Eu nasci em uma cidade minúscula do interior da Bahia, sendo a sexta filha de pais não alfabetizados.
Como mulher preta, que passou parte da vida morando na periferia ou em zona rural, sem oportunidade de ir à escola, posso afirmar que a educação, a leitura e os livros foram um diferencial em minha vida.
Aos 10 anos, minha família mudou-se para Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia. Nessa época tive meu primeiro contato com a literatura ao receber uma medalha de ouro em um concurso de leitura na escola. Antes disso já lia diariamente a Bíblia e outros livros religiosos, a leitura secular era proibida em minha casa.
No ano seguinte nos mudamos para uma fazenda bem distante da cidade. Lá não havia energia elétrica, nem água encanada, apenas um casebre de barro coberto com palha. Sem as distrações da cidade, eu encontrava na leitura meu refúgio. Nessa época uma tia me presenteou com alguns livros: Contos de Grimm e clássicos da literatura brasileira, e, aquele foi meu entretenimento por mais de um ano. Minha mãe quando ia à cidade, comprava também alguns livros de bolso com histórias de faroeste para eu ler para ela, e assim, nos entretínhamos.
Depois daquele período meu interesse pela leitura somente aumentou. Eu fiquei viciada em ler e lia tudo que via à minha frente, até bula de remédios e manual de instrução.
Mesmo passando por muitas dificuldades, morando grandes períodos na zona rural, mantive os livros e a leitura como parte do meu cotidiano.
Devido os revezes da vida (uma gravidez na adolescência, falta de condições financeiras para me manter na cidade), não consegui concluir o colégio na idade adequada, e infelizmente, não tive oportunidade de cursar o Ensino Médio de forma regular. Durante toda a minha vida e no período que estive longe da escola, sempre ouvia de meu pai: Estude, pois a única forma de um pobre ser valorizado é através dos estudos. A vida para quem não estuda é...
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Eu nasci em uma cidade minúscula do interior da Bahia, sendo a sexta filha de pais não alfabetizados.
Como mulher preta, que passou parte da vida morando na periferia ou em zona rural, sem oportunidade de ir à escola, posso afirmar que a educação, a leitura e os livros foram um diferencial em minha vida.
Aos 10 anos, minha família mudou-se para Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia. Nessa época tive meu primeiro contato com a literatura ao receber uma medalha de ouro em um concurso de leitura na escola. Antes disso já lia diariamente a Bíblia e outros livros religiosos, a leitura secular era proibida em minha casa.
No ano seguinte nos mudamos para uma fazenda bem distante da cidade. Lá não havia energia elétrica, nem água encanada, apenas um casebre de barro coberto com palha. Sem as distrações da cidade, eu encontrava na leitura meu refúgio. Nessa época uma tia me presenteou com alguns livros: Contos de Grimm e clássicos da literatura brasileira, e, aquele foi meu entretenimento por mais de um ano. Minha mãe quando ia à cidade, comprava também alguns livros de bolso com histórias de faroeste para eu ler para ela, e assim, nos entretínhamos.
Depois daquele período meu interesse pela leitura somente aumentou. Eu fiquei viciada em ler e lia tudo que via à minha frente, até bula de remédios e manual de instrução.
Mesmo passando por muitas dificuldades, morando grandes períodos na zona rural, mantive os livros e a leitura como parte do meu cotidiano.
Devido os revezes da vida (uma gravidez na adolescência, falta de condições financeiras para me manter na cidade), não consegui concluir o colégio na idade adequada, e infelizmente, não tive oportunidade de cursar o Ensino Médio de forma regular. Durante toda a minha vida e no período que estive longe da escola, sempre ouvia de meu pai: Estude, pois a única forma de um pobre ser valorizado é através dos estudos. A vida para quem não estuda é sempre mais difícil.
Mesmo quando ele estava longe, eu ouvia sua recomendação e acalentava o desejo de voltar para a escola, de fazer faculdade, de conquistar minha dignidade.
Em 2002, morei em um acampamento de sem-terra com meu companheiro e nossa filha. Ali passamos muitas dificuldades e necessidades, e foi naquele lugar que resolvi concluir o ensino fundamental para buscar uma perspectiva de vida melhor. Ele não aceitou que eu estudasse, por isso fui embora com minha filha e retornei para a casa dos meus pais.
Mesmo com todo déficit em minha formação escolar consegui ser aprovada em um concurso público estadual e posteriormente consegui uma vaga no sonhado curso de Direito em uma Universidade pública.
Estou certa de que foi o hábito de ler que me proporcionou o senso crítico, a coesão e boa interpretação de texto, elementos essenciais para a aprovação em provas tão concorridas.
Hoje estou seguindo para minha terceira graduação, e até o momento tenho cinco especializações, entre tantas outras vitórias, sou também escritora.
Concluo dizendo que os livros que sempre fizeram parte de minha vida e continuarão atrelados a mim, mesmo depois que eu partir.
Como escritora me comprometo a contribuir para a mudança na perspectiva de vida de outras pessoas, e que meus textos cumpram seu papel como transformador de vidas.
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