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História
Personagem: Naílson Macedo
Por: Museu da Pessoa, 22 de janeiro de 2007

O indígena artesão

Esta história contém:

O indígena artesão

Digo que sou índio, sem preconceito nem nada. Sou índio. Uma origem de Mura, de Sateré-Mawé e de cearense. Quando a gente viaja por aí, a gente é índio. Eles botam o olho na gente, dizem: “É índio!”. Mas o que eu faço é trabalho de caboclo. Os índios não sabem fazer o artesanato do pó do guaraná. Eles podem até fazer colar da semente furada, mas esse aí não, esse aí foi a minha família que criou aqui dentro de Maués.

O artesanato chegou com meus bisavós, tataravôs, faz uns 200 anos mais ou menos. Eles vieram do Ceará no tempo da Revolta dos Cabanos. Era aquela revolução que queria matar os imigrantes, aquele negócio que vinha de um país para outro. Aí eles foram trabalhar na pilação de guaraná. Como no Ceará é cheio de artesanato, pilando o guaraná aqui em Maués, acho que eles viram que dava para trabalhar com aquilo. Começaram a modelar. Modelaram na cera de abelha, de lá eles modelaram na fruta de favo, daí voltaram para o guaraná de novo. Como viram que dava liga, eles foram moendo mais fino e foram fazendo as peças.

Não sei como que eles tiveram a idéia de fazer a orquestra de macaco. Contam que eles resolveram fazer a orquestra porque sabiam fazer o macaco! E como tinha a história, que antigamente o povo contava, que o macaco era inteligente, fazia festa, eles usaram a criatividade deles. Para você ver que naquele tempo eles tinham criatividade! Quem que viu macaco tocar? Eles tiveram essa idéia.

Os animaizinhos estão custando cinco reais a unidade. O mais trabalhoso está custando dez, outro 20, e aí vai embora. Já o xadrez está custando 200, são tudo miudinho, mas é trabalhoso. Tem a peça da colheita do guaraná, que é o processo todinho da cadeia produtiva do guaraná. São oito elementos, tá custando 400 reais. Tem a peça da seringueira, com o seringueiro cortando, com as folhas de seringa no chão, os galhos. Mesma coisa a castanheira, cheia de castanha, fiz castanha no chão....

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Dados de acervo

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Naílson Macedo

Nascimento: 11/08/1972, Maués

Profissão: Artesão

P/1 – Para começar, eu gostaria que você dissesse para a gente o seu nome completo, a data e o local de nascimento.

R – Meu nome é Naílson de Oliveira Macedo, conhecido mais como Naílson Macedo ou, até uma brincadeira que eu vou fazer aqui, Louro. O Barrô me chama assim, que não tem nada a ver. Eu nasci aqui em Maués em agosto de 1972, dia 11 de agosto.

P/1 – E qual a origem dos seus pais?

R – Aí tem, diz o caboclo amazonense, uma origem de Mura, de Sateré-Mawé e de cearense. Quem criou o artesanato aqui em Maués, para começar foi cearense.

P/1 – Quem começou?

R – A família Doce.

P/1 – Que era uma família do Ceará?

R – É, família do Ceará. O nome não é Doce. Foi o mesmo que a história do forró. Em inglês era For All e ficou assim. Não existe a família Doce. Existe aqui em Maués, colocada em cartório porque, se não me engano, o tabelião errou. Ele errou ao colocar. Não sei se era Dulce, que é uma família, não sei se é português ou se é italiano. Então, em vez de colocar essa palavra colocaram Doce, e Doce ficou até hoje.

P/2 – E essa origem sua da família Doce, é por parte de pai ou por parte da mãe?

R – É por parte de todos os dois porque são primos.

P/2 – E essa mistura que você falou do Sateré-Mawé vem por onde?

R – Porque vieram do Ceará, do Ceará para o Madeira e já começou. Chegou para cá para o Amazonas ou Amazônia e já foram começando a imigrar. Aí tem os Mura, os Mundurukus. Chegou perto de Maués, tem os Sateré-Mawé. Queira ou não queira quando a gente viaja por aí a gente é índio. Eles botam o olho na gente, avista a gente e diz, não, é. Digo que sou índio, sem preconceito nem nada. Sou índio.

P/1 – E você gosta disso?

R – Eu gosto. Gosto porque não tem como fugir, nem que tivesse eu fugiria. Fica até melhor para o meu trabalho, porque pode ser um trabalho indígena, que não...

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