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Por: Museu da Pessoa, 9 de maio de 2019

Pagu Fulni-ô e a busca de uma identidade fora do RG

Esta história contém:

Pagu Fulni-ô e a busca de uma identidade fora do RG

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Vira e mexe a gente ia procurar minha tataravó, ela estava em cima do telhado ralando a mandioca. Ralando milho em cima do telhado, pra garantir que o sol ia ficar ali, bem em cima da cabeça dela, que era como ela gostava. E era um sacrifício pra tirar! Você imagina uma senhora, toda magrinha, miudinha, subia, escalava o telhado e ficava lá, sentada com o ralador dela. Enlouquecia a minha vó. E eu convivi muito com isso, assim.

E minha avó e meu pai tinham uma certa... minha vó não era vergonha, ela tinha um receio de dizer que era índia; o meu pai já, mais, vergonha, mesmo, de assumir que era índio. Eu acho que muito pelo preconceito que o povo nordestino sofre quando chega aqui em São Paulo.

Minha vó falava muito isso pra mim: “A gente é, sim, tudo índio, mas minha filha, estar aqui em São Paulo e dizer que é nordestino já é um problema. Se a gente disser que a gente é índio, a gente está morto”. Eu me lembro que, numa ocasião, a minha tataravó estava preparando um remédio pra mim. Eu não estava muito bem. E tem uma coisa: o povo Fulni-ô não fala, não fala mesmo porque ele está fazendo, como está fazendo, porque a gente nasce com o dom ou a gente não nasce. Se a gente nasce, em algum momento a gente vai aprender a fazer as coisas. Se a gente não nasce, a gente aprende um pouco com o mais velho, mas nunca é a mesma coisa. Então, a minha avó também não sabia exatamente como eu ia ser. A minha tataravó quando eu tinha uns cinco pra seis anos, algumas coisas da minha vida espiritual já aconteciam, eu falava pouco, mas numa ocasião eu perguntei pra ela como ela fazia o remédio, pra que era o remédio que ela estava fazendo e ela só botou em cima da mesa e mandou eu tomar. E aí eu perguntei de novo, pela segunda vez, ela falou: “Toma logo aí esse remédio, você precisa dele e só toma”. Aí, quando eu terminei de tomar, daí ela sentou, olhou pra mim e falou: “Olha, minha filha, nós...

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PCSH_HV761_PAGU_FUNI-O

ENTREVISTA DE PAGU FUNI-O

ENTREVISTADA POR JONAS SAMAÚMA E ROSANA MIZIARA

SÃO PAULO, 9 DE MAIO DE 2019

PROJETO __________ [00:10] MEMÓRIA INDÍGENA

PROGRAMA CONTE SUA HISTÓRIA

GRAVADO POR JADE RAINHO

ENTREVISTA PCSH_HV761

TRANSCRITO POR SELMA PAIVA

P/1 – Bem-vinda!

R – Obrigada!

P/1 – Eu ia falar pra você se apresentar: seu nome, o lugar onde você nasceu, o povo.

R – Eu me chamo Pagu. Patrícia, na verdade. O meu nome foi dado, mesmo, em homenagem a Patrícia Galvão, a Pagu e o fato é que desde sempre eu sou conhecida como Pagu, então é como eu me identifico, que realmente o nome que está lá no registro de batismo é o que não é usado, né? Então, Pagu, Pagu Rodrigues. Pertenço a dois povos indígenas: o povo guarani e o povo funi-o. E é isso. Estou com 33 anos.

P/1 – E você pertence a dois povos como?

R – Porque de pai e de mãe, né? Pai é funi-o e mãe guarani. Minha relação maior é, de fato, com toda a cultura, espiritualidade, religiosidade funi-o, porque minha mãe eu não conheci nova. Ela foi embora eu tinha três meses. E eu só a conheci muitos, muitos anos depois. Então, todo o meu processo de luta foi, sim, buscar também as minhas raízes guarani, convivi em aldeias guarani durante muitos anos da minha vida, acho que até um pouco por conta dessa perspectiva de poder achar o que fosse mais próximo ali da minha mãe. Eu só tinha a localização por sobrenome, né, como a gente conhece as famílias indígenas, pelo sobrenome, mas eu acho que toda a tradição, mesmo, acabou ficando mais a cargo do processo funi-o do que propriamente o guarani, mas depois você vai conhecendo, entendendo como funciona pra cada cultura e as diferenças.

P/1 – Você sabe um pouco da história dos seus pais?

R – Sei. Eu, hoje, tenho pouquíssima relação, na verdade, nenhuma, na verdade, com meu pai, desde os 18, 19 anos que eu já não tenho mais relação com ele, mantive mais relação com a...

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