessa luz que você tinha visto criança, você via outras outras entidades?
R - Não, não. Só as correntes minhas. Eu trabalho assim, com índio. Qualquer uma que eu chamar, ela vem me obedecer. Mas não que eu chegue para acolher e nem zelar. Eu só zelo boiadeiro, rainha das flores e os mediuns espirituais. Que eu não trabalho de esquerda, não brinco Xangô, eu não tenho Camcomblé, eu não tenho nada. Eu só tenho a agradecer a Deus, as minhas orações e as minhas rezas. É ao vivo, pra todo mundo aprender e saber o que eu estou rezando. Para vocês verem acontecendo.
P/1 - Já chegou na senhora alguém desenganado pra rezar?
R - Desenganado? Já. Muitos.
P/1 - E a senhora chegou a dar jeito em algum caso?
R – Oxente! Deus dá. Eu não dou jeito a ninguém. Agora Deus, ele é quem dá. Só é você pedir, confiar… Espia ali atrás daquele portão. O que é que tem?
P/1 - Um monte de muletas, de pessoas que voltaram a andar.
R - Olha ali, os andar. Tem gente que chega aqui, tira do carro e bota uma cadeira de rodas e leva pra dentro e volta caminhando, entra no carro e vai-se embora. É obra de Deus, não é minha. Agora eu posso contar, mas não gosto de falar, porque…
P1 - Mas conta pra gente?
R - Não adianta. Sabe por quê? Porque Reverópi, Aparecida, o João Ave, São Luca, Santa Isabel, o Hospital da Polícia, todos ali… Lagarto… Todo médico vem pra minha casa. E eles sempre trabalham na razão de querer explicação, enfermeira, parteira, Nossa Senhora de Lourdes. Quando era José do Facão, era meu chão. Eu cheguei em Nossa Senhora de Lourdes, fui dar uma palestra com 25 doulas. Aí, a assistente social disse: pode! Aí, fizeram lá um... Aí, eu fiquei no meio delas e conversei com elas. Meu Deus! Foi um agradecimento que eu queria que o senhor visse. Tinha umas 40 mulheres para abortar. Tudo internada. Eu digo: o que vocês estão fazendo aí? Porque o médico disse que nós temos que abortar. Eu digo: olha, todas vão se levantar e vão trabalhar na casa de vocês, pegar peso e fazer tudo, porque vocês não têm nada. O líquido que está resumindo e querendo ter essa secreção é líquido de vocês mesmos, que não é de bolsa, não foi nada que estourou, e não foi líquido de menino. Vão-se embora! Agora você, você e você, têm que fazer, porque já tá muito poluído, já tá muito infeccionada. Mas vocês vão parir tudo no tempo. Quando foi no outro dia, todo mundo se arrumou, foram tudo embora. A maternidade ficou vazia. Se você ver… Estou contando isso porque Deus é minha testemunha e quem estava lá viu. Eu não sou pequena para mentir, agora sou grande para a verdade. Viu? Vou fazer parto de parteira, de médica, ali com frente ao Gilmar, num apartamento que tem. Eu fui fazer o parto dela lá. Porque ela não quis fazer na maternidade. Mandou me apanhar aqui, veio, eu conversei com ela e ela disse: será que dá tempo a senhora chegar? Eu digo: oxente! Manda me buscar. Aí, tinha um telefone em Santa Rosa, nesse tempo aqui não tinha, aí ela ligou. Estava já se sentindo. Aí, o carro veio e me apanhou. Levou lá, quando cheguei lá, que eu dei o toque. “Você só vai parir minha filha, quatro e meia da manhã.” Dona Josefa, como? Como é que pode que o doutor já veio aqui…” “Diga a ele que venha de novo.” Aí, tomei de momento, chegaram. Chegou enfermeira, doutor. E eu ali. E, graças a Deus, quando foi quatro e meia, o menino nasceu no chão, assim, olha. Que ela não queria ter em cama, não queria ter em canto nenhum. Queria que eu fizesse o parto que nem eu fazia das minhas pacientes aqui. Banhou o filho. O filho hoje parece que está com treze anosoitavo. É Comadre Priscila. E a gente tem que fazer parto, se tiver coragem. Se não tiver, enfraquece você, enfraquece a mulher e pode até morrer. Que está com medo e você chega, chega. Não, você fica parada. E eu também tem outra, eu não gosto de eu estar com a mulher para ganhar menino, e a casa cheia de gente. Vai cuidar do que fazer. Aqui só tem vaga pra três. É a mulher que está sofrendo, é o pai do menino, se quiser estar, e eu. Porque está a presença de Deus e de Nossa Senhora, que é Maria, mãe. Nossa Senhora do bom parto. Ela está ali, dando atividade. Tem a oração. E você vai rezar. Se der hemorragia, você tem que fazer uma oração para o sangue parar e aquela mulher ter o seu filho sem hemorragia.
P/1 - Você já viu isso acontecer, o sangue? Orar, o sangue para?
R - Para na hora. Só é você dizer, “ai Jesus, que tanto sangue.” Ai para. Fica a mão aqui. “Jesus, dê força e cure, e corta esse mal e retire. Jesus!” Aí, torna a dizer. “Sangue, te põe no corpo, como Jesus subiu morto.” Aí, torna a dizer outras palavras.
P/1 - Sim. Essas palavras teve em sonho ou foi outra parteira que te disse?
R – Não, eu mesmo que aprendi. É. Já ensinei as outras. E reza de ferida de boca, que a criança ali está cheia. É sanguim, sanguiar. Esses dois santos que curam. E fica bem. De dor de barriga, dor de cabeça, de qualquer doença que Deus quiser, fica curada. Agora, se ele não quiser, aumenta mais.
P/1 – Já teve algum caso de vim algum paciente e você vê que você não dava jeito?
R – Aí, ninguém desengana. Vai pra casa, reanima, e fala que Deus proverá, que acontecimento, só ele vai dizer como é que a pessoa vai ficar. Mas não vou dizer: “não, pode levar o seu doente que ele vai morrer.” Não. Chamo a pessoa e digo: eu não vou passar remédio, porque não adianta você gastar e eu ficar aqui com dinheiro e você perder o remédio. Vai pra casa, leve para o médico. Vai para um canto.
P/1 - Ou seja, sempre que você viu que não tinha jeito, você jamais enganou ou falou assim: ah, não...
R - Não, não engano ninguém. Tem que reanimar. Porque Deus não deixou. Pode saber como for, mas tem que animar. Porque, às vezes, é uma coisa que sente outra. Às vezes, a pessoa está tão ruim, a pessoa dá uma palavra de conforto. Nego… Melhora e fica bom.
P/1 - Qual foi o caso mais difícil que a senhora já pegou?
R – Menino? Ou caso? Eu peguei muitas tarefas. Muitas. Que não lembro nem mais.
P/1 - Mas, assim, algumas? Assim, umas duas?
R - Agora próximo, peguei aqui uma tarefa de uma pessoa, dizer que era eu que estava... Outro curador diz que era eu que estava fazendo coisa para essa outra pessoa. Mas Deus é justo. Andou, andou, andou. E a conversa veio pra mim e chegou na minha casa. E eu pedi perdão a Deus. E perdoei e disse: Deus vai te salvar. Ele vai ser o nosso salvador. Vai te curar e vai te defender. E obrigado, senhor, pelo o dinheiro que ela gastou, por essa inocência, por essa maldade e essa falsidade. Mas Deus, tome de conta, que jamais eu vou ficar preocupada. No outro dia ela estava sã. Entendeu? É assim! Aqui mesmo na comunidade. É assim que a gente trabalha, fazendo o bem. Quando lhe der um tapa na cara, vira o outro lado, para não ser igual ou pior. Confesse, tenha fé e vá em frente. Com o exemplo de Maria, a todos ela perdoou, que a morte do filho, ela nunca se vingou. Por que nós vamos se vingar? Porque você tem chapéu, tiro. Aí, você diz: não, ele tirou meu chapéu, ela tirou, tem que agora eu também dar ao menos um tapa para modo pagarem. Não. Fica na sua. Que a resposta vem.
P/1 - Você já teve algum caso que você não conseguia perdoar a pessoa? Alguma vez que você não conseguia perdoar, alguma coisa que foi difícil de você perdoar?
R - Não. Eu acho que alguém teve de mim. Agora, eu não tenho mágoa de ninguém.
P/1 - Nunca teve algum caso que você não conseguiu perdoar a pessoa?
R - Não. Isso aí, jamais, eu vou dizer a meu Deus e muito mais a você. Por que não. Teve muitas mágoas e muitas angústia, mas serão perdoados. Em nome de Jesus, pode chegar na minha casa. Teve caso aqui de alguém chegar a querer me matar. E a conversa saiu. Com pouco lá vem a pessoa que queria me fazer o mal. Quando chegou... “Boa tarde!” Eu digo: Boa tarde! Quer comer? “Não.” Digo: se quiser, vamos para a mesa. “Eu vou comer um pouquinho.” Aí, foi, comeu. Digo: vai dormir ou não? “Eu vou pensar.” Digo: diga o que você quer? Diga o que é que você quer? “Não, não sei o quê, porque teve esse medo, teve aquele...” “Rapaz, tenha fé em Deus. Deus te ama. E venha para cá que tu dorme, tu come, tu bebe, tu veste se vier nu. E pense diferente. Acredite em Deus, que ele é o nosso Salvador. Ele é protetor e é quem vai dar o consolo. E larga de ser tolo, que eu sei o que você veio fazer.” Digo: vá pra casa e vá viver em paz e se una. E diga a essa pessoa que tenha fé em Deus.” Ainda mora aqui na comunidade. “Eu dou fardo de massa de milho, eu faço qualquer coisa.” Ele: ô meu Deus, nunca pensei. Eu digo: em que? “Que eu estou pensando que tu vai fazer mais. Agora, não é com todo mundo que você vai receber essa glória, não. Não faça besteira, não, porque você é muito complicado e gosta de entrar onde não é chamado. Se livre! Tenha fé! E vá para Deus!” Aí ele… Ainda essa semana, tomou café aqui, e foi para casa. Mas é assim que se ensina. Agora, porque você vem me fazer o mal. Eu queria fazer mais, porque... Não. Você com uma conversa, com a palavra de conforto, uma conversa sadia, você quebra o inimigo e Deus salva todos e livra do perigo. Perdoai, Senhor. Porque a gente tem horas que não é muito fácil. Mas aí eu vou dizer a vocês. Primeiramente, você se deita e se levantar. Quando se levantar, você diz assim: Deus salve a luz do dia, Deus salve quem nos cria. Salve Jesus Cristo, Filho da Virgem Maria, que me guarda hoje o dia, a noite e amanhã por todo o dia. Nem meu corpo será preso, nem minha alma perdida, nem meu sangue derramado na mão de meus inimigos. Seja purificado e amado o sangue de Jesus Cristo em meu corpo, se transformar em milagre. Renove e entre com Deus, saia com a paz. Jesus Cristo te dá força e coragem, e aumenta seu espaço, livra das trevas da escuridão e abençoa seu corpo. Com o nome do Pai, do Filho e do Poder do Espírito Santo. Primeiro se salva o dia. Deus salva à luz do dia, Deus o salva quem nos cria. Deus o salva Jesus Cristo, Filho da Virgem Maria, quem me guardou o dia e a noite e a manhã por todo o dia. Nem minha alma será presa, nem meu sangue derramado na mão dos meus inimigos. Aí, você pisa, anda, Jesus Cristo abençoe e guarda.
P/1 - Oração de proteção, né?
R - É. Quando for se deitar, com Deus eu me deito, com Deus eu me levanto. Com a força de Deus e o poder do Espírito Santo. Quando entrar em seus trabalhos, o que que você diz?
P/1 - Pode me ensinar o que que diz quando vai começar o trabalho.
R - Aí, é muito importante. Também, você pode se livrar com as palavras do Santo Oficio. Deus o salva em relógio, que ando atrasado, servido sinal de meu bom Jesus encarnado. Sirva, Deus, minha viagem, que eu vá em paz e chegue aonde eu vou chegar. Pronto! É muito importante. Tem muitas coisinhas pequenas que, às vezes, o povo pensa que é grande, mas não é tudo isso. Você tendo a fé, você se livra com um gole de água que você engole. Você faz a cruz e vai em paz. E Deus acompanha e você tem um trabalho legal.
P/1 – Além dessa situação que você falou que o rapaz veio te matar, teve alguma outra situação que você passou perigo e se salvou na reza?
R - É, só assim, quando a gente é novo, que não pensa em Deus com fé, acontece. Briga, e a gente tem que entrar, tem que livrar. Tem que livrar alguém que gosta. E a gente sai, e aquilo se acaba e a gente fica em paz. Tem que botar a cabeça no lugar. Ter um travesseiro que você confia nele e ter o nosso Deus, que ele é o verdadeiro.
P/1 - A senhora já teve alguma visão com Jesus? A senhora já viu Jesus? Já teve alguma visão de Jesus?
R - Na fé. Não adianta, porque Jesus, jamais, ele chega em qualquer lugar. Entendeu? Jesus, ele é poderoso e ele é amado. E eu? Quem sou eu? Para chegar e dizer: eu estou com Jesus! Jesus veio em mim! Jesus! Gente, tenha cuidado, que tem muitos Jesus por aí, engana muitas pessoas e o nego cai e fica vacilando, sem saber como entra e como é que sai. Desculpe.
P/1 - Você já precisou curar pessoa de picada de cobra?
R - Como?
P/1 - Já precisou curar a pessoa de picada de cobra?
R - Já. Mas eu não tenho fé, para falar a verdade. Cobra, lagartixa, caranguejeira, piolho de cobra. Dessas coisas tudo, a gente… Mas eu mesmo não. Tenho feito muita palavra como daqui em Alagoas. Pernambuco, que ligam de lá para eu rezar. De bicheira, pra curar uma bicheira. Bicho de mosca. Aí, eu garanto. Mas de cobra, não sou muito… Porque eu não tenho fé.
P/1 – Aí, quando você não tem fé, você já…
R - Eu digo logo para pessoa, “bom, eu vou rezar porque você quer, mas não é muito legal para eu lhe informar.” Agora, dor de cabeça e dor de dente, vamos respeitar. Eu gosto. Porque a dor de cabeça é assim, olha. “Nosso senhor Jesus Cristo chegou em casa dele, para a casa de Jesus alheio. Jesus Cristo perguntou, o que é que tu tem? Uma dor de cabeça, com dor de pontada, o ar de malícia, dor causada. Venha que eu quero te curar, e Jesus vai lhe sarar. Passa a dor de cabeça, com dor de pontada, o ar de malícia, dor causada. Para as ondas do mar sagrado se entregará. Com o sangue de Jesus Cristo, seu corpo é banhado. Com o leite cerebral curado. Com as palavras de Jesus Cristo, seu corpo serei salvo. Salvo de quem, senhor? Como Jesus Cristo foi salvo das cinco chagas, seu corpo é livre e salvo. De dor de cabeça, dor de pontada, dor de chuchada, sangue alvoroçado, sangue palmado, sangue aguado, sangue agitado, sangue quente, sangue frio, moleza de tristeza, moleza de patifaria, curando o vento do ar da moléstia, o ar de bater, de gritar, de saltar, de aleijar, de entortar, de encaranguejar. O ar quente, o ar frio, o morno enxamblado, o perturbado, o ar que adormece, aquele que ataca e aquele que deixa a pessoa agressiva. Senhor Deus, Pai poderoso, Pai amado, Cura o corpo de fulano com as santas palavras. Serei salvo no deitar, no levantar, no comer e no beber, no fechar a porta e no abrir, e na cama que se deitar. Jesus Cristo salve, Jesus Cristo cura, Jesus Cristo vai e tira o perigo e prende os maus. Em nome de Deus. E que assim seja!” Viu? A gente reza assim. Dor de cabeça. E dor de dente, se quiser que ele se arranque pra não doer mais, a gente reza é acaba.
P/1 – Como é a de dente?
R – Ah, não digo não. Essa aí e meio… É complicada. Tem a reza de erisipela. “Rosa má, a preta, a branca, a azul, a marrom, a cor de hoje é encarnada. Aí, vocês sabem rezar? São quatorze, que tem que rezar. Cobreiro brabo, fogo selvagem. Tudo isso é reza. E muita gente acha que a pessoa só pode... Não. Tem que sair do jeito do João ______, com o cobreiro, que mandam pra cá. Eu rezo, volto pra lá. Enfermeira dentro do hospital. Aí, eu posso falar e pode botar no ar. Viu? Cobreiro bravo, fogo selvagem. E erisipela a perna fica desse tamanho. “Tem que cortar!” Cortar o quê, rapaz? Cura essa criatura que ele fica com a perna dele. “Ah, tá com a mão.” Disse que um dia chegou um rapaz com o braço assim, a camisa era manchada de fora a for a, e o braço dessa altura. Veio para a família assinar, que os velhos… Eram velhinhos, não podiam ir. Para eles assinarem, para tirarem o braço, do ombro. Aí, “não, mas vamos na casa de Dona Zefa, porque ela é uma mulher que gosta de aconselhar.” “Meu filho perdeu o braço, um homem que toca pife, toca sanfona, um homem que bate no zabumba, faz festa. E agora aconteceu uma coisa dessas.” Pegaram ele e trouxeram. Quando chegaram aqui, fazia dó. Era uma... Desse tamanho aqui no ombro do homem, lá dele. Eu disse: Zé Hamilton, você quer se curar? Disse: quero! Digo: ou quer arrancar o braço? Disse: não sei, porque estou sofrendo demais. Digo: olha, pega a ficha e rasgue. Joga esse encaminhamento no mato. Porque você vai ficar curada amanhã. Chamei-lhe a atenção, e botei dentro de casa. Cheguei lá, fiz a reza. Eu disse: olha, sua doença é um panarício, vai estourar o osso, nove buracos, e vai sair a ________ de osso. E seu braço vai cicatrizar e vai ficar curado. “Comadre…” Não, era Zefa. “Dona Zefa, meu pai.” E o pai por ali. O pai ainda estava vivo, tudo. Aí, ele... “E como é que meu filho vai voltar no hospital?” Digo: manda um portador dizer lá, que quem mandou dizer foi eu, que a guia do internamento e da operação já foi rasgada. E confia em Deus. Aí, rezei. Como foi que eu rezei? Pedro Paulo foi a Roma, Jesus Cristo perguntou. Pedro, o que tu viste lá? Mal de monte, erisipela e rosa má. Pedro, vola e vai curar. Com o monte de Oliveira, Pedro curou, Pedro sarou, Pedro retirou a erisipela e a rosa má. Aqui incha, aqui racha, aqui desce pus e corre água. Aqui lateja, aqui pinica. Jesus Cristo cura e tira de dentro pra fora. Aí, chama do tutano para os ossos. Aí... Vermelho o que é que tu tá fazendo? Não era vermelho. Ela é a besta fera que come a carne ou o osso. Como tu come a carne e o osso, corta o cabo e o pescoço. Pra frente tu não vai, pra trás tu tornará. Com o sangue de Jesus Cristo esse corpo é lavado, e é banhado. Erisipela terão ido para a zona do mar sagrado. Nem água tem frio, nem fogo tem calor. Vai dizer a nosso senhor que o Zé se queimou. Com os poderes de Deus, passa dor e o ardor. Com os poderes de Deus, toda a dor se afastou. Jesus Cristo nasceu, Jesus Cristo morreu. Jesus Cristo se ressuscitou. O corpo de José, Jesus Cristo curou. De águas e fogo, em fogos e águas. Em nome de Jesus Cristo, vai sair e tirar. Aí, foi-se embora. Digo: vai pra casa. Amanhã ele amanhece estourado. Quando foi de dia, estourou. Ele ainda tem uma lasca de osso, desse tamanho, numa caixa de fosforo. Que não coube, aí ele botou. Com oito dias, o homem se curou. Ficou com o braço, agora, com defeito muito pesado. Aí, era para ir fazer um atestado, para se aposentar. Eu digo: vai, vai se aposentar, mas com o seu braço. Aí, tirou chapa, fez raio X, aí não cortou o braço. Se você quiser, amanhã ele vem dar um testemunho aqui e dizer. Casou, pariu uns três filhos já na mulher. E é aposentado.
P/1 - Só uma oração? É só uma vez que faz essa oração?
R – É. Fez três dias.
P/1 - Três dias?
R - É obrigado a ter cabeça, sabe? E saber guardar. Explicar e ensinar. “Ah, porque a reza fica fraca.” Fica fraca se você não tiver boa vontade. Que ainda tem a palavra dizer. Quem souber que não ensinar, quem ouvir que não aprender, dia de juízo, vai se arrepender. Entendeu? Você reza o sonho de Nossa Senhora, um ano continuado, você sabe o dia que morre. Você quer saber?
P/1 - Rezar o quê? O terço de Nossa Senhora, um ano?
R – Não. Aí é o terço de Nossa Senhora e tem o _______ da Mãe de Deus. Né? A Mãe de das Candeias e Meu Padrinho Ciço da Matriz de Juazeiro. Como é o terço de Meu Padrinho Ciço?
P/1 - Conta aí pra gente.
R - Você não sabe rezar o terço do Pai Eterno? Que eu acho que você está com ele no pescoço. Sabe. Eu não boto nada no meu pescoço. Aí vem, me dão uma volta, eu guardo. Tenho aí tanta da corrente que me deram, mas eu não ando. O que eu ando com ele é esse aqui. Relógio e esse terço. O terço do meu Padrinho Ciço é esse aqui. Diz assim: Valei, meu padrinho Ciço, orador. Jesus Cristo não tem fim. Jesus Cristo orasse para o meu padrinho e meu padrinho orais por mim. Aí, nas contas, “meu padrinho orais por mim, meu padrinho orais por mim. Quando chega no Pai Nosso, se benze. Valei-me meu padrinho Ciço, orador. Jesus Cristo não tem fim. Jesus Cristo orasse pro meu padrinho, e meu padrinho orasse por mim. Pá, pá, pá. Reza as cinquenta Ave Maria, e os cinco Pai Nosso. Aí, ofereço a Nossa Senhora, e a meu Padrinho Ciço, e a Nossa Mãe das ruas. Ninguém me ensina, eu aprendo de cabeça.
P/1 – Ninguém? Você nunca aprendeu com um rezador mais velho?
R – Eu não! Eu aprendo porque...
P/1 - Vem no seu pensamento.
R – É, ele me dá no pensamento e eu faço a reza e dá certo.
P/1 - Essa do Padre Cícero é pra quê?
R - É o Pai Nosso, é o Pai Nosso que reza pra ele. Não veio falar quando um amigo foi de Alagoas… “Meu Padrinho Cícero, me ajeite que Lampião vai entrar lá no nosso lugar.” Aí ele disse: meu filho, ele não vai fazer nada com vocês, não. Aí, ele disse: meu Padrinho, nós estamos com medo. Ele disse: quantos terços você já rezou pra mim? Disse: nenhum. Diz: ele já rezou três. Tá vendo? É muito, você...
P/1 - E falando em Lampião, Poço Redondo tem histórias de Lampião. Você ouvia essas histórias?
R - Não, não tenho não. Eu tenho que aqui, primo de Alexandre, entrou dois no cangaço. E do meu pai, entrou três com Lampião.
P/1 - E que fim tomaram?
R - De meu marido, o povo dele aqui, nessa comunidade, entrou dois. Era Azulão e não sei mais como era o nome dos outros. Mas Alexandre sabe. Mas quando eles se entregaram, Alexandre tinha oito anos, meu marido. E eu não tinha nascido.
P/1 - Mas contavam essas histórias?
R - As histórias eu sabia muito. Tem muito lugar onde eles mataram o povo, fizeram fogo, fizeram tudo. A namorada primeira dele, aqui na comunidade, morreu agora com 117 anos. O velório foi aí na minha casa. A história de Lampião foi muito bonita.
P/1 - A namorada de quem, do Lampião?
R - Do Lampião.
P/1 - A primeira namorada de Lampião?
R - Não, que ele andava assim. Aí, ela…
P/1 - Mas a namorada dele morreu com 117 anos.
R - Foi, morreu agora.
P/1 - E a senhora conhecia ela?
R - Oxente! Era prima do meu marido, amor. Ela morou aqui a vida toda. Aí, pediu para se enterrar aqui. Que ela morava em Santa Brígida, na Bahia. Aí, eu fui buscar o corpo dela, cheguei, fiz o velório aqui. Quando foi sete horas da manhã, subiram com ela no caixão, foi enterrada lá no cemitério dos escravos. Lá tem 500 corpos dos escravos, do cemitério lá em cima. Eu pensei que vocês iam lá. Muito turista vai lá.
P/1 - Dona, qual que era o nome dessa moça que fez o funeral aqui que você falou?
R - Joana Maria de Jesus. Joana. A gente botou aqui um colégio que tem, que era uma pessoa que ninguém nunca sabe nem como era. A gente já botou na Câmara, já foi aprovado. Agora o nome dela vai ser escrito na escola das crianças. Joana Valentina de Jesus.
P/1 - Dona Zefa, os partos que você teve mesmo dos seus filhos, como é que era? Você que pegava ou tinha outra parteira?
R – Não, minha mãe cortava o cordão.
P/1 - Sua mãe que cortava?
R - Era.
P/1 - Todos?
R - Todos.
P/1 - E teve alguma complicação?
R - Teve. A primeira eu passei três dias e duas noites. Porque ela teve sarampo na minha barriga. Meu marido teve sarampo, que hoje chamam… Não sei qual é o nome. Aí, teve muita febre. E eu não me separei dele de jeito nenhum. Aí, ela deu febre na minha barriga e ficou só na carne pura, dentro da barriga. Aí, nasceu, foi obrigada a botar num… Foi enrolada com um pano, um pano chamado orgâni… Sei lá! Era uma cedinha bem... Aí, foi enrolada, a minha filha primeira que nasceu. Aí, eu sofri muito. Mas não fui para a maternidade, não. Agora, o tropeço foi pesado. Mas, graças a Deus, deu tudo certo. Nem ela morreu e nem eu fiquei doente. E depois os outros… Mas... Os outros eram ligeiros. Nasceu um menino de cinco quilos e meio, eu pari em casa. Deixavam cair pra lá.
P/1 - E seus filhos, você rezava? Você benzia seus filhos?
R - Meus filhos?
P/1 - É. Suas crianças, você benzia?
R - Benzia. Ainda benzo.
P/1 - E algum já reclamou ou não?
R - Não.
P/1 – Sempre…
R - Correm pra cá. Quando estão doentes, tem qualquer coisa… Eu... Se der pra mim, eu vou orientar. Se não der, vai para o hospital. Eu faço isso. Nunca, gente que vem pra aqui, que dá pra eu cuidar, pra eu não cuidar. Mas também, se eu ver que tem que passar pro hospital, tem que ir pra lá. Não engano ninguém.
P/1 - E você já foi acusada de enganar? Já teve alguma pessoa que tentou falar que você enganava, que você mentia, que... Você já passou por essa situação?
R - Não.
P/1 - Nunca? Nem evangélico, você nunca foi perseguida? De pessoa querer te questionar... R - Ah! Muitos. Muitos. Fala loucura, eu me calo e digo: vai rezar. “Ah, porque quem está dizendo isso com você e Jesus.” Eu digo: que nada. Quem está dizendo é quem não sabe. É uma inocência. Peça perdão e vá no seu caminho. Que cada quem passe por onde gosta e quer. Evangelho, que é muito legal. Agora tem que ele pensar o que vai dizer. O que vai dizer. Será que só se salva ele? E eu preciso de ver e dizer, que nem tudo a gente pode falar, nem só metade. Pra quê? Eu não vou contar o que não dá certo. Eu vou conversar o que você poderia escutar. E o que quiser cortar, que não deu pro modo de sair, você tira e fica à vontade. Eu quero dizer que eu sou essa que sou. Não vou me engrandecer e nem vou ser melhor que ninguém. Nós todos somos igual. Agora, nós temos que ver e rever. Plantar uma semente que ela nasça, que brote, que recorra e que tenha força de produzir mais. Não para querer enterrar e não querer que saia no ar. Quem tiver medo, não venha pra cá, porque eu não tenho medo. Eu tenho muito nervoso de inventarem coisa que a gente não faz e quererem dizer que foi a gente que fez. Aí, eu tenho. Mas com fé em Deus vai dar tudo certo.
P/1 - Mas você já passou por isso, de pessoa querer… Evangélico querer…
R - Já. Botaram nome de macumbeira, botaram nome de isso e aquilo outro. Eu digo: vá para casa! Faça seu papel, que o meu eu não escrevo, mas eu posso representar. Não adianta, porque a pessoa me jogou uma pedra, eu jogar outra, não. Eu digo: tenha calma. Que tem reposto mais tarde. Quem vai lhe dar é a sua sabedoria, sua inteligência e aquele pai, que ele está lá e ele sabe de tudo. E nós não sabemos de nada. O momento em que ele está conosco, mas ele está presente, ele está vendo, a consciência, a experiência, a mentira, a promessa e a divulgação. Que eu tenho um filho político, ele é vereador. Mas eu digo a ele, tome cuidado, porque não adianta a promessa, não adianta você dizer o que não dá certo para você falar. Tome cuidado, porque você veio de uma mãe, que ela tem coragem e ela reage numa forma de todo mundo abraçar.
P/1 - Já teve algum caso de alguém querer converter você?
R - Não. Houve bastante, mas não que eu queira. Isso aí, quem é que não quer ser eu hoje. Na idade. Não é de sabedoria, que eu não sei de nada. Quem sabe tudo é Deus. Agora, quem é… Que tem pessoas que dizem, “ai, Dona Zefa, que eu queria saber de muitas coisas que eu queria resolver.” Mas sabe, porque tem muito capim coberta, quer descobrir e quer sapatiar em Zefa da Guia. Zefa da Guia, de besta não tem nem o pasto. Eu me oriento por Deus e por eu. Quem sou eu? Minha cabeça é pequena, mas o juízo é bom. Ninguém cumpriu por besta porque vai perder o dinheiro. E eu gosto de ver e rever, para então, eu me mexer.
P/1 - Ô mestra, pra você, o que é a fé? O que que é a fé?
R - O que é o quê?
P/1 - A fé.
R - O que é que é a fé? É você botar a mão dentro do fogo e não queimar. Aí, você tem fé. Entendeu como é? A fé não é toda hora que você tem. Não é toda hora que ela chega. É obrigado a você ter preparo. É obrigado a você conseguir. E você pisar dentro de um fogo, sem uma percata, e você não sair com uma fagulha. Aí, é fé. É Deus. Não que Ele esteja manifestado em você. E nem eu. Quem sou eu? Como Deus chegar e dizer: eu vou entrar em Zéfa, vou fazer isso e aquilo outro. Gente, pense diferente, que Deus não é qualquer coisa que nós acha que ele é não. Ele quer a firmeza, quer a verdade, quer o trabalho comportado. E quer a gente com a grandeza de amar, sem maldade, sem falsidade. Que nem da traição, Jesus livrou. E representando a forma, ele ainda deixou escrito. Não deixa o arrodeio pelo atalho. Porque o arrodeio, ninguém vai querer, e o atalho lhe busca e lhe pega dentro de um minuto. Você já foi pegado. E ele deixou tudo escrito. No livro, na biblia, quem sabe ler. Eu não sei, mas eu... Tenho muita palavra que parece com quem lê.
P/1 - E você acha que para a pessoa rezar ela precisa ter a fé? A pessoa, ela nasce com a fé ou ela ganha essa fé na vida?
R - Não, ela já vem com o dom. A fé não é o dom. Que a gente só aprende é quando apanha. Se você não apanhar, se dividindo, concluindo, realizando e preparando-se. Aí, você não sabe como é que está. Aí, a fé, que você sobe, aí depois desce, tendo paciência, tendo calma, conversando com o povo e parando pra ouvir e ver o que os outros falam. Para poder você continuar e você ter um trabalho, força de vontade e coragem. Aí Deus, olha. Ele levanta. Você só tem a agradecer a Deus.
P/1 - Teve alguma história na sua vida que você passou, que testou a sua fé, que foi uma provação na sua vida?
R - Teve. Muita criança nasceu, passou 40 minutos sem respirar. Aí, eu fiquei meio... A tempo de pedi a pai. E era filha de um crente. Ele nunca tinha uma parteira, nunca tinha ido na casa dele, e fora dos filhos dele, a mulher ganhar tudo na maternidade em São Paulo. Veio para cá, quando chegou, chamou uma parteira lá na comunidade dele. Ela veio, quando ela chegou, o menino botou os dois pés. Aí, a parteira. “Chega, só quem vai fazer esse parto é Dona Zéfa.” A mulher chamava-se Maria da Conceição. Aí, “chega e busca a Dona Zéfa.” Lá para aquele começo de serra. Chamava o Pé da Serra, chama. Aí, quando dei fé, chegou aqui o rapaz. E o pai do menino que ia nascer, estava em Nossa Senhora da Glória. Negócios. Que era crente, teve um assunto para lá, ele foi. Aí, ela adoeceu. Mandou. “Chega lá.” Aí, vieram. Disse, mas vai chamar um carro na rua. Aí, foram chamar. Quando chega lá, não teve carro. Aí, eu saí daqui na carreira. Correndo mesmo. Que a parteira mandou dizer pelo portador que o caso lá era sério. Eu digo: mas para Deus, nada é impossível. E Deus vai nos ajudar. Aí fui. Saí na carreira mesmo. Cheguei na frente, tinha um colchete, eu ia tão aquele, que me finquei em cima do colchete. Aí, voltei de costas. Aí, o rapaz, “é um colchete, Dona Zefa.” Que era uns vareto. Aí, abri o colchete, eu passei. Quando eu cheguei lá, a mulher estava… Aí, Dona Maria disse: Zefa, eu mesmo não tenho mais o que fazer. Eu digo: mas Deus tem. Sai daí. Aí, ela saiu da frente. Aí, eu me coloquei, minha mãos. Eu digo: chame por Deus e por Nossa Senhora. Aí, o marido chegou. Se é de chamar pelos porcos, chame pelo dono dos porcos. Eu disse: se cale! Porque você nunca viu nada. Eu vou batizar esse menino no ventre, antes de nascer. Aí, “Cristo batizou São João, São João batizou Cristo no Rio de Jordão, aí encontrou o velho cordão. Com o poder de Deus, ele é cristão. Com o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, será batizada esta criança, e nascer, e ter vida em paz." Aí, ele... Digo: o sinal na testa da cruz e o olho no peito. Oggi, pra ele ser salvo no nascer. Crente não se batiza, né? Aí... Chega, vamos ajeitar. E aí, nada. Digo, vamos pegar ela. E pegamos, botamos os pés para cima e a cabeça para baixo. Aí, digo: deite. Aí, deitamos. E ele… O menino com poucas horas nasceu. Quando nasceu, estava preto. Preto da cor de carvão. Que eu sacudi, o menino não estava vindo mais. Digo: meu pai, em nome do pai, do filho do Espírito Santo, devido a essa criança, em nome do Senhor, que o Senhor salva a vida, salva essa criança em nome de Jesus Cristo. Aí, fiz lá outras… Aí, peguei um pano, uma fralda, botei na boca do menino, chupei. Encarquei, encarquei, aí, óóó´… Digo: está vivo! E aí, fui lá e vim cá. Com um pouco ele, buááá... Digo, esse menino está vivo. Deus viveu e Deus curou e Deus salvou. E ele nasceu. Em nome de Jesus Cristo. Aí, graças a Deus. 40 minutos, o pai estava com o relógio, disse que foi 40 minutos. Ele não ia ter vida. E Deus viveu, e ele se curou, está aí. A mãe já morreu, e o pai ficou viúvo. Está aí, farreando, já casou com a mãe de um pastor de Poço Redondo. Essa história é viva. E é uma história que aconteceu no Pé da Serra. A mãe de um menino, chamava-se Maria, mas o apelido é Mocinha e o pai é Alfredo.
P/1 - Você já pegou mais ou menos quantas crianças?
R – Disse… Mas eu não posso confirmar. Cinco mil. Quatro estados.
P/1 - E quantos desses morreram?
R - No nascer não morreu nenhum. Nem mãe morreu nas minhas mãos e nem criança nasceu morto. Pode botar onde você quiser. E tenho prova e testemunha viva de nunca ter um velório feito porque morreu de parto nas minhas mãos. Agora, já passei por perigo de morrer e nascer. Por quê? E viver. Comadre Beata, pariu 17 filhos. Teve um menino que era pariu, o que teve de sangue, ela derramou. A luz do candeeiro, ela não enxergava mais. Quando eu cheguei, que eu vi, aí eu senti a mão na barriga. O menino nasceu. Digo: pega um carro e tire pro hospital agora. Que ela não vai morrer, mas vai ficar abalada. Aí, foram ver um jipe velho, que sé era o carro que tinha aqui na comunidade. Pegaram, botaram na rede, levaram até aquela faixa. Quando chegaram lá, pegaram o carro. Mas ela tinha falado. Pegaram o carro e levaram pro Carira. Chegaram no Carira, internaram. Com três dias, ela veio pra casa. Quando chegou em casa, ele ainda pariu três, depois dessa hemorragia. E foi caos, agora essa mulher. Só aquele pai, e o que eu pedi, ela ficou viva. Agora não ficou com grau de sangue, não. E o menino tá aí, bebendo cachaça que só uma fera.
P/1 - E o que você diria para as parteiras mais novas, que é o segredo para ser uma parteira de festas?
R - Eu queria muito que alguém conhecesse o meu trabalho e tivesse a minha coragem. Abaixo de Deus, mas é difícil. Ninguém quer me acompanhar.
P/1 - É mesmo? Até hoje você não encontrou uma sucessora? Alguém para seguir seu trabalho?
R - Qualquer hora que disser, eu quero acompanhar, nós vamos acompanhar. Agora, mesmo, a menina ali, estava grávida, fizeram quatro ultrasons, e o médico disse que estava tudo bem. Eu disse: não. Eu não me conformo. Aí, ela deu as dores. Quando deu as dores, mandou me chamar. Diga: a madrinha, que eu não posso ir lá. Que já estourou a bolsa. Digo: quê? Vai ver um carro para levar ela para a maternidade. Porque esse negócio não está certo. Aí, peguei esse carro meu, chegamos na pista, ela disse: Madrinha, eu não posso ir para a glória. Que as dores estão... Vou parir agora. Digo: vamos para Poço. Aí... Madrinha, chega lá a senhora… “Quem vai pegar o seu menino é eu. Vamos para a Poço.” Eu doente, que meu irmão, estava acabando de morrer. Mas, na hora, fiquei boa. Aí, quando cheguei lá, tiramos ela, botei numa cadeira de roda. Aí, ficaram fazendo a ficha, eu entrei. A prteira disse: só que aqui ninguém pega menino mais. Aqui não tem como pegar menino, que não tem material, não tem mais nada. Digo: mas tem Deus. Bota a mulher aí, que eu vou pegar. Agora ela vai parir aqui. E ela não vai para maternidade de Glória e nem vai pra Tabaiana. Sabia? Aí, ela disse: vou chamar o doutor. Aí o doutor veio. “Ah, precisa de reza.” Eu digo: reza, eu estou rezando. Tá precisando de ter coragem. E não é pra você botar cotovelo em cima da barriga dela, não. E nem é pra você também empurrar. Deixa que vai nascer, em nome de Jesus Cristo. Ele não me conhecia, era um médico novo. Disse: é, você está dizendo. Eu digo: estou lhe informando e vai acontecer. “Faça força aí, minha filha. Pega aqui.” Ela pegou aqui na cama. E aí... O menino apontou a bunda. Ele arrancou na carreira. “Ai, meu pai do céu! Esse menino não nasce, não. Tem que fazer cesaria.” “Cesaria? Força!” Aí, ela... O menino caiu lá… O doutor chegou. “Dona Zefa, como a senhora assistiu?” Eu digo: por quê? Você não está vendo nada. Eu sou parteira tradicional. Eu confio na força de Deus. “Mas, dona Zefa, como é que vai dar ponto nessa mulher?” Eu digo: não. Ela não se rasgou. Vem aqui para eu lhe contar uma história. E a mulher estava lá. E o menino, a parteira, tomou de conta. Eu só fiz. Aí... Eu digo: quando tem um animal, uma vaca, uma besta, uma jega, uma cabra, uma ovelha, está lá no chiqueiro, está lá no currau, está lá em seu terreiro. Está sentindo alguma coisa, me diz? “Não!” “Aí, quando é bem cedo, como é que ele amanhece? Com o bezerro mamando, ou o cabrito, ou o borrego, ou jeguinho, ou porco. Precisou de você dar ponto?” “Não.” “E como ficou o sinal?” Eu digo: olhe, tire isso da sua cabeça. Bote Deus no coração. Que a mulher não ficou com defeito. Que Deus trouxe a criança e não precisou você puxar, que ela não é animal, pra ninguém puxar e nem encarcar. Mas Deus trouxe na forma que ele ia nascer. E cadê o doutor que disse que o menino estava tudo em dias, não tinha nada. E o menino era sentado. Não era a melhor cena do tempo que eu pegava menino sem sabedoria de médico, sem mãe saber se era macho, se era fêmea, o que era. Aí, tive uma conversa dura com ele. Aí, ele escreveu. “Depois nós vamos conversar.” Eu digo: já conversei, tchau. Tá vendo aí? E se você, ou a senhora, não tiver coragem de conversar com os médicos? Eles botam de cabeça para baixo. Só eu saber é eles que têm. Que têm no caderno, que têm no livro. Eu tenho aqui livro. Tenho tudo das mulheres parindo, das mulheres de qualquer jeito. Tá tudo aí, que eu ganho, que o povo me dão. Mas a minha rota é o meu trabalho. É o jeito que eu sou. Não quero explicação, porque Deus já me deu. E quando a mulher tem um filho. Como eu disse, olha, quando o menino é assim, a mulher, tem que ou fazer serrar o osso ou fazer o cesaria. E quando ela é assim, aí o menino, aí tem como se abrir e o menino passar e não rasgar, nem ter nada. Por isso que mulher nunca morreu de parto na minha mão e nem nasceu uma criança morta. Por quê? Porque, antes de tudo, eu já sabia. Caminhou na minha frente, eu digo: não, você não é pra mim. Vá para a maternidade. Não adianta eu enganar. Isso não é bom. Deus quer a verdade. Se você não sabe o que é esse ferro, você não vai dizer que é um pau. Tá vendo que é um ferro. Como é que eu vou chegar e dizer, “não, aqui é um pau, eu vou quebrar.” Sabe quando? Nunca. Você tem que pensar, se orientar, rever e ver como é que você pode fazer. Que Deus abençoe, muito obrigado. Que Jesus guie, ilumine, fortaleça e dê muita força, coragem a vocês que vieram me visitar. Muito obrigado e muito obrigado mesmo. Eu estou me sentindo bem e com essa visita de vocês, tô ficando melhor. Para aprender e ensinar o que eu souber.
P/1 - Eu ia pedir para você contar o que é… Não sei se é falar a oração, mas o que é essa oração do sonho de Nossa Senhora e a história que você já viu acontecer disso?
R - O que acontece aqui na comunidade é fé em Deus, ter coragem. E pessoas que já morreram, um rapaz chamado Manoel Bem Vindo, irmão do meu marido de criação. Ele foi criado, adotado pelo pai do meu marido, de Alexandre. O que aconteceu? Eu cuidei dele com 80 anos de idade, ele. Depois ele sabia o dia que ia morrer. Aí, ficou e disse um dia, já velhinho, doente, disse: “Zefa, eu vou morrer amanhã!” Eu digo: “Vai não, Mané Bem Vindo.” Disse: vou! Você se prepare, compre um mocotó, faça um pirão pra eu comer antes de eu morrer, para morrer com a força, para poder receber a força da minha morte. Aí, eu disse: pronto! Aí, fui pra feira, um dia de domingo, comprei o mocotó, cozinhei. Quando eu cheguei, aí fiz o pirão, ele comeu. Aí, disse: ó, eu não quero morrer na cama e nem numa rede. Eu quero morrer no chão, em cima de uma esteira. Aí, eu disse: pronto! Sua roupa está pronta. “Vista a minha roupa. Quero minha vela.” Aí, eu fui ver a roupa, vistei a roupa nele. “Eu quero umas meias.” Eu digo: ah, meu filho, não tem meia porque eu não comprei. Ele disse: toma emprestado. Aí, eu tomei emprestado a um senhor que morava aqui. Calcei as meias, aí ele disse: acenda a vela. Quando ele acabou de comer. Deitou-se na esteira. Aí, eu acendi a vela. Aí, fiz a oração da morte. “Você é de Jesus. Jesus vai contigo. Você vai com Jesus.” E aí, fiz a oração. Ele morreu. Aí, já estava vestido na roupa, tudo direitinho. Botei as mãos direito e os pés estirados. Cobri com a coberta branca. E mandei chamar as famílias. Aí, as famílias vieram, quando chegaram naquele... Na despedida sempre tem choro, choraram, reclamaram. Eu digo: mas não é nem tempo. Porque vocês, a reclamação e o amor, era vocês terem cuidado dele. Mas vocês não quiseram, ele veio para cá, eu cuidei, e Deus salvou, e hoje ele levou. Aí, ficou todo mundo. Aí, começamos a rezar. A reza de centinela. Excelência! Reza de pé. E fizemos uma centinela muito bonita. Chorosa, com muita reza penosa. Aí, quando foi... Isso foi quatro e meia da tarde. Quando foi onze e meia, ele sentou-se. Quando ele sentou-se, aí o povo correu. Aí, tem uma cunhada minha, muito corajosa, se chama Zepa. E eu também. “Zepa.” Eu disse: o que é? Disse: eu gosto mais de você do que do seu marido. Porque ele não trata você muito bem. E eu agradeço o que você fez. Eu errei o meu dia. Eu não vou partir hoje. Só vou morrer amanhã. Tire minha roupa, mande lavar, e quando acabar, vista. E amanhã eu quero a vela. Aí, eu tirei a roupa, o povo começou a chegar, e outros filhos reanimaram, porque ele tornou. Aí, disse: ainda tem mocoto? Eu digo: tem. “Cozinhe, faça outro pirão, que o amanhã é o meu dia, que eu errei.” Aí, tinha um sobrinho dele, chamado Vito, aí disse: ah, Tio Mané Bem Vindo, porque o senhor se enganchou na cachoeira de Paulo Afonso e errou o caminho e voltou. Por isso o senhor demorou. Bebe de cachaça. O que falou. Aí, eu disse: cala tua boca! Aí, ele ficou sentado, conversando, e tudo. Aí, eu fiz outro pirão, o dia vinha já clariano. Fiz outro pirão, dei para ele comer. Quando comeu, disse: olha, oito horas é a hora dele. Eu disse: mas como você sabe que vai morrer hoje? Ele disse: vou, porque eu errei ontem. Aí, quando foi oito horas, eu fui ver a vela, vesti a roupa dele, ele deitou-se na esteira. E aí foi o derradeiro suspiro. Aí, morreu. Aí, nós enterremos no outro dia, com 24 horas. E acabou-se. Isso aconteceu nessa comunidade ao vivo. A maioria do povo todo sabe dessa história e conta até algum filho dele. Tem um filho chamado Zé______ , o apelido. Tinha uma filha chamada Jovelina. Tem um neto chamado Zé Carlos. Muita família. E outra, tem Maria, que a gente chamava, era Maria mesmo,e tem outro apelido. Mas graças a Deus aconteceu e eu estou aqui dizendo a vocês, que a morte, ela sabe, e a gente tem a oração do sonho de Nossa Senhora, rezando o ano continuado, com respeito e tendo força de vontade, sabe do dia que morre. Mas eu mesmo não quero saber, que eu não sei da oração. Mas meu marido sabe. Mas eu não quero aprender. É o sonho de Nossa Senhora. Quem rezar a por penitencia e tiver fé, e acreditar. Sabe do dia que morre. E Zefa da Guia… Sei de muita besteira, não sei de nada, mas o dia de morrer, eu não quero saber! Que eu sei que um dia eu vou, e esse dia certo, não tem para onde eu ir. Mas não quero saber da hora. Pode passar onde você quiser e o povo querer saber. É autorizado por Zefa, porque ela só fala a verdade. Pode procurar em qualquer lugar que a história é essa. Nem acrescento, nem diminuo. É uma palavra séria. Que Deus me ensinou a conquistar e orientar e não ter medo de falar para o povo, para as comunidades, para os investimentos. Em qualquer estado, eu estou para divulgar, vocês passarem e o povo ouvir e escutar. Se quiser mais, a gente fala. Obrigado.
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