Entrevista de Brenda Bracho
Entrevistada por Cecília Farias (P/1) e Leonardo Arouca (P/2)
São Paulo, 13 de dezembro de 2024
Projeto Vidas em Cordel - Museu da Língua Portuguesa
Entrevista PCSH_HV1433
P/1 - Brenda, muito obrigada, antes de tudo, por topar vir falar com a gente. Eu vou pedir… começando, que você se apresente. Então, fala seu nome, onde você nasceu?
R - Sou Brenda Bracho, sou de Fortaleza, eu tenho 41 anos, moro aqui em São Paulo já há uns 20 anos. E é isso.
P/1 - Lá em Fortaleza, em que parte da cidade você nasceu? E quem morava na mesma casa que você, como que era?
R - Eu morava com a minha mãe, meu pai, meus dois irmãos, irmão e irmã, que eu sou o terceiro filho, tenho uma irmã que é mais velha, e eu sou do meio, e meu irmão. Morava em um bairro lá em Fortaleza, (Demócrito) Rocha, próximo a Parangaba. Aí, saí de lá com 16 anos, e estou aqui até hoje.
P/1 - Você veio direto para São Paulo, foi para outros lugares antes?
R - Vim direto para São Paulo, de Fortaleza para São Paulo. Meninota, dezesseis anos. Eu vim, mas assim, vamos falar pelo preconceito, que veio de berço. Mas não foi totalmente preconceito assim… Isso eu pensava na minha adolescência, aos dezesseis anos. Até então, meu pai falou que ele não aceitava, mas não é que ele não aceitava a minha opção, ele não queria até então… Depois que eu vim ver, que o que ele não aceitava era o preconceito que eu sofreria e que eu sofro, isso que ele não aceitava, não por eu ser homossexual. Depois de alguns anos eu vim entender isso. Ele falou pra mim: “Você é meu filho, eu aceito você do jeito que você é, mas não é por mim, é as pessoas. Não quero que você sofra o preconceito que as pessoas tem com homossexualidade" Mas isso, na minha adolescência, eu pensei que não fosse isso. Com o passar do tempo, depois que eu vim ver que realmente… Que pai e mãe sempre quer o bem para o filho, nunca quer o mal. Sempre que o bem....
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Entrevistada por Cecília Farias (P/1) e Leonardo Arouca (P/2)
São Paulo, 13 de dezembro de 2024
Projeto Vidas em Cordel - Museu da Língua Portuguesa
Entrevista PCSH_HV1433
P/1 - Brenda, muito obrigada, antes de tudo, por topar vir falar com a gente. Eu vou pedir… começando, que você se apresente. Então, fala seu nome, onde você nasceu?
R - Sou Brenda Bracho, sou de Fortaleza, eu tenho 41 anos, moro aqui em São Paulo já há uns 20 anos. E é isso.
P/1 - Lá em Fortaleza, em que parte da cidade você nasceu? E quem morava na mesma casa que você, como que era?
R - Eu morava com a minha mãe, meu pai, meus dois irmãos, irmão e irmã, que eu sou o terceiro filho, tenho uma irmã que é mais velha, e eu sou do meio, e meu irmão. Morava em um bairro lá em Fortaleza, (Demócrito) Rocha, próximo a Parangaba. Aí, saí de lá com 16 anos, e estou aqui até hoje.
P/1 - Você veio direto para São Paulo, foi para outros lugares antes?
R - Vim direto para São Paulo, de Fortaleza para São Paulo. Meninota, dezesseis anos. Eu vim, mas assim, vamos falar pelo preconceito, que veio de berço. Mas não foi totalmente preconceito assim… Isso eu pensava na minha adolescência, aos dezesseis anos. Até então, meu pai falou que ele não aceitava, mas não é que ele não aceitava a minha opção, ele não queria até então… Depois que eu vim ver, que o que ele não aceitava era o preconceito que eu sofreria e que eu sofro, isso que ele não aceitava, não por eu ser homossexual. Depois de alguns anos eu vim entender isso. Ele falou pra mim: “Você é meu filho, eu aceito você do jeito que você é, mas não é por mim, é as pessoas. Não quero que você sofra o preconceito que as pessoas tem com homossexualidade" Mas isso, na minha adolescência, eu pensei que não fosse isso. Com o passar do tempo, depois que eu vim ver que realmente… Que pai e mãe sempre quer o bem para o filho, nunca quer o mal. Sempre que o bem. Aí, eu vim para São Paulo, fui morar com uma cafetina. Porque até então não tinha opção de vida, de trabalho, eu era menor, fui me prostituir. Vivi da prostituição aqui alguns anos. E assim, a vida foi essa.
P/1 - Como era o seu pai e como era a sua mãe?
R - Eles são maravilhosos!
P/1 - Que lembranças você tem assim, desde criança? A primeira lembrança que você tem?
R - Boa?
P/1 - A que você quiser contar, a mais antiga.
R - Eu sempre fui apegado com minha mãe, sempre fui. Aliás, ela sempre foi apegada a mim também. E eu era o filho que dizia pra ela, que eu nunca ia sair de casa, nunca iria deixar ela. E fui o primeiro filho a sair e abandonar ela. Mas a lembrança que eu tenho, mais assim, que me dá muita saudade é da minha mãe. A minha infância com ela, o tratamento, sabe? E assim, eu dormia na minha cama, eu levantava pra ir dormir com ela. Alguma das discussões: “Menino, tu tá grande já, vai para tua cama" Até os 11 anos de idade, eu gostava de dormir com ela, com a minha mãe. Eu adoro.
P/1 - E tem alguma coisa que ela fazia, assim, que você… Às vezes, é uma comida, uma música que cantava, alguma coisa assim?
R - Eu gostava quando ela ficava… porque a minha irmã, ela tinha piolho que pingava. Às vezes, eu tirava dela e colocava na minha cabeça e não vingava, porque é no sangue, eu acho. E não vingava. Porque é do sangue, eu acho. E não vingava. Eu gostava que pegasse na minha cabeça, sabe? “Vem cá, deixa eu ver" Encostava na minha cabeça e ficava, eu gostava, da hora, minha mãe olhando a minha cabeça, da hora.
P/1 - E o seu pai?
R - Meu pai, até então, eu não fui muito apegada com ele, sabe? Eu era mais com a minha mãe. E nem ele tanto comigo, apesar de que eu fui o primeiro filho homem, o primeiro neto masculino também. E é isso.
P/1 - Seus pais e seus avós nasceram ali em Fortaleza, também?
R - Em Fortaleza também. Estão lá até hoje.
P/1 - De pai e de mãe?
R - De pai, não. Só quem está lá até hoje, que está vivo, é só o meu avô paterno e minha avó materna. Agora, meu avô materno, e vó paterna, já se foram. Mas está vivo ainda, a minha avó e o meu avô, paterno. Estão lá, minhas tias, meus tios. Minha família todinha é de lá, primos, primas. Eu tenho três sobrinhos que eu não conheço. Assim, eu conheci só uma. Ela veio de fora me conhecer, tem 15 anos, que é filha do meu irmão. Ela veio aqui me conhecer. Ela falou: “Tio, eu queria tanto conhecer você, que desde criança, a minha mãe, a minha vó, sempre fala de você. Minha vó fala que eu me pareço com você" Aí eu: “É Ester?” É Ester o nome dela. E tem a que é mais velha, que é Hadassa, e o mais novo que é Samuel, mas eu conheço assim, por fotos. Mas ela mesma, ela veio de Fortaleza, para me conhecer aqui em São Paulo, a minha sobrinha.
P/1 - E como foi?
R - Foi lindo! Nossa, ela é linda demais! Ela falava assim: “Tio, eu sempre soube que até então o senhor é travesti, mas eu queria tanto conhecer você" Aí, veio me conhecer. Nossa, eu tenho maior carinho por ela, a Ester. Por todos, mas não sei, a feição que eu tenho por ela, pode ser porque eu não tive filho, entendeu. Mas eu adoro a Esterzinha.
P/1 - E você ia na escola ali perto?
R - Em Fortaleza?
P/1 - Era perto da sua casa?
R - Sim, era perto de casa. Eu tenho só o primeiro grau.
P/1 - Como que era a escola lá?
R - Maravilhosa, até então, era só elogios. Meu pai e minha mãe, disso aí eles não podem falar, que nunca receberam reclamação minha, era só… Graças a Deus! E também, até hoje, eu por ser diferente, eu gosto de fazer diferença, eu não gosto de ser igual aos iguais, eu gosto de ser diferente dos iguais. E assim, sempre receberam elogios, sabe? Sempre. Notas boas, nunca repeti de ano. Até a oitava série, que eu tenho só o primeiro grau. Aí, isso aí não pode reclamar não. E eu também gostava de estudar, era muito gostoso estudar.
P/1 - Alguma coisa específica que você gostava mais?
R - Todas as aulas… Eu gosto muito de história, história e geografia, mas mais de história. Eu sou uma pessoa curiosa pra saber o que aconteceu, o que vai acontecer. Eu gosto de história.
P/1 - E o que mais da infância, assim. Tipo, onde você brincava? Brincava em casa, brincava na rua?
R - Assim, eu sempre fui comunicativo, mas também sempre fui reservado, sabe? Não era de muitos amigos, tinha mais algumas amigas minhas, da escola. Não tinham muitos amigos, mais amigas, mais meninas, a gente brincava muito, só isso! Brincadeira de menina. Brincadeira de menina mesmo.
P/1 - O que é brincadeira de menina para você?
R - Boneca. Essas coisas que meu pai falava assim: “Você não é mulher pra tá brincando com boneca" Negócio de bola, essas coisas, negócio de bolinha de gude, eu nunca… Não dava nem atenção.
P/2 - E onde você brincava com suas amigas de boneca?
R - Mais assim, em casa, com irmã. E com a vizinha!
P/1 - E aí você contou que você saiu aos 16 anos de casa. E que tinha a ver com a sua sexualidade. Essas questões. Como é que foi esse processo para você, de se entender, assim? Ou sempre foi muito tranquilo, não teve grandes coisas?
R - Não, assim, eu sempre… Eu sou uma pessoa que se eu quero, eu não quero saber o que o outro vai achar. Se eu me sentir bem, ou me sentir mal, eu não quero saber se o outro, ou a outra está se incomodando com isso. É eu! Entendeu? E eu saí já sabendo que então era o que eu queria pra mim. E hoje não me arrependo assim… Eu nasci assim. Não foi por eu querer. E eu sou assim.
P/1 - E você já conhecia alguém em São Paulo pra você vir pra cá? De onde veio essa ideia?
R - Algumas amigas, algumas colegas que eu conheci também, logo quando eu assumi a minha homossexualidade, nos meus 13, 14 anos, que eu sabia que era o que eu queria mesmo, me transformar, ser travesti. Que aliás, eu sou travesti, eu não sou trans, eu sou travesti. O travesti, ele tem fisionomia masculina, traços, formas femininas, o corpo que, então passa por uma transformação. Mas travesti, eu sou travesti. Nunca trans. O transexual, ele tem fisionomia feminina e formas femininas. Agora, eu sou travesti, eu tenho fisionomia masculina, que é a face, os traços masculinos, mas porém, formas, coloquei cílios, quadril, cintura, tudo feminino. E eu sempre quis ser travesti, mudar meu corpo. Aí, quando eu conheci um travesti, que ela disse: “Você é novinha…” A juventude é tudo, resolve, é outra coisa. Sem rugas, outra pele. A juventude é tudo, a juventude é tudo. Aí, o que aconteceu, ela falou: “Se você for pra São Paulo você vai ganhar dinheiro, viu” E eu não tinha outra opção de vida. E nisso eu trabalhava numa casa de família, quando eu saí de casa, eu fui morar na casa de uma colega que eu conheci, ela falou assim: “Então, vem aqui pra casa…” Eu sempre fui uma pessoa que gostei de serviço doméstico. Sempre organizar, as coisas bem arrumadas, lavar, passar. Aí, eu fui trabalhar na casa dela. E próximo a casa dela tinha uma zona, a avenida que ficava só os travestis a noite. E eu comecei a fazer amizade com as travestis lá. Aí, eu conheci uma lá que falou assim: “Eu vou te levar pra São Paulo" Aí, me trouxe pra São Paulo. Aí, foi assim que eu fui morar na casa da cafetina, comecei a me prostituir, ai fui, coloquei silicone no corpo, eu fui fazendo a mudança, hormônios, essas coisas. E virei o que eu sou, travesti.
13:31
P/1 - Onde era esse primeiro… Quando você chegou em São Paulo, onde que você ficou? Em que bairro?
R - Aqui no GT, na Cruzeiro do Sul. Eu morei muitos anos ali na Cruzeiro do Sul. Primeiro na Avenida do Estado, em frente ao Mercadão Municipal, antes tinha um prédio lá chamado Mercúrio, e o São Vito, que era o “treme-treme”, que foi até demolido. Eu morei lá… Na época que a gente tinha apartamento lá no São Vito, no “treme-treme”, era a finada Elke Maravilha, ela tinha um apartamento lá, vizinho onde eu morava. Eu morava no Mercúrio. Ai, depois eu fui morar na Cruzeiro do Sul, com a cafetina. Pagava R$50,00 de diária pra ela, todo dia, pra ter o quarto. Aliás, a vaga, que não era só eu no quarto, era a vaga, eu e mais três, café da manhã e almoço. R$ 50,00, todos os dias. Fora outras coisas que… Ganhava dinheiro na prostituição. E outra, eu estou com 41 anos de idade, e graças a Deus, nunca peguei uma doença venérea na minha vida, apesar de ter vivido muitos anos de prostituição. E vi várias. Exemplo que eu via, várias, que eu já cheguei a levar para o Pronto Socorro. Que a cafetina dizia assim: “Vai pra rua ganhar meu dinheiro" E as bichas daquele jeito, sabe? E eu chamava o resgate, levava para o hospital. E ele falavam assim: “Você faz isso, amanhã ela vai e te morde" Mas eu fazia não era por querer receber nada em troca. É porque eu via que realmente estava precisando, e se eu podia fazer, eu fazia. Como teve algumas que já ficaram lá mesmo, nem voltaram mais, já foram. Mas teve outras que… Algumas morreram. Assim, morder e falar assim, não tem o reconhecimento. Não ter o reconhecimento, da gente fazer e ela não ter a gratidão. Mas eu fiz sem querer receber nada, fiz por ser humano. E teve duas que teve reconhecimento. De agradecer. E eu: “Não, mas eu fiz porque eu quis fazer, você não deve nada” Inclusive, tem até uma aqui, nossa, eu fiz muito por aquela minha amiga mesmo, que é uma das pessoas que eu conheci, travesti que até a data de aniversário dela é igual a minha. Ela não está mais aqui. Onde ela estiver, vou lembrar dela o resto da vida.
P/1 - Como é o nome dela?
R - A Júlia ______. Onde ela estiver… é uma amizade verdadeira, ela é boa mesmo. Que nós passamos bons momentos juntas, maus momentos, mas é uma pessoa que saiu de perto de mim, se foi. Mas a minha amizade verdadeira ela levou. Desculpa gente!
P/1 - É no seu tempo, se quiser beber uma aguinha. Se você quiser, a gente pausa.
R - Não! Minha amiga de verdade mesmo, de verdade.
P/1 - Tem alguma memória dela que você gostaria de contar?
R - Quando ela veio da Europa, ela morou um tempo na Europa. Ai, ela veio, falou: “Boa, Brenda" E eu: “Oi!” E ela já veio usando química, tava usava drogas e tudo. E ela falava assim: “Eu tô com sessenta reais na minha conta" “Para de zoar!” Eu falei assim: “Então, porque você não volta de novo pra lá mulher?” Ela falava assim: “Não, eu quero trocar minha prótese, colocar uma lente também, e o resto a gente vai fumar tudão" Ela falava pra mim. Eu falava: “Fica de boa, Julia" E nessa época eu trabalhava e morava num hotel na rua do Triunfo. Aí, ela foi morar comigo. Aí, ela começou a falar assim: “Vamos lá em casa que eu trouxe umas coisas pra ti" Aí, a casa dela era em Santana, lá na Voluntários da Pátria. Ela tem um irmão que é gay, ela era trans, era trans mesmo, porque era muito linda, Júlia Palomares, era linda!
P/1 - Julia Palomares?
R - Palomares. Era uma loira linda, linda, linda, linda. Linda de mais, era muito linda a Júlia. E antes de ser travesti, era um gay lindo, o Júlio César, era lindo, tanto como Júlio, como depois que ela se transformou em Júlia, era linda demais, a Júlia. Ai, que acontece, eu fui na casa dela e… Não é o presente, o material, sabe? É o que... E o que ela mostrava ser, significava para ela e pra mim. Tinha até umas bichas que falavam assim: “As duas estão roçando, é?” Não, mas era amizade mesmo, de verdade, sabe? Então, a gente era amiga mesmo, sabe? A gente discutia, brigava, eu falava: “Para Júlia, para com isso" Porque eu nunca bebi álcool. Ela já utilizava o álcool. Eu falava: “Júlia, para com esse álcool, Júlia" Ela falava: “Agora você quer controlar até a minha bebida?” “Não, eu falo pro teu bem, amiga" Você sabe que as piores drogas são as legalizadas, é o álcool, o cigarro, são as piores drogas, qualquer esquina vende, as piores drogas. Raro você ver um cara que deu uns tiros numa cocaína, ou fumou um crack, ou uma maconha, e bateu o carro. Vai fazer os exames, é o álcool. O cara chegou em casa, agrediu a mulher, meteu a faca, matou. É o álcool. É tudo isso. É a pior droga. Não só em mudar o modo de agir, como também prejudica a saúde. Meu avô morreu de cirrose, ele fez três pontes de safena. É tudo isso, se não morre de um jeito. Aliás, se não prejudica de uma jeito, prejudica de outro. De cada dez pessoas que utilizam álcool, do meu ponto de vista, oito não sabem se associar com ela, com o álcool, duas ainda sabem. Mas você pode ver, das dez, as oito são só desgraça, só tragédia. Minha opinião é essa, eu falava pra ela. Aí, tinha vezes que a gente saia pra boate, pra balada, aqui na Rego Freitas, que a gente ia muito em uma Boate, a Danger, e ela falava assim: “Ai Brenda, eu queria tanto tomar uma" Eu falava: “Bebe uma dose, mulher. Melhor do que essa sua bebida baixa. Pega um hi-fi, mas pede suco de laranja natural, é mais fino, e não prejudica tanto a saúde" Aí, ela tomava o hi-fi, a gente dançava, curtia da hora. Ela está em um bom lugar, virou uma estrela. Porque ela era muito linda, era linda demais. Demais, demais, demais. E falar nela…. Entendeu? E olha, a gente já chegou a ser despejadas de um hotel onde a gente morava. Uma semana devendo diária. Esse hotel nem existe mais, era o Kalipha, lá na Rego Freitas. Uma semana de diária, a gente devendo. Aí, o que acontece, o cara bate na porta: “Ó, desocupa o quarto" Eu e ela pra rua. Mas também, querida, saímos com as malas, chegamos na porta do hotel… Ela era bela, ela era muito linda. Não demorou muito, deu meia volta. Já fez um programa lá e voltou. Pagou logo duas diárias, e falou: “Na rua nós não fica, Brenda”. E até então, é isso.
P/2 - Brenda, eu ia te perguntar, quando você veio para a Rua do Triunfo? Qual é o hotel que você vem? Você vem com a Júlia? Como funciona? Como é esse processo? Depois que você sai de Santana e vem pra cá?
R - É como eu falei, foi quando eu comecei a me envolver com a dependência química, que eu utilizei. Porque até então… O dependente químico, ele é sempre dependente químico. Ele pode dar um tempo, mas parar, não se pára, porque a dependência química, ela é uma doença. A cura? Só Deus. Porque não tem estudo, não tem medicina que cure a dependência química. Eu falo assim, a droga, o crack. E eu fumei crack muitos… Eu não tô falando que eu não fumo, dei um tempo. Vontade? Dá sim. Porque é uma doença, dependência química é uma doença. Mas nessa época eu já estava utilizando crack. E quando eu vim morar aqui, logo no Centro, quando era a Boca do Lixo, não era a Cracolândia, era a Boca do Lixo, depois que veio ser a Cracolândia. Que foi quando eu morava com ela no hotel, ela foi pra casa dos pais dela, que ela adoeceu, eu levei ela pro médico. “Começa a fazer o seu tratamento" Aí, ela foi para a casa dos pais dela, a Júlia. E eu continuei aqui, fui presa. Fiquei um ano e seis meses presa, saí. Quando eu saí, estava tendo um projeto aqui em São Paulo, aqui no Centro, “De Braços Abertos" Que tiravam as pessoas da rua, pra colocar em hotel social, e tinha um trabalho de varrer a rua e recebia um dinheiro por semana. O que acontece? Eu fui morar num hotel, acho que foi até a Carmen, a assistente social, que me levou pra morar neste hotel como beneficiário. No hotel, era no Largo Coração de Jesus. Ali e na rua Helvétia, com a… É onde era… Próximo ao Corpo de Bombeiros. Onde realmente começou a Cracolândia, que tinha o fluxo. Aí, nessa época eu fui trabalhar neste hotel, na arrumação, na faxina, fiquei três anos. Tive o prazer de conhecer Grazi Massafera lá, que ela foi lá, pra fazer aquele personagem que ela fez em Verdades Secretas. Ela foi lá, ela e o diretor. Que nossa, aquele cara, eu vou te falar, ele é muito inteligente. Ele gostava da coisa… da atualidade. E ele foi e conversou com alguns dependentes químicos, conversou comigo, conversou com as outras monas que tinha. Porque lá era assim, tinha um quarto que ficavam as monas, porque era de vaga. O projeto lá do hotel, que a prefeitura alugava, os beneficiários, o proprietário, era vaga. Tinha uns que ficavam no quatro, dois. E eu trabalhava lá, eu tinha o meu quarto só. Aí, eu tive o prazer de conhecer a Grazi, pessoalmente, nesse dia, que ela foi lá para interpretar o papel de dependente químico. Que não é à toa que ela criou… Ela mereceu ganhar o prêmio de melhor atriz do ano, nessa época. Porque realmente ela incorporou o personagem que ela fez mesmo, uma dependente química mesmo. Ali, ela mostrou a realidade do que era. Tem até uma cena que ela roubou uma mulher aqui na passarela, aqui próximo. Ali, ela mostrou realmente o que era a dependência química. E como eu tava falando, aí foi quando a Júlia foi para a casa dela, eu fui trabalhar lá nesse hotel, do Braços Abertos, do projeto, que a Carmen me levou. Depois disso, pegou fogo lá o hotel, eu cheguei até a fazer filme, assim, um trailerzinho, como eu posso falar? Uma biografia sobre o projeto, o De Braços Abertos, em redução de danos, que o crack… Como que era o antes, e como estava sendo pra mim trabalhando lá. Redução de danos. E depois, passado um ano depois, passa de novo, como que eu estava. Que é o Hotel Laíde, o nome do filme que foi feito. A Débora Diniz, que a Carmen tinha visto ela. Nossa, linda, linda, linda. E ela que fez a produção, era o dela o filme. Aí, pegou fogo o hotel, eu voltei a morar na rua da Triunfo, que o hotel também tinha sido jogado pro projeto. Foi quando a Júlia veio pra cá de novo, levei ela pro hospital, ela não voltou mais. E eu saí do hotel, fui morar num hotel, aquele negócio social, que tem aqui, que é… Como é? É só trans lá, só travesti… É Florescer, que é fraude, é uma fraude, ali é lavagem de dinheiro. Entendeu? Que ali é só quem tem. Se tiver algum benefício, algum bem, aí tem. Se não tiver, a primeira falhazinha que você der, desculpa, se você não tiver nada, você é descartado. É fraude que tem, assim, o homossexualismo, aquele que é homossexual, mas tem preconceito com você mesmo, sabe? Ele só está ali com você do lado, porque ela está ganhando, mas ele não gosta. Entendeu? Como você age, como você é, como você se assumiu, que você gosta de ser trans. E ele, até então, tem um pouco de recalque, mas você, até então, beneficia ele, por isso que ele te aceita. O ser humano é assim. Acontece que eu fui lá, fiquei ainda uns 15 dias, uma faltinha que eu tive, cheguei lá, minhas coisas no portão, falei: “Ah, entendi como que é" A gente não é bobo. É como eu falo, eu gosto de ser diferente dos iguais. Aí, voltei pra rua, fui morar nessa época. Uma febre, uma febre, uma pneumonia que eu estava. Aí, foi quando…
P/1 - Que época, foi isso, mais ou menos?
R - Foi depois que pegou fogo lá, 2018, 2019. Acabou o projeto, que pegou fogo em 2017. Eu fiquei até 2019 aqui no Triunfo, no hotel do Zezinho. Ai, eu só sei que no começo de 2020, antes da pandemia, eu estava lá com uma febre alta, saí de lá, estava uma chuva. Foi logo na semana do carnaval aqui, 2020. Aí, me recuperei tudo. Depois de uma semana, uma febre, uma falta de ar, Corona, Corona vírus.
P/1 - Você pegou?
R - Isso no carnaval de 2020. Até a Pabllo Vittar estava aqui. Ai tá, fiquei sete entubada, lá no no AMA da Sé, dez dias em observação. Não morri, porque até então, não tinha doença oportunista, se eu tivesse com uma pneumonia, uma tuberculose, ou fosse soropositivo, diabete, alguma outra doença, o médico mesmo falou pra mim, que eu teria entrado em óbito. Mas como, até então, o meu organismo é forte, quando ele chega no pulmão, se tiver uma doença oportunista, ali já vem o óbito. Mas graças a Deus… O que me faltou o ar, foi porque chegou no meu pulmão. Nossa, perigosíssima, morreria afogada e seco. Pensei que fosse morrer. Aí, saí, aí foi quando eu vim trabalhar no hotel aqui. No hotel que tinha aqui na Rua Mauá, o Hotel Escadão. Trabalhei lá durante um ano, quase dois. O hotel foi lacrado, fechado. Aí, tá! Comecei a ir pra rua, me prostituia, vendia as coisas. Uma coisa que eu nunca fui, não tenho a índole. E de pegar coisa de ninguém, não sei fazer. Porque eu acho que o que é meu, é meu, e o que é seu, é seu. Cada um, cada um. Nós travestis somos vistos pela sociedade como marginais, porque a maioria mesmo é marginal. A maioria não sabe ser profissional no que se faz. Eu falo assim, em relação a prostituição. Porque hoje em dia não é que nem antes, porque antes, nessa profissão se ganhava muito dinheiro, travestis. Qualquer lugar do planeta, já deu, hoje em dia não. Hoje em dia, um monte de gente fica assim, porque a maioria é marginal. Eu tenho um cliente, que me conheceu com 19 anos, até hoje me procura aqui na Estação da Luz. Mas não relecionado a sexo. Amizade, tudo na amizade. Mas antes era cliente, toda semana saía pra fazer o trabalho com ele. E depois que ele soube que eu me envolvi com a química, que eu estava depressiva, aí me procurou lá na Cruzeiro do Sul, e um dos amigos falou assim:.. “Até já se foi! “A drogada, tá lá na cracolândia, na boca do lixo. Se você encontrar ela joga uma manta daquela lá" E a Julia chegou até a conhecer ele, esse cara, né. Aí, inclusive, ele vem aqui trazer presente pra mim, no dia das crianças, presta atenção. “Tá aqui o seu presente" “Ô Bigode, você…” “Por que? Você pode estar do jeito que você for, mas toda vez que eu ver você, que eu conhecer você, a imagem que eu tenho de você…” Olha só pra você ver, como tem pessoas bem na vida, sinceras. “A mesma imagem que eu tenho de você, é a mesma imagem de quando eu conheci você na Cruzeiro do Sul, com aquele guarda-chuva rosa, aquele vestidinho transparente, aquela marca de bronze. A mesma lembrança que eu tenho de você é aquela" Eu falei: “Fala sério?” Ele falou: “É! Você pra mim você não mudou nada, é a mesma" É meu amigão, sabe! Era cliente, se tornou amigo. Acho que esse mês ele vai vir, trazer presente de Natal. Sempre ele vem e dá uma ajuda, sabe! Me dá um presente, me leva na loja, faz compra. Se tornou uma amizade. Mas, desde os meus 19 anos, eu conheço esse cara. Quando eu fui presa, até carta ele mandou pra mim lá na cadeia. É um cara que me rastreia e vai lá. Sabe onde tô. Eu posso sumir, mas uma hora ele me encontra. Aí, acontece que eu vim trabalhar nesse hotel, e eu estou até hoje, dois anos lá já. Graças a Deus. Porque eu gosto de trabalhar. Mas é como eu falo, pra mim é redução de danos. Porém, eu me distraio, ocupo minha mente. Porque a dependência química, para você ter a responsabilidades de assumir o compromisso, é difícil. Por isso que o governo dá a aposentadoria, a OLI, é obrigatório o Governo aposentar quem é dependente químico, que a dependência química. É uma doença. É um direito. Eu nunca trabalhei de carteira assinada, mas se eu estivesse trabalhado, eu iria procurar os meus direitos, cadê minha aposentadoria? Porém, é uma doença, a dependência química. Mas tudo no seu tempo, por enquanto eu estou suave, estou suave.
P/1 - Você já falou da Júlia, falou desse amigo? Então, tem muitas relações que vão se criando nesse espaço aqui. Como são suas relações hoje com as pessoas aqui? Como são os lugares que você frequenta aqui? Como é que é?
R - Aqui, nesses dois anos, é só o hotel. Eu trabalho, eu venho aqui na estação, porque aqui é uma área que tem todo tipo de gente, de personalidades, pessoas. Mas é uma área vista como, no portugês correto: zona, é um lugar de prostituição, mas a prostituição, a pessoa pensa que é marginalização. Mas a maioria dessas mulheres que estão aqui, ninguém sabe o sapato que elas estão no pé, ninguém sabe o quanto aperta. Ninguém sabe o que trouxe elas aqui. Algumas é pela dependência química, para manter o vício. Outras, abandonadas pelos maridos, tem filho para criar, não tem estudo, não tem profissão. Não tem! Única opção de vida, é o que? Se prostituir, vender o corpo aqui. Mas isso a sociedade não vê. Pensa que um auxíliozinho vai dar para ela se manter, ter teto, tudo. Não é assim! Tem as necessidades, tem os filhos, têm contas. Mas essas meninas aqui, todas… Vamos falar, de dez que tem aqui, oito eu conheço, dessas oito, se elas não conhecerem a Brenda, não conhecem ninguém. Na estação da Luz, aqui no Parque da Luz, se não conhecer Brenda. Modo de falar. Das pessoas que convivem aqui nessa região, os comerciantes daqui, as meninas, os funcionários dos parques, tudo isso, dos hotéis. É isso.
P/1 - E como você conheceu a Carmen?
R - A Carmen eu conheci quando eu saí da cadeia. Ela me chamou na rua, que eu estava morando na rua, quando eu saí da cadeia. Fui para esse projeto “Lares abertos”, para trabalhar lá, Hotel da Laide, uns três anos. Aí, foi onde ela me apresentou a Débora Diniz, que fez o filme Hotel Laide. E foi uma época boa na minha vida, que foi redução de danos, eu diminui bem o crack, oportunidade da hora.
P/2 - E você entra no Hotel Laide já para trabalhar, ou você entra num primeiro momento como hóspede? Como acontece isso?
R - Aonde?
P/2 - No Hotel Laide. Você já vai para trabalhar, ou você vai ser hóspede?
R - Eu entrei como beneficiário. No programa De Braços Abertos, eu entrei na vaga de beneficiário, de um projeto que todo dia ia bater o cartão, assinar, varrer rua quatro horas por dia. Nisso eu fiquei uma semana, disso a Carmen pegou, conversou com a Laide, conversou com o meu técnico, que era o que eu batia o cartão todo dia, pra até então, eu ficar responsável pela limpeza do hotel. Aí, foi quando eu comecei a ficar responsável pela limpeza do hotel às quatro horas. A partir disso a Laide me contratou, para eu trabalhar mais sete horas pra ela. Eu recebia o salário dela e o do projeto. E foi três anos assim. Aí, não tinha tempo nem pra dar uma paulada, porque acordava de manhã, limpava, à noite, assistia a novela, estava cansada, apagava. No outro dia de manhã, tinha que acordar cedo, porque é o que eu falo, a responsabilidade é difícil de se ter. Algumas vezes que eu desandava, na folga, que eu saía. Ah, voltava depois de dois dias. Está entendendo? Mas, porém, reduziu bem menos. Uma coisa que usava todos os dias, tinha semana que não usava. Tinha folga que não usava também. E assim ia.
P/2 - E quais foram as suas principais memórias desse período, sobretudo nesse contato com a Laide? O que você mais lembra dessa fase?
R - O que eu mais lembro, o que eu mais gostava, receber as visita lá. E a que eu gostei mais de receber foi a Grazi Massafera. Linda! E os seguranças mais belos ainda. Nossa, quando eu vi aqueles dois homens lá na frente, embaixo, dois no andar de cima… A Carmen falou assim: “Brenda, vem aqui! Olha, fala baixo, não fala para ninguém não. A Grazi Massafera tá aqui" “Que?” “Fala baixo! Tá lá em cima, tá lá no quarto. Tu não viu lá? Uma menina que entrou de moletom lá em cima" “É ela?” “É!” Aí, estava lá na parte de cima conversando com a Dona Laide. Tá! Aí, o que acontece? Quando eu subi, que ela tirou aquele moletom. Nossa, belíssima! Aí, o que acontece? Começou a perguntar a nós, como que ela ia fazia o papel de dependente química na Verdades Secretas, tudo mais. “O que nós chegamos a fazer pra usar o crack, você não faria sem estar drogada, você não teria coragem de fazer o que você fez" Perguntou várias coisas. Até o cachimbo mesmo, que ela usava lá, ela comprou lá. A Grazi comprou lá o cachimbo.
P/1 - Você chegou a ver como ficou na novela?
R - Lógico, assisti toda a novela.
P/1 - E o que você achou?
R - Ela mereceu ganhar o papel de melhor atriz do ano, nessa época. Ela mereceu. Ela realmente mostrou… Aliás, o diretor. Ele é… Aquele cara é muito inteligente. Mas ela interpretou mesmo, ela entrou, ela fez o personagem que vamos falar assim: em fatos reais, ali foi.
P/1 - Você gostaria de falar desse período que você ficou presa? O que aconteceu, o porquê? Se não quiser…
R - Eu estava envolvida com o tráfico, mas fui forjada. São corruptos. São corruptos. Fui forjada. Como a própria juíza, quando eu fui no fórum, ela já falou para o guarda metropolitano… Que eu vou te falar, guarda e guarda, polícia é polícia, polícia é concursado, ele é concursado para saber o trabalho que ele vai exercer. É diferente de guarda, guarda é analfabeto. A própria juíza falou assim… Porque quem condena você numa audiência no fórum, não é o juiz, é o promotor. O promotor que faz o resumo de tudo. E a juíza que dá o xeque mate. E a promotora falou: “Meritíssima, a senhora observou alguma coisa nesse depoimento?” Aí, ela: “Sim, senhora" O que a senhora observou, a senhora vai me falar agora se eu estou enganada. É sobre parágrafo, ponto, acento e vírgula?” Aí, ela falou assim: “Sim meritíssima, é sobre isso mesmo" Não teria como o acusado do tráfico, em seis meses ele decorar letra, parágrafo, acentuação, ponto. Não teria como. Porque o depoimento que ele deu quando foi abordado, preso no 3º DP, que o delegado tal, tal… O nome, os perguntas que fez foi essa, essa, essa… Não teria como ele responder aqui as mesmas perguntas sem faltar uma letra. Os guardas metropolitanos, quando abordaram e prenderam acusando ele, o que eles falaram no dia que prenderam, eles não falaram aqui nenhuma letra do que eles falaram no depoimento quando foi levar o acusado do tráfico. Aí, a juíza olhou e falou assim: “Vocês guardas metropolitanos, estão abusando da autoridade, querendo forjar um dependente químico, uma pessoa doente, no tráfico, desacato e agressão? Ó, você vai assinar a sua liberdade aqui, clausulada, porque você voltou no mesmo artigo”. Eu fui presa, saí de provisória, e voltei no mesmo artigo de novo. Entende? Presa de novo, na rua, um mês que estava na rua, fui presa de novo, na mesma esquina. “E boa sorte no seu próximo fórum. E quando você sair daqui, procura um tratamento, você é doente” A juíza falou. Parecia um anjo, mulher loira, linda. Da terceira vara. Aí, eu: “Obrigado, senhora!” Isso sai. Aí, fui pro fórum, voltei para o fórum de novo, isso era a outra audiência. Aí, quando veio a outra, fiquei no aguardo, aí do aguardo sai em liberdade. Assim que eu fui para os De Braços Abertos. Mas é um lugar que eu vou te falar, foi quase uma eternidade, nossa, não passa nunca, as horas naquele lugar, não passa, não passa. Um passarinho preso, uma coisa que eu não sou, é a favor. Ó, zoológico, eu não gosto do zoológico. É bonito, tudo, mas aqueles bichos presos, eles não gostam de estar ali, eles não sentem... Eles podem ter comida, podem ter tudo que for. Não é bom estar enjaulado. É horrível, é horrível, é horrível. Acho que todo ser tem que estar no seu habitat natural. Ali que tem, não é está ali preso. Meu ponto de vista, sabe? É porque eu fiquei isolado, eu sei que é ruim, é horrível! Entendeu? É horrível! Eu estava vendo YouTube, o leão que comeu a própria cuidadora dele. Isso em um zoológico. Ela cuidava dele, dava comida, a casa. Mas ele não gostava de estar trancado, enjaulado. Isso é da natureza nossa, nós animais. Nós que é racional não gosta, imagina… Não é pq ele seja irracional, aí que não gosta mesmo, aí que ele não entende mesmo. Já é difícil de raciocinar, imagina está preso. Porque eu estou preso? Não é verdade? Eu penso assim.
P/1 - Você tem contato com o pessoal lá de Fortaleza? Família, amizades?
R - Não, eu tenho poucas, só duas amigas minhas que estão aqui em São Paulo, foi eu que trouxe aqui para São Paulo, depois que eu vim para cá, aí eu trouxe elas pra cá, que vieram buscar… Viraram duas travestis também lindas, eram uns gays bonitos, ficou umas travestis bonitas.
P/1 - Mas com a família você fala?
R - A Cinthia e a Mickely são duas travestis lindas, e subiram na vida. Tiveram dinheiro. Elas vieram com garra e me orgulho delas. As outras duas já faleceram. Eu trouxe umas 4 para cá. Mas duas estão bem de vida, duas já se foram a gente também. Eu tô na minha vida louca, é aquela coisa, não estou para agradar ninguém, nem Jesus que só fez o bem, agradou todo mundo, mataram ele. Imagine eu, sendo travesti, dependente química, eu vou agradar a quem? Eu faço o que eu gosto. É minha família, meu pai, minha mãe, todo domingo eu falo com eles, eu amo eles, é o que eu tenho de mais precioso nessa terra. E só eles mesmo, que o resto a traça come, tudo leva.
P/2 - E o contato com a Laide, você teve contato com ela depois do incêndio do hotel?
R - Laide é uma pessoa que eu quero que Deus abençoe muito ela, e não desampare. Faz três anos que eu convivi com ela. Eu pensei que eu conhecesse ela, mas é como eu falei: eu gosto de ser diferente dos iguais. É igual a todos, a todos. Era uma pessoa quando precisava de você. É assim, quando você está me servindo, quando eu estou ganhando em cima de você, é ótimo! Mas se eu ver que eu vou perder… Assim, não é perder. Pra você é perder ter que te dar o que é teu de direito? Ela ganhou milhões, a prefeitura ressarciu ela. E outra, a prefeitura, e o seguro do prédio dela lá… O que acontece, é que tinha um porteiro que ele trabalhava lá, um ano e oito meses. Eu trabalhava lá já dois anos, 11 meses e 27 dias, que foi o tempo que eu trabalhei lá. Eram doze horas por dia, folga só uma vez na semana. Apesar que eram quatro… Não contaram pra ela. Mas às sete horas, que não eram sete horas, era bem mais, que não tinha hora para eu trabalhar ou resolver alguma coisa lá dentro, o porteiro de um ano e oito meses, foi chamado para acertar suas contas. “Mas não fala para a Brenda, que eu acertei suas contas, não fala pra ela não”. Porteiro, um homem normal. A realidade, a gente não deve tapar o sol com a peneira, o que aperta o meu pé… Você não vai saber se eu tô com um sapato que está apertando o meu pé ou não. Ninguém sabe, só eu. Por isso que eu vivo a realidade. Meu ponto de vista. “Eu pagar conta para viado? Viado que…” A realidade é essa. Eu sei o que eu falo, eu sei o que eu vivo. A realidade é só essa. Mas eu vivi, ter a certeza, depois de três anos, que eu vivi realmente… O meu ponto de vista, algumas vezes eu não estou errada, não posso estar 100%, mas 98% eu estou certa no meu ponto de vista. Tá! Aí, o porteiro veio: “Brenda, Laide acertou minhas contas, não acertou as tuas não? Ela falou pra mim que não era para falar pra você que ela tinha acertado as minhas contas não" Falei: “Foi?” “Foi!” “Ali ela me deu os 1.200,00 do salário, até então, deu o recibo, eu assinei, como todos os meses”, que ela pagava o mês, assinava lá o recibozinho, dava o recibo para você. Ok. Tá! Mas os recibos todos dos pagamento, tinham pegado fogo, só tenho um recibo, que foi o recibo do último pagamento que ela me deu, que era do mês que pegou fogo. “Ela falou comigo, que não era pra eu falar pra você não" “Tá bom, então!” Procurei um advogado. O que é meu, é meu, o que é seu, é seu. Não quero nada seu. Porque você ganhou aquilo, aquilo é seu. Só vou querer o que é o meu direito. Ele teve o direito dele, ele recebeu. Mas porque é pra falar pra mim que não acertou com ele? Se eu servi ela (por) três anos, e ele serviu ela um ano e oito meses. Por que ele sim e eu não? Não estou entendendo. Então, eu não fui boa para estar ali esse tempo todo? Tá! Procurei advogado. “Tem prova?” Tenho! Recibo. E tinha pessoas também, tinha a Carmen, tinha outras pessoas também que poderiam até testemunhar a meu favor. Tá bom! Tem um recibo, tá ótimo, nem que seja xerox, tá ótimo! Trouxe pra ele. O recibo era igual dos outros meses, do pagamento. No final… Resumindo. Abaixo da assinatura estava escrito que eu estava quites com a firma. Aquilo era uma xerox, a original estava com ela. Eu iria estar fazendo o que? Ela poderia me processar por calúnia, difamação? Se ela não devia nada. Se o próprio recibo, que eu estava com a xerox, ela tinha o original, que eu assinei, que ela não devia nada. Mas eu assinei porque era que nem os outros recibos, eu não agi de má fé. Ela agiu de má fé comigo. Meu relacionamento com ela só foi esse. Que Deus abençoe ela. Abençoe e dê muita saúde e não desampare. Só isso. E estou aqui, firme e forte. Com saúde, que é o que eu peço todo dia a Deus, e saúde e sabedoria. Peço todo dia a Deus, que ele me dê saúde e sabedoria. Todo dia eu peço.
P/1 - E como é no hotel que você está? Você está há dois anos ali, né?
R - Estou dois anos já.
P/1 - Você conhecia já o pessoal dali? Como você foi pra lá?
R - Eu já conhecia o branquinho lá, que estava lá, mas o outro dono não. Quem me chamou para trabalhar, foi aquele senhor de óculos, que me chamou para trabalhar, porque quando eu saí aqui, que fechou, o escadão aqui, que tem aqui em frente a Estação da Luz, tem um hotel aqui em frente, que é o escadão, que é patrimônio histórico, também. Eu gosto de coisa assim, antiga. Taco, madeira de lei. Ah, eu acho lindo, sabe! Aliás, coisas que os escravos fez. É arquitetura inglesa, mais porém, obras de arte feita pela mão de negros, se você for ver são coisas lindas. A estação mesmo da Luz, Júlio Prestes, aquilo foi feito na corda, na madeira, no ferro, na peia. São obras de artes. Que hoje em dia, nem os maquinários que tem, faz as obras de arte que tem no patrimônio histórico. Aí, foi quando eu fui fazer uma faxina no hotel do lado. E também tem as meninas aqui da estação, da região, que é uma coisa que eu sempre gostei… Que depois que eu saí da cadeia, com uma certa idade já, velha, eu não vou estar em zona me prostituindo. Comecei a fazer faxina, reciclar, tudo isso. Para não me prostituir, porque é o cúmulo, velha na zona? Deixa para as novinhas, tem que ter o senso do ridículo. Comecei a reciclar, fazer faxina, lavar roupa. Entendeu? Tudo isso. Oferecendo meus serviços em comércio. Tinha um salão de beleza aqui em frente a estação, que tá até fechado. Eu fazia faxina nele duas vezes na semana, lavava, limpava. E dali as meninas me chamavam, para fazer faxina na casa delas. Tem muitas garotas de programa daqui, que eu até hoje, nas minhas folgas mesmo, algumas vezes, eu vou fazer faxina na casa de algumas. Quando eu tenho tempo, eu vou ainda. Aí, foi quando ele me chamou. “Ó, a menina saiu lá, e eu estou precisando de uma faxineira" E não parava ninguém lá, não parava ninguém, chegava uma ficava um mês, tinha umas que ficavam uma semana. E não parava, não parava no trabalho. E eu estou há dois anos lá. E até as clientes falam… Hotel simples, humilde. Entrada e saída das meninas, que trabalham lá? Não é preconceito dele não aceitar usuários, dependentes químicos lá. É que zoa mesmo, queima lençol, roubam a televisão. E zoam mesmo. Até, então, é só para as meninas que estão trabalhando na necessidade delas. Vai lá, faz o programa, vai embora. Assim. E por ser simples, até então, até as meninas veem a diferença. Aqueles tapetes, aqueles quadros, foi tudo eu que pus. O hotel é da Laíde. Ela gosta de arte, ela tem isso em comum comigo, entendeu. Eu gosto de quadro, decoração, adoro! E ela tinha um sebo lá, que o prédio lá é patrimônio histórico também, tombado, estilo esse aqui, mas tinha um sebo, mano, uns quadros belos. Quadros belos. Se você tiver a oportunidade de ver o filme depois, Laíde. Você vai ver os quadros, os jarros de flor, as coisas… E eu decorava, gostava de arrumar… Até lá o hotel também: quadro, tapete, sabe, bibelô, essas coisas. Eu gosto de arrumar e organizar, acho da hora.
P/1 - E que mais que você gosta? Assim, de comer, de ouvir? Além da parte de decorar. Já sei que você gosta dessas coisas históricas.
R - Olha, música, atualmente eu sou fã da Gloria Groove, que nossa, ela é tudo! Não é forçada, ela é talentosa mesmo de berço, vamos falar assim. Talentosíssima. Música, eu não gosto de vulgaridade. Nem vulgaridade, nem apologia a base da idade, a polícia. Músicas que até então tenham sentido, saiba realmente o que nós seres humanos vivemos, o que o ser humano pensa. Como… Cássia Eller foi, nossa… Cazuza, Elis Regina. Um samba, Clara Nunes. Clara Nunes, eu adoro Clara Nunes. As músicas da finada Clara Nunes e Alcione. São os meus tipos de música.
P/1 - Você ouve desde criança algumas dessas? As irmãs do meu pai são da umbanda, né? E até então eu acho “da hora” as músicas da Clara Nunes. Agora o que eu gosto mesmo é de Elis Regina. Desde criança eu gosto de Elis Regina. E fã, fã mesmo, de Alcione. Aquela mulher é maravilhosa!
R - Clara Nunes.
P/1 - E você contou que pegou covid logo no início.
R - No carnaval de 2020, no show da Pabllo Vittar aqui.
P/2 - E aí, como é que foi durante a pandemia? Mudou alguma coisa na dinâmica aqui, ou continuou? Como é que foi? Como é que mudou o bairro?
R - Ficou um deserto. E você quer saber onde eu fiquei, nessa época da pandemia? Nessa calçada aqui da Estação da Luz, não passava ninguém. Era eu, uma menininha que tinha um cachorro. Eram quatro, cinco pessoas nessa calçada aqui. Não passava ninguém. Naquela Tiradentes, você não via um carro passar. Doação, não tinha. Era só Deus mesmo que ajudava nós que está aqui.
P/2 - Como vocês fizeram nessa época, para comer, para as coisas… Pra viver?
R - Pedia mesmo, andava, ia atrás. Mas era muito raro aparecer doação, e quando aparecia assim, eram uns carros e era do lado de fora, que eles davam… Aliás, não descia do carro, parava, dava uma marmita, álcool em gel, luva. Alguns carros paravam aqui na estação e dava. Mas eles não desciam do carro, tinha uns que não desciam. E só parava quando não tinha aglomeração. Exemplo, se tivesse cinco, mais se tivesse mais de dez, eles não paravam. Passavam. Do outro lado, se tivessem dois, três, aí davam. Mas quando tinham um monte não paravam não.
P/1 - Por exemplo, tem entrega para dois de um lado, mas tem um grupo de dez do outro. Havia isso de repartir as coisas.
R - A água, às vezes não, você é louco… E outra, o fluxo não parou. O fluxo não parou. A Cracolândia não parou, a Cracolândia não parou.
P/1 - A lojinha não fechou?
R - Não, não, era crack vinte quatro horas, porque a maioria são alcoólatras. E o que até então, era como se fosse o escudo, era o álcool. Passava álcool. Pra que? Para evitar. E depois chegava na garganta, chegou na garganta ele desce, o vírus. Alcoólatra, tudo bêbado. Onde o vírus ia descer? Porque ele desceu na garganta, e onde ele atacava os órgãos, é isso mesmo, corona era isso. E tudo alcoólatra, bebia álcool, tomava banho de álcool. E bombando. E ó, foram-se poucos casos, um ou dois que morreram ali dentro. Ou tava com a imunidade baixa, só isso. Mas nem traficante morreu de corona.
P/1 - E quando é que você sai daqui da calçada?
R - Foi quando eu fui para o hotel aqui, o Escadão. Aí, depois que eu fui pra esse que eu estou até hoje.
P/1 - E você tem planos, tem alguma coisa que você planeja fazer ainda pro futuro? Algum sonho?
R - Acho que não. Eu pretendo ir a Fortaleza ano que vem, no carnaval. Como eu tenho uma cirurgia marcada agora em janeiro, que eu vou aumentar o seio, vou pôr a prótese, aí até então, acho que no Carnaval eu vou em Fortaleza. Dar uma voltinha, ver a minha mãe.
P/1 - Você costuma ir lá?
R - Não, faz anos que eu não vou.
P/1 - A última vez foi quando?
R - Nossa, faz anos, viu amiga. Está com uns 20 anos. Isso mesmo, 20 anos a última vez que eu fui em Fortaleza.
P/1 - Saudade?
R - Demais, demais. Eu fui, deixa eu ver, em dois mil e… Antes de ser presa, 2015, eu acho, 2014, que eu fui lá.
P/1 - Muito diferente a cidade?
R - Com certeza! Imagina agora. Se eu fui lá depois de mais de dez anos, imagina agora? Mais de 20. Mas minha mãe disse que lá está lindo. Só está perigoso, muita facção. Ela falou: aqui está muita marginalização, muita facção, muita gangue, ela falou. Mas eu falei: o negócio é procurar, porque só se encontra o que se procura. Algumas vezes você só encontra o que você procura. Se você for procurar confusão, você vai encontrar o que? Confusão. Eu quero ir lá só para curtir eles e voltar para casa de novo. Que eu não me acostumo mais lá. Não me acostumo.
P/1 - Se acostumou aqui?
R - Me acostumei em São Paulo.
P/1 - Você se sente em casa aqui?
R - Eu gosto de São Paulo, eu gosto.
P/1 - E o que é importante para você hoje? O que você considera importante?
R - Como assim, importante?
P/1 - Valores, coisas assim, isso é importante pra vida.
R - Pra vida. Valores e como eu te falei, que eu peço todos os dias a Deus, é saúde e sabedoria. Porque isso… Na esquina a gente corre atrás. Eu não tenho ganância, não tenho sonhos materiais, de bens. Acho que o pouco com Deus, é muito. Não sou uma pessoa assim, de sonhar muito alto. Eu me contento com o que Deus me dá, com o que eu ganho com o meu suor. Não é futuro, eu gosto de viver o momento. Enquanto eu tiver saúde, estiver sendo prestativa… Mas quando eu ver que eu não tenho utilidade, estiver debilitada. Eu: “Deus, me leva”. Aí, é o que eu quero. Mas enquanto eu tiver vitalidade e força para trabalhar… E o que eu peço a Deus, saúde. Eu me vejo assim. Eu não quero viver… Vamos falar, mais 20 anos, no máximo mais 20 anos pra mim está bom. Estou satisfeita. Porque enferrujado e ficar imprestável, eu não quero não. Deus que me perdoe.
P/1 - Tem alguma outra história que você gostaria de contar aqui para a gente? Que, às vezes, assim, a gente não perguntou alguma coisa que você acha importante falar.
R - Gostei de vocês. Foi da hora. Da hora mesmo. Aquela minha vizinha que me apresentou você, como é o nome dela?
P/1 - A Evelyn?
R - A Evelyn. Mano, aquela menina é um anjo, eu tenho um carinho, sabe, por ela, que eu vou te contar. Ela é muito linda, em relação a tudo, a pessoa, a estética. Ela é muito linda, ela é muito linda. Olha, teve uma vez, que eu estava numa situação… Foi quando eu saí lá da Laíde, que eu fui para a decadência de novo. Morava na rua, ficava largada mesmo, jogada, suja. E ela ia passando aqui nessa calçada, ela e umas pessoas, que nem ela, bonitas, sabe. E ela: “Brenda, é você?” Eu estava descalça, toda suja, as pessoas que estavam passando com ela, olharam assim, sabe. Aquele olhar assim: aí, que nojo! E ela veio me abraçar. “Como você está? Tudo bem? Pegou fogo lá, né Brenda?” Eu falei: “Foi" “Você está aqui. Pegou fogo lá, né Brenda?” Eu falei: “Não!” “O Brenda, está precisando de alguma coisa?” Eu falei: “Não! Tudo bem!” Ela falou: “Que saudade do hotel que pegou fogo" Eu falei: “É!” “Você está aonde?” “Estou por aqui" “Depois eu vou passar aqui pra gente conversar para ver o que eu posso fazer por você. Ô, aqui é o meu telefone" Me deu o telefone dela. “Qualquer coisa me liga. Tá bom?” Falei: “Tá bom!” E aquele povo me olhando assim, sabe? É aquela menina, saiu. Não sei se você está entendendo o que eu estou querendo dizer. Sabe, mano? Aquelas coisas assim, que te cativa, que te faz valorizar mais ainda a amizade verdadeira, sabe? Aí, passou-se um tempo, eu trocando ideia com ela. Aí ela me viu eu tava trabalhando, ela falou “Eu tô feliz por você”. Aí, foi quando, depois, ela me ligou, falou que ia levar uma pessoa lá para me apresentar, que foi você. Falei: “Pode vir, mulher. Tudo bem! A gente faz”. Ela falou: “Por isso que eu gosto de você” Ela conheceu a Débora Diniz que fez o filme lá, que eu fiz. E ela falou: “Vai vir uma pessoa aqui para você contar a história”. Falei: Tudo bem! Ela é linda. Quendo ver ela fala que eu mandei um beijo, um abraço.
P/1 - Vou falar.
R - E nossa, eu sou fã dela. Fã mesmo.
P/1 - E o que você achou de gravar aqui hoje com a gente?
R - Foi o que eu falei: maravilhoso. E é um trabalho de vocês que vou falar, viu! Se for ver mesmo, está de parabéns. Porque para conhecer o ser humano, tem que ser assim, que nem vocês. Psicólogos, psiquiatras, que é o que vocês são, atores. Bem talentosos, curiosos. E é isso aí, conhecer o ser humano. Isso é ser humano. Não importa quem, o que é, o que foi, o que vai ser, a cor, religião. É isso daí, ó. Parabéns pra vocês também! Parabéns mesmo.
P/1 - Brenda, muito obrigada por compartilhar a sua vida aqui com a gente, fazer parte desse projeto.
R - Obrigada eu. É uma honra ser entrevistada por vocês. Nossa, olha aqui, eu até me arrepio. Entendeu, gente. Nossa, uma honra minha. E quando precisarem de mim, seja para o que for. Sabe onde me encontrar. Qualquer trabalho, se eu puder, estamos juntos. Espero que eu também possa contar com vocês. Vocês são lindos, são lindos, a equipe toda. Linda! Você, você, o câmera, lindos, lindos. E sucesso para nós!
P/1 - Sucesso pra gente.
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