Eu me apaixonei e me casei com uma mulher, quase um mês antes do meu pai morrer. Não lembro ao certo, mas talvez uns 20 dias depois da morte do meu pai, contei para minha mãe que tinha me casado. Ela não aceitou e dali em diante parou de falar comigo para me punir. Esse foi um dos piores rompimentos da minha vida. Eu já tinha perdido o meu pai, sem volta, e minha mãe me enterrava em vida. Foi o pior rompimento. Nada se compara a isso até hoje.
A paixão foi fulminante e assim como começou, terminou. A \"minha\" então, ex-esposa, saiu de casa e foi morar com uns \"amigos\". Era uma outra perda. Eu me sentia vítima de uma chacina emocional.
A minha mãe, como aquelas feiticeiras que sentem o cheiro das coisas de longe, voltou a falar comigo, pouco a pouco. Não era 100%, mas já podia dizer que havia recuperado 80% da relação com ela, que sempre fôra muito próxima.
Em março de 2018 assinei o divórcio. Em abril, minha mãe morreu. Não deu tempo nem de entender as coisas.
Eu fui reconstruindo os meus pedaços. Colando o que podia. Hoje eu me sinto mais forte, mas porque pude viver, sentir, chorar, toda esta dor.
Tenho mais consciência da minha finitude e de que tudo tem seu ciclo: começo, meio e fim.
Nos meus 60 minutos finais, abraçaria e beijaria meus gatos. Olharia pro céu e agradeceria por poder tê-lo visto tão lindo. Ouviria pela última vez o canto dos pássaros. Inclusive a algazarra das maritacas.
Ligaria para minha irmã Midori, reforçaria que eu sempre irei amá-la e pediria para cuidar da Benê, do Romi, da Mizzi, da Gata Preta e da Neve. Com o mesmo carinho e amor que ela teve comigo desde que eu nasci.
E falaria que daqui a pouquinho eu iria estar com nossos pais, seo Akira e dona Marlene, e que a gente iria continuar abençoando a nossa família toda. Lá de outro plano. E com toda a felicidade de ter podido estar junto nesta vida.