P – Bom dia, Sr. Fernando.
R – Bom dia.
P – O senhor poderia falar o seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Meu nome é Fernando Roberto Marinho de Souza. Eu nasci a 12/12/1943 na cidade do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco.
P – O senhor nasceu aqui mesmo?
R – Eu nasci aqui, só não me criei aqui.
P – Ah, o senhor foi pra outro lugar.
R – Eu saí daqui com a idade de oito meses mais ou menos.
P – Ah. E quando que o senhor entrou na Brahma?
R – Olha, eu trabalhava com táxi, era taxista. E uma certa noite o carro quebrou, eu passei a noite todinha na estrada, e eu digo: “Eu vou sair dessa vida e procurar emprego”. E fui informado por um ex-funcionário da companhia, já falecido, de que a Brahma estava pegando gente, hoje AmBev. Então eu vim aqui, no outro dia comecei a trabalhar. Isso foi a 7 de julho de 1964. Só que nós tínhamos um período avulso, e eu fui registrado no dia 7 de outubro de 1964.
P – Logo que a filial da Brahma abriu? Foi logo que ela inaugurou?
R – É, só que não estava inaugurada ainda.
P – Estava construindo?
R – A Brahma foi inaugurada no dia 14 de dezembro de 1964. Eu já era funcionário, trabalhava no Setor de Fabricação, na época era Setor de Ensilagem e Sedimento (?) de Matéria Prima. Eu trabalhava justamente com ensilagem. Logo depois eu comecei, eu só tinha o primeiro grau incompleto. E com o incentivo do pessoal da gerência do meu setor eu voltei a estudar, fiz primeiro grau, fiz o segundo, e depois passei para o quadro Fiscalização Técnica, que depois mudou pra Auxiliar de Fábrica. Passei alguns anos como Auxiliar de Fábrica, depois passei a encarregado do setor de fabricação, especialmente de cozimento, e em seguida fui pra escola em Curitiba fazer o curso de Cervejeiro Prático e me aposentei como Cervejeiro Prático.
P – O senhor se aposentou como? Qual era o seu cargo?
R – Eu entrei como Servente, com uma vassoura varrendo o prédio da...
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P – Bom dia, Sr. Fernando.
R – Bom dia.
P – O senhor poderia falar o seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Meu nome é Fernando Roberto Marinho de Souza. Eu nasci a 12/12/1943 na cidade do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco.
P – O senhor nasceu aqui mesmo?
R – Eu nasci aqui, só não me criei aqui.
P – Ah, o senhor foi pra outro lugar.
R – Eu saí daqui com a idade de oito meses mais ou menos.
P – Ah. E quando que o senhor entrou na Brahma?
R – Olha, eu trabalhava com táxi, era taxista. E uma certa noite o carro quebrou, eu passei a noite todinha na estrada, e eu digo: “Eu vou sair dessa vida e procurar emprego”. E fui informado por um ex-funcionário da companhia, já falecido, de que a Brahma estava pegando gente, hoje AmBev. Então eu vim aqui, no outro dia comecei a trabalhar. Isso foi a 7 de julho de 1964. Só que nós tínhamos um período avulso, e eu fui registrado no dia 7 de outubro de 1964.
P – Logo que a filial da Brahma abriu? Foi logo que ela inaugurou?
R – É, só que não estava inaugurada ainda.
P – Estava construindo?
R – A Brahma foi inaugurada no dia 14 de dezembro de 1964. Eu já era funcionário, trabalhava no Setor de Fabricação, na época era Setor de Ensilagem e Sedimento (?) de Matéria Prima. Eu trabalhava justamente com ensilagem. Logo depois eu comecei, eu só tinha o primeiro grau incompleto. E com o incentivo do pessoal da gerência do meu setor eu voltei a estudar, fiz primeiro grau, fiz o segundo, e depois passei para o quadro Fiscalização Técnica, que depois mudou pra Auxiliar de Fábrica. Passei alguns anos como Auxiliar de Fábrica, depois passei a encarregado do setor de fabricação, especialmente de cozimento, e em seguida fui pra escola em Curitiba fazer o curso de Cervejeiro Prático e me aposentei como Cervejeiro Prático.
P – O senhor se aposentou como? Qual era o seu cargo?
R – Eu entrei como Servente, com uma vassoura varrendo o prédio da fabricação.
P – E o senhor saiu como Mestre Cervejeiro?
R – Foi.
P – E quantos anos o senhor trabalhou na companhia?
R – Eu trabalhei 26 anos.
P – 26 anos? E como que é, eu queria que o senhor contasse pra gente como que é o Mestre Cervejeiro, o quê que o senhor fazia?
R – Bom, eu era responsável praticamente por todos os setores da área de produção. Acompanhava o serviço do pessoal de fermentação, adega de maturação, adega de filtração, ensilagem, tratamento de água, tratamento de despejo e principalmente de cozimento. Inclusive, quando um dos chefes de setores, Carlos Joelsi (?), se não me engano está em Curitiba e foi transferido pra Manaus, eu assumi como Chefe de Setor Geral de todos os setores da fábrica por dois anos. Depois eu pedi a minha aposentadoria.
P – E como que era a fábrica nesse período que o senhor trabalhou, nesses anos? Quando o senhor saiu era muito diferente de quando o senhor entrou?
R – Olha, quando eu entrei praticamente a companhia pegou muita gente analfabeta. Tinha pessoas que não assinavam nem o nome, não chegavam a assinar o nome. Os que vieram, funcionários da Fraleli Vita (?), quando a companhia integrou a Frateli Vita, e veio gente completamente analfabeta. Então tinha gente que pegava no telefone, parecia que estava pegando num animal. Eu escutei, uma certa vez um sujeito atendeu o telefone. O Chefe do setor, na época o Sr. Frederico Drich, ______. O rapaz nunca tinha pego num telefone, atendeu e: “Alô”. Aí ele: “Daonde está falando?” “Estou falando da ____ de chopp.” “Ah, seu Cabral, foi uma ligação errada, põe o telefone no lugar”. Ele deu uma discada e disse: “Pronto, desliguei”. “Não, seu Cabral, por favor ponha o telefone no lugar”. “Não”. “Desliga esse telefone”. Ele deu outra discada: “Desliguei” “Sr. Cabral, ponha o telefone no lugar Sr. Cabral”, e deu um esporro nele. Aí ele virou-se para o companheiro que vinha chegando e disse: “Ave Maria, o homem deu uma dureza comigo só porque eu atendi essa onça e não sabia falar”. Chamou de onça.
P – De onça?
R – De onça, o telefone. Mas a fábrica era maravilhosa, era muito boa de se trabalhar. Tinha muito respeito ao funcionário. Além de incentivar o funcionário a estudar, ser aplicado, dedicado, o pessoal trabalhava com prazer, com satisfação. Nós tínhamos aqui campeonatos de futebol nacional entre as filiais, depois entrou o atletismo, depois o voleibol. Além disso nós participávamos do campeonato pernambucano patrocinado pelo Sesi. Chegamos a ser bi-campeão pernambucano e campeão brasileiro pelo campeonato Brahma, hoje AmBev.
P – E o senhor como Mestre Cervejeiro, que o senhor foi nessa época, a Brahma ainda tinha uma rivalidade com a Antarctica?
R – Ainda não.
P – Não, a rivalidade. Elas não estavam juntas.
R – Rivalidade sim.
P – Elas eram rivais.
R – É.
P – E a Brahma tinha um mercado menor aqui no Nordeste, não tinha?
R – Eu não considero que a Brahma tivesse um mercado menor. Na época havia uma rivalidade muito grande, inclusive até o pessoal que trabalhava no comercial chegava até a fazer jogo sujo. Quando eu entrei na Brahma mesmo, a Brahma era a companhia que mais vendia cerveja aqui no Nordeste. Ninguém pronunciava: “Me dê uma cerveja”, só pronunciava o nome Brahma. Podia ser a cerveja que chegasse, o nome de cerveja era Brahma. Mas depois de uma jogada meia suja, jogo comercial, começaram dizendo que a água da Brahma dava dor de cabeça, não sei o que e tal, aliás, a Brahma dava dor de cabeça devido à água, que a água não era água de poço. Que a água de poço não é uma água adequada para o fabrico de cerveja, mas quem não entende, né? Aí então a Brahma começou vendendo menos do que a Antarctica dentro do Recife, mas tinha cidades do interior ou de outro estado que vendia muito mais Brahma do que Antarctica. E a nossa produção aqui não parava, virava 24 horas, isso de domingo a domingo. Não parava de jeito nenhum.
P – E nesses anos todos que o senhor trabalhou, o senhor lembra de alguma coisa que marcou muito o senhor, um acontecimento? Deve ter vários. Pode ser mais de um.
R – Realmente teve vários acontecimentos. Um deles foi eu ir fazer o curso lá em Curitiba, que eu achei muito importante. Participar, com minha família, nos desfiles que nós fazíamos nas aberturas dos jogos do Sesi, depois de eu começar a fazer parte dessa família aqui. Aí casei, fiz uma outra família, juntei as duas famílias. Então, como eu tinha os meus filhos que foram crescendo aqui junto com essa minha família AmBev, hoje AmBev, começaram a participar de desfile. Então nós levávamos 120 participantes para o desfile patrocinado pelo Sesi, nas aberturas dos jogos do estádio, e minha família começou a participar. Os meus filhos desfilavam como mini-jogador em carros alegóricos. Nós fazíamos carrinhos com serviço de bar. Tinha uma filha minha que era atleta da Seleção Pernambucana de Ginástica Olímpica, saía no desfile fazendo aquelas apresentações, aqueles saltos ornamentais. Isso a gente ganhava todos os títulos. Todas as aberturas nós ganhamos todos os troféus dentro de Pernambuco nas aberturas dos jogos patrocinados pelo Sesi de Pernambuco. Então tudo isso marcou muito na minha vida.
P – E o senhor lembra de alguma coisa, algum causo que aconteceu nessa época, alguma coisa engraçada com algum amigo, com o senhor?
R – Ah, lembro, eu lembro muito. No início da fábrica, que nós tínhamos um Mestre Cervejeiro descendente de alemão, Frederico Drich (?), que ele era meio grosseiro. Ele tratava o pessoal às vezes com uma certa grossura. E teve vários acontecimentos. Por exemplo, um rapaz trabalhava no tratamento de água, e era muito malandro. E o Sr. Frederico sempre ia às seis horas da manhã, o tratamento de água ficava um pouco afastado, e só retornava lá umas 11 horas. Então tinha um rapaz com nome de Emílio que, quando o Sr. Frederico saía, aí ele se encostava lá num canto da parede, acendia um cigarro e às vezes pegava no sono, só acordava na hora de ir para o almoço. E o Sr. Frederico era muito exigente com os trabalhos. Uma certa vez chamou ele: “Sr. Emílio, venha cá. Está vendo esse paredão aqui embaixo?” Na subida para o tratamento de água tinha uma escada com uma parede em pedras, estava criando um lodo. “Amanhã quando eu voltar eu quero essa parede limpa, limpa, limpa, brilhando”. Aí ele disse: “Está certo, Sr. Frederico, pode deixar”. Quando o Sr. Frederico saiu, ele acendeu um cigarro e pegou no sono. Foi almoçar, voltou, acendeu outro, dormiu outra vez, acordou com o rendeiro (?) acordando ele, foi embora. No outro dia, quando o Sr. Frederico chegou, a parede estava do mesmo jeito. E esse rapaz tinha um saborzinho assim do puxa-saco, puxa-saquismo. Quando ele chegou, aqui se usava macacão e um chapeuzinho chamado bibi (?), tipo do soldado antigo do exército. Aí, quando ele chegou o Sr. Frederico: “Seu Emílio”, deu aquele grito, “venha cá. Seu Emílio, porque o senhor não me lavou a parede?” Aí ele: “Oh, meu chefe, eu esqueci meu chefe. Me ocupei em outras coisas”. “Não senhor, Seu Emílio, é porque eu não mando mais aqui”. Aí batia com os dedos assim no peito dele que só faltava furar: “Quem manda é o senhor”. “Que é isso, meu chefe?”. Aí o rapaz começou afastando. Ia dando um passo pra traz e o Sr. Frederico batendo nos peitos dele até quando encostou ele na parede, e dizendo: “Quem manda é o senhor. Diga o que tem para o Sr. Frederico fazer”. “O que é isso, meu chefe? Eu não mando não, quem manda é o senhor, meu chefe”. Aí, quando ele chegou no canto da parede... Sr. Frederico tinha um negócio, ele reclamava, dava uma bronca com qualquer pessoa. Daqui um pouco, quando ele via que não dava jeito ele falava: “Minha Santa Madalena, não tem jeito não”. Aí paf nele. E nessa ele bateu até encostar ele na parede, falou: “Minha Santa Madalena, não tem jeito não”. Ainda falou: “Além desse serviço tem aquela outra parede ali, que o sulfato de alumínio está queimando, amanhã eu quero brilhando”. Então dessa vez o rapaz teve que trabalhar. Aí teve vários acontecimentos engraçados.
P – E Sr. Fernando, como é que o senhor vê a AmBev hoje, a companhia, estar resgatando essa história dos funcionários, estar ouvindo, estar construindo um acervo?
R – É, realmente a AmBev tem crescido muito, e como faz parte da minha família espero que cresça muito mais, mas eu ainda acho que a AmBev devia voltar um pouquinho às origens da Brahma, patrocinando esportes pra dar uma abertura melhor, uma satisfação melhor ao funcionário. Eu acho que o funcionário está precisando muito de lazer, de esportes, pra que o funcionário se sinta como eu me sinto, realmente ser uma família AmBev.
P – Obrigado, Sr. Fernando, por o senhor ter dado o seu depoimento.
R – Eu é que agradeço muito, e pra mim foi um prazer. Alguém que precisar mais uma vez eu estarei aqui com toda a satisfação porque a AmBev é a minha vida.
P – Obrigada.
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