Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron.
Depoimento de Regina Costa dos Santos
Entrevistada por Rosana Miziara
Itaipava, 04 de maio de 2012.
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista nº: MEC_HV020
Revisado por Bruna Ghirardello
P/1 – Regina eu vou pedir pra você falar seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Regina Costa dos Santos. Eu nasci em Itapemirim e minha data de nascimento é 06 de novembro de 1975.
P/1 – Você nasceu em Itapemirim? E seus pais?
R – Meus pais também nasceram em Itapemirim.
P/1 – Como é o nome dele, do seu pai?
R – Do meu pai é Jorge Costa e da minha mãe é Maria das Neves Martins.
P/1 – Os dois são de Itapemirim?
R – Os dois são de Itapemirim.
P/1 – Seus avós também?
R – São também de Itapemirim
P/1 – E qual a origem do seu pai assim, ele trabalhava com o quê?
R – Meu pai sempre foi pescador. Desde a infância dele que ele trabalhava já no mar. A minha mãe também, sempre. É pescadora também.
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Não, eu não sei como eles se conheceram não...
P/1 - ...e onde que...
R – ...bem provável que seja na praia.
P/1 – E você, onde era sua casa de infância?
R – Minha casa de infância era próxima ao mar, era próxima a praia mesmo, em Itaóca.
P/1 – Conta como era a casa, o lugar.
R – Olha a casa era uma casa pequena, de pouco espaço e a nossa infância, as nossas brincadeiras eram mais na praia mesmo porque era o local onde a gente tinha mais liberdade, mais espaço. Então a minha infância toda foi sempre na beira da praia.
P/1 – O que você fazia? Nadava, mergulhava?
R – Nadava, mergulhava, brincava com as colegas também.
P/1 – Filhas de pescadores?
R – Filhas de outros pescadores.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho sim, tenho dois irmãos e uma irmã.
P/1 – Você brincava com eles também?
R – Com eles também. A gente brincava muito, brincava de casinha e era uma festa quando “éramos” na infância.
P/1 – E sua mãe e seu pai saiam para pescar ao mesmo tempo?
R – Não, meu pai sempre trabalhou em alto mar, e minha mãe sempre foi marisqueira. Tirava marisco nas pedras.
P/1 – Você ia com ela tirar marisco?
R – Ia, ia com ela sim ajudar.
P/1 – O que você fazia?
R – Ela tirava o marisco, jogava pra cima da pedra e a gente colocava na vasilha para colocar dentro dos sacos.
P/1 – Como é que ela tirava?
R – Ela tirava com, eu nem sei falar, era cavadeira, metia a cavadeira na pedra e ali tirava o marisco e vendia né? Também para ajudar no sustento da casa.
P/1 – E como é que tira? Cavadeira o que é, um instrumento?
R – Cavadeira é um instrumento, ela tem um cabo grande para que você possa conseguir tirar o marisco bem lá no fundo mesmo e é tipo uma, a ponta dela, é tipo uma enxada, não sei se o nome é esse. Mas é um instrumento que eles tiram até hoje porque até hoje ela é marisqueira então ela tira com esse...
P/1 - ...a sua mãe até hoje é marisqueira?
R – Até hoje é marisqueira.
P/1 – Com quantos anos ela tá?
R – Ela tá com 60 anos já. 60 anos.
P/1 – E você, com quantos anos começou a ajudar ela?
R – Quantos anos comecei...
P/1 - ... você tinha...
R - ... tinha...ah a gente sempre pequena ali com nossos 7, 8 anos a gente já acompanhava.
P/1 – Você carregava o que, um cesto, como é que era?
R – Não, o peso a gente não carregava, mas assim que ela jogava aqueles pedaços; porque o marisco é tirado, tipo umas... não sei nem dizer a palavra certa... como se fosse assim umas tocas que dá na pedra. Então ela jogava aquilo pra cima e a gente pegava ali, pouca quantidade e ia colocando no cesto, mas o peso maior eles mesmos que pegavam.
P/1 – Você gostava de ajudar sua mãe?
R – Gostava. Até hoje a gente ajuda ela. Quando ela vai tirar o marisco ela sempre reúne a família para que esteja lá ajudando ela. A gente curte bastante.
P/1 – E a sua brincadeira foi no mar e na escola você entrou com quantos anos?
R – Na escola? Na escola eu entrei com 7 anos. Não fui uma aluna boa porque eu fiquei na primeira série durante 3 anos, não conseguia passar. Ai a professora chegou num determinado tempo que ela falou assim: “Ó, você nós vamos ter que dar um empurrão pra ver o que vai acontecer com você”. Elas deram um jeitinho lá e eu consegui passar depois da segunda pra terceira e por aí em diante.
P/1 – E aí você foi embora. Mas porque nos primeiros anos você acha que você teve problema?
R – Porque eu não gostava muito de estudar. Eu ia pra escola, minha mãe me deixava na escola, quando ela chegava em casa eu já tava chegando atrás, que eu não ficava na escola não. De jeito nenhum.
P/1 – Você fugia da escola?
R – Ia embora, chorava, eles tinham que me levar pra casa, eu não gostava muito de estudar não.
P/1 – Por que você não gostava?
R – Sei lá, eu era muito tímida. Muito tímida, era chorona, dengosa. E tudo o que as crianças faziam comigo lá na escola, eu queria ir embora. E, às vezes, eles achavam que eu era chorona, aí no caminho me empurravam pra eu cair, pra eu chorar, foi assim quando eu era pequena, menor.
P/1 – E como era na sua casa? Quem exercia a autoridade, seu pai ou sua mãe?
R – Meu pai sempre meu pai. Meu pai era pescador, mas sempre quando estava em casa a autoridade era dele. Ele que era a autoridade maior em casa.
P/1 – E vocês comiam muito peixe na sua casa?
R – Muito peixe, eu amo peixe até hoje. A gente comia bastante peixe.
P/1 – Tinha alguma receita especial que a sua mãe fazia, tinha algum modo especial de preparar?
R- No meu caso, eu gosto mais de moqueca então eu sempre preferia mais que ela fizesse a moqueca pra eu comer. Ao contrário dos meus irmãos que queriam tudo sempre fritinho.
P/1 – Como é a receita de moqueca que a sua mãe fazia?
R – A receita normal mesmo com os temperinhos, tempero verde, cebola, pimentão, tomate, que era o básico também na época, e era uma maravilha. A gente comia com muito agrado.
P/1 – Vocês tiveram algum tipo de formação religiosa?
R – Olha a minha mãe, a religião dela sempre foi católica e eu cresci sendo católica, mas hoje não, hoje eu sou de uma denominação evangélica.
P/1 – E você ajudava a sua mãe e fora isso vocês brincavam na praia?
R – Isso, a gente brincava na praia. Adolescência toda...
P/1 - ...e na adolescência, como é que foi sua adolescência?
R – Minha adolescência foi boa. Eu era uma adolescente tranquila, curtia bastante, saia com as minhas colegas...
P/1 – ...vocês saiam para ir pra onde?
R - ...namorava. E foi bom, tive uma infância boa.
P/1 – Você namorava bastante?
R – Um pouquinho. Eu namorava um pouquinho.
P/1 – Quando você teve seu primeiro namorado?
R – Meu primeiro namorado eu tive com 13 anos.
P/1 – Como é que foi? Como é que você o conheceu?
R – Foi bom, entendeu? Nós nos conhecemos aqui mesmo em Itaóca e com ele eu casei. Hoje eu sou casada com ele...
P/1 - ...com seu namorado, o seu primeiro namorado você casou com ele?
R – ...eu casei com ele...
P/1 - Você se lembra como vocês se conheceram?
R – Nós nos conhecemos na praia. Na praia. Ele sempre vinha passar o verão. Ele trabalhava fora e vinha passar o verão aqui. E aí a gente se conheceu e começamos a namorar. Depois nos separamos e depois voltamos. Nos encontramos de novo e casamos.
P/1 – E você trabalhava fora, fazia alguma atividade fora essa de ajudar a sua mãe?
R – Olha, eu na minha vida juventude eu trabalhei sim, eu trabalhei em casa de
família.
P/1 – Qual foi seu primeiro emprego?
R – O meu primeiro emprego, eu trabalhei tomando conta de três crianças. Trabalhava numa casa, de uma conhecida minha, e ela tinha três crianças bem pequenas, eram os gêmeos e um menorzinho e eu ainda era uma adolescente.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Eu tinha 14 anos. E eu tomei conta deles um bom tempo. Cuidava deles. Arrumava a casa e cuidava dessas crianças. Esse foi meu primeiro trabalho.
P/1 – Quanto tempo você ficou nessa casa?
R – Ah eu fiquei uns 2 anos nessa casa. Depois eu fui trabalhar numa padaria, trabalhei um pouco numa padaria.
P/1 – O que você fazia na padaria?
R – Era atendente, eu era atendente numa padaria e depois eu, aos 16 anos eu me mudei, eu fui para o Rio de Janeiro e lá eu trabalhei na casa de família lá até o momento que eu saí pra me casar.
P/1 – Por que você mudou para o Rio de Janeiro?
R – Eu mudei porque eu, na época o pai do meu namorado trabalhava lá e ele tinha uma moça que tava precisando de uma pessoa de confiança e aí eu fui pra lá e comecei a trabalhar lá, nessa casa.
P/1- E você voltava de fim de semana pra encontrar o namorado, como é que você fazia?
R – Não porque ele morava lá também.
P/1 – Ah, o seu namorado morava no Rio?
R – Morava no Rio, ele morava lá. E eu trabalhava lá e final de semana a gente se encontrava na casa onde os pais dele moravam.
P/1 – E aí você ficou quanto tempo nessa casa?
R – Olha, eu fiquei lá dos 16 para os 17 anos até os 19.
P/1 – Ficou 3 anos morando no Rio.
R – Isso.
P/1 – E como é que foi morar no Rio?
R – Foi bom. Eu já tava acostumada porque sempre ia pra lá passar o final de semana.
P/1 – Que lugar do Rio você morou?
R – No Grajaú.
P/1 – E trabalhava onde?
R – Trabalhava lá no Catete. Trabalhava no Catete.
P/1 – E o que você achava do Rio de Janeiro, da cidade?
R – Olha, eu gostei, eu gostava de lá, trabalhar lá...eu vim embora pra me casar...
P/1 - ...achava bonito?
R - Achava bonito o Rio de Janeiro. Eu vim embora pra me casar, me casei.
P/1 – E porque você não casou lá e casou aqui?
R – Porque meus pais moravam aqui. Meus pais moravam aqui, eu vim me casei e aí fui obrigada a ir pra lá pra morar lá. Fui morar lá.
P/1 – Aí foi morar no Rio com seu marido?
R – Fui morar no Rio com meu marido.
P/1 – Mas aí você saiu da casa?
R – Aí eu saí da casa onde eu trabalhava.
P/1 – E seu marido trabalhava com o que lá?
R – Meu marido trabalhava na Marinha.
P/1 – Era o quê? Oficial?
R – Não, não, ele era cabo da Marinha. Trabalhava lá e aí...
P/1 – E aí continuou morando no Grajaú?
R – Não, aí eu fui morar em São João de Meriti, morei em São João de Meriti e logo depois, com 6 meses que eu morava lá eu engravidei, tive uma filha.
P/1 – Como é o nome dela?
R – Marine.
P/1 – Aí você já tava com que? 19 anos?
R – Aí eu já tava com 19 anos. Eu tava próxima aos 20 anos. Aí ela nasceu e meu marido foi transferido para Salvador e nós tivemos que nos mudar mais uma vez para Salvador e lá nós ficamos um ano.
P/1 – Você morou onde?
R – Lá em Salvador eu morei em alguns bairros lá. Eu morei em Piripiri e os outros eu não me lembro, não me recordo o nome. Perto da Base Naval de Aratu , eu morei ali próximo. Salvador.
P/1 – E como é que foi lá, lá você não trabalhava lá?
R – Não, lá eu não trabalhava não, morava lá.
P/1 – Desde que você casou você parou de trabalhar?
R – Parei de trabalhar, eu não trabalhei mais. E aí moramos lá durante um ano. Lá só tinha mesmo eu e ele, e a minha filha né? Tinham os colegas, os amigos que a gente tinha lá e aí em dois mil e... em 1998 nós viemos pra cá passar as férias aqui em Itapemirim e aí chegando aqui de férias, aqui que ele sofreu o acidente. Quer dizer, aí a nossa vida mudou.
P/1 – Que acidente que ele teve?
R – Ele sofreu acidente automobilístico.
P/1 – Aqui em Itaipava, aqui em Itapemirim?
R – Aqui próximo a Itaipava.
P/1 – Como foi?
R – Olha, nós já estávamos aqui mais ou menos uns dez dias de férias. E aí ele foi em Piúma e na volta, ali na descida de uma prainha que se chama Aghá, o carro, ele capotou com o carro e pra mim foi um choque porque a gente tava de férias e a notícia chegou e foi aquele corre-corre. Ele foi para o hospital e aí tivemos que voltar pro Rio novamente.
P/1 – Por quê?
R – Porque o tratamento dele tinha que ser lá.
P/1 – O que afetou nele?
R – Ele teve uma compressão medular. Ficou paraplégico, mas graças a Deus, o Senhor preservou a vida.
P/1 – E aí você tinha uma filha só?
R – Tinha uma filha. Tinha uma filha com 1 ano e 6 meses. Ela estava com 1 ano e 6 meses.
P/1 – Aí você mudou com ele para o Rio?
R – Aí moramos para o Rio. Ficamos no Rio até 2001, o tratamento ...
P/1 - ... você cuidando dele. Dele e da filha?
R – É. E aí ficamos lá. Ele terminou o tratamento, nós viemos embora pra Itaipava. Estamos aqui até hoje.
P/1 – E aí ele aposentou?
R – Ele aposentou.
P/1 – E aí você teve filho depois?
R – Depois nós arranjamos , nós tivemos sim...
P/1 – ...tô vendo dois aqui...
R – É, tivemos o Samuel que foi uma benção do Senhor para as nossas vidas né? É o Samuel, hoje tem a Marine e o Samuel.
P/1 – Quando você teve o Samuel?
R – Samuel hoje está com 7 anos, a Marine tinha 9 anos na época.
P/1 – E quando é que você virou evangélica?
R – Em 2001, logo assim que nós viemos embora pra cá. Nós fomos, visitamos uma denominação e passamos...
P/1 – Quem que levou vocês?
R – Foi um colega de trabalho dele. Ele sempre nos convidava e um certo dia nós visitamos e aí quando viemos embora pra cá visitamos várias igrejas aqui e aí chegou um determinado momento nós procuramos aquela que ele tinha nos convidado um dia e fomos e desde o primeiro dia nunca mais saímos de lá.
P/1 – E como é que você entrou para esse projeto?
R – Olha, esse projeto, na verdade, tudo começou em minha casa. Meu esposo sempre esteve junto com o pessoal da Associação de Moradores, sempre todas as reuniões foram no meu lar, na minha residência.
P/1 – É?
R – Isso. E até o momento que eles montaram o projeto da COMITA. Se montou a COMITA, ele sempre tava junto...
P/1 – O que é a COMITA? O que é esse projeto?
R – Essa cooperativa né, montou essa cooperativa, ai eles conseguiram...
P/1 – COMITA significa o quê?
R – Olha na verdade eu... É uma cooperativa né? É Cooperativa Mista de Itaipava. Aqui eu não fazia parte, comecei a fazer parte tem 4 anos que eu estou aqui junto com as meninas ajudando elas aqui até o momento que surgiu o projeto com a Chevron, junto com o Instituto Aliança que eu fiquei mais presente, junto com o grupo.
P/1 – Quem te convidou pra entrar?
R – Olha...
P/1 – Você viu acontecer na sua casa porque as reuniões aconteciam lá na tua casa, da COMITA.
R – Aconteciam lá.
P/1 – Mas aí esse da Chevron especificamente, como é que você entrou?
R – A gente já fazia parte da COMITA, aí eles foram à praia onde é a Secretaria e Zé Mauro os trouxe pra cá. E aqui nós passamos a conhecer a Chevron e aí nós começamos a fazer parte do projeto.
P/1 – Por que você se animou a entrar no projeto?
R – Porque eu sempre gostei de lidar com movimento, sempre gostei de estar junto, trabalhando junto com as meninas e ai eu achei que eu poderia contribuir com alguma coisa.
P/1 – Qual era o projeto especificamente que te chamaram pra entrar?
R – Foi o... pra fazer beneficiamento, pra tá junto no beneficiamento de pescado. Foi elaborado alguns grupos e eu fiquei fazendo parte especificamente no beneficiamento de pescado mas como nós temos que aperfeiçoar ainda algumas coisas ai eu fiquei junto com as meninas do biscoito.
P/1 – Então a cooperativa faz beneficiamento de pescado e faz biscoito?
R – Isso.
P/1 – E o Beneficiamento de Pescado quem está fazendo ou tá parado?
R – Tá parado no momento.
P/1 – Por quê?
R – Porque a gente depende no caso, de uma engenheira de alimento, que eles já estão providenciando pra gente, pra gente dar continuidade.
P/1 – O que é o beneficiamento de pescado?
R – Beneficiamento de pescado a gente beneficia tudo aquilo que é do peixe. Como a linguiça de peixe, conserva de atum, hambúrguer de peixe, então isso tudo a gente faz.
P/1 – Quanto tempo você está nesse projeto?
R – Nesse projeto, o projeto de beneficiamento de pescado...há uns 6 anos atrás nós tivemos o curso. E aí nós não colocamos em prática e aí agora, depois, que tem 1 ano, se não me engano, que a Chevron veio e aí começou a desenvolver com a gente. Nós fizemos, começamos a fazer de novo.
P/1 – Mas agora, especificamente está parado?
R – Tá parado o beneficiamento de pescado por enquanto tá parado.
P/1 – Mas vai retomar?
R – Vai, com certeza.
P/1 – E aí nesse tempo todo vocês estão fazendo biscoito?
R – A gente tá fazendo biscoito, fabricando.
P/1 – Que tipo de biscoito?
R – Sequilhos e casadinhos. A gente faz lá na minha residência, a gente confecciona esses biscoitos.
P/1 – Em quantas vocês são?
R – Olha, nós somos em dez mulheres, sendo sete frequentes.
P/1 – E quem sai pra vender?
R – Olha, a gente, nós não saímos pra vender. A gente elabora cesta de biscoito, a gente coloca nos salões de beleza onde todos os finais de semana estão cheios e a gente coloca lá a cesta a gente vende. A gente tá vendendo para os vizinhos, tem uma padaria que sempre compra com a gente, salão em Itapemirim também, é isso.
P/1 – E dá pra tirar uma grana, um dinheiro?
R – Olha, não muito, mas dá pra gente, dá um dinheirinho pra gente.
P/1 – O que mudou na sua vida desde que você entrou nesse projeto?
R – O que mudou é que a gente tem sempre um desejo de crescer. A gente não pretende ficar só fazendo biscoitinho em casa, vendendo pro vizinho. Então o que mudou é que a gente passou a ser mais comunicativa com as pessoas, a gente trabalha em grupo, ouve uma a outra e tem sido a benção.
P/1 – Teve algum momento que você pensou em parar?
R – Às vezes, a gente até pensa mas aí é um trabalho gratificante, a gente se distrai. Porque na verdade eu, por exemplo, eu não trabalho fora, então pra mim é uma ocupação. Tudo tem sido feito na minha casa mesmo, eu não preciso sair. Então pra mim é bom.
P/1 – Mas você quer voltar a fazer esse beneficiamento de pescados?
R – A gente pretende, a gente pretende sim voltar, disposição a gente tem pra trabalhar. E assim que tudo der certo aí a gente vai voltar a fazer.
P/1 – Nesse tempo todo que você está no projeto qual foi um dia marcante, um fato que você lembra?
R – Olha, um dia marcante pra nós foi o dia em que falaram que ia vir uma moça pra dar um curso pra nós e aí quando ela chegou lá em casa não tinha pessoas para fazer o curso. Tinha que ter mais ou menos 12 pessoas e só tinha 7. Aí nós começamos a correr no vizinho, quem passava a gente falava que tava tendo um curso lá em casa e acabou. Quando deu o horário a gente tinha 25 pessoas lá pra fazer o curso. Então isso marcou bem o momento que tudo começou.
P/1 – E fazendo alguma coisa, aconteceu alguma coisa vocês preparando...
R – Olha, não, que aconteceu alguma coisa marcante assim, não.
P/1 – E como é que vocês preparam? Vão todas pra cozinha, quem vai, quem é que vai na sua casa?
R – Lá em casa a gente sempre se reúne em sete mulheres. Aí uma...
P/1 – Tem dia específico?
R – A gente faz sempre às quintas-feiras. Quinta-feira, mais para o final de semana que a gente faz. Aí uma prepara os ingredientes, a massa, outra sova a massa, aí depois junto todo mundo enrola os biscoitos, daqui a pouco já tem que tá assando porque a gente tem pouca vasilha, tabuleiro, para colocar no fogo e aí a gente vai assando, outra vai tirando, outra já vai embalando. Que tem os segredinhos do biscoito. E aí a gente faz isso lá.
P/1 – E você pode contar quais são os segredinhos do biscoito?
R – Por exemplo, o segredinho que a gente tem do biscoito, a gente tira ele do forno, ele só tem que dar uma esfriada, a gente não pode deixar ele pegar umidade porque ele vai ficar úmido, não vai ficar um biscoito crocante. Então são essas coisas que a gente tem que ter agilidade na hora para que o produto seja um produto de qualidade.
P/1 – E quais são as suas perspectivas em relação ao projeto? O que você espera do projeto?
R- A gente espera do projeto é que a gente dê continuidade, que eles venham a nos apoiar, vendo as nossas necessidades para que a gente possa crescer, não ficar nessa de fazer um biscoitinho aqui, aí entrega. Mas que a gente possa ter, no caso, o apoio, ajuda nas compras dos equipamentos que a gente precisa para que a gente possa fornecer em maior quantidade. Então a gente depende disso porque a gente quer crescer.
P/1 – E qual a relação do projeto com a COMITA? Como é que funciona isso?
R – Nós fazemos parte aqui da COMITA, o projeto...qual projeto que você diz, no caso?
P/1 – Esse, do biscoito.
R – Do biscoito? A COMITA nos apoia porque todas as mulheres que fazem o biscoito eram pessoas que eram aqui da COMITA, são cooperadas aqui da COMITA, então a gente faz, porém o grupo é um grupo e a COMITA que... como se a COMITA fosse a sede de tudo. E tem esses grupos né? No caso, grupo de beneficiamento, grupo do biscoito.
P/1 – E a Chevron se relaciona com a COMITA?
R – Não...acho que sim, acho que é com a COMITA porque no caso a Chevron e o Instituto Aliança, eles estão juntos, juntos com a COMITA.
P/1 – E vocês tem treinamento, tiveram alguma coisa?
R - Nós sim, nós tivemos treinamento.
P/1 – Como é que foi esse treinamento?
R – Você diz o que? Do biscoito?
P/1 – É.
R – A professora veio e nos treinou naquilo que a gente podia fazer. A gente já sabia fazer alguma coisa e ela veio pra nos ajudar.
P/1 – Mas, na verdade, o grosso do treinamento que vocês tiveram foi com o beneficiamento do pescado?
R – Como? Não entendi.
P/1 – Porque vocês foram treinados para fazer esses produtos derivados do pescado, não é isso?
R – Isso, fomos treinados...
P/1 – Quanto tempo?
R – Isso há 6 anos.
P/1 – Mas nunca chegaram a colocar em prática?
R – Nunca colocamos em prática não. Agora que a gente né?
P/1 – E você tem essa vontade de parar com o biscoito e ir para o pescado?
R – Eu gosto de fazer as conservas, a linguiça, eu gosto. Pretendo sim.
P/1 – Você acha que vai dar mais rentabilidade?
R – Eu acho que sim.
P/1 – Por quê?
R – Você diz “rendabilidade”?
P/1 – É, grana, mais dinheiro.
R – É, porque o peixe é bem valorizado, tudo o que é de peixe é valorizado, então eu creio que sim.
P/1 – Quais são seus maiores sonhos hoje?
R – Os maiores sonhos? Ô meu Deus! Maiores sonhos... Ah, meu sonho é viver bem, sempre bem. Não tenho nenhum sonho: “Ah eu quero ter isso”. Não. Eu não tenho essa ambição. Eu quero viver bem com a minha família, meus filhos. Então esse é o meu desejo.
P/1 – Olhando pra sua vida, tudo o que você contou desde a época que você trabalhou na praia, ajudando sua mãe, brincando na praia, seu casamento. Se você tivesse que fazer alguma coisa diferente na sua vida, você faria?
R – Não, não faria não porque tudo o que eu fiz valeu a pena. Não me arrependo de nada que eu tivesse feito e de que não tivesse feito.
P/1 – E o que você achou de estar contando essa história hoje aqui?
R – É bom. É bom. Porque às vezes as pessoas olham pra gente e não sabem da nossa história, aquilo que vivemos um dia, e é bom as pessoas ficarem sabendo aquilo que foi a nossa trajetória até aqui.
P/1 – Eu queria agradecer, bonita a sua história.
[Fim da Entrevista]
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