Nome do Projeto: Memória Petrobras
Depoimento de: Orlando Luiz Orlandi
Entrevistado por: Eliana Santos
Local da gravação: Rio de Janeiro, RJ
Data: 03/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Código do Depoente: PETRO_CB549
Transcrito por Andréa Penna
P/1 – Boa tarde! Eu gostaria de começar essa entrevista pedindo que o Senhor me fornecesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Orlando Luiz Orlandi. Nasci no Rio de Janeiro, na Lapa mesmo, bem carioca, em 06 de março de 1954.
P/1- Seu Orlando, o Senhor poderia nos contar um pouco como foi seu ingresso na Petrobras, quando foi ?
R – Meu ingresso foi através de processo seletivo, realizado após a minha formatura em 1977. Entrei em fevereiro de 1978. Praticamente foi isso.
P/1 – O Senhor pode contar um pouquinho os locais que o Senhor trabalhou, os setores?
R – Bom, comecei na Fronape e logo depois do curso, que demorou nove meses, chamado Cecom, e aí a escolha desse curso era feita por colocação. A escolha da vaga onde você ia estudar ia ser feita pela colocação no curso anterior, chamado Cecom. E aí a gente escolheu a Fronape pelo motivo de que, na época, eu queria viajar e a Fronape permitia, na minha cabeça, isso. Entrei pra Fronape. Na Fronape trabalhei na área de manutenção, durante um algum tempo. Depois fui trabalhar na área de custos. Depois fui pra contratos. E depois mudei pra área de materiais, suprimento. Aí eu saí fora da Fronape, isso já em 1996, fui trabalhar na sede, numa área de gestão, Gerência de avaliação de desempenho, do abastecimento como um todo. Trabalhei até o ano 2000, quando eu voltei à Fronape como Gerente administrativo, que tem um grande foco na área de Recursos Humanos.
P/1 - Conta um pouco como é a sua atividade hoje, o que o Senhor faz.
R – Hoje, a minha atividade eu diria que é uns 80% na área de Recursos Humanos da Fronape, mas voltado às relações com os marítimos – um segmento forte pra Fronape...
Continuar leituraNome do Projeto: Memória Petrobras
Depoimento de: Orlando Luiz Orlandi
Entrevistado por: Eliana Santos
Local da gravação: Rio de Janeiro, RJ
Data: 03/09/2004
Realização Museu da Pessoa
Código do Depoente: PETRO_CB549
Transcrito por Andréa Penna
P/1 – Boa tarde! Eu gostaria de começar essa entrevista pedindo que o Senhor me fornecesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Orlando Luiz Orlandi. Nasci no Rio de Janeiro, na Lapa mesmo, bem carioca, em 06 de março de 1954.
P/1- Seu Orlando, o Senhor poderia nos contar um pouco como foi seu ingresso na Petrobras, quando foi ?
R – Meu ingresso foi através de processo seletivo, realizado após a minha formatura em 1977. Entrei em fevereiro de 1978. Praticamente foi isso.
P/1 – O Senhor pode contar um pouquinho os locais que o Senhor trabalhou, os setores?
R – Bom, comecei na Fronape e logo depois do curso, que demorou nove meses, chamado Cecom, e aí a escolha desse curso era feita por colocação. A escolha da vaga onde você ia estudar ia ser feita pela colocação no curso anterior, chamado Cecom. E aí a gente escolheu a Fronape pelo motivo de que, na época, eu queria viajar e a Fronape permitia, na minha cabeça, isso. Entrei pra Fronape. Na Fronape trabalhei na área de manutenção, durante um algum tempo. Depois fui trabalhar na área de custos. Depois fui pra contratos. E depois mudei pra área de materiais, suprimento. Aí eu saí fora da Fronape, isso já em 1996, fui trabalhar na sede, numa área de gestão, Gerência de avaliação de desempenho, do abastecimento como um todo. Trabalhei até o ano 2000, quando eu voltei à Fronape como Gerente administrativo, que tem um grande foco na área de Recursos Humanos.
P/1 - Conta um pouco como é a sua atividade hoje, o que o Senhor faz.
R – Hoje, a minha atividade eu diria que é uns 80% na área de Recursos Humanos da Fronape, mas voltado às relações com os marítimos – um segmento forte pra Fronape – e os 20% restante é a atividade de serviços gerais também da Fronape, que é bastante diferente. Basicamente isso.
P/1 – Senhor Orlando, o Senhor poderia contar pra gente alguma história que o Senhor se recorde, engraçada ou importante, que marcou a sua vida durante esse trabalho na Petrobras?
R – Tem muitas histórias. Agora, lembrar de uma é que é fogo. Vamos ver...Tem uma que é curiosa, um reparo de navio. Na hora que o navio foi entrar, flutuar de novo, e começou a encher o dique – porque o navio fica no seco, né – e a água começou a inundar o dique, e começou a perceber que tinha um furo no fundo do navio. E aí um amigo nosso, um engenheiro, foi lá, botou o dedo no furo, como se fosse salvar o navio. “Fica aí, não sai daí porque você está segurando o navio, se você tirar o dedo daí vai afundar.” Na realidade, não era nem isso, mas foi um fato curioso que marcou. Tem outras histórias aí. Logo que eu entrei, garoto ainda, cheio da minha inocência, né, um gerente da época, aliás, o superintendente da época da Fronape combinado com o gerente de gerência técnica na época, que eu nem me lembro o nome mais, mas combinaram uma história dizendo que quem era o engenheiro mais novo na época, na entrega do navio, tinha que dançar com a madrinha. E aquilo pra mim foi uma tortura de vários dias, pelo fato de que eu não sabia, não gosto muito de dançar, e o fato de ter esse compromisso, de ter que dançar com a madrinha, que era uma pessoa de certa importância. Era uma coisa, pra mim, um tanto quanto dramática. Mas, na verdade, aquilo era uma brincadeira. Mas até eu perceber isso...
P/1 – Um trote?
R – Não era bem um trote, mas era uma brincadeira combinada, na qual o superintendente geral da Fronape tava também, falava sério. Dava a impressão de que era verdade, mas não era. Tem muitas histórias de navio, histórias tristes, histórias críticas de acidentes, essas é bom a gente nem comentar, acho que não vale a pena. Mas uma história, pra mim, mais recente, que é interessante é primeiro o fato de sair da Fronape, foi muito bom. Acho que a Petrobras tem uma característica interessante que permite você se desenvolver em diversas áreas, né, e ela de certa forma valoriza isso. Acho que isso é uma coisa boa pra Empresa, certamente, e boa também para o empregado, porque permite alçar vôos aonde você queira. Eu sou engenheiro naval de formação e hoje estou trabalhando na área de recursos humanos, uma coisa que, quando eu comecei a trabalhar, nem podia imaginar que isso fosse acontecer.
P/1 – O Senhor ficava, na verdade, embarcado?
R – Não, não. Engenheiro naval...
P/1 – Nunca ficou embarcado?
R – Quer dizer, você embarcava de vez em quando porque era necessário, mas eram viagens curtas. Eu não sou marítimo. Na verdade, a minha função não era operacional, de conduzir um navio, mas, sim, de ajudar de alguma forma na manutenção, seja no acompanhamento de um reparo, coisa parecida. Mas na verdade a gente não tinha essa obrigação profissional de embarcar. Mas o que eu estava falando... Quando eu fui convidado pra trabalhar fora da Fronape e fui trabalhar numa área que realmente foi muito rica, pelo menos pra mim profissionalmente, a área de gestão de avaliação de desempenho, que me deu uma visão bem ampla da Companhia, não só na área de abastecimento, mas na área também do ______, de conhecer o negócio da Petrobras. E aquilo eu acho que deu um novo gás na vida profissional. E depois, mais recentemente, participamos da construção, indiretamente, da Transpetro, especificamente da Fronape, uma nova modalidade que foi definida pela legislação para que ela existisse. O transporte marítimo por força de lei tinha que sair da área de Petrobras e tinha que ser constituído através de uma nova subsidiária. Isso foi um esforço interessante também, de construção conjunta, de discussão, na época, com muita gente. Foi legal essa parte. E, depois, participar, digamos assim, não só da discussão da idéia como da execução da própria idéia, né, já como gerente de recursos humanos. E aí foi uma coisa também muito interessante porque você ajuda, você participa, você faz e vê as coisas acontecer. Como muitos dizem, a Fronape é uma coisa muito interessante porque ela é operacional, e cada dia não é igual ao outro. Sempre tem uma coisa diferente acontecendo, um fato novo, uma situação inusitada, então é muito dinâmico e isso faz o trabalho ser, de certa forma, penoso mas também muito gratificante porque ele é muito dinâmico, acontece de tudo um pouco. Então é bom isso, o tempo passa rápido.
P/1 – Tem alguma outra história que o Senhor queira contar que marcou o trabalho na Transpetro?
R – Deve ter, mas não que eu me lembre alguma coisa a mais. Só que agora eu tô na área de recursos humanos, é também muito gratificante e é também uma outra cachaça, é uma coisa muito legal. Até pra pessoal desenvolver uma coisa que pro engenheiro é complicado, né? O engenheiro pensa muito nas coisas, no racional e ser gerente de recursos humanos não é tão racional assim. É um bocado diferente. Então isso é legal, desenvolve um lado pessoal também interessante. É muito bom, gratificante. E tem o primeiro dia que eu estive aqui como gerente de recursos humanos foi muito curioso, aconteceu um fato que eu falei: “ E agora, o que eu faço?” É um caso muito curioso, mas agora não vem ao fato de contar o motivo, mas eu sei que era uma situação de uma briga, uma discussão entre profissionais, logo no primeiro dia, e o empregado foi trazido pra mim pra eu poder conversar com ele. E ele tava com um problema na época, acho que meio existencial, e ele falou da história dele, da situação que ele tava vivendo, complicada. E eu, na hora, pensando comigo: “O que eu faço agora? O que um gerente de recursos humanos vai fazer nessa hora?”, porque eu tinha acabado de virar, me colocaram como gerente de recursos humanos. Mas eu sei que, curiosamente, eu comecei a falar as coisas que vinham na minha cabeça e falei um monte de coisa. E esse rapaz tava com um livro na mão - era um livro de uma religião aí – e por força de sei lá o quê, dessas coisas que acontecem, eu tinha falado grande parte das coisas que tavam no livro que ele tinha acabado de ler, que tavam tentando ajudar ele a sair desse problema. E quando eu terminei de falar aquelas coisas, ele virou pra mim: “Orlando, puxa vida, você disse tudo que eu queria ouvir naquele momento.” Aí me mostrou o livro, eu olhei o livro e falei: “Puxa vida!” Quase tudo que eu tinha falado tava ali no livro. Aí o cara me agradeceu e daí pra cá nunca mais teve o problema que ele tinha. E aquilo foi assim gratificante e, ao mesmo tempo, curioso. Foi bom. E hoje ele tá aí, trabalhando, com um bom desempenho. É isso.
P/1 – Senhor Orlando, o Senhor é filiado ao Sindicato?
R – Não, ao Sindicato dos petroleiros não. Sou filiado ao Sindicato dos engenheiros. Desde que eu comecei a minha vida de estudante, digamos assim, eu era ativista estudantil, participando, na época da ditadura, dos partidos, na época, proibidos, né? E depois eu comecei a militar no Sindicato dos engenheiros. E de lá até hoje eu estou, porque inclusive hoje eu sou conselheiro do CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura – indicado pelo Sindicato dos engenheiros do Estado do Rio de Janeiro. É por isso que eu sou filiado ao Sindicato dos engenheiros de lá até hoje.
P/1 – Como o Senhor vê, tem alguma luta sindical que o Senhor se recorde, que o Senhor estivesse envolvido?
R – Agora o papel é diferente, né? Eu tô do outro lado. Essa é uma outra coisa curiosa, porque você passou uma vida profissional defendendo um lado e agora tá pelo menos com um papel diferente. E aí acaba se confundindo um pouco. Mas tem algumas épocas, não na Fronape. Gozado, eu passei grande parte na Fronape, a Fronape sempre foi, digamos assim, um órgão bem comportado, um órgão operacional bem comportado. Talvez porque ela sempre foi, na época, quando eu comecei a entrar na Petrobras, de 70 e poucos pra cá, ela sempre foi conduzida por militares, sempre os gerentes-gerais eram militares da Marinha, eram almirantes. E eu acho que isso dava um viés assim de um pouco de autoritarismo, um pouco de alguma coisa assim, não muito salutar às vezes, mas um anti-comportamento por parte da Fronape, tanto é que não tem grandes movimentos na Fronape, apesar de que em outras áreas da Petrobras tenham ocorrido alguns movimentos interessantes. Na Fronape isso nunca foi um fator preponderante.
P/1 – O Senhor acha que mudou um pouco a relação do Sindicato com a Petrobras nesse tempo?
R – Principalmente agora, né? Totalmente. Hoje, eu diria até que grande parte do Sindicato tá dentro da Petrobras. Então a relação mudou, principalmente nesse último Governo. Os papéis hoje até se confundem. É uma coisa curiosa, mas tem alguns Sindicatos que olham isso de uma maneira diferente. Tem alguns dirigentes do Sindicato que chegam pra mim e dizem: “Bandido é bandido, mocinho é mocinho.” Não no sentido de que algum lado é bandido, algum lado é mocinho, mas no sentido de que cada um tem que ter o papel bastante definido. E às vezes essa dualidade de papéis complica um pouco na relação de trabalho, na visão desses sindicalistas. Mas é interessante, é uma nova cara de encarar, uma forma da gente se relacionar. Curiosa mesmo. E a gente vai aprendendo também um pouco.
P/1 – Senhor Orlando, o que o Senhor achou de ter participado dessa entrevista, ter contribuído pro projeto Memória Petrobras?
R – Eu acho interessante. O projeto é uma coisa legal. A Fronape tem 54 anos, é anterior à Petrobras, né? Na realidade, começou antes da própria Petrobras. E eu acho que tá precisando realmente resgatar um pouco dessa história. Pena que a gente não fez isso antes, ou talvez não tenha sido feito com periodicidade, porque talvez muitas das histórias da Empresa se perderam com personagens de outras épocas, que também se foram. Mas eu acho que tem que começar, é uma boa idéia e eu acho que devia manter sempre essa idéia, porque vão surgir outras histórias e se parar acaba ficando fragmentada. Boa experiência.
P/1 – Muito obrigada, Senhor Orlando.
R – De nada.
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