A invenção da sigla BR

Eu sou Rafael Rodrigues, nascido em São Paulo, na capital, em 16 de julho de 1940. Apesar de ter me formado em Arquitetura em 1966, comecei a trabalhar com design em 1964, no terceiro ano da faculdade, quando entrei para o escritório Aloísio Magalhães Programação Visual – Desenho Industrial. Esse escritório, que depois virou PVDI em 1976 e mais tarde PVDI Design, é, certamente, um dos precursores e o mais antigo em atividade ininterrupta no Brasil.

Aloísio Magalhães, nosso fundador, tinha uma formação bem diferenciada. Apesar de bacharel em direito, ele se voltou para a área cultural e de pesquisa gráfica. Ele co-fundou a ESDI, trazendo uma proposta mais brasileira e intuitiva, que misturava intuição com técnica à metodologia Bauhaus. No início, o design era uma profissão totalmente desconhecida no Brasil, e nosso escritório teve um aspecto extremamente didático, mostrando o potencial da área e formando muitos profissionais importantes que hoje atuam no Brasil. Já em 1970, o escritório era bem conhecido como criador de marcas, de imagens de identidade, para instituições e bancos importantes, como o Unibanco, que foi feito em 1964.

A criação da marca BR para a Petrobras, em 1970, foi um trabalho de grande envergadura. A Petrobras, através da sua Superintendência de Distribuição, nos procurou porque havia uma decisão política de atuar incisivamente no mercado de distribuição. Naquela época, a Petrobras tinha apenas 10% da rede nacional de postos, enquanto as multinacionais dominavam 90% do mercado. A marca que a Petrobras tinha, um losango amarelo com a palavra "Petrobras" dentro, não tinha a menor condição de competir com marcas internacionalmente famosas como Esso, Shell ou Texaco.

Nossa primeira visão foi que o ideal seria fazer uma marca para o conjunto da Petrobras, e não apenas para a superintendência. No entanto, por problemas conjunturais, tivemos que focar na parte, na superintendência, naquele momento. Assim, fizemos o BR inserido na palavra Petrobras, com bastante calma e profundidade. O nosso sonho em 1970 era que um dia iriam perceber que não era BR Petrobras, mas Petrobras BR, o que veio a acontecer em 1995.

A sigla BR foi uma invenção nossa, nós criamos o uso dela. Chegamos à conclusão de que era a maneira mais forte de caracterizar um núcleo, muito mais do que o losango amarelo antigo, que não era exclusivo. BR era uma sigla consagrada e aceita, e não teria como não ser Petrobras, de Petróleo Brasileiro.

O trabalho, a criação do BR, do verde, amarelo e azul e todo o sistema gráfico, levou três meses para ser feito em 1970. Fizemos um tipo de pintura para as bombas, para as testeiras de postos e para os uniformes, configurando toda uma perspectiva de identidade visual, abrangente e ampla. A implantação desse sistema levou cerca de dois anos, entre 1970 e 1972, para toda a rede. Esse trabalho, juntamente com a intenção da Petrobras de mergulhar fundo no mercado, permitiu que ela passasse de 10% para quase 90% de participação, invertendo o quadro inicial. Mantivemos contato com a Petrobras por 37 anos, acompanhando de perto a evolução.