P - Eustáquio, você pode começar dizendo o seu nome completo, data e local de nascimento. R - Meu nome é Antonio Eustáquio. Nasci dia 13 de março de 60. Eu sou de Belo Horizonte, Minas Gerais. P - Você nasceu em Belo Horizonte e foi pra São Paulo quando? R - Vim pra cá com 12 anos. P - 12 anos? E por que que você foi pra São Paulo? R - Eu vim pra cá porque, lá em Minas Gerais, a minha família era, era um pouco mais, assim, as dificuldade lá era difícil de manter o lar, que eu era pequeno, era um pouco, uma pessoa meia levada. Então, a minha mãe estava aqui em São Paulo. Aí minha avó trouxe eu pra cá, pra mim ficar na companhia da minha mãe. P - E daí, você veio pra São Paulo e você estudava? R - É, aí, não, aí comecei a estudar, abandonei os estudo. Como eu não estava habituado no regime daqui, fui pra casa da minha mãe. Minha mãe tinha um, estava com o meu padrasto lá. E meu padrasto judiava muito da gente. Então, eu resolvi sair de casa, resolvi fugir de casa. Aí, fugi de casa e, praticamente, fui criado no mundo, né? Criado na rua. P - Você morava onde? R - Eu morava em Itaquera. P - Sua mãe morava em Itaquera? R - Minha mãe mora lá, ainda. P - Mora lá ainda. Aí você saiu e...? Como é que você viveu? R - Ah, vivia na rua com outros moleques, outros meninos. E depois eu passei ao Juizado. Passei essa fase no Juizado. Depois eu saí do Juizado, tive uns problema, é... problema meio triste que eu não gosto de lembrar, mas como a minha vida é real, não tem como esconder. Meu passado é meu passado, agora é meu presente. Eu pratiquei umas coisas, umas coisas erradas, fui entregue pela mão da Justiça. E depois eu saí, aprendi a trabalhar com meu padrasto de ar-condicionado, montagem de ar-condicionado. Aí como eu estava assim, na rua, eu via as pessoas pegando papel na rua há muito tempo, né? Via as pessoas pegando papel na rua, eu olhava assim, falava assim: "Nossa, que pessoas,...
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P - Eustáquio, você pode começar dizendo o seu nome completo, data e local de nascimento. R - Meu nome é Antonio Eustáquio. Nasci dia 13 de março de 60. Eu sou de Belo Horizonte, Minas Gerais. P - Você nasceu em Belo Horizonte e foi pra São Paulo quando? R - Vim pra cá com 12 anos. P - 12 anos? E por que que você foi pra São Paulo? R - Eu vim pra cá porque, lá em Minas Gerais, a minha família era, era um pouco mais, assim, as dificuldade lá era difícil de manter o lar, que eu era pequeno, era um pouco, uma pessoa meia levada. Então, a minha mãe estava aqui em São Paulo. Aí minha avó trouxe eu pra cá, pra mim ficar na companhia da minha mãe. P - E daí, você veio pra São Paulo e você estudava? R - É, aí, não, aí comecei a estudar, abandonei os estudo. Como eu não estava habituado no regime daqui, fui pra casa da minha mãe. Minha mãe tinha um, estava com o meu padrasto lá. E meu padrasto judiava muito da gente. Então, eu resolvi sair de casa, resolvi fugir de casa. Aí, fugi de casa e, praticamente, fui criado no mundo, né? Criado na rua. P - Você morava onde? R - Eu morava em Itaquera. P - Sua mãe morava em Itaquera? R - Minha mãe mora lá, ainda. P - Mora lá ainda. Aí você saiu e...? Como é que você viveu? R - Ah, vivia na rua com outros moleques, outros meninos. E depois eu passei ao Juizado. Passei essa fase no Juizado. Depois eu saí do Juizado, tive uns problema, é... problema meio triste que eu não gosto de lembrar, mas como a minha vida é real, não tem como esconder. Meu passado é meu passado, agora é meu presente. Eu pratiquei umas coisas, umas coisas erradas, fui entregue pela mão da Justiça. E depois eu saí, aprendi a trabalhar com meu padrasto de ar-condicionado, montagem de ar-condicionado. Aí como eu estava assim, na rua, eu via as pessoas pegando papel na rua há muito tempo, né? Via as pessoas pegando papel na rua, eu olhava assim, falava assim: "Nossa, que pessoas, é, ficar pegando lixo, não sei o quê, ficar pegando lixo. Que que essas pessoas ganham? Carregar um peso desse? Meu Deus, que sofrimento. Não sei o quê. Ah, eu não faço isso, não. Eu não faço isso, não.". Aí, chegou um certo tempo que as dificuldade na rua se tornou difícil, aí eu fui obrigado a compartilhar com eles também. Aí, nós se juntamos e começamos catar papel na rua, e eu estou até hoje trabalhando aí, tentando vencer, né? P - E quantos anos você tinha quando você começou a catar papel? R - Ah, eu já tinha mais ou menos uns 18 anos, 19 anos, por aí. P - Como é que foi o primeiro dia que você começou? R - Ah, o primeiro dia, eu falava assim: "Ah, eu não vou puxar carroça, não, porque eu não agüento, né. Ah, pelo amor de Deus, isso aí é pra burro, não sei o quê.". Aquela ignorância da mente da gente, né? "Ah, que é isso, jamais eu vou puxar um carrinho tão grande, cheio de peso desse." Aí um rapaz pegou e me ensinou, aí comecei a catar na cabeça. Antigamente, a situação do catador se tornava difícil porque as própria sociedade, as próprias pessoas que apoiava a gente pela sociedade, criticava a gente. E nós vendia pro depósito. Eu carregava na cabeça e antigamente era totalmente diferente, como hoje. Hoje a situação é mais... nós somos mais apoiado praticamente pelos público da rua, nós somos umas pessoas apoiadas. Então, que que acontecia? Aí eu falava assim: "Ah, vamos.". Eu catava papel na cabeça e catador antigamente não tinha a sua própria carroça. Não podia ter, que os atravessador não dava essa oportunidade daquela pessoa ter aquela carroça dele. E quando a gente pegava carroça do depósito pra trabalhar, eles falava assim, pegava a identidade da gente: "E ai de você se você sumisse com a carroça.". Já era outro problema, você tinha que pagar. Aí você tinha que trabalhar pra eles um ano, dois anos, pra pagar aquela carroça. Aquela situação meia difícil. Depois o tempo foi passando, as própria, as autoridades, as própria sociedade começou a enxergar o nosso serviço e começou dar oportunidade da gente ter o nosso próprio carrinho, a nossa própria liberdade de ter o que é da gente. E eu estou até hoje, graças a Deus. Se dependesse de mim, pra mim pegar um emprego agora, pra mim trabalhar pros outros... ah, sou mais ficar na carroça, pouco ou muito, mas eu sou dono do meu nariz, né? P - Certo. E como você, você faz parte de uma cooperativa? R - É, a gente estamos fazendo por onde, de montar essa cooperativa. É, eu sou lá do [projeto] Boracéia, a gente está fazendo por onde de montar essa cooperativa, organizar aquelas pessoas pra nós montar nossa cooperativa. É um pouco difícil porque a gente trabalha em grupo, as pessoas não têm, a minha cabeça não é igual a todo mundo. Então se torna difícil, mas a gente está lutando pra ver se realiza o nosso sonho, né? P - E atualmente vocês estão trabalhando em conjunto, como é que é? Ou é individualmente? R - É individualmente. A partir do momento você traz a mercadoria, você ganha por aquela mercadoria, individualmente. Mas a gente espera melhorar o nosso custo de vida, a nossa situação, pra ver se a gente tem uma solução, né, na vida da gente. P - Você vende pra quem agora? R - Ah, a gente vende pra aparas. É depósito de... Não é depósito, é... Como é que se fala, mesmo? Cumulação, é, é... Como é se fala, mesmo? É, eu não sei falar direito. Cumulação, acumula pra aparas. Eles pega das cooperativa, leva pra um galpão e de lá eles leva pras firma. P - E que que você fez com o primeiro dinheiro que você ganhou catando papel? R - Ah, o primeiro dinheiro, o que eu fiz, eu não lembro mais, não. Porque era cruzeiro, não lembro mais. (riso) P - O que você acha de estar no congresso? R - Ah... P - Como que é encontrar esses outros catadores? R - Nossa, é muito importante, é muita alegria. Principalmente, nós estava comentando ali eu e o Paulo, é um processo muito complicado. É um processo com muita responsabilidade que a gente tem que ter, né? É uma responsabilidade muito porque a gente vai trazer, vai levar novidade pro nosso grupo, é uma solução pro nosso grupo. Então, como eu sou uma pessoa que sou um representante lá do grupo, é uma obrigação da minha pessoa, levar umas boas coisas positivos pra eles lá, né?. Eu estou muito contente. P - E qual é seu grande sonho, Eustáquio? R - Ah, meu grande sonho? Apesar que o pobre, né? O pobre, sempre, se ele arruma um sonho hoje, ele quer arrumar um amanhã, né? Nunca acaba o sonho da gente, né? A gente, principalmente a gente trabalhador aí, a gente sempre está lutando pra ter mais sonhos, né? Mas o meu grande sonho, mesmo, é ter essa cooperativa formada, como eu falo pros meus companheiros, se amanhã ou depois, eu tiver - eu falo de coração mesmo - se amanhã ou depois eu tiver com essa cooperativa, que eu entrei a primeira vez, ela foi formada praticamente pela nossa mão, né? E ela estiver formada, eu posso até mudar de opinião, mas vai ser difícil, né? P - Então, Eustáquio, você gostaria de falar um pouco mais sobre o Boracéia? R - É, o Boracéia é um grupo que a gente está montando, a gente está pretendendo ter alguma solução do nosso trabalho. Boracéia é um lugar que apóia muita gente, que apóia os catador, que dá várias atenção, principalmente os próprio funcionário dá uma ajuda da gente. P - Como é que você conheceu o Boracéia? R - Conheci o Boracéia assim: eu trabalhava pra depósito, aí chegou um dia saiu na televisão esses negócio que ia montar cooperativa, que o governo ia ajudar os catador. Aí, o que que aconteceu? Eu dentro do depósito: "Ah, eu não vou trabalhar pra prefeitura, não.". Porque lá pertence ao espaço da prefeitura. Eu não vou trabalhar pra prefeitura. Não, não sei o quê, não vou trabalhar pra prefeitura.". Um dia o companheiro me chamou. Aí meu companheiro me chamou e nós fomos, eu falei: "Vamos lá conhecer.". Chegou lá, nós fomos cadastrados lá. E comecei a trabalhar lá e estou até hoje lá. P - Por que que você mudou de idéia? R - Mudei de idéia porque é o... Ah, o catador, a maneira que ele convive na rua, ele convive com muito sofrimento. A partir do momento que ele chega num lugar que ele tem um apoio, que ele tem aquele tratamento como ser humano, a pessoa muda. A opinião da pessoa muda, sabe? O catador, ele está na rua, ele sofre muito. Então, enquanto ele está sofrendo está bom. Mas quando ele chega num certo ponto, que ele tem essas oportunidades da própria sociedade ajudar ele, de dar aquele apoio de humano praquele catador, muitas vezes ele muda de idéia. Se ele tem uma mente fixo do que ele está fazendo, que se ele gosta daquela profissão que ele está fazendo, a situação dele muda, as opinião dele muda, né? Foi o que aconteceu comigo. Hoje nós estamos lá, nós estamos trabalhando, já tem um grupo formado, graças os apoios da ONG que trabalha com nós, sabe? E eu estou muito feliz. P - Como que é a atividade do Boracéia? O que vocês fazem? Você faz lá dentro? R - Ah, eu puxo carroça, eu sou um dos organizadores do grupo lá... P - Grupo do quê? R - O grupo de catador. Lá tem várias atividades, lá. As atividades lá tem curso de computação, tem várias atividades lá que ajuda muito o catador P - E você fica chamando outros catadores pra participar? O que que você faz? R - Ah, chamar eu chamo, né? Mas muitas vezes as pessoas já está acostumado a receber. Que nem nós, quando eu trabalhava na rua, eu gostava de receber toda hora, toda hora queria ter um dinheiro no bolso, toda hora. Então, eu vendia pro depósito. Mas o seguimento, o regime de uma cooperativa totalmente diferente da rua. É por quinzena, quando você não recebe por quinzena é por mês. Então, se torna difícil aquela pessoa que está recebendo dinheiro todo dia, sabe? Ele passar a trabalhar pra ganhar por uma quinzena. A mesma coisa, nós, um trabalhador, ele recebe por mês. Se amanhã ou depois mudar a lei pra ele receber por ano, vai se tornar difícil pra ele, ele não vai querer, né? A mesma coisa o catador. P - E aí, como é que você convence eles? Como é que você tenta conversar? Que aí ele te fala: "Não, mas eu recebo por dia.", aí que que você diz, por que que você acha melhor? R - Ah, a única coisa que eu falo pra ele que eu também era assim. Então, como eu fui pra uma cooperativa, eu fui obrigado. Obrigado, não. Como eu estava naquele objetivo, então tinha que entrar naquele ritmo, como é o andamento da cooperativa. Se é por quinzena, vamos por quinzena. Se é por mês, é por mês. Então, eu explico isso pra eles. Mas muitas vezes uns vai, fica um ou dois dias, já não agüenta o ritmo, né? Vai embora, outros vêm, mas é assim. P - Está bom. Quer fazer mais alguma pergunta? R - Eu estou muito acanhado, gente. P/3- Está ótimo. P - Não tem problema, imagina. Legal, muito legal, obrigada de novo. R - Está bom.
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