Projeto Memória Petrobras
Depoimento de Carlos Adalto
Entrevistado por Ana Maria Bonjour (P/1) e Elodia Lebourg (P/2)
Rio de Janeiro - RJ - 12 / 11 / 2004
Realização Museu da Pessoa
Código do Depoimento: PETRO_CB627
Transcrito por Marlon Alves Garcia
P/1 - Boa tarde.
R - Boa tarde.
P/1 - Eu queria começar com você dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R8 - Carlos Adalto Virmon Vieira, nasci em Joinville, 15 / 10 / 1965.
P/1 - Conta um pouquinho para a gente, Carlos, como que foi sua trajetória, como foi sua entrada no meio cultural, o começo como que era.
R - Em 1989 eu me mudei para a Alemanha, para fazer um mestrado em Direito Ambiental. E em 1995 eu fui convidado pela Embaixada do Brasil, em Colônia, na Alemanha, para compor o Conselho dos Cidadãos, que era uma criação nova do governo brasileiro, que visava integrar os brasileiros, a colônia brasileira que residia na Alemanha, como o Serviço Consular brasileiro daquele país. Porque em virtude da ditadura militar etc., havia um distanciamento, que eram os exilados políticos, né. Então o nosso papel era aproximar. Então eu me tornei o presidente do Conselho do Cidadão na Alemanha. E um dos núcleos do Conselho do Cidadão era justamente um núcleo cultural. E era um dos núcleos mais fortes, porque a representação de brasileiros na área da cultura no exterior é muito forte, na dança, nas artes plásticas, na literatura etc. E ali nasceu então, iniciei o meu trabalho com cultura. E quando eu voltei para o Brasil, no ano de 2000, eu, juntamente com um grupo de pessoas, nós fundamos em Joinville a Sociedade Cultural Alemã, para trabalhar com cultura, fomentar cultura etc. Eu presidi essa sociedade durante três anos. E em virtude do trabalho os artistas da minha cidade me convidaram para presidir a Fundação Cultural de Joinville, que corresponde à Secretaria da Cultura da cidade. E quando você assume a Fundação Cultural de Joinville, automaticamente você...
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Depoimento de Carlos Adalto
Entrevistado por Ana Maria Bonjour (P/1) e Elodia Lebourg (P/2)
Rio de Janeiro - RJ - 12 / 11 / 2004
Realização Museu da Pessoa
Código do Depoimento: PETRO_CB627
Transcrito por Marlon Alves Garcia
P/1 - Boa tarde.
R - Boa tarde.
P/1 - Eu queria começar com você dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R8 - Carlos Adalto Virmon Vieira, nasci em Joinville, 15 / 10 / 1965.
P/1 - Conta um pouquinho para a gente, Carlos, como que foi sua trajetória, como foi sua entrada no meio cultural, o começo como que era.
R - Em 1989 eu me mudei para a Alemanha, para fazer um mestrado em Direito Ambiental. E em 1995 eu fui convidado pela Embaixada do Brasil, em Colônia, na Alemanha, para compor o Conselho dos Cidadãos, que era uma criação nova do governo brasileiro, que visava integrar os brasileiros, a colônia brasileira que residia na Alemanha, como o Serviço Consular brasileiro daquele país. Porque em virtude da ditadura militar etc., havia um distanciamento, que eram os exilados políticos, né. Então o nosso papel era aproximar. Então eu me tornei o presidente do Conselho do Cidadão na Alemanha. E um dos núcleos do Conselho do Cidadão era justamente um núcleo cultural. E era um dos núcleos mais fortes, porque a representação de brasileiros na área da cultura no exterior é muito forte, na dança, nas artes plásticas, na literatura etc. E ali nasceu então, iniciei o meu trabalho com cultura. E quando eu voltei para o Brasil, no ano de 2000, eu, juntamente com um grupo de pessoas, nós fundamos em Joinville a Sociedade Cultural Alemã, para trabalhar com cultura, fomentar cultura etc. Eu presidi essa sociedade durante três anos. E em virtude do trabalho os artistas da minha cidade me convidaram para presidir a Fundação Cultural de Joinville, que corresponde à Secretaria da Cultura da cidade. E quando você assume a Fundação Cultural de Joinville, automaticamente você também assume a presidência do Instituto Festival de Dança de Joinville. Então aí começou meu trabalho pela cultura. E é uma paixão. Na verdade a minha formação é Direito, né, Direito Ambiental, que é a minha grande paixão, o meu trabalho, o meu ganha-pão, na verdade. Mas hoje em dia a cultura já tomou um lugar muito importante na minha vida. Eu diria que 50% das minhas atividades são todas dedicadas à área cultural.
P/1 - E já faz um tempo até?
R - Já.
P/1 - E como que é trabalhar com cultura no Brasil hoje, quais são as maiores dificuldades que você encontra, a facilidades?
R - Eu acho que a maior dificuldade de trabalhar com cultura - não é um problema brasileiro, é um problema mundial - é o dinheiro, é o financiamento da cultura. E nisso até a Petrobras tem feito um papel muito importante nesse item. Mas eu acho que o artista brasileiro, ele ainda vê a cultura de uma forma paternalista, ele espera, especialmente dos órgãos oficiais de cultura, que esses órgãos lhe dêem dinheiro, que esses órgãos os sustentem. Como nós tínhamos no passado os grandes mecenas que adotavam os grandes escritores etc. Eu acho que isso ainda é uma cultura, vamos chamar assim, na produção cultural brasileira, que deve ser mudada. Eu acho que é muito necessário que as pessoas se profissionalizem na área da cultura, certo, ou se elas não puderem, no desenvolvimento do trabalho artístico delas, mas que elas procurem então se cercar de pessoas que consigam então organizar a vida delas. Por exemplo, o que nós temos no Brasil hoje, de uma forma crescente, cada vez maior, são os produtores culturais. Dentro da Fundação Cultural, desde que eu assumi em 2000, uma das linhas, umas das diretrizes que a gente assumiu foi justamente essa: deixar de fazer uma cultura paternalista. Nós passamos então, como órgão oficial cultural, a fomentar cultura. Um exemplo prático disso é: vamos dizer que um artista plástico me procure porque que ele deseja fazer uma exposição de suas obras, e a primeira coisa que ele me pede é dinheiro: “Ah, Doutor Carlos, eu queria 20 mil reais para fazer uma exposição, com coquetel, eu queria passagem disso, passagem daquilo, transporte etc.” E aí nós, eu montei uma incubadora de projetos culturais dentro da Fundação Cultural. Eu digo para ele que eu não tenho os 20 mil reais para dar, mas eu encaminho para a incubadora de projetos, e ele então, com a equipe da Fundação Cultural, monta um projeto cultual e nós vamos então à Lei de Incentivo, tanto estadual, de Santa Catarina do ICMS, como à Lei de Incentivo federal. Encaminhamos esse projeto e fazemos todo um trabalho para procurar aprovar esse projeto. E num segundo momento captar recursos através desse projeto. Então é aquela velha história de você dar a vara de pescar para o artista, ao invés de dar o peixe. E isso, né, nos últimos dois anos, a incubadora existe há dois anos agora, tem trazido resultados, assim, muito bons. A área artística tem se conscientizado, o número de pedidos simples de dinheiro, que era aquele balcão de negócios que existia, ele praticamente terminou hoje em dia. E eles se sentem motivados a produzir mais, e de maneira geral na cidade, assim, o movimento cultural cresceu muito com isso. Então acho que esse seria um dos maiores problemas. Eu acho que o papel do poder público é justamente esse, é servir. Eu sempre digo que a Fundação Cultural de Joinville, ela é uma consultoria cultural pública, portanto gratuita. Mas nós somos consultores. A pessoa vai lá, a gente orienta a pessoa, não simplesmente dá o dinheiro, o peixe.
P/1 - Dá a vara. E fala um pouquinho para a gente como que é o Festival de Dança de Joiville, como funciona.
R - Bem, o Festival de Dança foi uma iniciativa de um professor de dança que fazia parte da Casa da Cultura, que é uma das escolas da Fundação Cultural de Joinville, que se chama Carlos Tafur. E o Carlos Tafur, em 1982 teve a idéia de criar um festival, certo, para que as pessoas, para que os grupos de dança, não só de Joinville, mas também da região, pudessem ter uma oportunidade de apresentar, de trocar experiências etc. E aí foi realizado o primeiro Festival de Dança de Joinville, em 1982, na Sociedade Harmonia Lira, que é o teatro mais antigo da cidade, com a participação de 600 bailarinos. Já foi uma surpresa o número de bailarinos que acorreram a essa primeira chamada, esse primeiro festival. E foi muito legal porque esses bailarinos, os bailarinos todos amadores, não têm dinheiro. Então a cidade se envolveu no Festival, e todo, praticamente 100% desses bailarinos, eles ficaram hospedados em casas de família. E os Festival deu tão certo, foi um clima tão gostoso, que o Festival começou a ser realizado ainda de uma forma, de uma organização muito amadorística, mas muito familiar. Os Festival então se integrou na cidade. E as pessoas que vinham, esses dançarinos, eles começaram a ficar nas mesmas casas de família, e de certas forma se tornaram parte dessas famílias. Isso fez então com que o Festival se enraizasse em Joinville de uma maneira muito forte. Um outro aspecto importante do Festival de Dança foi que já nos primeiros momentos as pessoas entenderam que uma simples mostra competitiva não era o bastante. Então se criaram eventos paralelos, especialmente as Oficinas de Dança. E justamente esses eventos paralelos foram o fator principal que perenizou o Festival em Joinville. O Festival agora está na sua vigésima terceira edição. Dos 600 bailarinos do início, nós temos hoje 4500 bailarinos participando. E agora no ano de 2004, através de uma pesquisa realizada pelo Livro Guinness, Book dos Recordes, foi constatado que o Festival de Dança de Joinville é o maior festival do mundo do gênero. Não existe nenhum festival no mundo com um número tão grande de bailarinos e com uma variedade tão grande de modalidades de danças. E isso é um negócio, para nós uma conquista, né, um orgulho muito grande. Apesar de nós não termos corrido atrás disso. Nós nunca fizemos um requerimento disso, mas através da divulgação na mídia etc., chamou a atenção do Guinness, eles fizeram um levantamento mundial e constataram. Então o Festival de Dança de Joinville é sem dúvida, na área da dança, hoje o mais importante fórum, não só de mostra, mas também de discussão da dança, que existe no Brasil, na América Latina e no mundo, no gênero.
P/2 - Bacana. E há quanto tempo a Petrobras patrocina e de que forma que o patrocínio dela influenciou, refletiu no projeto?
R - Bem, o Festival, no início o Festival era organizado exclusivamente pela Prefeitura Municipal de Joinville, com o dinheiro público. Então nos primeiros anos era sempre dinheiro público. O Festival era pequeno, a prefeitura tinha condições ainda de financiar o evento. Com o passar dos anos e com o crescimento do Festival, e esse crescimento foi muito rápido, o Festival começou a se tornar muito caro, e ele não só consumia muitos recursos da prefeitura municipal, como ele praticamente parava a prefeitura municipal durante a época de preparação e de realização do evento. Não só a Fundação Cultural. Um exemplo: todos os automóveis da prefeitura ficavam durante 11 dias trabalhando só para o Festival de Dança. Então tudo parava na prefeitura. A partir daí então as pessoas notaram que era um evento que deu certo, era um evento que veio para ficar e que nós precisaríamos patrocínios para conseguir manter esse evento e manter o crescimento desse evento. Então primeiramente foram empresas de Joinville. Joinville é uma cidade industrial, uma cidade muito rica, Joinville tem empresas multinacionais como a Cônsul, como a Brastemp, como a Tigre, como a Ducol, Tupi etc., que são empresas gigantescas, né, todas com mais de mil funcionários, tá certo, que começaram a patrocinar o esse Festival. Mas faltava uma linha de patrocínio que pensasse, que visse o hoje nós chamamos de marketing cultural, que na época não existia, que era o final dos anos 1980. Então a partir de 1993 a Petrobras entrou no Festival de Dança e patrocinou pela primeira vez. E a Petrobras desde então se tornou a principal patrocinadora do Festival de Dança. E hoje é a Petrobras quem apresenta o Festival de Dança. Então é fundamental a importância da Petrobras no Festival de Dança, porque ela garantiu a manutenção desse evento. Provavelmente se a Petrobras não tivesse entrado desde 1993, como patrocinadora oficial do Festival de Dança, o Festival não teria continuado como ele vem continuando até hoje. E esse patrocínio vem se aperfeiçoando na medida dos anos, vem se profissionalizando. E eu acho que é uma evolução que acompanha a própria evolução da cultura e do marketing cultural, do investimento em cultura no Brasil. Nos últimos anos o patrocínio da Petrobras se dá então através da Lei de Incentivo à Cultura, né, através da Rouanet. E agora há uma troca muito grande entre o Festival e a Petrobras, porque a Petrobras começa com essa valorização tanto do marketing ecológico como do marketing social e agora do marketing cultural. O Festival com esse crescimento, com essa profissionalização está representando também um retorno muito positivo nessa área de marketing para a Petrobras.
P/1 - É o seu primeiro projeto? (PAUSA)
P/1 - Esse é o seu primeiro projeto patrocinado pela Petrobras ou você já teve outros?
R - Não, esse é o primeiro projeto patrocinado pela Petrobras, o Festival de Dança.
P/1 - E o que você pode dizer, o que você acha, qual a importância da Petrobras hoje no Brasil como patrocinadora cultural?
R - Eu acho que hoje a Petrobras se tornou a mais importante, vamos chamar assim, de mecenas cultural do Brasil. Como a gente comentou, é impossível hoje em dia se relacionar todos os projetos onde a Petrobras tem parte. E eu acho que a Petrobras hoje se tornou, conseguiu se tornar um sinônimo de cultura. Hoje se tornou muito familiar para o brasileiro. Porque primeiro a Petrobras se tornou sinônimo de tecnologia, uma coisa assim que fugia do padrão brasileiro. Aquela coisa: “Perfura o poço mais profundo!” Aquela coisa. Primeira aquela estatal, aquela coisa do “ O petróleo é nosso”. Depois tecnologia, né, se destacando no cenário internacional. A Petrobras patrocinado a Fórmula Um, por exemplo, que é um negócio que você vê: “Pô, tecnologia de ponta.” Sendo valorizada aí num evento onde só a tecnologia de ponta entra, que é um evento que é um evento científico, que é a Fórmula Um, para a indústria automobilística. E agora, especialmente nos últimos anos, a Petrobras tem se tornado um sinônimo de cultura, de mecenas cultural. Então há já uma relação, o brasileiro já relaciona com muita facilidade a Petrobras com os eventos de cultura. Para nós que somos muito envolvidos com o Festival de Dança, a imagem da Petrobras que está não só no evento, mas ela está no espaço. Nós temos o Centro de Eventos Karl Ranzen e nós temos o Centro de Convenções Edmundo Dobre, que são dois prédios um ao lado do outro. No Centro de Eventos, que é um grande teatro para 4700 pessoas, e um teatro menor para 500 pessoas, já tem patrocínio da Petrobras. E no Centro de convenções tem inclusive a logomarca da Petrobras na parede, porque a Petrobras já ajudou na construção, na edificação. Então para nós, não só do Festival de Dança, mas de Joinville etc., a Petrobras está muito ligada com a cultura. Então a marca Petrobras hoje, para nós você já vê um bailarino dançando quando você vê a marca. Parece brincadeira, né, mas de tanto você ver: “Petrobras apresenta. Pá.” E vem o Festival de Dança, você automaticamente relaciona Petrobras com a dança.
P/1 - Legal. E com toda essa sua experiência, né, que não está nem só dentro do Brasil, mas fora também, na área de cultura, você teria alguma sugestão para dar para a área de patrocínio da Petrobras?
R - Sim. Eu acho que a área de patrocínio da Petrobras está se modernizando, a gente sente isso. Eu vou falar de uma experiência nossa, que eu acho que a Petrobras está fazendo a mesma coisa. Nós estamos procurando definir os caminhos do Festival de Dança, por exemplo. Como nós vamos gerenciar, como o Festival de Dança vai ser daqui a dez anos. Hoje nós temos, nós criamos em 1999 o Instituto Festival de Dança, justamente para tirar o Festival de Dança da Fundação Cultural e da Prefeitura Municipal. Então nós temos hoje um a instituição que cuida o ano inteiro de organizar o Festival de Dança. Essa instituição, esse Instituto Festival de Dança, que eu presido automaticamente com a Fundação, ele hoje atingiu um nível de organização administrativa do Festival, de logística etc., muito próximo do ideal. Então nós temos a outra parte do Festival, que é a parte artística, que continua se desenvolvendo. E já que a parte administrativa está redondinha, está funcionando, há muito mais liberdade para você desenvolver e inovar com essa parte artística. Então nós começamos um trabalho de planejamento estratégico do Instituto Festival de Dança, e conseqüentemente do Festival de Dança, para saber o que vai ser o Festival de Dança daqui a dez anos, como vai ser a cara dele, como ele vai se transformar. E eu acho que é essa transformação que a Petrobras, eu acredito, já está fazendo, que a gente sente os resultados. É justamente um planejamento estratégico da área de incentivo desses recursos que a Petrobras vai destinar para a cultura. Como a Petrobras vai destinar esses recursos, quais são os perfis dos projetos que ela vai valorizar, né? Como será patrocínio da Petrobras, a importância dela daqui a dez anos etc? Então a sugestão é essa, é que a Petrobras continue fazendo e desenvolvendo esse planejamento estratégico, para que ela seja como é hoje, cada vez mais uma parceira da cultura dentro do Brasil.
P/1 - Só. (RISO) É muito, né? Carlos, fala para mim, qual é o projeto dos seus sonhos, uma coisa que você não realizou ainda e que você tem muita vontade de realizar?
R - Que não tenha a ver com o Festival de Dança?
P/1 - Ah, uma vontade, um sonho na cultura, na área da cultura.
R - Na verdade eu assumi a Fundação Cultural com um sonho, tá, mas eu não posso dizer que eu não realizei, porque eu iniciei a realização, certo? Nós tínhamos um grupo, já quando eu participava da Sociedade Cultural Alemã, que era realizar, criar um festival de Jazz em Joinville. E esse sonho a gente vinha acalentando desde 2000, com o grupo. E em 2003, quando eu assumi a Fundação Cultural, eu assumi em janeiro, eu procurei realizar esse sonho. E tive o privilégio de realizar em junho de 2003 a primeira edição do Joinville Jazz Festival. E abriu o Joinville Jazz Festival um músico que nem é muito conhecido no Brasil, que é um tal de Hermeto Pascoal. Então foi uma coisa maravilhosa. Nós abrimos o festival com Hermeto Pascoal, tivemos Duofel - são três noites sempre -, e fechamos com Márcio Montarroyos. Então, assim, três super expoentes do jazz. E esse projeto se espelha um pouco no projeto do Festival de Dança, justamente porque o projeto, apesar das noites de shows, que é o que dá visibilidade ao festival, mas ele é um festival focado para os músicos. Então o nosso objetivo é desenvolver o jazz, a produção de jazz, a produção de música instrumental em Joinville e na região de Santa Catarina. E nós organizamos então o Festival de Jazz com cinco oficinas de música, para músicos, e com grandes nomes da música instrumental brasileira. Sempre nomes assim de grande conhecimento público. E uma oficina para crianças. Então esse é um sonho que eu tive, não só meu, de um grupo de pessoas, e é um sonho que nós estamos realizando. Em 2004 realizamos já a segunda edição do Festival de Jazz, foi também um sucesso maravilhoso. E também, a exemplo do Festival de Dança, porque o Festival de Dança é u projeto muito complexo, é um projeto muito grande. Nós realizamos os shows dentro do teatro, que é o que dá visibilidade. Nós realizamos as oficinas dentro do Centro de Convenções e nós temos dois palcos alternativos, que são caminhões-palco que circulam a cidade e levam a música instrumental, o jazz para os bairros mais carentes da cidade, dando oportunidade para que essas pessoas conheçam isso. No ano passado nós tivemos a Traditional Jazz Band, em 2003, de São Paulo, que é fantástica, né, porque elas não só fazem música mas fazem teatro etc., e aproximam as pessoas do jazz tradicional. E esse ano nós trouxemos o Borghetinho, que é uma das grandes revelações no arcodeon no mundo, ele é um nome reconhecido internacionalmente. Num caminhão palco, gratuitamente para a população. E isso, a exemplo do Festival de Dança, que tem as apresentações no palco principal, com um público de 50 mil pessoas por evento. São 11 dias de apresentação. Nós temos 22 palcos alternativos espalhados pelos bairros da cidade, nas fábricas, dentro das fábricas. Nós temos com as fábricas lá, algumas delas têm o turno contínuo, nós temos apresentações às três da manhã, às cinco da manhã, com o pessoal do turno. Nós temos apresentações dentro dos shopping centers da cidade, que são, assim, maravilhosas. Esse ano nós inovamos, nós fizemos uma apresentação um, asilo de velhinhos da cidade. E uma das velhinhas é uma russa que mora a mais ou menos uns 20 anos no Brasil, e que era bailarina na Rússia. Então para essa mulher foi assim uma viagem. E até foi feita uma reportagem sobre isso, foi um negócio muito bonito. E ela se maquiou toda, trouxe as fotos dela, as roupas dela, para assistir aquela apresentação de dança gratuita para o pessoal da cidade. Então são coisas muito bonitas. Nós tivemos um outro projeto que chama Caravana da Cultura, onde a Fundação Cultural leva oito cursos de dança, desenho, capoeira, circo, (macramê?) etc., para os bairros. Os bairros escolhem quais os cursos eles querem. Durante os cursos, que duram uma semana, se escolhem alunos que tenham algum talento das diversas áreas, e esses alunos então são conduzidos para a Casa da Cultura, que é a escola de música municipal, a escola de artes e a escola de dança. E no Festival de Dança, então, nós fizemos uma seleção dos 120 melhores alunos de dança do curso, e fizemos um projeto, mais um projeto, dentro do festival, chamado Dança Comunidade. Então 120 crianças tiveram uma semana de oficina de dança, de workshop, com os melhores coreógrafos do Brasil. Tudo gratuitamente, com o Instituto Festival de Dança trazendo essas crianças, dando passe de ônibus e dando alimentação. Porque muitas delas, mesmo você dando o curso de graça, elas não têm como chegar lá. Então são muitos eventos paralelos que envolvem. Nós temos dentro do Festival de Dança, o Festival Meia Ponta, que são crianças de 8 a 12 anos que dançam e que competem entre si. E é uma coisa maravilhosa você ver como essas crianças dançam.
P/1 - Da cidade?
R - Não, do Brasil inteiro. São 4500 bailarinos, e elas fazem parte disso. São 300 e poucas coreografias que são apresentadas por ano. Então são grupos de dança que vêm do Brasil inteiro e do exterior, inclusive. As crianças, mais do Brasil, por enquanto, né? Mas vêm de Manaus, vêm de Recife, vêm de Belém do Pará, elas vêm de ônibus. É um negócio assim, sabe, para ficar 11 dias em Joinville e viver toda essa atmosfera da dança. O Festival hoje tem um nível tão elevado, que você manda as fitas de vídeo para o projeto seletivo, né, para o processo seletivo e nesse processo seletivo são selecionados os grupos que vão participar da mostra competitiva. Então eles têm que ter a nota acima de sete. Os que têm a nota entre cinco e sete são selecionados para os palcos alternativos. Ou seja, mesmo para dançar no palco alternativo, de graça, na rua, você tem que passar o processo seletivo e tem que tirar nota cinco, que é dificílimo para o grupo tirar. Então mesmo as pessoas que estão na rua... É muito engraçado, você sai da escola às seis da tarde, ou da faculdade, que seja, e você ouve uma música: “Mas o que é isso?” Um palco no meio da praça e com um grupo de dança, sei lá, um grupo tipo o Grupo Corpo, né Cristina Helena, grupos assim de renome nacional, uma Carlota Portela, dançando ali de graça para você. Grupos que em geral se apresentam nos teatros e cobram 30, 40, 50, 100 reais de ingresso. Então isso é uma coisa legal que envolve a cidade inteira. E o jazz vai nessa linha. Nunca vai ser tão grande quanto o Festival de Dança, porque é uma outra realidade, né, a da música instrumental. Mas a música instrumental brasileira, ela é talvez a mais rica do mundo, eu acredito pessoalmente que é. E esse festival tem essa finalidade de criar palco para a música instrumental brasileira. Desde que foi criado o Festival de Jazz, os músicos de jazz da cidade, que já nem ensaiavam mais, voltaram a se reunir. Então voltaram a acontecer as Jam Sessions nos bares, sabe? Então se recriou uma cena de jazz em cima disso, como o Festival de Dança.
P/1 - Faltava um espaço?
R - Faltava um espaço.
P/1 - E o que você achou, Carlos, de ter participado do Projeto Memória Petrobras, o que você acha do projeto?
R - Olha, eu conheci, eu assisti uma propaganda da Petrobras há pouco tempo atrás, e eu acho que tem a ver com o Projeto Memória Petrobras, onde alguns funcionários da Petrobras davam depoimento, e um deles era o funcionário número um da Petrobras, né? Isso foi um negócio que me chamou muito a atenção. E ultimamente eu tenho visto propagandas, divulgações da Petrobras, onde ela fala da arte: “Petrobras aqui, no teatro, na dança, na música etc.” Então eu acho que a Petrobras vem fazendo um papel muito bonito. Como eu falei, hoje ela está se tornando sinônimo de cultura. Eu acho que isso para a empresa é muito bom, e para o Brasil é muito bom que isso venha acontecendo. E eu acho que para a empresa é muito importante ela guardar esse acervo, entendeu, para que esse acervo, para que todo esse papel que a Petrobras hoje está representando sirva realmente de exemplo para outras empresas que têm condições também de dar o seu 4% de imposto de renda, né, para incentivar projetos culturais. Nós temos uma dificuldade muito grande de arrecadar os recursos, mesmo com o projeto aprovado pela Lei Rouanet ou pela Lei Estadual. Eu acho que Petrobras, ela sai na frente, ela dá um exemplo muito grande. Traz esse lado estatal dela, então ela tem quase que uma obrigação realmente de servir como exemplo, né, e ela vem fazendo isso com muita competência, com muito interesse e com muita sensibilidade. A gente vê pelo perfil dos projetos que a Petrobras hoje apoia. E o exemplo disso, talvez o que nos envaideça mais, que é o Festival de Dança, a gente vê que a Petrobras seleciona com muita responsabilidade esses projetos e faz um grande papel para a cultura nacional.
P/1 - Legal. Bom, Carlos, queria te agradecer, te parabenizar também pela sua atuação aí na cultura, tão bacana.
R - Obrigado.
P/1 - Você quer dizer mais alguma coisa?
R - Quero agradecer essa oportunidade, né, de fazer parte aí desse acervo gigantesco que a Petrobras vai ter. E tomara que eu tenha mais um monte de projetos para vir contar para vocês aqui novamente.
P/1 - Nós que agradecemos a participação.
P/1 - Obrigado.
(fim da fita )
Palavras duvidosas:
macramê
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