Entrevista de Raul Correia da Silva
Entrevistado por Felipe Rocha
São Paulo, 28 de setembro de 2023
Projeto Conte Sua História
Entrevista número PCSH_HV1386
Transcrita via Transcriptor
Revisado por Nicolau Gayotto da Conceição
P/1 - Maravilha, é, entrevista de Raul Correia da Silva, entrevistado por Felipe Rocha, São Paulo, 28/09/2023 programa conta-se história entrevista código PCS_HV1386. Raul, primeiramente, queria agradecer aí sua presença, seu tempo, sua disponibilidade em participar aí do projeto, do programa com a sua história, tal? É... a gente sempre começa com as entrevistas com perguntas mais introdutórias de apresentação, então, gostaria que você falasse o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Raul Correia da Silva, eu nasci em São José dos Campos, São Paulo, em 1955.
P/1 - Tá legal, você sabe algo sobre o dia do seu nascimento? Tem alguma história ligada a isso?
R - Ligado ao dia de nascimento e é o dia de Santo Antônio, que é o Santo casamenteiro, né? Então eu nasci no dia de Santo Antônio. Até meu nome completo seria Raul Antônio e todos falam Antônio por causa do 13 de junho. Mas na verdade não, é porque Raul era o nome do meu avô paterno e Antônio nome do avô materno. Então é coincidência, o dia de Santo Antônio e o Antônio.
P/1 - E aí, aproveitando o gancho, falar um pouquinho sobre os seus pais, qual que é o nome da sua mãe? Você sabe um pouquinho sobre ela? Como você descreveria ela pra gente?
R - Minha mãe é Laura Correia da Silva. É uma grande guerreira. Na verdade, minha mãe, minha mãe, teve 5 filhos para cuidar, cuidando de 5 filhos, tem 94 anos. E sempre teve, sempre teve a luta dentro do, dentro de casa e era meio como uma característica pessoal, característica muito de ação, ela meio que virou mãe até de algumas famílias, até de vários primos meus, sempre pego um conselho de minha mãe até hoje, ao longo da vida. É o jeito dela, sempre teve...
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Entrevistado por Felipe Rocha
São Paulo, 28 de setembro de 2023
Projeto Conte Sua História
Entrevista número PCSH_HV1386
Transcrita via Transcriptor
Revisado por Nicolau Gayotto da Conceição
P/1 - Maravilha, é, entrevista de Raul Correia da Silva, entrevistado por Felipe Rocha, São Paulo, 28/09/2023 programa conta-se história entrevista código PCS_HV1386. Raul, primeiramente, queria agradecer aí sua presença, seu tempo, sua disponibilidade em participar aí do projeto, do programa com a sua história, tal? É... a gente sempre começa com as entrevistas com perguntas mais introdutórias de apresentação, então, gostaria que você falasse o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Meu nome é Raul Correia da Silva, eu nasci em São José dos Campos, São Paulo, em 1955.
P/1 - Tá legal, você sabe algo sobre o dia do seu nascimento? Tem alguma história ligada a isso?
R - Ligado ao dia de nascimento e é o dia de Santo Antônio, que é o Santo casamenteiro, né? Então eu nasci no dia de Santo Antônio. Até meu nome completo seria Raul Antônio e todos falam Antônio por causa do 13 de junho. Mas na verdade não, é porque Raul era o nome do meu avô paterno e Antônio nome do avô materno. Então é coincidência, o dia de Santo Antônio e o Antônio.
P/1 - E aí, aproveitando o gancho, falar um pouquinho sobre os seus pais, qual que é o nome da sua mãe? Você sabe um pouquinho sobre ela? Como você descreveria ela pra gente?
R - Minha mãe é Laura Correia da Silva. É uma grande guerreira. Na verdade, minha mãe, minha mãe, teve 5 filhos para cuidar, cuidando de 5 filhos, tem 94 anos. E sempre teve, sempre teve a luta dentro do, dentro de casa e era meio como uma característica pessoal, característica muito de ação, ela meio que virou mãe até de algumas famílias, até de vários primos meus, sempre pego um conselho de minha mãe até hoje, ao longo da vida. É o jeito dela, sempre teve no talvez sempre aquela força de ir e vão pra frente. Quer dizer, sempre teve essa, essa parte segue até hoje, com a lucidez incrível.
P/1 - Sabe um pouco, contar um pouco da história desse lado da família? Então de onde seus avós maternos vieram.
R - Sim, os meus avós maternos eles são de de Portugal, de uma província de Castelo Branco, lá em Portugal, e o Beira-Baixa. E daí eles acabaram se conhecendo, inclusive minha mãe, minha mãe nasceu em Portugal, veio para cá. E isso em 1900. Minha mãe nasceu em 29 e depois veio para aí eles vieram para cá em seguida. E daí ficar o meu avô, ele fazia. Meu avô era para o motorneiro. Então até tem umas coisas meio curiosas, porque o... o bonde naquela época, eles eram puxados a burro, era tração animal. Então o meu avô, ele era motorneiro de um bonde com tração animal. Só que a São Paulo foi crescendo, nessa crescida de São Paulo, começaram todos serem elétricos. E não tinha ônibus elétricos que ia para a zona norte, quer dizer, nós somos do Jardim São Paulo, que é no alto de Santana, onde tem o mirante, e o meus pais moravam lá, minha, minha avó, meu avô, morava lá também. Só que o bonde que ia para Santana já não era elétrico, ele continuava com tração animal. Um dia, o meu avô e seus amigos, eles deram um jeito, preservando o animal, de queimar, de que, fizeram um evento qualquer lá, alguma coisinha para levar a prefeitura, e daí chegou o bonde elétrico em Santana. Mas aí, então, um fato curioso de, de família falando, quer dizer, teve uma... e daí foi, daí, ele seguiu, né? Daí seguia daí, era esse era o meu avô materno. Minha avó materna era do lar, como era o comum da época.
P/1 - E você sabe por que que eles vieram de Portugal, se tinha alguma razão específica?
R - Sabia, meu avô, ele veio pra cá, ele estudava no seminário, então meu avô, ele era seminarista e numa dessas coisas de, de herança, ele se sentiu meio prejudicado e que um parente acabou vindo para o Brasil, ele veio para o Brasil atrás do parente dele. Só que daí já, já tinha, depois veio, vieram, vieram atrás, então ele veio e ficou. Então, essa, aquele, largou seminário, óbvio, casou com a minha avó tudo e nós viemos. Foi isso na década de 20, né? E foi para o Jardim São Paulo e ficou. Onde minha mãe mora até hoje.
P/1 - Então sua mãe, nasce, crescida e criada no Jardim São Paulo.
R - Ah, sim, a vida inteira, a vida inteira. O que teve, era uma casa única, né? Que depois o meu pai, o meu, meu avô, eram 6 filhos, terreno grande, daí ele fez uma casa pra cada filho lá pra cada filho. E depois cada um com a sua história de vida, com seus casamentos, daí meu pai foi comprando as outras 5 casas e de 3 ele fez uma onde nós crescemos, as outras 3 casas de aluguel.
P/1 - Aproveitar o gancho, então, falar um pouquinho do seu pai, o nome dele, como você descreveria o seu pai?
R - Meu pai, Germe Correia da Silva, era contador como eu. E, o... esse, ele é um otimista nato. Assim, que ele era um otimista, aquele camarada que tudo vai dar certo. e vamos para trás, corinthiano dos bons. E daí foi seguindo e ele teve o... foi o primeiro, a primeira pessoa me ensinar débito e crédito na contabilidade, assim, como eu fiz com meu filho, meu pai, que me ensinou contabilidade também antes da escola. E seguiu, e ele faleceu muito cedo. Ele faleceu com 60 anos. E daí, foi o uma vida assim, né? Ele era muito companheiro, ele era o camarada de solução. Ele era o camarada que, se precisava alguma coisa, não era com o recurso que ele te passava, era como você iria gerar o recurso. Então, foi uma coisa bem... bem interessante para mim, porque no fundo ele meio que orientava e mostrava como eu conseguiria gerar o recurso que eu precisava, e que não era o bolso dele. Então isso ele fez de... entrou na profissão de contabilidade, o pai dele, o pai dele era pedreiro. Era esses pedreiros que, antigamente se usava muito nas construções mais importantes, tinha sempre os desenhos, sempre tinham algumas coisas feitas com cimento, né, que fazia, essa era professor do meu avô. Então, meu avô fazia isso, e daí meu pai já seguiu para o escritório em contabilidade a vida inteira.
P/1 - E cê sabe como que seus pais conheceram?
R - Olha, boa, boa pergunta essa, hein? Mas foi no, foi no caminho de, no caminho de trabalho, minha mãe começou a trabalhar cedo, meu pai também, né? E já era coisa da época. E daí eles se encontraram por isso, mas eram muito pequenos. Meu pai tinha 14 anos, minha mãe tinha 12 anos. Então eles eram muito jovens, conheceram e casaram e... E daí, só foi. Mas é a ideia deles se conheceram mesmo foi no bonde. Eles se conheceram no bonde, pequenos, né? E daí, com aquela história de crescimento de casamento e fizeram. Então isso vai desde pequeno, 14/12 anos, então uma vida inteira juntos.
P/1 - E para além do núcleo familiar mais próximo, da família expandida, tem... pelo que eu entendi, vocês moram todo mundo ali, super próximo. Tem algum parente mais próximo que se destaca? Assim, que você tem muito carinho, algum tio, algum primo, etecetera, etecetera...
R - Nós tínhamos dentro do que seria do núcleo mais um núcleo expandido, duro, né? Dentro do núcleo expandido duro tinha dois irmãos da minha mãe, que eram mais próximos nós, que era meu tio Augusto, e a minha tia Percília, que até hoje é a próxima conosco. Mas porque ela era muito pequena quando meus avós faleceram, ela tinha 10 anos, minha mãe 17, então, praticamente, minha mãe que a criou. E esse é o do, do núcleo duro que a gente tinha de parentes. E fora isso, tinha da parte da família do meu pai. Nós tínhamos uma outra família que era (inaudível), que tinham, que eram primos nosso de segundo grau, mas tinham nossa idade. Então nós crescemos juntos. Então esse é o nosso nosso núcleo duro, praticamente, mais próximo que a gente tinha. Era com essa parte da minha tia Percília, do tio Augusto e dos filhos do Felipe.
P/1 - Beleza. É, falar um pouquinho, então, agora, sobre qual se vocês moravam tudo ali junto ou se tinha algum costume familiar, alguma tradição, espécie de tradição, alguma coisa que vocês faziam comumente ali.
R - Esse junto, entenda-se no mesmo bairro, né? Nós não morávamos no... mas tinha uma coisa bem legal. Nós fazíamos normalmente, fazia, nós fazíamos pizza sábado à noite. Então era comum ter na minha casa pizza sábado à noite. E um dia meu pai resolveu comprar um forno que era novidade, que não existia, que era um forno de pizza de fogão, chamava Marchesoni o nome dele, depois a Fulgor fez e lançou e virou grande sucesso dos anos 60. E o legal, mas tudo tem história na vida, porque esse, esse forno o meu pai, levou, eram pizzas muito boas. E ele já vinha, ele veio com a receita, então já vi uma receita onde você tinha a receita da massa que se colocava a pinga na massa tudo. E todo sábado à noite nós fazíamos, então era comum nós termos o... nós termos em casa além de nós, né? Além de nós, básicos, sempre via o pessoal do tio Felipe, acaba juntos, é Fritz, o Felipe, o Edson. O pessoal acabou, e a gente sempre comia pizza normalmente de sábado à noite. Mas o que você me vê sorrindo, curioso disso é que essa receita, creio eu, estou falando 63/64, alguma coisa por aí. Essa receita é exatamente a receita da pizza que eu comi sábado passado. Então nós temos essa receita, até hoje nós usamos na família e isso vai passando para todas as nossas colaboradoras. Então todas as pessoas que colaboram com a nossa, com a nossa casa, “opa, vou fazer pizza”, e daí, a receita, A receita da dona Laura, então eu ponho as moças falando com a minha mãe, minha mãe da receita. Então sábado passado, estava comendo exatamente uma pizza com essa massa. E é curioso pelo que foi da época, né? E mais curioso ainda, eu fui na minha mãe, não uns 20 dias atrás, eu estava na casa da minha mãe, e daí ela pegou, não sei porque, um livro de receitas, que ela também usava a vida inteira, não é? Nhá benta, eu não sei o nome do, do, do livro e foi curioso que ela folheando o livro, saiu a receita original, propaganda, a propaganda da fábrica com a receita. Até fotografei para poder fazer uma postagem com isso, então é divertido. Mas foi bom. Mas a massa boa a gente faz, usa até hoje.
P/1 - E qual que é o seu sabor favorito?
R - Aí complica, porque eu acabo, eu acabo aí misturando, eu fujo um pouquinho da mozarela tradicional, né? Mas eu faço, daí eu faço pizza aqui e vai de tudo, né? Ó, uma que minha mulher não gosta, faço uma que eu gosto muito de misturar, misturar o atum com gorgonzola, se é uma massa boa, uma pizza boa. Mas o que eu gosto mesmo as pessoas não sabem o que é feio, porque fica feio, mas eu gosto muito do rosbife industrial derretido, derretido em cima da mozarela, e daí você põe umas gemas de ovos de codorna em cima deles. Tem uma pizza maravilhosa. As pessoas não gostam muito do rosbife industrial, porque como ele tem aquela gelatina que liga a carne, quando derrete, ele fica, fica estranho, né? Ele fica aquele marrom meio estranho, mas é estranhamente saboroso tanto nos sanduíches quanto na pizza.
P/1 - É... tem alguma história de infância que é inesquecível para você?
R - Olha, história de infância, no fundo, tem até exatamente como eu comecei a minha vida de empreendedor, porque o.... eu tinha 8 anos de idade e resolvi fazer uma pipa. E na época não era não chamava pipa. Não é, porque a gente usava muito, a gente chamava fazer arraia. A arraia ela era quadrada com as barbatanas e você empinava ela não caçava, não fazia nada. Ela só subia, descia. E eu fiz uma arraia. 8 anos de idade, fiz a minha. Eu fui empinar isso na praia. E daí nós fomos. Eu tava empinando, chegou, menininho, talvez um ano mais novo que eu, alguma coisa assim, e ele me perguntou, “você vende essa pipa, essa, essa arraia?, eu falei, “vende”, “quanto cê quer?”, eu falei, “100 Cruzeiros”. Aí passou um pouco mais. O menino voltou: “quanto é a arraia?”. Daí eu falei: “400, cruzeiros”, sem noção, né? Falei 400 cruzeiros. Ah, tá bom, o moleque foi embora. A noite, a noite era legal porque na época o litoral, naquela época era tudo muito incipiente, então você tinha pouquíssimos edifícios, eram mais casas, né? A luz apagava, não tinha televisão e tal. Tudo isso era triste, né? E... daí eu tava à noite, a minha tia. Essa minha tia, que eu falei para você, a tia Percília, me chama e falou: “Raul, essa moça aqui, o filho dela quis comprar arraia sua, você falou em 100, ele voltou em casa para pegar o dinheiro e depois virou, você falou que era 400”, falei, “Ah, não sabia que ele queria comprar”, quer dizer, muito garoto. Eu falei: “não, mas eu vendo por 100”, E daí, eu aprendi logo de cara, muito menino, o que é a oferta e procura. Eu tinha cliente a 100, mas eu não tinha cliente a 400 e daí eu vendi a raia para o menino no dia seguinte, eu vendi a raia para o menino. E, comecei a produzir pipa, comecei a produzir as arraias. E daí foi o passo seguinte, porque eu vi que eu vendi aquela por 100, o mercado já definiu o preço e daí eu continuei fabricando. Então, só que o pessoal gostava, e daí o eu comecei ter pedidos e daí sozinho não dava conta. Eu não dava conta, mas tinha 3 irmãs, então eu montei uma linha de produção. então eu brinco muito que eu não sabia o que era nem Ford, nem Taylor nem Fayol, mas eu já tinha linha de produção. Então eu afinava as varetas, que não eram varetas de madeira, eram varetas de bambu mesmo. Eu afinava as varetas, uma irmã minha fazia barbatana, outra colava e com isso... e ali, eu, depois começaram as pipa, né? Em 65 vieram as pipas. E eu vendi até 1970, eu vendi pipa. E isso foi porque daí foi crescendo o negócio, né? E eu comecei a vender pros armarinhos em São Paulo também, pra porta de casa, né? Então eu tive uma produção, mesmo eu e minhas irmãs, a gente fazia as pipas e saia vendendo, então isso foi o... começou, começou com a infância mesmo, né? Mas a gente fazia muita coisa na infância, porque como eu falei pra vocês: na época, as escolas nós ficávamos 3 meses do ano de férias. Hoje é tudo, tudo menor o tempo, né? Mas a gente ficava julho inteirinho. Você tinha praticamente 3 semanas de dezembro, tinha em janeiro e fevereiro tudo de férias, né? E a gente ia pra praia, então aquele negócio que não tinha bronzeador não tinha nada, a gente ficava vermelho, descascava a pele, depois pegava de novo, então a gente tava sempre fora, né? Tinha regra. Tinha a regra de horário, né? Tem que estar aqui para voltar o horário para o almoço. Tal horário para jantar, mas tava sempre. Então, e com isso eu fazia também a gente fazia campo de futebol, fazia teatro com as minhas irmãs nos prédios, aí eu ia de prédio em prédio pedindo, vendendo os ingressos e tal. Fiz muita coisa nessa parte de infância. Foi uma coisa boa.
P/1 - Vocês iam bastante? Era frequente que vocês iam pra praia.
R - Para a praia? Ah, muito! Era frequente, era, era frequente. Passava direto 3 meses. Minha mãe não trabalhava, 4 filhos em casa. Depois virou 5, então com isso, era uma forma de se divertir muito.
P/1 - E era a casa de alguém? De que que era a casa?
R - Era nosso apartamento, era o nosso apartamento, que era meio, como eu falei, era bem o início dos edifícios, porque começaram chegar ou começaram a chegar os edifícios do final dos anos 50. Então era bem o início. É um pouco, poucos edifício, muitos terrenos vazios que a gente tinha, e daí foi... a gente, ia muito, eu ficava direto, né? Passava janeiro fevereiro direto, lá em julho inteiro. A razão das pipas ficou a de julho o vento, né?
P/1 - E esse dinheirinho que você ganhou com a pipa, qual foi a primeira primeiro investimento que você fez com ele?
R - Olha, a gente fazia bastante... bom o primeiro investimento básico era uma batata frita e sundae, né? (risos) Essa era a primeira sobra. Não vai esquecer que era tudo criança, né? Aí quando começou ficar um pouquinho mais de pré-adolescente, isso ajudava também no cinema, no refrigerante, pagar... era mais ou menos também, não era, não era nada excepcional, mas era muito legal porque ele dava o principal. Ele te dava liberdade. Eu acho que quando você consegue ter uma coisa que você faz com prazer, ela te dá uma sensação de Liberdade, qualquer que seja, pode ser hoje não tenho, não importa a idade, né? Eu acho que quando você consegue ter uma coisa que você gosta do que você faz e ela te dá prazer. Daí cê tá livre. Eu procuro fazer isso na minha vida o tempo inteiro, ensinando meus filhos fazer o mesmo. Quer dizer, a forma de que, você passa a ter o domínio da ação. Você passa a ser... na hora em que você faz o que você gosta, você sabe o que você faz. Quer dizer, não é, não é o interesse financeiro, interesse financeiro, ele é consequência.
P/1 - Maravilha é. A gente estava falando um pouquinho das suas irmãs, linhas de produção e você falasse um pouquinho sobre elas, como que é a relação de vocês?
R - Ah, é legal! Assim, foi uma colher muito próxima, né? Muito próxima. Nós temos a Sônia de 50, a Sandra e a Sueli de 53, e eu de 55. Então isso era muito próximo. Nós tínhamos isso. A música sempre teve parte conosco, né? A Sônia, tocando acordeom, as minhas irmãs, as gêmeas, com piano e eu tentei com violão e nunca deu certo. É engraçado que, também é curioso, porque o... elas ela estudavam, tanto acordeão quanto as outras 2 piano e eu... nossa, tem foto nossa muito pequenininho cantando, né? Em cima do, da nossa casa esse negócio. Mas o violão, eu sou canhoto. E o Belchior, ele tinha mania, nos shows dele, o Belchior, ele sempre no meio do show, ele tocava uma guitarra imaginária, então ele ficava o tempo inteiro tocando essa guitarra imaginária dele. Quem ia assistir o show do Belchior, se olhar qualquer show dele que tenha no YouTube, vocês vão ver isso. E eu acabei, fã de Belchior em todo o show de Belchior em São Paulo, Eu acabei pegando um pouco de costume no meus banhos, então, quando eu estava no banheiro, só que eu reparei que: a minha guitarra imaginária era assim. A do Belchior era assim. E eu descobri porque todos que tentaram ensinar violão tentavam me ensinar a tocar violão assim, olha. Olha o efeito dessa minha mão. Olha o efeito desta mão aqui. Olha a diferença da força. Então, não perceberam meus professores de violão, porque como eu escrevo com a direita, como eu escrevo com a direita e os professores de violão, não, não descobriram que eu era canhoto e não, não inverteram as cordas. Eu nunca consegui aprender violão. E eu descobri isso com a guitarra imaginária. Daí você vai perguntar, por que que eu escrevo com com a mão direita? Porque na minha época o canhoto não era bem-visto. Então a minha avó amarrava minha mão no cadeirão para que eu comesse, então com isso, eu como e escrevo com a direita e todo o resto eu faço com a esquerda, e daí teve um probleminha também que acabou com minha mãe. Eu falei, minha mãe ficou do lar, porque minha mãe, ela tem uma mercearia com meu tio lá na Mooca. Chama a Coap, que era o nome da da mercearia dela, da época. E daí, chegou um dia que a minha avó me amarrou e a minha (inaudível) não ficou muito feliz e desceu a mão na minha vó, deu uma puta de uma briga. O lado mais fraco perdeu, então ela, a moça acabou indo embora, a moça acabou indo embora, mas também parou de trabalhar para ficar cuidando da gente. Isso ficou a vida inteira. Então isso foi um episódio que teve, também de infância. Então por essa razão eu faço, eu escrevo e me alimento com a direita, e todo o resto faço com a esquerda: jogar ping-pong e tudo sempre foi com a esquerda. E nunca aprendi violão por causa disso.
P/1 - Você cantava com suas irmãs?
R - Ah, de brincadeira sim e muito. Nós éramos uma famílai bem musical, meu pai gostava de música cantava, né? Então nós tínhamos o, (inaudível), é muito pequenininho, né? Eu aprendi muito das músicas, né? E meu pai, ele também me levava pra ouvir música, então eu tenho fotografia com Orlando Silva, com Ângela Maria, a Ângela Maria tá mais próxima, né? Mas ela já naquela época ela já tinha era veterana, né? Então com isso foi, daí foi crescendo, mas não toco nada, não toco nem canto, na minha casa tem piano, tem tudo, mas é para os amigos, faço muito saraus em casa.
P/1 - Tinha alguma música, assim, que era um clássico da família, que todo mundo, em algum momento, vocês sempre cantavam?
R - Não, não a família naquela época, se pegasse a época de criança cantando, era muito Lampião de Gaza. Quer dizer, então tinha.. mas era bem o não. Mas tinha (inaudível) aquelas músicas da época. Eu, por exemplo, quando foram uns 10 anos, quando fui à festa de formatura do primário, então, podia cada um se apresentava na festinha, né? Imagine, Roberto Carlos surgindo e eu fui a minha apresentação foi declamar o Ébrio de Vicente Celestino. Com 10 anos de idade, então foi meio. Bem a época, né? Então... e bem o Roberto Carlos chegando. Depois vieram os festivais, né?
P/1 - Você mencionou a casa do seu avô, que depois... queria que você falasse um pouquinho dessa casa, da casa que vocês cresceram, mesmo, que falou que seu pai juntou algumas casas...
R - É, meu pai acabou juntando das 6, ele juntou 3 e crescemos nessa que foi a nossa terceira casa, que eu lembro. Nós tínhamos que a gente morava numa casa, depois uma outra casa. Daí meu pai falou: “vamos pegar e fazer a nossa mesmo”. E daí foi quando ele fez esse movimento e foi lá que eu posso falar que a gente acabou crescendo, né? Apesar de quando eu falava de cantar lá no... que é, as casas mais antigas, elas tinham o poço no fundo da casa que alimentava, né? Então, o poço normalmente ele vinha para cá, ele era meio altinho, então ele era o nosso palco. Então eu lembro muito desse poço da primeira casa, onde nós ficamos em cima cantando. tenho fotos disso também. Mas era divertido isso aí a gente se divertia muito. A nossa... posso falar, nós éramos uma família muito... éramos e Somos, uma família muito unida e muito feliz fazer as coisas juntos. É meio de mexer com um mexeu com todos assim por diante, né? Falava das pipas, uma vez eu estava empinando a minha arraia, e já existia a pipa que eu não conhecia. A hora tava lá em cima, isso já em São Paulo, foi lá em cima, de repente chegou uma pipa e me cortou. E eu vi quem foi. Eu molequinho, que me cortou era um menino chamado... de 13 anos e eu parti, sem medo do perigo, parti para cima dele. E ele tentou só me segurar, porque ele... ele tinha 13, eu era uma criancinha, ele só tentou me segurar, mas daí eu caí no chão, que eu fui para cima dele. E daí minhas irmãs voltando do conservatório quando eu vi tava as 3 batendo nele. Mas virou um grande colega. Depois ele que me ensinou tanto a fazer pipa quanto a fazer cortante, era Assis o nome dele, então... E daí ele, ele é mais velho que eu, mas ele me ensinou tanto a armação da pipa, quanto a fazer o cortante, né, que hoje proibido, né? Mas na época era muito comum entre nós.
P/1 - Isso já no Jardim São Paulo?
R - Já, sempre no Jardim São Paulo. Eu sempre morei no Jardim São Paulo, quando eu vim de São José para cá, minha festa de 1 ano já foi aqui. Eu só fui para São José porque meu pai pegou um contrato de 2 anos, contador também. Pegou um contrato de 2 anos de São José, quando acabou o contrato, voltou a família toda.
P/1 - É isso. Tava falando um pouco dessa dinâmica do bairro. Queria que você falasse um pouco do bairro, como que era?
R - Ah, o bairro é, é muito legal. Quer dizer, porque o Jardim São Paulo praticamente não tem prédios, né? Praticamente não tem prédios, são residências e o é basicamente muita subida e descida. Mas muita tranquilidade, né? Santana é um bairro, é um bairro bem tranquilo, então com isso nós tínhamos, eram praticamente arborizadas, com, com casas, umas padarias com bons sonhos, biblioteca municipal que usava muito também, né? Nós temos biblioteca municipal, então nós tínhamos o toda uma parte de vida no bairro mesmo, e tinham ainda alguns lugares, que eram terrenos não ocupados que a gente usava pra jogar bola e fazer o... jogar bola e empinar papagaio. E era muito, era muito tranquilo, continua sendo um bairro bem tranquilo. Ele é perto do Mirante, né? Então fica tudo muito. Muito fácil. Eu lembro de, você falou de lembranças: um dia a gente estava lá e o os VIPs eles faziam muito sucesso, né? E daí os VIPs mudaram para o bairro, há uns 300 m da minha casa. Então nós fomos todos lá, todas as crianças, né? Fomos lá ver os VIPs chegando, aí nem sabem quem são os VIPs, né? Mas eles eram um conjuntivo famoso na época, né? Na época do iê-iê-iê, eles eram conjunto famoso, os VIPs chegando, então, nós ficamos lá vendo a mudança dos VIPs, então. Eram coisas diversões mesmo.
P/1 - Você tinha essa proximidade ali com o mirante tal? Vocês iam bastante ali no, ali a região é bastante arborizada, tem parque.
R - Sim, isso aí era, era direto isso aí. Eles faziam tudo a pé, não tinha essa coisa do... é, não tinha o São Paulo violento, né? Como Belchior cantou, né? “São Paulo violenta”, mas não tinha. Você andava tudo a pé, você fazia, você era criança e você andava sem nenhum tipo de receio. Então isso aí, a gente ia direto, nós, para dizer para Santana mesmo, era tudo. Não tinha é, andar 1 km, 1 km e meio era fácil, difícil pra mim era ir para o Corinthians, isso era mais complicado.
P/1 - Vou chegar no Corinthians ainda, mas primeiro vamos falar um pouquinho ainda dessa infância. É, onde que você estudou?
R - Eu estudei num colégio de freiras, chamava Marilac, que fica lá na voluntária da pátria. E depois eu... fiz o.... desde o externato desde o Jardim de infância, do Jardim de infância até o quarto do ano primário. E depois eu fui fazer, eu fui fazer o ginásio, fazer o ginásio num colégio chamado Augusto Meirelles, e daí eu fiz o técnico em contabilidade em um colégio comercial, perto do, perto do, do pronto-socorro de Santana. Então eu fiz um colégio estadual, ginásio no colégio estadual e o técnico de contabilidade de um colégio municipal.
P/1 - Esse aí a pé para a escola. Como?
R - Não, daí já não tinha, era o mais longe, né? Mas, por exemplo, mas eu ia para ir para o Meirelles, eu ia a pé até um determinado momento e depois eu pegava ônibus. Quando minha mãe não levava.
P/1 - E desse período escolar, mais de crianças, ou mesmo no ginásio, você teve algum professor marcante? Teve alguma coisa?
R - Nós tivemos o ginásio, não posso falar de um professor, eu, eu. Eu não sei o que é a segunda época da minha vida, né? Então eu sempre os professores, eu sempre me dava bem, né? A gente nunca tinha esse negócio de amor, era coisa de turma mesmo, que a gente tinha de amigos. Mas eu peguei o ginásio foi nos anos, na segunda metade dos anos 60 e foi uma época meio conturbada. Quer dizer, foi época em que começaram os movimentos estudantis da Europa, movimento estudantil no Brasil, então nós tivemos, por exemplo, na escola algumas greves, mesmo no ginásio. Nós fazíamos greve mesmo, era coisa do tudo, meio infantil, até chegar. “Ó, as pessoa que é da USP tão falando aqui que a gente deve fazer tal coisa”, daí a gente entrava em greve, era suspenso, então tinha umas coisas que foram, mas o... mas era, era uma outra era uma realidade, um pouco diferente do que se vive hoje. Quer dizer, estou te falando, eu falei: sair do colégio de freira para ir para o colégio do estado, e por decisão, é, por decisão não econômica, por decisão de tem que fazer o colégio do estado, porque era muito forte. Então, eu tinha por exemplo, eu tinha aula de música, aula de francês, aula de inglês, aula de artes, tudo isto no ginásio. Então, nós tínhamos, agrade curricular, era muito forte. Então você tinha uma formação, cê tinha uma formação muito interessante, imagina, cê estudando francês e inglês, fazia francês, inglês, música e artes no mesmo ano, na mesma grade. Fora as matérias normais, né? Então isso ele era uma... era, uma coisa, era uma escola que a gente gostava, com todos os problemas também numa escola municipal, né? Você tinha, podia ter uma greve de fornecer, de professores, alguma coisa. Então, algumas vezes algumas vezes a gente acabava ajudando na limpeza da sala, né? Ninguém se sentia com o bullying na época, né? Ó, a pessoal vamo aproveitar, vamo ajudar que tá assim, tá sem gente hoje, né? Então, era uma coisa meio de... a própria diretoria, tudo isso tinha uma proximidade com os alunos grande, era mais uma coisa de time mesmo e... o que é diferente? É diferente, família e time, né? O pessoal também fala, “ah, família, a família, não sei o que, não sei o que lá”, no fundo a vida quando você pensa em fazer alguma coisa para acontecer, quando eu estava dando exemplo da escola da manutenção, você precisa um time, porque família você pode ter tudo, né? Dentro de uma família, faz parte da família. E já o time não, o time tem que vencer, né? Para vencer tem que planejar, tem que se organizar, tem que ser estruturado, então nós tínhamos muito isso também. Nós tínhamos o grêmio na escola, nós tínhamos ginásio, parceiro do grêmio atuante e tinha eleição de grêmio, era muito, era como falei, movimento estudantil mesmo, apesar de ser... eu sou um cara da geração de silêncio, mas o... apesar disso era uma coisa que era uma manifestação clara e que a gente podia fazer isso. Não tinha, não tinha esse tipo de proibição.
P/1 - E qual que era o seu papel no grêmio? Como que você participava do movimento?
R - No fundo, eu participava do jornalzinho. Ajudava a redigir o jornal, ajudava a redigir o jornal. Tinha presidente, tinha isso tudo, mas ajudava no jornal do grêmio, que é nós fazer o biógrafo, né? Era jornal que ele tinha frente e verso, uma página frente e verso e rodava no mimeógrafo. A gente começou primeiro com o meu mimeógrafo (inaudível), depois o mimeógrafo com tinta preta. Quando melhorou um pouquinho a verba para isso a gente fazia era muito... pena não guardar, pena não guardar todo esse material, porque era o jornal do grêmio. A gente se esforçava, sempre tinha umas piadinhas, tinha não sei o quê, uma fofoca, uma reclamação da cantina, sempre tinha alguma coisa que acho que todos os grêmios, todos os jornais de grêmio reclamam da cantina. Creio, né, então a gente também reclamava da cantina.
P/1 - Teve algum texto, matéria ou algo do tipo que você ficou particularmente satisfeito?
R - De ter feito? Olha, nós tivemos um, mas aí nem foi por, ele ficou muito bom, mas por causa do, do momento, que você fala do que marca, né? Porque nós tivemos em uma, em uma das discussões que o colégio fazia, nós tivemos um colega nosso pra Atibaia numa excursão e um colega era um clube de campo com uma Lagoa e um colega morreu afogado. Então teve um texto muito bonito em homenagem a ele, foi o que mais acabou me marcando lá da gente ter feito. O resto tinham coisas, no tinham coisas normais de dia a dia mesmo, a gente fazia, fazia festivalzinho de música, essas coisinhas também por lá, né? Mas o... um pouco, quando foi essa época de 67/68, também de, de falar um pouquinho do importante da reivindicação. Mas eram mais coisas de estudante mesmo, era coisa de ginástica.
P/1 - E da, da turma, você falou de time e tal, da turma quem que eram seus amigos mais chegados? Tem alguém que você ainda tem contato?
R - Tem, eu tenho 2 colegas que já tenho contato até hoje. Tenho 2 contatos que ainda tenho com a ala até hoje e um deles me acompanhou bastante aí na vida de Juventude, né, da onde fizeram muitas coisas juntos. Isso no... mesmo depois de cada um estudando uma coisa diferente. Era o Celso. Nós fizemos... e o outro colega nosso que era o Caçapiã, que o esse é colega até hoje, quer dizer, nós temos também o, são pessoas não do, do dia a dia, mas são pessoas de Instagram, são pessoas que é de Instagram e de Facebook, entendeu? Caçapiã até hoje a gente brinca, e daí brinco com ele, porque ele é armênio, e o Caçapiã, e a mãe dele fazia uns quibes maravilhosos. Ele fala: “Ah, mas eu sei”, “então eu vou fazer juntos, aí então um dia vamos lá em casa, você faz com a gente”. Mas era bem o, mas foi bem gostoso. A gente se divertiu. Tudo a gente se divertia, porque nós tínhamos na época, tinha aquela, na televisão, aquelas coisas de colégio contra colégio e a gente participava, né? Com o Meirelles, a gente, tudo quanto era lugar, quando, depois tinha gincana. A gente fazia muita coisa na...
P/1 – E era televisionada a gincana?
R - A gincana não, de colégio contra colégio não, mas o colégio contra colégio, sim. Colégio contra colégio era Bandeirantes que fazia, era uma vez por ano tinha e era divertido, a gente se divertia mesmo. Tinha, era disputa entre colégios, né?
P/1 - Tipo de conhecimento?
R - De conhecimento e de tudo, de conhecimento, de música, poder ser de qualquer coisa, isso aí era, e funcionava, né? Como a gincana. Nós tínhamos, quando você fala, vamos supor, nós tínhamos também nos anos 60, mas daí já não é de escola, as escuderias, né? Que as escuderia era muito comum aqui, nós temos essas disputas de escuderias, então cada bairro tinha um. A nossa diante de São Paulo, acho que era umbigo. Na Mooca era Pepe legal. Então isso era um tudo, e essa gincana toda essa disputas aí das escuderias. Aí era por rádio, e era uma puta e era muito forte. Eram muitas escuderias que tinham nos bairros, então os moradores do bairro ajudavam, ajudavam a os participantes da escuderia a conseguirem atingir os objetivos. Era bem legal isso.
P/1 - Mas aí tinha uma prova de corrida?
R - Era uma prova de qualquer coisa, que se quisesse. Qualquer coisa. Desde ó: alguém que trouxer o seu primeiro copo com essa característica ganhou o primeiro ponto, eram provas de, e daí entrava, porque daí entrava os moradores ou os admiradores, né? Fazendo isso então. Mas a mais famosa que tinha aqui era da bola com a Pepe Legal. Ela era mais famosa da época.
P/1 - Fazer algumas perguntas um pouco mais orientado. É, um pouco, voltando ainda para fechar essa questão da infância, você tinha algum desejo de o que você queria ser quando você crescesse? Quando você era criança?
R - Quando eu era pequeno, eu queria ser advogado. Eu sou advogada tá na OAB, tudo, mas nunca militei na advocacia, porque a contabilidade me pegou antes, né? E mas esse era o que eu queria ser mesmo. Lógico, eu não passei por o, né? Eu quero ser cantor, eu quero ser bombeiro, toda criança quer ser bombeiro, né? Eu não passei a fase do eu quero ser bombeiro, não. Eu queria ser advogado mesmo. Disseram que o que era o grande objetivo, não tinha uma, e como eu falei, fui advogado, mas não milito na profissão.
P/1 - E quando que a contabilidade te fisgou?
R - A isso já foi no quando acabou... quando acabou o ginásio, né? Acabou o ginásio, daí eu tinha opção de ir pra aí, pra o colegial, que tinha acabado científico, normal que acabou dessa época e fizeram o colegial. Hoje é segundo grau, né? E eu tinha opção de fazer o colegial, mas daí abriram, abriram essa escola municipal que eu te falei, que ela era, que ela tinha aberto em 69. 69 essa escola e eu fui em 70 indo pro colegial. E daí era uma escola nova, eu formada para formar pessoal de contabilidade, secretariado, essa coisa toda. E daí, o conversa familiar aí falaram, acho que o chegamos a um bom caminho. A gente foi, e... foi uma boa escola e lá eu fiz os 3 anos de técnico de contabilidade e daí fui aprendendo contabilidade e comecei trabalhar na profissão. Porque daí foi por uma. Ah, você falou que não é para falar de Corinthians, então não vou contar isso. Mas foi de... daí eu comecei a trabalhar, estudava de manhã... não, porque foi aí meio... Você tá, você tá rindo, vou contar. Porque eu tinha, eu estudava de manhã e nós tínhamos. Nós fundamos uma torcida do Corinthians chamada Gaviões da Fiel. E os Gaviões, nós tínhamos alguns embates com o presidente atual, do, da época do clube, que era o Wadih Helu. Ele contratou o pessoal que eu gostava de espancar os Gaviões. Então era uma coisa assim, meio complicada. E uma dessas brigas, tava lá no jornal, e meu pai leu no jornal eu como uma das vítimas, né? Meu pai lendo jornal apareceu a vítima. Daí ele virou para mim e falou: “olha, não vou mais financiar viagens para você atrás do Corinthians”. Proibiu nada, não vou financiar mais. Eu falei, tá legal, pai, então eu vou trabalhar. Ele falou: “então você vai trabalhar”. Isso eu estava no segundo técnico, estudava de manhã, mudei para de noite. Eleição no Corinthians foi em 28 de março, Wadih caiu, 6 de abril já estava trabalhando com carteira assinada e daí comecei a trabalhar em escritório e daí fui crescendo e virei contador, e depois auditores. Foi a contabilidade entrou com 15 anos.
P/1 - Então, já que a gente pegou o gancho, vamos voltar um pouquinho. Quando que você começa a aproximação com o futebol?
R - Aproximação com o Corinthians e não com o futebol, com o Corinthians. Eu sou sócio do clube desde 59. Quer dizer, meu pai colocou todos nós, a obrigação de pai, ele vai lá beber água da bica, ser sócio. Como eu fiz com meus filhos, eu fiz os netos agora. Então o meu pai nos colocou só a 59. Corintiano, mas ele não era aquele fanático de ir a jogos, não. E o... mas quando foi em 66. 66 foi quando eu comecei a ir a jogos. Eu comecei a ir a jogos e levando, depois esse amigo Celso também era mais velho que eu, ele acabou, também, me levando. E em 67 nós tivemos o primeiro, o primeiro movimento político no clube. Teve um grupo chamado Redenção, que era com o objetivo de tirar o Wadih Helu. Ele era pilotado pelo Trindade, pelo Vicente Matheus, que era o ex-presidente. E daí eu comecei a olhar aquele movimento e comecei a gostar daquilo. Tinha 12 anos, mas comecei sentir que era legal, então nós começamos a ajudar esse grupo, que não venceu, mas começou a ajudar esse grupo. E nós tínhamos um grupo que sempre ao jogo, não tinha torcida organizada, mas nós íamos dos jogos. Então quem tinha bandeira, levava Bandeira, quem tinha instrumento levava instrumento, mas nós ficava no mesmo lugar. Nós ficávamos numa quina do parque São Jorge, vendo os jogos. Daí 67 foi a Redenção, daí foi aumentando a aproximação nossa. Daí quando foi final de 68. Final de 68, o Corinthians não vencia nada desde 54, né? Final de 68 nós fizemos o primeiro arremedo de torcida organizada, que era uma camiseta com o símbolo do Corinthians em vermelho escrito fiel, foi nossa primeira vermelha e organizada. E daí em 69 nós tivemos uma, perdemos o jogo pro Palmeiras de 3 a 2. E daí, naquele dia, nós vamos fazer o Gaviões da fiel, então daí surgiu e daí começou o movimento participação, e era nós éramos todos estudantes, né? Acho que o mais velho nosso era o Flávio La Selva, que é o número 1 dos Gaviões. O Flávio, eu sou número onze, o Flávio, ele fazia o segundo ano da São Francisco, se não me falha a memória, então nós éramos todos. Daí, a gente começou, e daí foi chegando e foi penetrando toda a gente. Então tem alguns momentos, quer dizer, foi isso, depois nós fundamos a Camisa 12 em 71. Daí, eu virei, eu estive como diretor do Corinthians na primeira gestão do Andrés e na gestão do Mário Gobbi. E hoje eu estou lá com o conselheiro. Então eu estou conselheiro e uma eleição pela frente ainda. Mas essa é mais ou menos isso. Eu nunca fui ligado ao futebol, por isso que eu te corrigi. Eu gosto do Corinthians. Eu cheguei a ir em jogo de boliche com bandeira e o rojão, então é muito, essa ligação é muito forte. Daí a gente tem o na nossa arena lá em Itaquera, o contrato com a caixa econômica. Essa mão que assinou. À direita por causa da minha avó. Mas só que a gente teve, aí foi uma participação grande que nós tivemos. E aí começou por isso, o meu pai. ele era aquele corintiano de orientação, mas não era o de ir a jogos, então acabei muito, muito cedinho indo sozinho mesmo.
P/1 - Você lembra qual foi o primeiro jogo que você foi?
R - Foi, foi o jogo contra o Palmeiras, foi o contra o Palmeiras, foi um a um. Acho que em 66. 66. 66.
P/1 - No parque São Jorge?
R - Não, no Parque Antártica. Mas depois foi crescendo, que a gente tinha essa história. Porque, meu pai era aquele nacionalista ao extremo, né? Aquele cara que o primeiro acorde, do primeiro acorde do hino nacional, rapaz, já estava de pé com a mão no peito, né? E tinham coisa na época, o Palmeiras tinha um bom time e ele disputando, disputando uma Libertadores com o Peñarol e meu pai me viu torcendo para o Peñarol. Daí, “como é que você está torcendo contra o Brasil?” Falei, “pô pai, não tem nenhum torcedor do Peñarol na minha classe”. Acho que foi em 64 isso, 64/65. Eu não tenho nenhum torcedor do Peñarol, mas Palmeirense tem pô, então. Mas são as brincadeiras do que a gente tem aí de infância. Mas a ligação começou por aí mesmo. Eu ia, morava longe, né? Pra eu ir, pro, pra ir pro clube, eram 2 horas. Eu tinha que sair, pegar um ônibus, ir até a praça da luz, andar a pé da Praça da Luz até O Parque Dom Pedro II, no Parque Dom Pedro, pegava um dos ônibus que iam pra zona leste. Daí descia na Rua São Jorge a pé até o clube. Eram 2 horas para chegar no clube. Eu ia com muita frequência, né?
P/1 - Você falou bastante que você começou a sair com o Celso e com o (inaudível).
R - O Celso me acompanhava muito nos jogos, né? Quando eu for pra gaviões, camisa 12, eu sempre carregava o Celso junto comigo e a gente ia juntos e... Um bom parceiro, viajamos o, mas tivemos algumas coisas. Uma vez o Corinthians foi jogar contra o Flamengo lá em Campo Grande na inauguração de um ginásio, um estádio chamado Morenão. Isso em 72. Tava lá. 72. Eu acho que por aí 72/70... e... agora tô perdido. . A 72 a inauguração do Morenão e fomos lá assistir o jogo. E perderam e era difícil porque tinha metade, tinha um terço torcia pro Corinthians, um terço torcia pro Flamengo e outro terço torcia pra quem vencesse. E nós perdemos, mas é divertido. Coisa corintiano. Quando quebrou o tabu, nós ficamos 10 anos sem ganhar do Santos. Daí teve um jogo, nós estávamos ganhando de 1 a zero. Daí nós fizemos 2 a zero. A hora que nós fizemos 2 a zero, ainda tinha 20 minutos de jogo quase, e nós começamos cantar “123, o Santos é freguês”, 10 anos sem ganhar os caras. O jogo não tinha acabado, essa coisa: “123 do Santos é freguês”. Essa é nosso jeito.
P/1 - E nesse começo, como quero sempre mencionou esta primeira camiseta, quando vocês começaram a se organizar ali na Gaviões, como que era?
R - Daí nós tivemos o... Este é o primeiro, mas daí teve uma organização real, porque a gente se uniu com o grupo que era, já era da Redenção, né, que é o grupo do Vicente Matheus. A Gaviões tavam... tanto que a nossa sede, primeira sede de verdade mesmo, dos Gaviões, foi onde era, na 7 de abril, onde era o escritório do Vicente Mateus. Na realidade, já era a terceira, mas a primeira de verdade nós tínhamos. Nós fizemos as carteirinhas. Tudo isso foi em 1970, no escritório do escritório do Mateus. De uma forma organizada. Ideia nós tínhamos. Eu era o tesoureiro, né? Então tinha que sair, fazia as cobranças. Fazia isso tudo para... e tudo organizado. Não tamo falando de computador, né? Então tem o livro caixa, até hoje eu guardo até hoje, tenho o livro caixa dos Gaviões e tudo. Então a gente tinha e tinha esse movimento real, escrevemos para jornais, para revistas, nós tínhamos todo esse trabalho, esse trabalho de relações públicas também para afirmar a torcida. E era um ano difícil, você estava começando, né? E de novo, um bando de crianças. Então essa é a... jovens, né? Então, com isso, esse foi o... foi o momento mesmo, que a gente tinha e que foi levando. Mas foi a política foi nos caminhando, né? Porque o Corinthians pessoal se engana. Eles acham, “não, o cara é conhecido aí fora. A não, ele tem muito recurso de campanha”. Eleição do Corinthians, se ganha dentro do Parque São Jorge, tem que conversar com associados, você tem que levar. Quando você, em tudo que você vai na sua vida, quanto mais você for simples, direto e transparente, fica mais fácil. As pessoas não reparam isso. Porque que os Beatles existem até hoje. Beatles são simples. As canções do Beatles são simples, a gente entende. Quando você entende tudo fica fácil. Então eu procuro tudo que eu faço na vida, sendo uma forma que seja muito simples e direta, onde você consegue poder fazer e tento ajudar as pessoas, treinar as pessoas que trabalham com a gente também a seguir a seguir esse pensamento, a viver esse pensamento. Você confia com... não precisa complicar, todo mundo gosta do que é legal, então tem que ser simples e direto.
P/1 - Você falou que a coisa começou a tomar copo, e quando começou a crescer a torcida de fato?
R - Ah! Eu falei que começou em 69, em 71 nós já éramos 400. Quando nós fizemos a torcida, quando você fala os Gaviões aparecem aos 20 fundadores, mas naquela época podiam ser 80, que era o tamanho que nós já tínhamos. Quer dizer, então nós fomos lá oficialmente os vinte fundadores dos Gaviões. Mas nós somos 80/90, que era o tamanho que nós já tínhamos. Mas em abril, nós já éramos, lá em abril de 71 nós já éramos 400. E daí, quando teve a camisa 12, daí teve uma divisão, mas as duas continuaram crescendo e seguiram todo a história que elas têm hoje, o tamanho, né? Gaviões foi um crescimento, um crescimento enorme e a Camisa 12, a segunda torcida, também com um tamanho muito significativo.
P/1 - E por que que teve essa cisão essa?
R - Política, porque o... nós, como eu te falei, começamos em 67 apoiando o grupo do Mateus. Em 69 também. Mas o Mateus, ele tinha perdido algumas eleições pro Wadih. Quando foi 71, o Mateus não quis sair candidato e ele colocou um outro chamava Martinez, representante da revolução corintiana, que era o nome do movimento. Quando o Martinez entrou, 2 meses depois, já começou o movimento para tirar o Martinez. E dentro do Gavião nós começamos ter discussões entre nós, porque uns achavam que tinha que seguir o Matheus e outros achavam que era muito cedo para tirar o Martinez, e eu era um deles. Então a gente, o pessoal que achava que era muito cedo para fazer uma campanha contra o Martinez acabaram saindo e fazendo a camisa 12, os outros seguiram, seguiram juntos com os Gaviões. Mas o Martinez ele ficou até meados de, de 72. Daí ele acabou saindo, acabou saindo. E essa é mais ou menos a história. Até em seguida, as 2 torcidas. Não... foi política mesmo, foi divergência que é o... acho até hoje. Acho que o Luxemburgo saiu sem precisava ter saído agora, né? Quer dizer, eu acho que quando você tem uma coisa, quando você dá um desafio para alguém, quando você dá uma coisa, você tem que dar o tempo de maturação. Qualquer coisa que você faça profissionalmente, quer dizer, você não pode, precisa de contrato de experiência, né? Quer dizer, você tem uma situação, alguém tá conversando, tá aprendendo um serviço ou tá montando uma linha, tá fazendo alguma coisa, tem que ter o tempo de maturação. E nós achávamos naquela época que não tinha tempo de maturação em 2 meses. Tanto que, a eleição foi 28 de março, nós fundamos a camisa 12 em 8 de agosto, pra você ver a velocidade com o que foi a política no clube. Quando toda a oposição se une a tendência, de após a vitória, é a divisão, qualquer que seja a política, qualquer que seja o movimento, não só no clube.
P/1 - É, o Corinthians tem uma série de momentos bastante marcantes aí depois, né? Qual que foi, qual o grande momento? Alguns grandes momentos marcantes para você. Assim, da história, eu acho que você viu e viveu.
R - Olha, se você me pergunta de jogo marcante para mim, foi o 4 a 3. 4 a 3, porque que ele foi marcante? Você não sabe o que eu tô falando, né? Bom, tem um aqui do lado que sabe. Ó, o 4 a 3...
P/1 - Pra todos os efeitos eu não sei, né?
R - O 4 a 3 ele foi marcante porque, foi em 71, o Martinez tinha acabado de entrar. Antigamente você podia atrasar a bola para o goleiro. Atrasar a bola pro goleiro, aí você pode ficar o jogo inteiro atrasando a bola, e os minutos passando. E, jogo no Morumbi, Morumbi lotado, o Palmeiras faz 2 a zero no primeiro tempo. E era o... era o final, né? Se perder 2 a zero no primeiro tempo, vai para casa. Só que nós voltamos, o Corinthians fez 2 a 1, daí o Corinthians fez 2 a 2. Quando o Corinthians fez 2 a 2, o Palmeiras deu a saída e marcou 3 a 2. Daí o Corinthians deu a saída e marcou 3 a 3. Então nós tivemos 3 gols em 3 minutos. E o jogo estava seguindo 3 a 3, e daí, quando estava acabando o jogo, Adãozinho colocou 4 a 3, então esse foi o jogo, o jogo da minha vida assim, né, de marcar, né? Como momentos, nós tivemos o momento da invasão de 76 no Rio de Janeiro, que essa foi uma coisa de doido. Pra você ter uma ideia a Dutra parecia a marginal às 6 da tarde. Então você estava de madrugada na Dutra e era aqueles, aquela linha de ônibus, ônibus, carros naquelas passarelas, as pessoas toda em cima com bandeira do Corinthians, então era. Foi uma grande festa, demorada, né? E daí? 80.000 corintianos no Maracanã e nos pênaltis, nós, nós ganhamos, o Tobias pegou 3 pênaltis, né? E o esse foi uma, esse foi inesquecível, né? Isso aí, foi até curioso isso porque choveu muito. Estou falando do ano 70, imagine a altura, o tamanho do meu cabelo. Cabelo liso. Um dilúvio, então eu com o cabelão, tudo assim escorrido e eu virei close do fantástico desse jogo. E daí, eu até tentei depois de alguns anos, pegar uma cópia desse fantástico, mas descobri que... a explicação que eles me deram, que o celuloide ele era muito caro, acho que é celulose que faz filme ou alguma coisa assim, ele era muito caro, então eles gravavam em cima. Então não é não, não são, eles guardaram muito poucos Fantástico’s dos anos 70 por causa disso. Então perdi essa oportunidade de closet do fantástico aí. Esse foi um jogo interessante o outro foi o de 77. O de 77, porque, depois da invasão, depois da invasão, o Corinthians virou moda, né? Esse negócio todo. E em 77, começa o Campeonato Paulista, tudo igual, né? Começa o Campeonato Paulista, o Corinthians é mais ou menos, sempre mais ou menos, vai lá mais ou menos. Daí nós tivemos um jogo em Jaú. Nós tivemos um jogo em Jaú contra o XV de Jaú, que tinha um bom time. E o... e o XV meteu 3 gols na gente, ficou 3 a zero. E no jogo que deu uma, deu um enguiço legal, tanto que eu tenho 3 pontos na cabeça desse jogo de pedrada. E daí, o Corinthians perdeu de 3 a zero. Daí naquela história, poxa, mais um ano na fila, aquela história de Corinthians, né? E o jogo seguinte era contra o Botafogo de Riberão, no Pacaembu, no sábado. E nesse jogo do contra o XV de Jaú, teve briga de torcida, teve uma torcedora que invadiu daí o policial acabou derrubando a menina. Então foi toda uma coisa em cima desse jogo, era um jogo muito conhecido, mas o jogo seguinte contra o Botafogo no Pacaembu. 50.000 corintianos dentro e 10.000 fora. Então o Corinthians ganhou de um a zero. Aí já começou toda aquela história de recuperação e daí fomos, e daí fomos para a final contra a Ponte Preta, daí teve um grande dia da final. E com toda a preparação que desenvolve, né? Pra você ter uma ideia. O jogo foi dia 13, no dia 12... no dia 12, nós fizemos uma reunião no parque São Jorge, Líderes de torcida naquela base de o Corinthians vai ser campeão. Então, montando estratégia, né, que fazer. Tanto que nós pegamos meia torcida organizada ficam normalmente na arquibancada, foram lá, lá pra geral pra invadir o campo se precisasse, nós tínhamos buzinas, corneta, fizemos um monte. Nosso objetivo não era ver o jogo, né, era ganhar o jogo. Então, era o tempo inteiro, vou cantar 90 minutos. Então nós temos essa reunião no dia 12, que ela foi uma reunião marcante, até deu um ponto que no final, no final dessa reunião, ainda comentei: “pessoal, lembra do apito da portuguesa?”. No jogo contra a Portuguesa tinha levado uns apitinhos de plástico pequenininho e era um barulho infernal. Lembro do apito da portuguesa? E todo mundo: “lógico!”, e daí nós levamos dezenas de milhares de apito para lá e qualquer pessoa que você conheça que esteve nesse jogo sabe o quanto que esses apitos também aborreceram. E daí nós ganhamos jogo, daí foi um jogo importante, aí outro assunto. Tem vários momentos, teve o campeonato de 2000, tem vários pequenos jogos, né? Agora, particularmente para mim, foi muito emocionante no Japão, porque você está no Japão parecendo que você tá no Pacaembu, que você olhava para o lado você conhecia todo mundo. Só tinha corintiano no estádio. Então, você imagina cê tá no Japão, naquele negócio, e você vê uma faixa enorme dos Gaviões, uma faixa enorme da Camisa 12, sabendo que você foi um dos que ajudaram a colocar os alicerces, aí foi de chorar. Isso aí foi extremamente emocionante. Esse foi... o jogo não tinha começado, mas já estava chorando. Daí chorei de Alegria do final. Mas tem muitas historinhas assim... Corinthians eu fico a tarde inteira falando de Corinthians, não dá.
P/1 - Qual que é o estádio da sua vida, assim, que você mais gostou de ver jogo?
R - Ah, o Pacaembu nós temos um sentimentalismo muito grande, né? Nós temos essa sentimental, sentimental do Pacaembu. O Maracanã também. O Pacaembu é nossa casa, o Maracanã, gostava, na Arena, também, a gente agora, a gente se acostuma a conhecer, ela tem um formato distinto. Eu lembro que na época falei para o arquiteto: “Esse negócio vai ficar ressoando o grito da fiel, isso é tudo aberto, não vai pro alto”, ele falou: “não, Raul, essa parte que tá aqui em cima aqui bate aqui, porque a formação disso joga pra cá, tenha tranquilidade que os caras vão ficar incomodados”. Então, ele me explicando, né? Ele me explicando como é que seria. Eu falei: “olha, devia ser um negócio fechado”, falei, “não pode deixar que a hora que bateu o grito volta”. E foi muito curioso, porque eu vi anteontem alguma coisa assim, eu vi na internet aquele português que passou pelo Corinthians lá e ele falando: Itaquera é ensurdecedor, quer dizer, Itaquera, você é o tempo inteiro, né? Então, sinal que o arquiteto dava certo no reflexo do som lá. Mas sentimentalmente eu me apeguei ao parque São Jorge, lógico, mas não tem jogo no parque São Jorge há mais de 30 anos.
P/1 - Saindo um pouquinho do Corinthians, qualquer coisa depois a gente volta, voltar um pouco para esse lado então, essa parte que a gente começou a falar sobre o Corinthians, quando o seu pai interrompeu ali e parou de financiar as viagens, né? E você começou a trabalhar com contabilidade, conta um pouco mais pra gente sobre esse primeiro trabalho.
R - Esse primeiro trabalho eu comecei com todo mundo, começou. Comecei de Office boy, né? Eu comecei de boy, mas eu tava no segundo técnico. Então muito rapidamente, muito rapidamente eu acabei o indo para o escritório auxiliar de escritório. Eu fui fazendo carreira aaté que nessa empresa, eu virei a subcontador. E o meu pai como contador, ele queria que eu fosse auditor, então meu pai queria que o... “não, você tem que ser auditor, porque é bom, porque não sei o que lá, eu tenho um amigo meu que é da revisora Paulista, o Ceslau, hora que você tiver no momento, vou falar com o Ceslau”, mas não teve o Ceslau porque o eu estava acabando sem esse contábeis. Eu comecei com isso, eu estava acabando sem esse contábil, ainda estava nessa empresa que eu tinha que entrar. E Arthur Andersen foi, Arthur Andersen foi fazer o processo de recrutamento na faculdade. E quando Arthur Andersen chegou, entrevistaram e daí eles falaram, olha, vem conosco, eu falei: não bicho, eu tô bem empregado, eu tô bem, eu estou aqui, eu tenho um Monte de gente que responde para mim. Eles falam: “não, mas faz a ficha, não tem nenhum problema”. Aí acabei fazendo, acabei fazendo e acabei entrando na Anderson. E daí vocês lá o amigo do meu pai falou: “se ele está na Anderson, esquece que ele está muito bem, né?” E daí eu comecei carreira de auditoria lá na, na Arthur Anderson. E fui tendo uma carreira de expansão, fiquei lá alguns anos. Entrei na época no que seria o IAIB, que é o Instituto de Auditores Independentes, do qual hoje eu sou membro do conselho de administração. E daí, entrei no sócio no IAIB e acabei saindo da Ander’s e fui ser o gerente de planejamento de uma indústria. Falei pra você, tá pensando o que que é gerente de planejamento e deve estar pensando, eu pensei igual também. O que eu sabia era o seguinte, eu falei, ó, ninguém veio mandar embora no primeiro dia, mas era uma diferença de salarial de 50% de salário. Então eu saí da Anderson e fui para lá, e os, os donos dessa empresa são amigos meus até hoje, trabalhei com eles uns anos, depois viraram clientes. Estamos juntos até hoje. Mas o... falar gerente de planejamento, o que eu sabia era o seguinte: “ninguém me manda embora no primeiro dia”, à noite, eu pergunto pro meu pai ou eu procuro, vejo na biblioteca da escola ler algum livro. E daí, comecei o trabalho e depois o eu dominava a matéria. Só não dominava o nome, né? Mas o que tinha que fazer a gente fez. Daí fui fazendo carreira lá. E quando foi no final de 80, final de 81. Daí eu falo, ó: vou começar a fazer o... acho que eu vou pensar em fazer uma empresa própria. Porque eu trabalhava numa indústria e é importante a sua... a sua possibilidade de crescimento, quando você faz parte do Core Business, ou seja, quando você faz parte do que é a alma, do que é objetivo, do que a missão na empresa, ela é maior. Então trabalhava numa indústria, então a chance do engenheiro era muito maior do que a chance do administrador, do montador. E foi daí que me veio a oportunidade de fazer uma, uma proposta, surgiu uma proposta para fazer, pedir um serviço. E daí, eu fui lá e eu fiz a proposta, fiz uma proposta e na época eu ganhava 266 algum negócio, não lembro qual a moeda. Fiz uma proposta de 220, vendi para o 180 um serviço que eu faria em uma semana. Daí a hora que eu vendi, eu falei: já descobri o que eu vou fazer na minha vida. E procurei um colega meu que também era da Anderson, que tinha saído da Andersen. Procurei um colega meu, falei: quero montar uma empresa. Ele falou: “ah, também tô afim de fazer, não tô legal no meu emprego” e sentamos e fizemos uma empresa que chamava TERCO, que era fusão de sobrenome. Era fusão do sobrenome dele com o meu Correia, não é? Então, era o que a gente fez. E juntos abrimos a empresa e juntos nós chegamos a ser entre quinta e sexta maior empresa do Brasil, não é isso? Depois de 20 anos, a gente acabou fazendo, acabamos nos separando por divergência de opinião, ele comprou minha metade, daí eu fiquei fora do mercado, fiquei fora do mercado durante uns 3 anos, quase 4 anos. Aí por contrato. Daí comecei em 2005 de novo com Full Service, e hoje nós somos de novo a quinta maior empresa do Brasil. E trabalhando na parte de auditoria e consultoria que a gente faz isso, então estão no Brasil inteiro tenho 27 filiais e todas trabalhando dentro dessa área. E a minha profissão do, essa é a minha vida, né, fora isso. Fui conselheiro do conselho regional, fui presidente do Embracon, que é o iaibe, que eu te falei dos do nosso órgão de classe. Eu fui, eu fui há uns anos, há poucos anos atrás, um pouquinho antes da pandemia: International Accounting Bulletin, que é a revista mais especializada do ano, fizeram um prêmio de homenagem como sendo as pessoas que muito contribuíram para a profissão e continuam na ativa. Chama Life Time Premium Awards, não sei das quanto. Daí eles deram isso, eu sou o único brasileiro que ganhou esse prêmio, então é uma coisa muita honra de ter esse prêmio. E com isso, segui nessa parte. Eu sempre tive uma coisa muito forte, também, para mim, que serve de conselho para quem quiser me ouvindo, né? Quando você faz parte de uma comunidade, você não pode estar nessa comunidade só por estar. Eu estava contando minhas histórias de Corinthians. Eu falei, ó, tava lá, mas estava na ativa, né? Falando de política, esse negócio todo. Porque você precisa tá sempre ajudando o teu entorno. Deus do põe a gente aqui só pra gente cuidar da nossa família. Nós temos que procurar ajudar tudo o que nos cerca, então eu sempre fiz participação nas entidades de classe. Sempre procurei tá de uma forma ajudando dentro de uma dosagem. Porque daí você tem, então, eu fui, como eu falei, presidente EMBRACON, fui conselho do EMBRACON, do conselho administração, tive no CRC, eu ganhei o prêmio do CRA, que eu Conselho de Administração como administrador de destaque. A gente teve, mas por quê? Você tem que estar sempre um próximo ajudando a entidade, porque o isso vale para vocês jornalista, para quem quiser, sempre. O importante é o dosando. Porque eu percebo, quando o seu participa em entidade, é, é gostoso, né? Tá falando com gente que você gosta, tá batendo papo, tá tendo ideia, tá trabalhando. Pode aparecer um chopinho, alguma coisa? Só que você precisa trabalhar e você tentar tua família, né? Então você tem que fazer uma dosagem. O... então pequena parte e o pouco que você dá já é muito, quer dizer então, e daí você tá ajudando quando você está ajudando o teu entorno, você tá ajudando o teu ambiente, você tá ajudando tuas entidades, daí isso acaba dando um crescimento. Então sempre procurei fazer isso, quer dizer. E não só pra isso. Eu fui do conselho fiscal da ACD durante muito tempo, ou eu estou no conselho fiscal do Museu da Língua Portuguesa, tô no museu, no conselho fiscal também do museu do futebol. Já tive a Sala São Paulo quando nós fizemos, no início do 2000, quando foi ver a Sala São Paulo tinha alguma dificuldade de distribuição de renda do Ministério da Secretaria da cultura, a gente acabou criando a associação dos amigos da Sala São Paulo, depois acabou unificando quando o teatro municipal. Então acho que nós temos que sempre ter uma parcela do nosso tempo para trabalho voluntário, porque hora que você faz um trabalho voluntário você consegue estar ajudando a comunidade. Na minha empresa mesmo tem célula de responsabilidade social. E com sempre objetivo. então sempre teve na minha vida, tá sempre ajudando o nosso entorno. Então, o que a gente acaba fazendo? Então com isso, essa participação, e o resto foi agora de profissão. Quer dizer, a gente tá hoje até 1800 profissionais, mas imagino chegar em 2.500, então.
P/1 - Fala pra gente o que que significa ser auditor para você?
R - Ah, para mim, ele me dá uma satisfação pelo seguinte: porque o auditor, ele tá testando números, ele tá testando apresentações, ele está testando a transparência. E na hora que você está atestando algum número, você está ajudando a empresa no seu crescimento. Normalmente, quando você olha auditor, se olha: “ih, lá vem um fiscal, pra me aborrecer”. Não, na verdade você está tendo um consultor atestando, quer dizer... só que o então com isso você consegue contribuir demais, porque o mundo mudou muito. Hoje, o importante você ter toda uma governança muito forte, a transparência manda em tudo. Você precisa hoje teclar, mostra porque tudo aparece, né? Então já bota de uma vez, fica tudo mais claro, né? E o auditor, ele vai atestando o número, né? Ele atesta o número, que a parte da consultoria também, que você está dando consultoria, não, não simultâneo, mas você está dando consultoria para o cliente. Então isso ele é para mim uma coisa que ele me gratifica muito em tá ajudando a sociedade. Quer dizer, quando você sente que o seu trabalho tá gerando, tá gerando frutos, tá ajudando a sociedade. Enquanto uma empresa mais forte for uma empresa, mais sólida ela fica e ela gera mais empregos e dá melhores condições, melhores condições de trabalho, porque se você não tem uma empresa forte, você não consegue ajudar teus funcionários. Se você não ajuda teus funcionários, você não diminui a desigualdade existente no Brasil. E nós estamos, talvez, vivendo até o momento com a desigualdade, acho que como nunca vi. E quando você precisa ter empresas que jogam dentro de regras muito claras, com uma governança muito forte, para ter uma condição efetiva de crescimento e ajudar a tua equipe, ajuda ajudando tua equipe você está diminuindo a desigualdade. Então eu acredito nisso, então eu tenho esse tipo de papel. Essa parte social sempre me incomodou a vida inteira.
P/1 - Um incômodo no bom sentido da coisa, né?
R - No bom sentido, no bom sentido, porque não é todo mundo que tem oportunidade. E se Deus te deu condições de você ajudar o próximo, você não pode, você não pode se furtar a isso. Por isso que eu te falei: me falavam o que que você vai fazer numa entidade que só tem auditor? Você vai falar que o teu concorrente? Não, hora que você tá com isso, você está melhorando todos os processos, melhorando todos os processos, você ajuda o cliente. Se não tem empresa forte, se não tem uma economia forte, você não consegue tirar a desigualdade social. A hora que você alivia isso, jogando com governança e com transparência, daí fica tudo muito claro, porque todo mundo que tem relacionamento com você, ele está preocupado com você, todo mundo quer saber, o que você está fazendo, com quem cê tá fazendo, com quem você se relaciona. Então isso na nossa empresa, por exemplo, pra você ter uma ideia. Nós temos valores, eu não tenho nem missão nem visão nas paredes, não. Toda empresa você vai ter missão, visão e valores, na nossa não tem nem emissão nem visão, porque a missão de uma empresa você pode mudar, mas os valores não, eles são intrínsecos. Então, já foi todo o nosso escritório, você vai ver os valores na parede, porque os profissionais precisam viver os valores. A gente acredita nisso e a nossa forma de tocar.
P/1 - Você teve algumas experiências nesse sentido de ter o próprio negócio, como foi para você ter o próprio negócio?
R - Ah, como te falei, né? Desde menininho a gente fazia minhas pipa, né? Depois, quando eu cresci um pouquinho, eu e o Celso, meu amigo, nós começamos vender pasta de sabão de mecânico. Sabe aquelas cor-de-rosa? Então a gente saía, nós distribuímos essas pastinhas, nós saímos distribuindo. Mas ela acabou, esse meu sonho de vender a pasta, quando eu cheguei em uma oficina, hora que eu tava entrando, eu vi um pastor alemão lá atrás. Eu andei um pouquinho, o cara falou, não pode vir, andei um pouquinho mais o pastor alemão levantou. Daí andei um pouco mais. Ele falou: “não, não tem perigo, pode vim”. Andei um pouquinho mais ele chegou do meu lado. Hora que ele chegou do meu lado, não sabia o que fazer, eu fui acariciá-lo, ele achou que era um perigo, daí ele me mordeu. Então isso foi meu final de vender pasta de sabão e daí a gente parou. Mas daí eu comecei lá na, na, na indústria, mas a gente fez o... tem algumas coisas, agora, não dá para você fazer só uma coisa. Você tem mulher, você tem filhos, você tem tudo, então você não pode ser aquele cara bitolado que só fala de um negócio, né? Então, por exemplo, eu tenho investimentos também, eu tenho investimento em restaurante. Montei um piano bar. Então, a gente faz coisas também, que são coisas dentro do, do que seria um paralelo, mas um paralelo que te ajuda, que te ajuda a tocar, né? Então isso eu tenho, eu tenho algumas coisas que a gente acabou fazendo. E agora, em fazer empresas, eu tenho por 2 vezes na minha vida fiz a número 5, né, na profissão. Então essa aí é o que a gente tem.
P/1 - E o que você considera o maior desafio de ter ao próprio negócio?
R - Eu acho que a manutenção. Você pode ter o que chamam de sorte de principiante. Quer dizer, quando você monta um negócio, cê tem algum conhecimento, cê tem algum recurso, então você consegue fazer um crescimento meu baixo, você tem que manter. E na hora dessa manutenção, talvez seja o maior desafio. Quer dizer, daí você precisa ter um planejamento, fluxo de caixa, quer dizer, o caixa ele é rei, não é ele que manda em tudo. Então você tem que segurar teu fluxo de caixa. Tem uma série de pontos que você precisa, precisa fazer, talvez seja o maior desafio. Nós temos o... o legislação, legislação trabalhista, é uma legislação que logo, logo, tá fazendo 100 anos. Então são ajustes que se precisam fazer. Teve uma reforma trabalhista que eu acho que ela foi boa, que praticamente ela diminuiu substancialmente a indústria dos processos trabalhistas. Então isso, ele acaba sendo positivo, mas é muito desafiante, porque você tem... o concorrente, ele não é o maior problema, quer dizer, quando eu falo muito do... lógico, concorrente, o concorrente honesto, né? Porque algumas coisas foram feitas quando você, por exemplo, agora está se discutindo hoje tributação de dividendos. Que é o do lucro distribuído, tributa. Só que esse lucro ele é distribuído após pagar todos os impostos, né? Só que existe bom na minha visão, lógico, uma miopíssima em cima disso. Se você pegar, quando os dividendos eram tributários, nós tínhamos um caixa 2 muito alto nas empresas. Na hora que acabou a tributação de dividendos, praticamente acabou o caixa 2. Então, hoje nós temos uma economia muito regulada, então acredito, eu não sou favorável a tributar dividendos, porque já foi tributado antes, mas eu acho que o ele faz se precisa hoje para tocar uma empresa, você tem que confiar nos números. Então esses números eles têm que estar muito certos, né? Então eu não sou, não sou muito favorável a essa mudança, que tão tentando fazer, mas também não sou político. Mas você tem que ter a forma e tem que ser justo, porque o empresário ele não pode ter só o... ele, não pode ter só o ônus, né? O empresário precisa ter uma condição de poder tocar, não sei o que. Você só ajuda teus funcionários se você tá bem. Não tô nem falando, porque aquela coisa antiga que a gente tinha de: “ah, os empresários exploradores, não sei o que”. Isso é isso é antigo. Isso acabou. hoje é muito, nós temos um mundo muito claro, quer dizer, eu estou falando com você, eu não sei nem se eu tô ao vivo ou nem se eu vou estar amanhã na tua internet, quer dizer então o mundo ele é muito transparente. Então isso não tem... o trabalhador não é otário e nem o empresário. Então acho que todo mundo tem que trabalhar junto e discutir claramente e igualdade de condições.
P/1 - Teve alguma, em todos esses anos de auditoria, teve alguma prestação de serviço que você fez que foi, que destacaria, assim, algum trabalho?
R - Eu vou fazer o contrário. Eu vou te falar um que eu não me destaquei. A gente teve, porque isso a gente tem o, nossa profissão é muito, muito treinamento. Nós gastamos 13% nas nossas horas treinando gente. Então você busca, está sempre buscando excelência o tempo inteiro, né? Então, sempre buscando tirar nota 8, você tá sempre tendo. Mas eu vou contar para vocês um caso, eu tenho um cliente que eu tava, que é meu cliente até hoje. Eu digo, né? Eu tava namorando, ele não era meu cliente. Eu tinha feito um trabalho, mas ele não era o meu cliente. E chegou que era o grupo Rosset da área Têxtil. Ele não era o meu cliente. E eu tinha um outro cliente meu, e que ele tava vendendo a companhia, e daí mandou uma outra empresa de auditoria, também no amigo meu, que foi lá fazer auditoria, fazer um processo de due diligence, que a gente chama que olhasse se os números estão corretos. E esse, esse colega que foi lá fazer essa revisão, ele chegou e pegou um erro no trabalho que a gente tinha feito. Mas era o erro do tipo: que a companhia poderia pagar 10 de imposto e tava pagando 50. Era um erro importante. Daí eu fui lá, ele voltou, ele me explicou, porque tinha mudado uma coisa da lei que ainda não tinha, não tinha que... era meio incentivo, né? Teve muito incentivo nos anos 70/80, eram muitos incentivos que tinham. Era um incentivo que dava um efeito desse. Daí o camarada não tinha óbvio, não tinha celular, não tinha nada, né? O camarada virou e falou e mostrou, e eu falei: “puta, ele está certo”. E era o último dia de entregar a declaração de imposto de renda para corrigir isso. Daí, pausa, ele pegou o erro, a gente corrigiu lá, né? Mas eu peguei o telefone, liguei para esse não cliente, que é cliente hoje, liguei para ele e falei: “Aron, quero te visitar”. Tava em São Bernardo, a empresa dele é na Barra Funda. Daí cheguei na Barra Funda, falei: pega a tua declaração de imposto de renda. Daí ele pegou declaração de imposto de renda e fala: “isso aqui está errado”. E o olhando, e tava errado mesmo, porque eu imaginei, né, se eu não peguei o outro também não pegou, né? E daí, era uma grande economia, uma empresa grande. Ele virou e falou: “então agora você está trabalhando comigo”. Eu falei, ah, mas com uma condição, né? Que a economia que você, meu filho vai estar discutindo com o teu”, eu não tinha filho na época, “meu filho vai estar discutindo com o teu filho nossos contratos, né?” E uma brincadeira dessa, por coincidência, amigo de vida ficou, né? Por coincidência, uns 20 dias atrás eu estava no meu escritório e o meu filho, junto com ele, a gente discutindo um outro planejamento. Então foi aí foi de um, de um erro, que as pessoas têm muito medo de errar. Quando a gente tem os tropeços, os tropeços são pra gente aprende; se não ele teve uma montanha, né? Não teria uma pedra, uma pedra no meu caminho, né? Pedra no caminho, você tropeça, mas levanta. Quando você tem uma Montanha, daí não dá. Então as pessoas têm medo de aprender com os erros, então eu sempre cito um pouco esse exemplo, porque você faz a coisa certa é legal, quer dizer, mas quando você fez um negócio e que você aprendeu com isso, opa, isso aí me ajudou, óbvio. Isso aí é feito imediato. Então não tem muito receio disso. Incentivo as pessoas anão terem medo de... você não pode é persistir. Onde eu errei? Foi nisso, então vou tentar fazer. Então cito o exemplo, você me pediu case de sucesso, melhor um case de não sucesso, que virou sucesso.
P/1 - Perfeito, a gente falou, você mencionou bastante esposa, filho, etecetera. Falar um pouquinho desse cotidiano, família. Como que você conheceu sua esposa?
R - A minha esposa, que é segundo casamento. A minha esposa, nós nos conhecemos o seguinte: eu estava em uma festa de 1 ano, na minha festa de 1 ano e a mãe dela, que estava na festa, entrou em trabalho de parto. Então ela é 1 ano e um dia mais nova que eu. E crescemos juntos, morava na mesma rua, crescemos juntos. E nunca teve, nunca teve aquela, aquela história de.... Ah, tem aquela história Verinha e Raulzinho, mas nunca teve o vamos lá, né? E daí, chegou um dia que o... aí veio a adolescência, daí eu falei: “nossa, essa menina precisa namorar com ela, né? Eu não posso perder uma mulher dessa”. E daí eu fui falar com ela. E ela estava começando um namoro com quem viria depois a ser seu marido e o pai dos filhos dela. Então, tem até uma brincadeira de família que a gente faz, que ele também era um amigo nosso, também, tudo no mesmo bairro. E daí eles começaram pegar, e a Vera disse que ela não prestava muita atenção em mim porque achava que eu só queria saber do Corinthians. Vê se pode um negócio desse, né? Então daí ficou, ela acabou casando, teve 2 filhos. Eu acabei casando, tive 2 filhos, perdi um filho. E daí, no dia do casamento da irmã dela, isso a mais de 30 anos. A irmã dela casando, chamou nós 2 para sermos padrinhos, porque eu era meio membro da família. Ela chamava minha mãe de tia, né? A gente é coisa de amigo mesmo. E daí deu uma porrada na cabeça que há mais de 30 anos que segue igual até hoje. E daí foi isso. Daí nós estamos juntos, eu... daí trouxe todo mundo junto, botou os filhos na mesma escola e vamos tudo embora. Então foi... então, aí tem, então, na verdade são 3, são 3. E a minha mulher era dentista, hoje já tá parado, e hoje ela lida com arte, com galeria de arte. Isso é um pouquinho de história de família, os 2 menininhos que vieram com ela, já vieram torcendo para o clube certo, então já ficou mais fácil ver a convivência, e são mais de 30 anos que a gente está junto. Essa foi o... E foi muito fácil isso para a gente, porque, tem outra coisa também, de que o, foi um relacionamento fácil, porque você tem as minhas origens, a mesma cultura, que os pais dela eram amigos dos meus pais, quando eram solteiros, né? Então, foram, todo mundo foi crescendo. Tanto que as piadas que ela lembrava era as piadas que eu também conhecia, porque os pais que contavam pra gente, né? Então, cada um levava... e isso é uma coisa importante, que não dá muita atenção: Quando você tem um relacionamento entre iguais, a vida é mais fácil. Quando você tenta fazer com muita diferença, qualquer que seja uma religião ou qualquer coisa que seja, fica mais difícil. Não é que não dê certo, mas fica mais difícil. Nós tivemos essa facilidade de ter essa identidade e tamos, tamos juntos aí, tamos juntos até hoje. Com ela, ela tocando o novo negócio dela.
P/1 - É um dos seus filhos, tá com a contabilidade também...
R - Conta comigo, conta comigo, que tem o Adriano, que é o mais novo, que ele tá conosco, conosco, é um dos nossos sócios lá. E depois nós temos a menina que ela trabalha no ramo de arte também. Nós temos o menino mais velho que também trabalhou um tempo conosco e agora também tá na galeria ajudando a Vera. Que a Galeria da Vera, ela é bem interessante. Ela fez uma galeria que chama New Gallery, a galeria, mas é com o objetivo de ajudar, de ajudar novos valores. Então o são novos artistas, não são artistas consagrados, são aqueles onde ela dá oportunidade de mostrar, de mostrar os novos, então trabalho bem interessante que é feito.
P/1 - E Raul, você falou um pouquinho aí desse pontos em comum com a Vera, é... como que é o seu dia a dia, o que que você gosta de fazer? Quando você não trata trabalhando e quando não tem jogo do Corinthians também.
R - Bom. Meu dia a dia é simples: acordo 6 horas da manhã, às 8:00 tô no escritório. Nós temos o... no começo é mais fácil, também, as pessoas também te conhecerem, né? Então eu estabeleci no escritório, porque deu problema, eu chego lá às 8. Daí chegava às 8:00, entrava um sócio tomar café comigo, daí chegava 8 e meia, entrava outro, às 10:00, entrava, outras uma horas, entrava, eu nunca conseguia trabalhar. Então a gente estabeleceu das 8 às 8:30 nós temos um café da manhã informal entre os sócios, porque daí todo mundo fica sabendo de tudo, traz a informação, então isso é uma dinâmica que a gente tem. À noite, suas coisas normais de família. Agora, quando falei, eu montei um piano bar, então eu tenho ido, eu tenho ido de vez em quando ver, que ele abre 2 vezes por semana.
P/1 - E qual que é o nome?
R - Chama Fino da Bossa. Fino da Bossa ele era, ele era um programa de televisão que era comandado pelo Jair Rodrigues e pela Elis Regina, isso em 64. E muitos, e muitos artistas que se apresentaram lá e levaram músicas novas lá, que era a gente também começando, são músicas que a gente canta até hoje. Então quando vê a ideia de fazer o fino também, junto com a galeria no espaço da galeria, também para chamar os jovens, para chamar cantores desconhecidos. Então, com isso, nós unimos. E por que também. Ah, preciso contar um pouquinho mais de história: eu fazia muito sarau na minha casa. Então ia muita gente na minha casa, que eu não tenho registro, porque eu tinha uma regra lá, não tem nem fotografia e nem gravação. Então nós perdemos noites maravilhosas na minha casa por não ter isso. E o... que a gente não tinha, mas também todo mundo ficava à vontade. Não tinha aquela história: putz, o cara gravou, mas eu vou estar lançando o disco amanhã. Então... tanto que a última vez que o Belchior se apresentou em público foi na minha casa. Seja antes do antes do alto retiro. Tanto até, fizeram, por ser Belchior, fizeram um vídeo meio tosquinho aí, onde aparece ele cantando, ele cantando a como nossos pais, ele cantando, acabando, depois eu levando ele até a porta, como se fosse uma despedida assim, né? Mas é um vídeo muito ruinzinho, tem no meu Facebook, mas ele é muito ruizinho, mas talvez a última gravação dele antes do, que se tem o registro antes disso. Mas daí o que aconteceu? Os filhos saindo e saindo de casa. Vera falou: “ó, teu sarau não dá mais para manter aqui”. E aí eu falei: “não, eu te ajudo, só nós 2”. Daí veio o primeiro, eu esqueci de ajudar, ela ficou brava. Veio o segundo eu não ajudei. Daí ela falou: “acabou”. Então aquela coisa de mulher, né, mulher que manda, né? Então acabou. Daí, mas ela é legal, ela falou ó: “vou te dar um espaço na galeria, você leva teu saraus para lá”. Achando que era uma mesinha com 4 cadeiras. Mas daí a gente acabou fazendo o Fino da Bossa, que tá disputando. Não sei quando a gente vai ao ar, mas tô disputando pelo Prazeres da Mesa, entre os 6 melhores bares de música ao vivo de São Paulo, a casa tem 1 ano e meio, fiquei até surpresa de ter uma indicação dessa. Mas esse objetivo, então a gente junta lá Vera na New Gallery e a gente no Fino da Bossa, a chance pros jovens. Que daí volta pra oque eu te falei: é muito difícil o jovem ter oportunidade de trabalho. Então, se você tem condições de ajudar, tanto que todos os ingressos são vendidos no Fino da Bossa, eles são do palco, eles não vão para casa, a casa tem que vender pastel. Então, esse é o objetivo nosso que a gente acaba fazendo.
P/1 - Ah, bem bacana. Só pra, até o interesse pessoal, que eu também sou bastante fã, falar um pouquinho sobre essa relação com Belchior.
R – Falo, legal! Vou contar um pouquinho mais, falar de Belchior é fácil! Aconteceu o seguinte: eu sou... a época dos festivais da Record. Da Excelsior e depois na Record. Eu era menino, quer dizer, pré-adolescente, e então, isso que eu nasci em 55. Então, acompanhava, a gente, como é que eles faziam muito sucesso, ouvia e sabia todas as músicas, sabia tudo, mas eu tinha 12/13 anos de idade, não era... mas daí teve, 71 teve um festival da Tupi, esse eu já participei, indo lá para assistir tudo. Lá em 72 teve o festival Internacional da canção da Globo. E quando tava lá, me apareceu um camarada: barbudo, cabeludo, todo de branco, sem nenhum instrumento e o cara começa: “que você tem nessa cabeça, irmão, que que você tem nessa cabeça? Cabeça explode, explode, explode, explode”, e era Walter Franco. Não existia Câmara de eco, mas o Walter Franco fez ou 6 ou 7 gravações seguidas para dar um efeito de eco, e eu achei aquilo muito concretista. Eu achei aquilo um máximo. E ele foi classificado pra a final. Quando o Walter Franco foi classificado para a final, eu falei: “eu vou para o Rio”. Naquela época, todo mundo que pintava no Brasil tacava o camisa Flamengo no cara. Então eu fiz uma faixa: “o Corinthians tá presente”, eu fui pro Rio de Janeiro. E fomos pra lá. E o Walter ganhou, mas não levou, porque o júri deu... o Walter foi muito vaiado, né? Porque a música é uma música concretista, cê vai no festival de canção. E era quando surgiu esse festival, surgiu o Raul Seixas, Maria Alcina era um... Daí, o júri deu a vitória pro Walter Franco, pra outra música chamada (inaudível), e mandaram o júri embora. Então, e daí que acabou ganhando o festival foi a música do Jorge Ben, que todos nós cantamos até hoje, que é o Fio Maravilha; e o Walter não teve, e o Walter não ganhou. Só que, só que ele ganhou o prestígio, né? Porque ele tava, porque os poetas concretistas apoiando Walter Franco, Rogério Duprat, também, o maestro. E daí, um dia eu li na história, Walter Franco estava lançando um disco. Aquele... quem conhece Walter Franco, aquele disco de capa branca com a mosca. Ele estava lançando o disco e daí a Record resolveu fazer um programa de música, quase uma nova Jovem Guarda. Essa, o Walter Silva que fazia, que era o cara ligado às músicas. E essa, e ele fez o nome desse programa Mixturação, com x, que era uma música de Walter Franco. Ah, não deu outra: faltei na faculdade e lá fui no programa, primeira fila. Tô lá esperando Walter Franco, né? Tinha 17 anos, 18 anos. Tô lá esperando Walter, e daí começa os caras: “ó, quero apresentar para vocês agora, uma jogadora de basquete que está pintando no palco pela primeira vez, não sei o quê, a Simone”. E daí me entre a Simone, de repente, entre a Simone, àquela altura, descalça, com o vestido preto, foi pro microfone. Eu estava aí na frente, como eu tô com essa câmera. Ela foi lá: “se o dia não fosse de chuva, a morena ia sair e passear suas curvas por aí”. Falei: “nossa, o que que é isso?” Deve vir Simone. Passa um pouquinho mais. E entre agora que eu vou mostrar para vocês um conjunto que está começando agora, está começando agora: Secos & Molhados, entra Secos & Molhados. Tá tudo na mesma noite, tudo no mesmo dia e eu aqui, o Ney Matogrosso aqui, o Gerson aqui. Daí começa, o Ney Matogrosso. Passa um pouquinho mais me entre Ednardo, (inaudível), e naquilo foi em uma sequência. E de repente me entra Belchior: “25 anos de sonho de sangue”. Ah, aí foi uma porrada, ouvi Belchior. E Walter Franco não apareceu, mas a noite só tinha esses caras. Daí eu comecei a seguir esses caras. Onde eles iam, os que estariam em São Paulo, tinha mais show em São Paulo, daí eu ia no show dos caras. Secos & Molhados estourou de cara, né? Antes do Misturação, ele só tinha ido no lugar que era a Casa de Badalação e Tédio. Fizeram 2/3 shows lá, depois o Misturação e daí foi para onde foi, estouraram, venderam mais de um milhão de... mais que Roberto Carlos em 73, e daí foi indo. Daí foi indo, só que eu acompanhava. Só que o Belchior ia fazer um show, tinha uns 5 caras assistindo, eu era um desses, né? E daí, final do show, sempre conversando com as pessoas, daí foi gerando amizade, então eu fiz amizade com alguns deles. O pai do Serginho Groisman, ele tinha um cursinho. E nesse cursinho, na Quadra de, na Quadra de futebol de salão, de basquete, lá, todo sábado ele colocava um novo cantando. Então ele tinha na quadra, tinha gente cantando, todo final, todo sábado, então a gente também ia e foi fazendo amizade, e alguns fizeram amizade mesmo. Quer dizer, o, o Zé Rodrigues, acabei fazendo amizade a ponto dele escrever: “Encontrei minha alma gêmea”, tem um livro dele escrito assim. E o Carlinhos Vergueiro, cheguei lançar disco de Carlinhos Vergueiro, ajudar a produzir. E daí o Belchior a gente foi fazendo amizade mesmo. Daí ficou... tanto a ponto de chegar, como ele sabia que eu ia em todo o show dele em São Paulo, ele estava lançando um disco novo, o dia que eu cheguei depois do show que eu fui cumprimentá-lo. Ele levantou, foi para o armário, tirou um disco do armário e lá estava escrito: “ao Raul, amigo sempre, não sei o que, o número 1”. Ele primeiro chegou na mão dele, ele colocou para mim. Daí Walter Franco e depois a gente também fez amizade. Daí foi o... foi assim que foi chegando. O do Carlinhos foi divertido, porque o Carlinhos a gente já tinha feito algumas coisas meio juntos, e daí um dia ele tá na minha casa. Lá na minha casa, viu um quadro meu e um quadro meu. Ele falou, pô, fiz uma música, não sei o que cantou. Eu falei, pô, eu vou lançar isso aí, tem que lançar, né? Ah, tá difícil. Ah, vou lançar nós, pô. Então nós lançamos, produzi isso em 2099 e 2010, e daí um disco que vende até hoje pela Biscoito Fino. Mas na época que fizeram era independente, né? E com isso foi fazendo amizade, porque as pessoas são todas iguais. Então, quer dizer, eu sou igual a você, você é igual a mim, nós somos iguais a ele. Então, você precisa é conversar e ser claro, as pessoas, elas fazem algumas coisas muito erradas. Procuro as pessoas quando precisam, mas você não faz amizade. Network você faz é no dia a dia, entendeu? Sei lá, você não precisa ter o... mostrar interesse por ninguém. É natural, vai vindo, o dia que precisar tá lá. Então isso foi feito. Então, (inaudível), o Zé Rodrigues dizia, ele falava: “ó, se o Raul Ferreira fez festa, eu tô nela. Se não foi, é porque ele não fez”. Quer dizer, então é uma, é uma coisa assim, meio de que a gente teve... daí foi o Tavito, foi o Guarabira, foi um Monte de gente, quer dizer, foi que a gente foi fazendo. E hoje o... saiu o sarau da minha casa acabara. Agora tem o filho da bossa e a gente se diverte. Mas é curioso também, você fala como é que funciona o piano bar: falei, primeiro 2 vezes por semana; segunda a casa abre às 7, 8 e meia em ponto começa o show, 10 horas acaba o show, a casa fecha às onze, porque no dia seguinte, que eu falei para vocês, às 8 da manhã eu tô na BDO tomando café. Então, a gente faz isso. E tem outra característica: todo o show que faz lá, ele passa ao vivo a cores. Casa pequena, poucos lugares, e então o camarada, ele cantou uma vez Belém do Pará, tem um cara que gosta dele, o cara pode assistir agora. Casa pequena, eu recomendo que ele não dê ingresso de graça, porque é o salário deles, né? Porque a casa não ganha, é do palco, né? E, mas eles estão dando de graça um show ao vivo e a cores com qualidade, e depois eles podem picotar esse show, em 4/5 músicas boas e ajudar para vender outros trabalhos. É uma forma... ao invés de gastar um clipe e gastar dois mil reais com o clipe, nós já estamos dando 4/5 clipes, o camarada dentro do show dele. Então, a gente faz isso com alguma frequência, mas tem essa daí: a gente fecha cedo.
P/1 - Maravilha, então...
R - E vale a pena vocês conhecerem que o lado está aqui.
P/1 - Pode deixar. É, já para a gente encerrar aí, para abrir um barquinho final. Queria perguntar para ti, quais que são seus sonhos? Que que você quer deixar aí como legado no mundo?
R - Olha, o... eu acho que o, tudo que todos nós fazemos, né, qualquer coisa, qualquer ação, de qualquer um de nós, nós já estamos deixando um legado. Quer dizer, sempre o meu sonho é conseguir deixar coisas feitas de uma forma muito, muito leve, muito limpa mesmo, como cantaria Walter Franco, né? Muito limpa, muito leve. Porque tudo que se faz você deixa marcas, então eu sempre peço a Deus de me ajudar a deixar um legado com bons exemplos, com boas coisas, e os erros naturais que todos nós temos, né? Mas, por exemplo, ir mostrando a boa intenção. Eu acho que quando você vê pessoas. Quando você vê a pessoa que você ajudou formar o seu desempenho, indo atrás... a gente, eu vejo mesmo cantores, mesmo, tem um monte de cantores acontecendo aí que há 1 ano e meio atrás tava cantando no meu bar e ninguém sabia quem era. A gente tem que dar oportunidade, esse legado que eu quero saber. Esse... esse legado de desprendimento eu gostaria de passar, quer dizer, o... Essa parte de deixar para que tudo possa falar o seguinte: puts, eu apreendi alguma coisinha. Quer dizer, eu, se eu tiver uma pessoa qualquer que tá me ouvindo e fala: “puts, isso que o cara fez, fez sentido”, eu acho que a gente já deixou um legado. Tomar umas 2 horas conversando, 1 hora e meia conversando, mas o... mas se você conseguir deixar isso e fala: “putz, valeu”. Às vezes me acontece, gente, eu tenho... eu tenho 68 anos. Eu tenho 3, 3 colegas de vida, que foi conhecendo, que deram o nome dos filhos do Raul por minha causa. Quer dizer, são gente que fala: “porra, cara, você mudou minha vida”. Outro dia eu recebi um (inaudível). Eu fiz uma palestra pelo conselho regional de contabilidade para 5.000 pessoas. Isso já há alguns anos. Há uns 2 anos atrás, uma senhora me parou e falou: “Raul, você mudou a vida da minha filha com aquela tua palestra”, então quando você consegue levar essa mensagem para o mais simples que seja a minha forma de você ver, a forma de comunicação, é nada de ser extremamente elaborada, né? Por mais simples você consegue atingir e deixar alguma coisa de bom pras pessoas se sentirem bem. Eu acho que daí o nosso legado tá feito e é isso que eu almejo, deixar.
P/1 - Que maravilha. Tem algo mais se queira acrescentar, alguma história que eu acabei não abordando, algo que a gente deixou de lado?
R - Ah, se a gente pensasse mais 3 horas, eu acho, acho que foi mais suficiente. Foi ótimo. Adorei estar com vocês aqui. Foi um prazer mesmo.
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