Eu estava com meu marido em um trem viajando. O trem passava por uma paisagem rural, distante da civilização. Avistei chamas em meio à mata, na direção a que o trem estava indo. As chamas se multiplicavam rapidamente, um grande incêndio avançava por toda a região. O trem se dirigia sem freio em direção ao fogo. Os passageiros começaram a pular fora do trem. Meu marido e eu nos preparávamos para saltar também. Logo, estávamos caminhando na beira da estrada, sem qualquer vestígio de cidade por perto, chão de terra batida. Fumaça no ar. Chegamos a uma casa grande não habitada, nossas filhas agora estavam conosco. Outra família já havia chegado ali, e nos olhavam com rechaço, num tom de disputa. Então percebi que o local estava lotado de pessoas, que disputavam um resgate possível. Carros, taxis se aproximavam (à semelhança das saídas de aeroportos em que os viajantes recém-chegados disputam o próximo táxi). Os motoristas apontavam para pessoas específicas para serem resgatadas, em especial políticos ou parentes de políticos, e outras famílias muito endinheiradas. Olhávamos ao redor sem saber o que fazer, o que pensar, para onde ir, assustados com a competição. Na parte seguinte do sonho, estávamos em nossa cidade, contando sobre como um navio feito de lego (brinquedo) nos resgatou. Víamos as imagens na TV de um porto com muitos desses navios coloridos que operavam nesse resgate.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
O incêndio é a representação da pandemia do vírus e também da pandemia de descontrole e ambição políticos. Remete ao Brasil que queima, à Amazônia que incendeia. O descontrole do trem que não consegue parar pode ser o descontrole do nosso governo, que nos entrega às disputas individuais, sem um plano de governo coletivo, inclusivo e responsável. Também pode ser referência aos familiares que têm dificuldade de aceitar o distanciamento, especialmente nossos pais,...
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Eu estava com meu marido em um trem viajando. O trem passava por uma paisagem rural, distante da civilização. Avistei chamas em meio à mata, na direção a que o trem estava indo. As chamas se multiplicavam rapidamente, um grande incêndio avançava por toda a região. O trem se dirigia sem freio em direção ao fogo. Os passageiros começaram a pular fora do trem. Meu marido e eu nos preparávamos para saltar também. Logo, estávamos caminhando na beira da estrada, sem qualquer vestígio de cidade por perto, chão de terra batida. Fumaça no ar. Chegamos a uma casa grande não habitada, nossas filhas agora estavam conosco. Outra família já havia chegado ali, e nos olhavam com rechaço, num tom de disputa. Então percebi que o local estava lotado de pessoas, que disputavam um resgate possível. Carros, taxis se aproximavam (à semelhança das saídas de aeroportos em que os viajantes recém-chegados disputam o próximo táxi). Os motoristas apontavam para pessoas específicas para serem resgatadas, em especial políticos ou parentes de políticos, e outras famílias muito endinheiradas. Olhávamos ao redor sem saber o que fazer, o que pensar, para onde ir, assustados com a competição. Na parte seguinte do sonho, estávamos em nossa cidade, contando sobre como um navio feito de lego (brinquedo) nos resgatou. Víamos as imagens na TV de um porto com muitos desses navios coloridos que operavam nesse resgate.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
O incêndio é a representação da pandemia do vírus e também da pandemia de descontrole e ambição políticos. Remete ao Brasil que queima, à Amazônia que incendeia. O descontrole do trem que não consegue parar pode ser o descontrole do nosso governo, que nos entrega às disputas individuais, sem um plano de governo coletivo, inclusivo e responsável. Também pode ser referência aos familiares que têm dificuldade de aceitar o distanciamento, especialmente nossos pais, deixando-nos com a responsabilidade de sustentar o distanciamento físico necessário e protetivo nesse momento. O resgate veio de um navio de lego - creio que remete à infância de nossas filhas, a que nos dedicamos com intensidade e cuidado, tentando oferecer conforto e proteção em um momento de tantas restrições sociais, mas que também é o que nos resgata da solidão, exigindo-nos e assim também oferecendo-nos a oportunidade e o espaço-tempo de brincar e de imaginar.
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