Terminal Rodoviário da cidade de Campina Grande, Estado da Paraíba, anos 70. - Viajar e conhecer o mundo a bordo de um ônibus era o desejo do menino que foi sendo alimentado com as constantes despedidas de seus entes queridos na estação, causada pelo êxodo em busca de oportunidades melhores.
Primeiro seu pai, depois seus avós, tios, primos e primas. Aos poucos, um a um embarcaram naquele imenso ônibus amarelo e partiaram deixando a dor da saudade e a vontade incontrolável de acompanhá-los.
- Queria viajar nesse ônibus também mãe.
- Um dia meu filho Um dia
O tempo passou, o menino cresceu, viajou e conheceu o imenso Brasil. A floresta amazônica, as praias nordestinas, o pantanal, as montanhas cariocas, a arquitetura paulista, a história mineira, os pampas gaúchos.
Boa Vista, Porto Velho, Manaus, Rio Branco, Macapá, Belém, Cuiabá, Campo Grande, Brasília, Palmas, Goiás, Fortaleza, Recife, Aracajú, Maceió, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, João Pessoa... Sempre a bordo de um ônibus, mas nenhum deles igual àquele que seus parentes embarcaram.
Estação Rodoviária da cidade de Belém, Estado do Pará, julho de 2003. Nesse mês, a escolha da empresa em que iria viajar seria exclusivamente sua. Naquele momento o homem voltou a ser menino. Os olhos brilhavam e a felicidade transparecia no seu rosto. Ao chegar ao guichê a atendente lhe recebeu tão educadamente que parecia que ela já o esperava.
- Bom dia senhor, posso ajudá-lo?
- Sim , bom dia. Por favor, uma passagem para Goiania.
Com o bilhete na mão dirigiu-se à plataforma de embarque e aguardou ansiosamente. Quando o grande ônibus amarelo estacionou, a viagem ao passado foi instantânea. Os olhos se encheram de lágrimas e mesmo sabendo que seria impossível, o homem-menino esperou sua família desembarcar.
- Bom dia, nós agradecemos a preferência. Seja muito bem vindo. Sua passagem, por favor?
A voz do motorista o trouxe de volta a realidade. Entrou e...
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Terminal Rodoviário da cidade de Campina Grande, Estado da Paraíba, anos 70. - Viajar e conhecer o mundo a bordo de um ônibus era o desejo do menino que foi sendo alimentado com as constantes despedidas de seus entes queridos na estação, causada pelo êxodo em busca de oportunidades melhores.
Primeiro seu pai, depois seus avós, tios, primos e primas. Aos poucos, um a um embarcaram naquele imenso ônibus amarelo e partiaram deixando a dor da saudade e a vontade incontrolável de acompanhá-los.
- Queria viajar nesse ônibus também mãe.
- Um dia meu filho Um dia
O tempo passou, o menino cresceu, viajou e conheceu o imenso Brasil. A floresta amazônica, as praias nordestinas, o pantanal, as montanhas cariocas, a arquitetura paulista, a história mineira, os pampas gaúchos.
Boa Vista, Porto Velho, Manaus, Rio Branco, Macapá, Belém, Cuiabá, Campo Grande, Brasília, Palmas, Goiás, Fortaleza, Recife, Aracajú, Maceió, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, João Pessoa... Sempre a bordo de um ônibus, mas nenhum deles igual àquele que seus parentes embarcaram.
Estação Rodoviária da cidade de Belém, Estado do Pará, julho de 2003. Nesse mês, a escolha da empresa em que iria viajar seria exclusivamente sua. Naquele momento o homem voltou a ser menino. Os olhos brilhavam e a felicidade transparecia no seu rosto. Ao chegar ao guichê a atendente lhe recebeu tão educadamente que parecia que ela já o esperava.
- Bom dia senhor, posso ajudá-lo?
- Sim , bom dia. Por favor, uma passagem para Goiania.
Com o bilhete na mão dirigiu-se à plataforma de embarque e aguardou ansiosamente. Quando o grande ônibus amarelo estacionou, a viagem ao passado foi instantânea. Os olhos se encheram de lágrimas e mesmo sabendo que seria impossível, o homem-menino esperou sua família desembarcar.
- Bom dia, nós agradecemos a preferência. Seja muito bem vindo. Sua passagem, por favor?
A voz do motorista o trouxe de volta a realidade. Entrou e surpreendeu-se. Suas diversas viagens nesse tipo de transporte pelo país lhe deram “know how” em análises de valores agregados ao preço da passagem.
O grande ônibus amarelo estava recheado de mimos: o espaço entre as poltronas era o dobro das concorrentes; distribuição de lanche, almofada, manta, água, café, fone individual com seletor de canal para rádio ou vídeo. Tinha até telefone via satélite a bordo à disposição dos passageiros. Tudo aquilo parecia irreal, um sonho.
Perdido diante de tantas opções, o homem-menino ficou indeciso como qualquer criança diante de dezenas de brinquedos. Não sabia se ouvia rádio, se assistia ao filme que acabara de começar, se ligava para casa para dizer onde estava ou esticava-se preguiçosamente na larga poltrona para ler a revista de bordo distribuída gratuitamente antes da partida.
Sempre que paravam para as refeições na estrada o homem-menino era o primeiro a reembarcar. O serviço era mesmo diferenciado e nas substituições de motoristas havia até apresentação formal:
- Bom dia senhoras e senhores, meu nome é Alfredo e a partir de agora assumo o volante até Brasília. Informamos que a empresa já fez a reposição do café. Agradecemos a escolha e desejamor uma boa viagem a todos.
Quando a porta se fechava tinha a nítida impressão que estava num avião e que o ônibus decolaria a qualquer instante. Ao chegar ao destino final, o último a desembarcar foi exatamente aquele passageiro que esperou 29 anos para realizar aquela viagem.
O homem-menino despediu-se do motorista, dirigiu-se até a frente do grande ônibus amarelo, tocou o para brisas e agradeceu-o carinhosamente por trazer magicamente por um breve instante seus parentes de volta do êxodo. Ele sentou-se e aguardou pacientemente a saída do veículo da plataforma. Quando o veículo sumiu no horizonte, levantou-se e voltou à realidade da vida, mas com a felicidade de sonho de criança realizado.
(História enviada em 2007)
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