P - Eu gostaria que você dissesse seu nome, local e data de nascimento. R - Meu nome é Oscar Dourado, local Salvador, Bahia, e a data 16 de fevereiro de 1954. P - Qual é a sua atividade? R - Hoje em dia eu tenho muitas atividades. Eu sou músico de formação, sou professor universitário, professor titular na Universidade Federal da Bahia e sou atualmente presidente do Conselho Estadual de Cultura e faço produções culturais. P - Me fala um pouco deste seu trabaloh junto à Secretaria de Cultura da Bahia? R - Eu consegui isso através de uma indicação do secretário, a função do conselho é de dar pareceres, de sugerir programa, ações pro governo do estado. Dar parecer a partir da demanda do estado para o conselho. Então a gente é um órgão anexo, um apêndice da Secretaria da Cultura. P - O que o motivou a participar do Fórum Mundial de Cultura? R - É todo um processo de que eu participei... Eu conheço esta idéia de Rui César, alimentando esta possibilidade de se criar este fórum. Nós participamos do Fórum Nordeste, preparatório, coordenei o Fórum Bahia de Cultura e participei do brasileiro, então é todo este processo, que é fundamental. A existência do fórum é fundamental como a iniciação de uma necessidade de um apelo para a sociedade, de chamar a atenção para que outros valores sejam contemplados na existência das pessoas. A gente vê uma super valorização do fator econômico na vida, teve esse fórum de Davos do G8, tem o fórum social que seria ainda sobre o viés econômico, dar uma resposta, de Porto Alegre. Eu acho que como a nossa área é uma área de cultura, nosso meio onde a gente atua é uma área de cultura, eu acho que cabe à gente dizer que além de uma outra globalização não ser possível, outros valores, pode não ser somente o financeiro a ser contemplado, valores culturais podem ser intercambiados, trocados sem que a moeda seja o hegemônico. P - Você conhece algum...
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P - Eu gostaria que você dissesse seu nome, local e data de nascimento. R - Meu nome é Oscar Dourado, local Salvador, Bahia, e a data 16 de fevereiro de 1954. P - Qual é a sua atividade? R - Hoje em dia eu tenho muitas atividades. Eu sou músico de formação, sou professor universitário, professor titular na Universidade Federal da Bahia e sou atualmente presidente do Conselho Estadual de Cultura e faço produções culturais. P - Me fala um pouco deste seu trabaloh junto à Secretaria de Cultura da Bahia? R - Eu consegui isso através de uma indicação do secretário, a função do conselho é de dar pareceres, de sugerir programa, ações pro governo do estado. Dar parecer a partir da demanda do estado para o conselho. Então a gente é um órgão anexo, um apêndice da Secretaria da Cultura. P - O que o motivou a participar do Fórum Mundial de Cultura? R - É todo um processo de que eu participei... Eu conheço esta idéia de Rui César, alimentando esta possibilidade de se criar este fórum. Nós participamos do Fórum Nordeste, preparatório, coordenei o Fórum Bahia de Cultura e participei do brasileiro, então é todo este processo, que é fundamental. A existência do fórum é fundamental como a iniciação de uma necessidade de um apelo para a sociedade, de chamar a atenção para que outros valores sejam contemplados na existência das pessoas. A gente vê uma super valorização do fator econômico na vida, teve esse fórum de Davos do G8, tem o fórum social que seria ainda sobre o viés econômico, dar uma resposta, de Porto Alegre. Eu acho que como a nossa área é uma área de cultura, nosso meio onde a gente atua é uma área de cultura, eu acho que cabe à gente dizer que além de uma outra globalização não ser possível, outros valores, pode não ser somente o financeiro a ser contemplado, valores culturais podem ser intercambiados, trocados sem que a moeda seja o hegemônico. P - Você conhece algum trabalho ligado à memória que você considera importante? R - Eu venho de uma cidade em que a gente transpira memória. Sendo trabalho institucional... Como assim? P - Algum trabalho acadêmico, algum trabalho que foi feito com relação a memória que você acha que foi importante. Ou mesmo institucionalmente. R - Eu gostaria de puxar a sardinha para o meu lado. Ano passado, no Conselho Estadual de Cultura, nós criamos uma nova lei de patrimônio, de proteção ao patrimônio, que inclui e contempla inclusive o patrimônio material. É uma lei que tem uma série de registros, cria uma série de instituições, de maneira que não somente se restringe ao patrimônio mobiliário físico, cria outros tipos de registros que não somente o patrimônio, mas registros em livros e descrições de processos e proteções, então eu acho que este trabalho do Conselho de Cultura do Estado é um trabalho super interessante. Tem milhões, seria difícil... A preservação do Pelourinho lá na Bahia, Ouro Preto, tantos mais, Olinda. P - Essa nova lei que vocês criaram já teve algum reflexo? Já teve alguns projetos que foram contemplados, beneficiados com essa lei? R - Por exemplo, esse ano a gente criou uma série chamada Mestre dos Saberes e dos Fazeres, que na verdade é uma proposta; na Bahia de Todos os Santos a gente tinha uma embarcação chamada Saveiro. Então tinha o mestre saveirista, que é o sujeito que sabe levar mercadoria que circulava dentro da Bahia de Todos os Santos através destas embarcações, que estão em via de desaparecimento por causa do ferry boat e outras estradas e vias de comunicação. Então estes mestres saveiristas estão desaparecendo, e junto com isso tem a construção do saveiro, que é uma construção que se perde no tempo, é uma construção que se atribui a coisas de origem fenícia. Se criou série Mestre de Saberes e de Fazeres, que é exatamente o compromisso de trazer estas pessoas, que não chegam a três dezenas de pessoas, que existem lá, e sabem manusear o barco e que sabem construir. O governo do estado se compromete em mantê-los, dar um salário mínimo, e transmitirem o conhecimento que eles adquiriram na sua existência para a juventude. Enquanto durar esta atividade eles receberam isso, tem todo este processo e vai se fazer com outros tipos de patrimônio. P - Esta transmissão deste saber é feita como? Através de moralidade? R - Moralidade, geralmente é o mestre e o aprendiz. O governo agora está estimulando, como a gente está vendo que não está havendo... A juventude está recebendo outros tipos de estímulos, eles não estão seguindo os mesmos passos, os formatos das gerações mais antigas, então o governo está de alguma forma tentando estimular que alguns voltem a se interessar, para que de alguma forma esta tradição seja mantida. P - Tem alguma idéia de criar algum material com essa transferência de saber? R - A gente quer o conhecimento vivo, a verdade é essa. Tem um registro, essas pessoas todas, tem um livro de registro onde se registra o nome da pessoas e se faz algum histórico, alguma coisa assim, se cria um livro de registro. P - Você pode me contar alguma evento marcante que tenha acontecido com você na sua trajetória de vida? Alguma coisa que aconteceu na sua vida que você acha marcante para você contar para gente? R - Eu sou flautista, a vida inteira eu quis ser flautista, eu tenho recordações de menino, de criança, cinco, seis anos de idade. A gente tinha um ritual na minha família que era aos domingos, meu pai cortava as unhas de todos nós, então ficava todo mundo esperando meu pai sentado junto de um rádio inglês ouvindo música. Ele ouvia geralmente música clássica nesse dia, ficava ouvindo numa rádio lá qualquer. Eu me lembro de ter recordações de quatro, cincos anos de idade, de dizer: "Meu pai, eu quero ser flautista." E meu pai médico dizia: "Não rapaz, esse negocio de músico não presta, vai ficar tocando para um prato de comida." E eu sempre com aquela persistência, passava alguns anos eu voltava. Aí quando eu tava com 15, 16 anos de idade, morreu minha vó, a mãe dele, minha vó paterna. Ele e meus tios estavam distribuindo os pertences mais pessoais de minha vó, entre eles e apareceu uma caixa, nesse dia eu descobri que minha vó tinha sido flautista e ele também, e ele nunca tinha me dito. E aí pronto e ele perdeu o argumento.(choro) Eu tinha os cabelos enormes: (PAUSA) naquele dia eu decidi que eu ia ser flautista profissional (PAUSA). Para eu conseguir minha primeira flauta, minha tia disse: "Se cortar o cabelo..." Eu comecei a tocar a flauta de minha avó, que era do século 19, toda restrita, antiga. "Se cortar o cabelo eu compro uma flauta nova para você." Ai eu raspei minha cabeça e no outro dia eu bati na porta dela, e foi assim que eu me tornei. Aí tem umas besteiras, eu fui o primeiro flautista brasileiro a receber um título de mestre de uma instituição estrangeira, e fui o primeiro a receber o titulo de doutor, também. P - No dia do falecimento da sua avó ele contou para o senhor que era... R - Não foi no dia, foi alguns dias depois, não foi exatamente no mesmo dia. Ele não contou, a gente descobriu depois, apareceu esta flauta, eu disse: "Que historia é essa? Uma flauta, não sei o quê.. Aí ele desmoronou com aquilo. A gente entende, ele tinha expectativas outras para mim, que eu fosse médico, seguisse a área dele. P - Esse prêmio que o senhor ganhou de uma instituição internacional, qual foi? R - Eu ganhei uma bolsa de estudos, eu me formei na universidade. Ai eu ganhei três bolsas de estudos da Fulbrathis, Capes e da Laspau _____________________________. Através destas três instituições eu recebi bolsas de estudos para estudar nos Estados Unidos, outras pessoas já tinham tentado, mas não tinham conseguido, eu fui o primeiro brasileiro que conseguiu realizar o curso de mestrado em música. P - Você morou onde lá? R - Eu morei em Massachusets, numa cidade chamada____________, onde fiz na Universidade de Massachusets, de 82 a 84. P - E o senhor chegou a tocar em alguma orquestra? R - Claro, eu comecei com flautista de rock. (riso) Depois passei para a música instrumental brasileira, depois entrei na orquestra sinfônica, toquei muita música... Porque era década de 70, era muita música experimental, toquei muita música de vanguarda, num conjunto chamado Conjunto de Música Nova, na Universidade Federal da Bahia, toquei na orquestra sinfônica porque eu era da orquestra sinfônica da universidade, fiz o caminho inverso, depois comecei a me dedicar à música de câmara e acabei fazendo meu doutorado em música antiga tocando flauta renascentista, flauta barroca transversal, sempre. P - O senhor chegou a viajar muito como flautista? R - Não, eu viajei aos Estados Unidos, eu morei sete anos lá, seis anos e dez meses, mais precisamente. P - O que o senhor achou de dar o depoimento para gente? R - Foi ótimo. P - Eu queria agradecer pela sua participação. R - O prazer foi meu.(FIM)
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