Professora Relvita de Campos Borges nasceu em 15 de junho de 1931 em Cuiabá e conta com satisfação uma pequena história de seu nome narrada por seu pai. No dia de seu nascimento o seu pai ficou muito ansioso e ficou em um dilema para definir o dia do seu nascimento se dia quinze ou dia dezesseis pois nascera meia noite, decidiu-se por dia 15 porque meia noite ainda pertencia a este dia e quando recebeu a notícia do nascimento de uma menina começou outro dilema no coração paterno: qual nome colocaria em sua filha! Moravam em uma chácara no bairro Porto chamava-se Papo Vermelho e para pensar em um nome o pai da professora Relvita saiu fora da casa para pensar. Era um tempo que fazia frio o quintal estava cheio de neblina, ele era apaixonado pela natureza. Ficou olhando e contemplando o pátio cheio de verde que havia próximo a casa... aquela relva bonita, tudo coberto pelo sereno. Abaixou pegou um pedacinho, olhou e sentiu a relva delicada e decidiu! Ela vai se chamar Relva, Relvita uma relva delicada.
A vida na chácara marcou de forma indelével parte da infância vivida da professora Relvita. Lembrou com alegria que perto de onde morava havia um lindo córrego conhecido Manoel Pinto, lugar usado pela sua mãe para lavar roupas e, enquanto lavava a roupa da família, seus irmãos mais velhos nadavam no córrego. Ela ficava com muita vontade pular nas águas mas sua mãe não deixava. Já seus irmãos caiam e fazia aquela barulhada que dava gosto: tcham! Mas se entristece, ao lembra do local tão lindo que fez parte da sua infância, ficou poluído.
Seu pai trabalhava como capitão de polícia mas sempre gostou de ter outras ocupações. Na chácara havia uma olaria e plantação de arroz. Tinham também um pedaço de terra que sempre levavam os filhos para ajudar na plantação de mandioca. Neste local, professora Relvita lembrava-se de uma casa, que na frente tinha uma lagoa com águas muito límpidas e borbulhantes, e ao lado havia um cedral. Certa...
Continuar leituraProfessora Relvita de Campos Borges nasceu em 15 de junho de 1931 em Cuiabá e conta com satisfação uma pequena história de seu nome narrada por seu pai. No dia de seu nascimento o seu pai ficou muito ansioso e ficou em um dilema para definir o dia do seu nascimento se dia quinze ou dia dezesseis pois nascera meia noite, decidiu-se por dia 15 porque meia noite ainda pertencia a este dia e quando recebeu a notícia do nascimento de uma menina começou outro dilema no coração paterno: qual nome colocaria em sua filha! Moravam em uma chácara no bairro Porto chamava-se Papo Vermelho e para pensar em um nome o pai da professora Relvita saiu fora da casa para pensar. Era um tempo que fazia frio o quintal estava cheio de neblina, ele era apaixonado pela natureza. Ficou olhando e contemplando o pátio cheio de verde que havia próximo a casa... aquela relva bonita, tudo coberto pelo sereno. Abaixou pegou um pedacinho, olhou e sentiu a relva delicada e decidiu! Ela vai se chamar Relva, Relvita uma relva delicada.
A vida na chácara marcou de forma indelével parte da infância vivida da professora Relvita. Lembrou com alegria que perto de onde morava havia um lindo córrego conhecido Manoel Pinto, lugar usado pela sua mãe para lavar roupas e, enquanto lavava a roupa da família, seus irmãos mais velhos nadavam no córrego. Ela ficava com muita vontade pular nas águas mas sua mãe não deixava. Já seus irmãos caiam e fazia aquela barulhada que dava gosto: tcham! Mas se entristece, ao lembra do local tão lindo que fez parte da sua infância, ficou poluído.
Seu pai trabalhava como capitão de polícia mas sempre gostou de ter outras ocupações. Na chácara havia uma olaria e plantação de arroz. Tinham também um pedaço de terra que sempre levavam os filhos para ajudar na plantação de mandioca. Neste local, professora Relvita lembrava-se de uma casa, que na frente tinha uma lagoa com águas muito límpidas e borbulhantes, e ao lado havia um cedral. Certa vez foi ao local e os cedros tinham sido derrubados estavam queimando. Ela se sentia reportada a cena e lembrava até do cheiro toda vez que via uma madeira queimando.
A família da professora Reuvita só saiu da chácara porque ela e seus irmão cresceram e precisavam ficar mais próximos das escolas, o pai da professora Relvita sempre acompanhava e sonhava em tornar seus filhos “alguma coisa” então mudaram-se para outra chácara na rua Comandante Costa.
Seus pais tinham grande zelo para com ela e as irmãs. Não deixava sair para brincar nos vizinhos. Ela brincava quando sua mãe colocava cadeira na frente de casa e a vizinha vinha com suas três filhas. Lembrava que sua mãe sempre contava de uma vez que as meninas reunidas começaram uma brincadeira de cantiga, no qual cantava-se assim: “com ofício de (nome de um trabalho) tiro tiroliro, com ofício de (nome de um trabalho) manda tirolá”. Na ocasião as meninas da vizinha que eram “bem moreninhas mesmo”, ou seja, negras, na vez delas, cantaram assim: com ofício de pianista tiro tiroliro, com ofício de pianista manda tirolá e quando foi a vez das irmãs da professora Relvita, as filhas da vizinha cantaram assim: com ofício de cozinheira tiro tiroliro, com ofício de cozinheira manda tirolá. Neste momento umas das irmãs da professora Relvita protestou: minha irmã bem branquinha vocês a colocaram de cozinheira e vocês de pianista, não está certo! A mãe das meninas interviu e dizendo para acabar com esta brincadeira pois já estava tarde demais e era hora de entrar para deitar e dormir.
Com os afazeres de casa as suas irmãs eram mais dedicadas mais caprichosas porque o chão era de tijolinho e tinha que varrer bem os vãozinhos e sua mãe sondava, verificava o serviço feito e já dava a sentença quando não lhe agradava: foi Relvita que varreu o chão? Foi Relvita que forrou a cama? Já para os estudos sempre foi esperta. Seu pai ensinava os meninos a noite, colocava todos sentados em uma mesa e ela ficava por perto e quando ele fazia perguntas para os meninos ela sempre respondia: 3x4? Ela respondia rápido: 12 ele ficava muito contente e dizia: a menina Relvida vai ser muito inteligente. Então quando começou a frequentar a escola que ficava mais próximo a chácara que morava na rua Comandante Costa, o grupo escolar Senador Azeredo, a menina Relvita já sabia muita coisa.
A vida na chácara foi especialmente relembrada. Lembrava-se que vivia subida em árvores e sabia o nome de todas as árvores que dava fruto e suas estações. Seu pai sempre cuidadoso tratava de utilizar os benefícios da terra. Tinha de tudo: laranjal, canavial, bananal, plantava também pepino, abóbora além de criar galinhas. Tinha três canteiros de hortaliças que mandava buscar as sementes de São Paulo por um senhor conhecido como João Postal, as sementes vinham em um envelope e tinha boa qualidade. Na hora do almoço seu pai fazia questão que fosse servido, em uma vasilha grande de louça, a salada. Tinha muita fartura, a casa era muito alegre, vivia cheia de gente. As primas de sua mãe vinham de Poconé para estudar na capital e se hospedava em sua casa. Sua mãe tinha uma amiga que foi criada com ela que tinha doze filhos, sempre vinha visita-los, estes momentos eram deliciosos pois a comida feita era a feijoada e um delicioso quibebe de mamão, cortadinho bem fininho tipo macarrão e todos dormiam no chão porque a casa ficava pequena para tanta gente. A mãe foi descrita como pessoa maravilhosa e cuidadosa, tendo dedicado extremo carinho quando teve problema no pulmão ocasionado por uma queda que formou uma íngua, a infeção subiu para o pulmão ficando hospitalizada por dias dando continuidade os cuidados em casa. Seu padrinho era o médico da família e sempre ia visitar a família na chácara, principalmente neste momento em que esteve doente e acompanhou de perto o tratamento até a cura completa. Pela manhã sua mãe a colocava para tomar sol em uma janela, de dava para horta, com óleo de fígado de bacalhau nas costas e de tarde ela levava para tomar luz de infravermelho. Com estes cuidados ela ficou curada depois não pegou nem gripe.
Para ir à escola lembrava que a rua parecia longa quando criança. Era só descer reto da rua Comandante Costa pela rua Senador Metelo e chegava no grupo escolar. O conselho era para ir com cuidado e não para em lugar nenhum. Nem sempre este conselho era seguido e ela parava em uma lagoa para ver os sapos coaxando “chorando como ela dizia” ficava olhando a água jogando pedrinha, passava nos cajueiros, pegava caju e numa dessas cortou o pé em um caco de vidro ficou preocupada porque seu pai ficaria sabendo que ela estava andando por aquele local recomendado para não parar. Foi para a escola mesmo assim e a professora preocupada com o machucado do seu pé ligou na central de telefonia e pediu para falar na polícia com objetivo de informar o pai que era capitão da corporação. Ele logo chegou na escola levou-a para casa e fez curativo porem tão logo se restabeleceu começou a passar na lagoa novamente.
As primeiras professoras são lembradas com admiração. A primeira foi Darcina de Carvalho e Vera Ferreira é lembrada por ser considerada linda demais com seu cabelo frizado e cortadinho. Lembrou-se também da professora Totica que dava aula de bordado cujo marido tinha uma loja no centro da cidade de Cuiabá, então ela levava linhas e bordados para quem pudesse comprar. E para ter um reforço no aprendizado de matemática teve aulas particulares com professor Ezequiel Siqueira era conhecido por ser muito inteligente, e tinha um irmão que sempre o acompanhava, chamado de Jacinto Siqueira, este sempre declamava nos aniversários de Cuiabá.
Professora Relvita estudou em salas de aulas que eram só de meninas no grupo escolar Senador Azeredo, o uniforme era blusinha branca com saia pregueada vermelha.
Das cartilhas usadas para aprender ler e escrever recordou-se de algumas lições de leitura. Tinha frases para ler e começava com formações pequenas: “olha a bola, a bola é de Luiz” e “olha o livro, o livro é de Maria” e conforme ia aprendendo o assunto ia aumentando. Havia uma poesia incentivadora de cuidados com o livro na cartilha. A poesia foi sendo buscada aos poucos pela memória e professora Relvita a declamou assim: veja só que belezinha o livro que hoje ganhei, ei de traze-lo com cuidado e com carinho desflorarei, ele vai ser meu guia meu professor, por isso já tenho cuidado já lhe tenho muito amor. E tinha uma outra lição com carinhas ilustradas, nas palavras dela carinhas bem “piquititicas” de meninas com nomes em ordem alfabética e carinha de meninos da mesma forma. A tabuada era ensinada de forma cantada, as tarefas de caligrafia eram frequentes e mesmo sem a professora mandar comprava livro de caligrafia para treinar. Se esforçava nestas atividades porque queria escrever bonito e ter letra boa.
A rotina no grupo escolar antes de ir para sala de aula consistia em formar fila no pátio e cantar o hino nacional. Ela lembra dos dois corredores da escola como enormes e altos e de querer saber como era as salas das meninas do quarto ano, que depois ela soube pois frequentou a escola mesmo tendo mudado novamente com sua família para o centro da cidade. Fazia o trajeto do centro de Cuiabá para o Porto de ônibus sempre com muitas recomendações.
Quando terminou o primário frequentou o curso preparatório para o teste de admissão. As professoras ministradoras das aulas eram famosas por aplicarem um curso de excelência, eram duas irmãs, Isabel e Ana Leite, que morava bem no centro de Cuiabá, onde hoje funciona o banco do Brasil. O exame de admissão era escrito e oral sendo sempre aplicado nos saguões ou auditórios das escolas grandes, Liceu cuiabano ou Palácio da instrução. Tinha que descrever tudo que estivesse no quadro e resolver equações matemáticas. Com grande alívio conseguiu passar e começar a estudar na escola Normal. As professoras que marcaram o primeiro ano de normalista foram as também irmãs Amelinha e Tereza Lobo. Ela lembrou que professora Tereza Lobo lhe chamou atenção por causa de um vestido que usou para ir na escola, era preto e branco, por conta do luto aberto motivado pela morte de sua avó materna. O problema estava no corte do tal vestido pois na época estava na moda o vestido que era apenas transpassado chamado “vento levou” e a professora ficou preocupada se realmente batesse um vento. Achou que não era uma roupa que a mãe deveria ter permitido ir para escola. Usou luto aberto por três meses, no entanto outras estudantes que guardava o luto, praticava o luto fechado e iam para escola toda vestida de preto.
Na escola normal tinha uma professora de música que se chamava Zulmira Canavarros e é lembrada em dois momentos marcantes para professora Relvita. O primeiro mostra o envolvimento e sensibilidade da professora Zulmira e seus alunos em um período que acontecia a segunda guerra mundial. A notícia do conflito chegava através de revistas e dos rádios porque não tinha televisão. No dia da saída de expedicionários de Cuiabá reuniram bastante pessoas para rezar e professora Zulmira tocava e cantava músicas de amor à pátria que contava na escola. Um pedaço da música era assim: “Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte, que eu volte para cá” outra muito cantada neste momento ficou gravada na memória da professora Relvita que cantou assim: “Você sabe de onde eu venho, venho do morro do engenho, das selvas dos cafezais, das margens frescas dos rios, dos verdes mares anil, da minha terra natal, Deus queira que eu percorra, não permita Deus que eu morra, sempre volte para lá, sempre leve por divisa, esse V que simboliza a vitória federal, nossa vitória final que a mirra do meu fuzil, a ração do meu bornal a água do meu cantil, as asas do imperial, as glorias do meu Brasil”.
O segundo momento marcante recordado foi quando conheceu seu marido Hélio. A professora Zulmira ensaiou a turma para apresentação de um teatro com intuito de angariar fundos para a formatura. A peça ensaiada era “Sonho de amor” e os ensaios ocorriam no anfiteatro do colégio estadual. Ela cantava e observava um senhor de branco que sentou no último lugar e colocou chapéu de lado, mais tarde conheceu aquele moço que tornou-se seu esposo. As primeiras trocas de olhares aconteceram na praça Alencastro. As meninas passeavam lá sempre das sete as nove horas aos domingos e nas quintas havia retreta com a banda da polícia militar, as moças e os moços ficavam rodeando o jardim, conversando em grupos, se olhando e paquerando. E vários namoros começavam ali, inclusive o da professora Relvita com senhor Hélio. Um dia ela e sua amiga estavam no jardim Alencastro esperando dar a hora para ir para a sessão de cinema que acontecia na terças-feiras, era a sessão das moças, tinha este nome porque passava filme de amor e a entrada era mais barata. Ela viu que que um certo moço chamado Hélio estava na praça também e quando foi saindo para se dirigir para o cinema ele pediu para espera-lo pois iria no bar do Bugre comprar cigarro. As duas amigas ficaram em saber para qual das duas era o pedido de espera mas quando voltou ficou do lado da moça Relvita, recebeu um cutucão da amiga dando a entender que o pedido era para ela e sua amiga deu um jeito de sair e largar eles sozinhos. Ela ficou acanhada pois ficou imaginando o que seu pai diria dela estar sozinha com um homem bem mais velho. Mas foi para o cinema mesmo assim e ele sentou-se ao seu lado perguntando se ela não havia trazido leque e ela respondeu com simplicidade que não tinha e esta resposta sincera e simples o encantou. Lembrou-se de vários filmes assistidos desde a inauguração do cine teatro em 1942. O primeiro exibido foi “Com os braços abertos” e o que fez sucesso na sessão das moças, “A felicidade não se compra”. Chegou até aceitar convite do seu irmão para matar e ir ao cinema.
Professora Relvita formou na escola normal em 1949 mas não conseguiu trabalho como professora. Neste tempo era difícil para as moças novas recém formadas, só arrumava trabalho nos matos, na zona rural. Uma amiga arrumou-lhe trabalho na cidade mas depois do casamento, em 1951, seu marido não quis mais que ela saísse de casa para trabalhar. Foi exercer a função de professora apenas quinze de anos depois de se casar, quando passou em décimo segundo lugar em um concurso para professora primária do estado de Mato Grosso em 1967. Foi nomeada para grupo escolar José Magno, mas a escola ficava muito longe de onde morava. Conheceu uma moça que morava perto da escola José Magno e que dava aulas no grupo escolar Bernardina Riche, que era próximo da residência da professora Relvita, então combinaram em trocar o local de trabalho protocolando na secretaria de educação pedido de mudança. E, em 22 de maio de 1968 foi publicado no diário oficial de Mato Grosso a designação para lecionar no grupo escolar próximo do seu domicílio. Trabalhou também na escola Modelo em substituição de uma professora que estava em tratamento de saúde e com fechamento do grupo escolar Bernardina Riche, foi remanejada para o grupo escolar Leovegildo de Melo.
Gostava muito de atuar como professora, lembrou-se das festinhas dos dias das crianças que organizava para as crianças da sua turma, as crianças gostavam muito dela e tinham gosto de ir para a aula da professora Relvita e as mães dos alunos sentiram quando comunicou que ia deixar de dar aulas. Trabalhou como professora apenas três anos. Seu marido já era aposentado sempre reclamava que ela ganhava tão pouco e ficou, nas palavras da professora Relvita, “enjoado” pois mesmo que a escola fosse perto ele ia leva-la na escola e às 16:30 já estava na porta da escola esperando. Então, a contra gosto deixou de trabalhar como professora.
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